(De Veneza, no Adriático, até à Riviera, no Mediterrâneo, em três viagens de 2000 a 2012)
Na crónica anterior fiz a descrição da magnífica cidade de Veneza e desta vez vou relatar a continuação da viagem pelo Norte de Itália, começando justamente na cidade dos canais e fazendo depois a ligação entre as duas costas do país, do Adriático ao Mediterrâneo.
A viagem não foi efetuada exatamente desta forma e de uma única vez. Na verdade baseia-se em 3 percursos que fizemos em períodos distintos, concretamente em 2000, em 2005 e em 2012, nos quais passámos por todos estes sítios, nalguns deles por mais do que uma vez. O agrupamento destes locais num mesmo percurso é uma sugestão minha, admitindo uma duração total de 8 a 10 dias de viagem, já incluindo Veneza.
Assim, voámos diretamente para o Aeroporto de Marco Polo, optando por ficar depois num hotel em Mestre, a poucos minutos de comboio de Veneza, o que nos permitiu visitar a cidade. E foi depois disso, a partir de Mestre, que saímos num carro alugado para esta travessia entre as duas costas de Itália.
Nos primeiros dias fizemos a visita à cidade de Veneza, de acordo com os relatos que fiz na crónica anterior, que reproduz as experiências vividas nessa terra deslumbrante.
No final alugámos um carro e partimos com o objetivo de passar pelos locais mais interessantes, como Pádua, Bolonha e Parma, até chegarmos à costa da Ligúria, no Mediterrâneo, nas Cinque Terre e na Riviera italiana. Neste caso, a viagem que vai servir como referência principal à crónica que vou escrever, foi efetuada em abril de 2012, com a Ana, a minha mulher, e as minhas filhas mais novas, a Bi e a Martinha.
O percurso foi efetuado de Este para Oeste, como mostra o mapa e como aqui vou relatar, mas poderia perfeitamente ser feito no sentido contrário. Em qualquer dos casos há o detalhe de termos que alugar um carro num aeroporto e depois devolvê-lo noutro, o que acarreta um custo extra de cerca de 100€, para o período em questão e para um carro de nível médio, ou uma carrinha (como já tenho explicado noutras crónicas).
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Saídos de Mestre demorámos pouco mais que meia-hora até chegar a Pádova, ou Pádua, como dizemos em português.
Uma cidade que nos recorda sobretudo a existência de um Santo padroeiro, que acumula esta cidade italiana com a nossa Lisboa........e eu, que percebo ainda menos de santos do que de geografia, pretendia esclarecer esta questão fraturante.......mas afinal o Santo António, com o seu menino ao colo, é de Lisboa, ou será de Pádua? Não sei se vou conseguir descobrir este enigma, mas vou tentar.
Começámos a visita à cidade por uma praça algo incomum, sendo que em Itália a maioria das piazzas têm tendência para ser muito semelhantes em todas as cidades, mas esta é bem diferente.
Chama-se Prato della Valle e é formada por uma área relvada com pequenas árvores, com uma forma elíptica e um comprimento de 230m, e que é contornada por um canal artificial em todo o seu perímetro, deixando no interior uma ilha chamada de Isola Memmia. A praça é atravessada por dois caminhos retos formando entre si uma cruz perfeita, cada um deles com duas pontes sobre o canal.
Para além desta geometria quase perfeita, a praça salienta-se pela beleza do seu canal que é adornado por estátuas de mármore nas duas margens em toda a sua extensão.
Além de ser um espaço monumental muito peculiar e interessante a praça é também apropriada para atividades de lazer e é frequentada por turistas e pelos habitantes da cidade, que a apelidam apenas por Il Prato. Sobretudo durante o Verão a praça fica cheia de visitantes que caminham, patinam ou se bronzeiam.
Muito próximo desta praça fica localizada uma das principais igrejas da cidade, a Basílica da Abbazia Santa Giustina, que surge perfeitamente enquadrada na paisagem juntamente com o canal e as suas estátuas.
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A fachada frontal, que deveria ter sido revestida a mármore, provavelmente branco, nunca foi completada, tendo sido apenas coberta com cerâmico avermelhado e áspero, sem a nobreza que a Basílica merecia. Mas para compensar, na fachada oposta foram evoluindo alguns detalhes arquitetónicos preciosos, como a torre do sino ou as oito cúpulas em mármore, que dão ao edifício uma aparência arredondada.
O interior da Basílica é também riquíssimo e contém algumas obras-primas preciosas da pintura, escultura e da arquitetura renascentista.
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A praça estende-se pelo terreno envolvente ao Palazzo della Ragione e a sua utilização como espaço para troca de mercadorias, especialmente frutas, legumes e aves de capoeira, remonta há já vários séculos. Mas com a construção do Palácio foram criados outros pontos de venda diversificando os produtos transacionados, tendo-se instalado, por exemplo, vendedores de tecidos, de couro e calçado, ou vendedores de sal, entre outros.
O Palácio della Ragione foi a antiga sede dos tribunais da cidade de Pádua. É um edifício imponente que se localiza entre a Piazza dei Frutti e a Piazza delle Erbe com origem no século XIV. O piso superior é ocupado por um imenso salão, il Salone (com 81m por 27m e uma altura de 27m) com um teto em casco de madeira e com as paredes recheadas de pinturas.
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A menos de uma centena de metros da Piazza dei Frutti, entramos numa outra das grandes praças da cidade, também ela com imensa atividade de rua, a Piazza dei Signori.
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Nos dois topos da praça ficam os seus monumentos mais importantes, a Igreja de S. Clemente, com a sua fachada em forra cerâmica em cor de terracota, e o Palácio do Capitanio, no lado oposto, com a famosa Torre Dell'Orologio.
A Torre do Relógio foi construída no século XIV como o portão oriental do Palácio, adornado em estilo gótico e equipado com o famoso relógio astronómico. Um século depois foi construído na base da torre o grande arco triunfal.
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A Catedral é dedicada a Santa Maria Assunta e, apesar de ser considerada como a catedral de Pádua, é apenas a terceira igreja da cidade, depois das importantes basílicas de Santo António e de Santa Giustina. As suas origens são ancestrais mas o atual edifício só começou a ser feito no século XVI, quando o projeto foi selecionado por concurso público. Participaram nomes de peso e a proposta escolhida foi mesmo a do grande Michelangelo. A catedral começou entretanto a ser construída e desde então tem estado sempre em obras. A sua fachada nunca foi completada, o que é algo comum nas grandes igrejas italianas, começam com grandes projetos para o interior e para alguns alçados e depois fica a faltar a fachada principal, que acaba sempre por ficar com aquela solução provisória, que se transforma em definitiva, forrada a alvenaria ou cerâmico com cores de terracota e com um aspeto pouco nobre.
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A Basílica di Sant'Antonio di Padova é a maior igreja da cidade, embora não seja a sua catedral, mas é aquela que recebe mais peregrinos de todo mundo. É conhecida como "il Santo" e é administrada por frades Franciscanos.
A sua construção começou nos anos 30 do século XIII, pouco depois da morte de Santo António de Pádua, na altura apenas com uma única uma nave e logo depois foi sofrendo algumas ampliações que lhe deram uma maior nobreza e dimensão.
De acordo com o seu testamento, Santo António foi enterrado na pequena igreja de Santa Maria Mater Domini, próxima do local da basílica. Por isso, alguns anos mais tarde, esta igreja foi incorporada na atual basílica com o nome de Cappella della Madonna Mora (Capela da Madonna Escura), aumentando significativamente o edifício.
A basílica é hoje um edifício gigantesco mas sem um estilo arquitetónico bem definido, pelas várias intervenções que sofreu, embora os traços românicos e góticos sejam predominantes e revelando também uma influência bizantina evidente nas suas cúpulas.
No interior, o estilo ainda se torna mais complexo, com numerosos monumentos funerários e altares renascentistas e barrocos, decorados com esculturas e pinturas.
Localizada no lado direito do santuário destaca-se a Capela da Arca onde se encontra o túmulo de Santo António, e onde muitos devotos deixam mensagens com as suas súplicas ao Santo milagroso. A capela é uma imponente obra de arte com relevos em mármore que ilustram vários episódios da vida do santo. O túmulo de Santo António é uma escultura de Tiziano Aspetti, um importante artista do Renascimento.
O Santo António é de Lisboa porque foi em Lisboa que nasceu e viveu no início da sua vida, e é de Pádua porque foi lá que viveu os últimos anos e foi lá que morreu, e os seus restos mortais ainda lá se encontram.
Esclarecida esta dualidade padroeira fica aqui uma breve biografia do Santo.
Nasceu em Lisboa em 1195 com o nome de batismo de Fernando de Bulhões, e só mais tarde foi ele mesmo que se nomeou como António. Viveu em Lisboa e em Coimbra onde estudou teologia. Em 1220, com 25 anos, ingressou na Ordem dos Franciscanos e partiu para Marrocos, como missionário e pregador, participando na conversão dos chamados infiéis. Já em Marrocos teve uma doença que o obrigou a regressar à Europa seguindo, no entanto, para Itália e foi neste país que viveu os restantes anos da sua vida, ligado a ordens franciscanas. Os seus conhecimentos de teologia levaram-no a ser nomeado professor de teologia pelo próprio São Francisco de Assis, e assim lecionou em várias universidades italianas e também francesas, como as universidades de Bolonha, de Toulouse, Montpellier e de Pádua, adquirindo renome como grande orador sacro. Após a morte de S. Francisco em 1226, Santo António fixa-se em Pádua, onde começa por fazer sermões dominicais, mas as suas palavras eram de tal modo acessíveis ao povo, que passaram a atrair multidões para o ouvir, tornando-se num caso raro de popularidade.
Santo António viria a falecer em Pádua aos 36 anos no dia 13 de Junho de 1231 e cerca de um ano após a sua morte foi declarado santo pela igreja católica, pelo Papa Gregório IX.
E desde então, ao longo dos séculos, que Santo António de Lisboa ou de Pádua tem sido objeto de grande devoção popular, é um santo casamenteiro e é padroeiro dos pobres e invocado para o encontro de objetos perdidos. É o santo padroeiro da cidade de Pádua mas, ao contrário do que é corrente pensar, não é o santo padroeiro da cidade de Lisboa, que é São Vicente. De qualquer forma não deixa de ser o nosso santo popular de Lisboa e o dia da sua morte, o 13 de Junho, é mesmo o feriado municipal da cidade.
Em 1934, o Papa Pio XI proclamou-o como segundo padroeiro de Portugal, a par da Nossa Senhora da Conceição.
Muitas das suas estátuas e imagens representam-no envergando o traje dos frades franciscanos e segurando um Menino Jesus ao colo.
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Terminámos assim esta visita à cidade de Pádua, com direito a uns breves conhecimentos teológicos, sobre os quais jamais imaginei poder vir a escrever.
Partiríamos no dia seguinte para Sul e faríamos a primeira paragem na cidade de Bolonha.
Bolonha é uma cidade cheia de história e com uma arquitetura preciosa, marcada pela sua origem Etrusca, com os edifícios de tonalidade avermelhada ou de terracota que dominam todo o centro da cidade, onde se sucedem monumentos e igrejas, as extensas galerias com pórticos ou arcadas e, sobretudo, as tão características torres, que constituem uma marca incontornável desta cidade.
Caminhar pelas ruas do centro histórico de Bolonha é um prazer, como se voltássemos ao período medieval, aquelas torres levam-nos ao imaginário que o cinema nos ajudou a contruir das épocas de reis e rainhas, de batalhas sangrentas e das grandes epidemias.
Mas atualmente Bolonha é uma cidade moderna que combina o seu aspeto ancestral com uma vivência animada e cosmopolita. É uma das cidades universitárias italianas mais importantes, com cerca de 100 mil estudantes, e mistura a sua história, a arte e a cultura, e uma gastronomia preciosa, com um ambiente jovem e estudantil, que faz desta cidade um dos polos turísticos imperdíveis em qualquer visita a Itália.
A forma de conhecermos a cidade de Bolonha será, necessariamente, caminhando. E não é sequer preciso fazer grandes percursos, porque a cidade histórica é relativamente pequena e em 3 a 4 km conseguimos percorrer todos os locais de maior interesse.
Atenção para quem venha de carro que terá de o deixar fora do centro histórico, porque o acesso a essa zona está condicionado e é exclusivo para quem lá mora ou trabalha. Podemos não nos aperceber dessa informação, embora esteja representada em várias placas de trânsito e, nesse caso, estaremos sujeitos a receber uma multa em casa alguns meses depois. Portanto, é melhor procurar um parque mais afastado e depois vir de autocarro ou táxi, ou mesmo a pé.......dependerá da distância, claro.
O percurso que aqui vou recomendar é apenas uma alternativa das muitas possibilidades que podemos seguir na nossa caminhada, mas passará, em qualquer dos casos, pelos monumentos mais importantes e pela praça mais emblemática da cidade, a Piazza Maggiore. Mas a melhor forma de contemplarmos a cidade será subirmos a uma das torres visitáveis, como é o caso da Torre de degli Asinelli, que permite uma panorâmica fantástica sobre o centro histórico.
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Muito próximo da catedral surge a principal praça da cidade, a Piazza Maggiore, que alberga alguns dos seus monumentos mais importantes. É a praça central de Bolonha e é quase um mostruário de monumentos, todos eles preciosos.
No topo Norte salienta-se a emblemática Fontana del Nettuno, junto ao Palazzo Re Enzo que se funde com o Palazzo del Podestà.
Em todo o lado Poente ergue-se o Palazzo Comunale que domina a praça com a sua Torre dell'Orologio.
No topo Sul surge o Palazzo dei Notai e a imponente Basílica de São Petrônio.
Já do lado Poente desenvolve-se o bonito Palazzo dei Banchi, cheio de arcadas, algumas delas dão acesso à teia de ruelas, quase medievais, como a Via Clavature que liga ao Santuário de Santa Maria della Vita.
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Começando pela Basílica de São Petrónio, construída para homenagear o padroeiro da cidade, São Petrónio, antigo bispo de Bolonha no século V. A basílica foi concebida pelo conselho municipal como um templo cívico, em oposição direta ao papa, em Roma, e o seu projeto original previa que seria maior que a Basílica de São Pedro, mas, durante o processo, o plano foi reduzido e uma parte do dinheiro foi desviada para outras coisas. Ainda assim a Basílica é a mais imponente de toda a cidade e a 15ª maior igreja católica do mundo, com 132m por 66m de largura e uma altura de 47m, e pode abrigar 28 mil pessoas. Foi erguida em estilo gótico e a sua construção começou no século XIV, mas rapidamente começou a sofrer alterações e suspensões resultantes das decisões das autoridades religiosas que fizeram prolongar as obras por vários séculos, sendo que a fachada nunca chegou a ser concluída, estando a parte inferior em mármore rosa e os dois terços superiores ainda em alvenaria.
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A fonte com a estátua do rei Nettuno foi construída no século XVI pelo escultor flamengo Giambologna e é suposto ser um símbolo do poder do Papa, que governou o mundo como Neptuno governou os mares.
Junto da estátua, existem ainda quatro pequenos anjos que representam os rios dos quatro continentes descobertos naquela época: Ganges, Nilo, Amazonas e Danúbio.
De qualquer forma resolvemos vaguear sem destino, como se indica no mapa anterior, mas não só, porque a caminhada leva-nos sempre a outros recantos que o mapa não consegue refletir, e assim fomos passando pelas ruelas mais apertadas e pelas ruas mais amplas e, em qualquer dos casos, fomo-nos deixando surpreender pelos pormenores que nos vão surgindo.
Uma das características que marca a arquitetura da cidade é a existência de longas galerias com arcadas, que marcam a imagem das fachadas dos edifícios e funcionam como espaços comerciais ou apenas como passeios cobertos, usados para que as pessoas possam caminhar abrigados da chuva ou da neve.
Bolonha tem mais de 30 km dessas galerias, como uma teia paralela de caminhos cobertos, com arcadas ou pórticos, sendo a galeria mais longa aquela que é conhecida como Via di San Luca, com mais de 2 km, entre o Arco Del Meloncello e o Santuário Madonna di San Luca.
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E aquelas que associamos como símbolo tradicional da cidade de Bolonha são as chamadas Le due Torri (as duas torres), um conjunto formado pelas torres de Garisenda e de Asinelli, já as duas em condições de verticalidade muito duvidosa, o que constitui um atrativo turístico adicional, apesar de algo periclitante.
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É também chamada como a torre Dante, que terá visto a torre tão inclinada quando era estudante na Universidade de Bolonha que lhe dedicou uns versos na Divina Commedia (Inferno, canto 31º), que se podem ler também numa lápide colocada atualmente na base da torre:
Qual pare a riguardar la Garisenda
sotto 'l chinato, quando un nuvol vada
sovr' essa sì, che ella incontro penda;
tal parve Anteo a me che stava a bada
di vederlo chinare, e fu tal ora
ch' i' avrei voluto ir per altra strada.
A Torre degli Asinelli, a mais alta das duas, com 97m, foi construída no século XII para abrilhantar as vaidades da família dos Asinelli, mas rapidamente passou a fazer parte das propriedades da Comuna local. A sua altura e a sua localização, numa das entradas da cidade, fez com que a torre tenha sido utilizada com funções de vigilância e defesa.
O facto de estar apetrechada com uma escada interior em toda a sua altura, permite o acesso ao topo e oferece uma vista deslumbrante para o visitante mais afoito que pretenda, e consiga, escalar os seus 498 degraus. Entra-se na torre por uma porta estreita e sobe-se uma escada circular com cerca de quinze metros até a bilheteira. Os bilhetes de ingresso custam 3 euros, mas fiquem sabendo que não é barato, porque o sacrifício é descomunal, mas o final, para os que consigam resistir, será certamente inesquecível.
A torre é toda ela oca, com os degraus de carvalho da escada fixados ao longo das paredes e, de quando em quando, surge uma pequena janela que permite a entrada da claridade e do ar frio. Depois de quatrocentos e noventa e oito degraus, alcança-se finalmente um sótão que parece uma caixa e que dá acesso a um terraço que permite contemplar toda a cidade.
E a partir dos vários ângulos é possível observar toda a cidade, as suas ruas, as arcadas, os edifícios e a Piazza Maggiori com os seus monumentos.
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E num dos ângulos é possível enquadrar a Cattedrale Metropolitana di San Pietro, onde se destaca o seu Campanário, com 70m de altura e, à sua esquerda, a Torre Azzoguidi, também conhecida como Torre Altabella, com os seus 61m. Ainda na mesma envolvente mas do lado direito do plano de visão, fica ainda a Torre Prendiparte ou Coronata, com 60m.
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Não dormimos em Bolonha mas admito que seja um local agradável para uma saída noturna, desde logo para experimentar a gastronomia local, que é conceituada, mas também porque o ambiente noturno me pareceu ser interessante, pela frequência de estudantes universitários bastante visível.
Voltámos ao carro para a etapa seguinte em direção a Parma.
Uma grande desilusão......foi a principal sensação que me ficou desta cidade. Mas talvez a culpa tenha a ver com a concorrência fortíssima das cidades que acabámos de visitar há poucos dias, quando andámos por Pádua, Bolonha e sobretudo Veneza, e depois chegamos a Parma e já não encontramos nada que nos fascine. E o facto de estar um dia cinzento e chuvoso também não terá ajudado nada.
Mas como esta é também a cidade do delicioso prosciutto di Parma e do famoso formagio parmegiano, contava pelo menos poder degustar essas iguarias, mas nem nisso me calhou, talvez por azar, mas não passámos por nenhum restaurante onde pudéssemos degustar in situ aquelas especialidades locais.
Mas ainda assim não deixámos de fazer a visita à cidade passando por alguns dos locais mais interessantes, que se dispõem num centro histórico bastante pequeno, o que faz com que o percurso necessário para conhecer a cidade seja muito curto, pouco mais de 2 a 3 km.
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O exterior do edifício que alberga o teatro e sala de ópera da cidade, não aparenta a dimensão e o luxo que se encontram no seu interior. Também não se suspeita de uma história tão importante como aquela que foi vivida nesta sala de espetáculos, sobretudo quando o compositor Giuseppe Verdi, que nasceu em Busseto, a apenas 30 km de distância, alcançou neste mesmo espaço a fama e o estrelato que o fizeram ser conhecido como um dos grandes compositores de todos os tempos.
O auditório tem 1.400 lugares e está em funcionamento desde a sua inauguração em 1829. Atualmente são apresentadas algumas óperas ao longo da temporada, de meados de janeiro a abril, e todos os anos decorre nesta sala em outubro o festival Verdi, que atrai sempre muitos espetadores.
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O Palácio do Governador, antigo palácio do governo local, localizado do lado Norte da Piazza Garibaldi, é um edifício de estilo barroco e neoclássico, dominado pelo seu campanário, a torre do sino, uma torre construída no século XVIII, que é também conhecida como torre do relógio. Mas além do relógio mais visível a torre inclui também na sua fachada outros dois relógios de sol, junto ao nicho onde repousa uma imagem da virgem com o menino ao colo.
Atualmente o palácio é um local de exposições de arte moderna e contemporânea.
Do lado Poente fica a Chiesa di San Pietro. A sua fachada remonta ao século XVIII e é composta por um pórtico, e o seu portão de entrada fica resguardado num nicho em semi-abóbada, e no exterior elevam-se ainda quatro colunas monumentais feitas em pedra.
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O Duomo ou Cattedrale di Parma, também chamada como Catedral de Santa Maria Assunta, é o mais importante local de culto católico da cidade e a igreja-mãe da diocese local. Juntamente com o Batistério e com o Palácio Episcopal formam o conjunto arquitetónico preciosíssimo que preenche a pequena Piazza Duomo.
O seu exterior é de estilo românico, com uma fachada típica das igrejas das cidades do norte de Itália. Pelo interior o estilo românico é ainda predominante, embora algumas das partes principais, como a nave central e a cúpula, tenham sofrido várias intervenções renascentistas e algumas das capelas laterais tenham sido mais tarde reformuladas em estilo gótico.
A antiga igreja existente neste local foi destruída após um incêndio no século IX. Depois disso começaram as obras de reconstrução dando origem a um templo dedicado à Virgem Mãe de Deus. Desde então não pararam as reconstruções e reabilitações e no século XIII foi construído o atual campanário. A partir do século XV as capelas laterais foram decoradas com frescos de interesse considerável. Mas só mais tarde, em 1834, o papa Gregório XVI elevou a igreja ao estatuto de basílica.
O batistério foi começado no final do século XII, como se refere numa inscrição no seu portal. No estilo gótico e com utilização do precioso mármore rosa de Verona a construção foi evoluindo ao longo de quase um século até ao ano de 1270, quando o edifício foi consagrado solenemente. A beleza arquitetónica daquele edifício é incontestável e será talvez o monumento mais marcante de toda a cidade de Parma.
O dia estava chuvoso e a Piazza Duomo completamente vazia, e sem as cores que um dia de sol poderia fazer realçar, os dois monumentos perdiam a beleza que uma arquitetura tão valiosa deveria revelar. Resolvi então fazer esta foto apenas em tons de sépia, para que os contornos fossem visíveis e a imagem revelasse um requinte semelhante àquele que nos era mostrado no local.......um espaço solene, quase intimista, vazio e silencioso, sem cor e sem movimento.
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Depois de uma pausa em torno da Piazza Duomo seguimos até à Igreja de San Giovanni Evangelista, localizada logo atrás da catedral.
Trata-se de mais uma igreja monumental, foi construída no século XVII e está integrada num convento beneditino. Tem uma fachada de mármore em estilo barroco e enverga um belo campanário no seu lado direito com uma altura de 75m, o mais alto da cidade de Parma.
Mas passámos ainda por algumas ruas onde tentámos provar as iguarias locais, o presunto de Parma e o queijo Parmegiano.....mas nada disso, encontrámos vários restaurantes, e até talvez fosse possível comer uma pasta com queijo, mas ralado de uma fatia guardada em embalagem plastificada ou de um pacote com o queijo já ralado, mas nenhum deles oferecia um daqueles queijos gigantes, que parecem pneus, e de onde se vão retirando pedaços suculentos do belo parmegiano.
Curiosamente encontrámos uma excelente gelataria de uma rede regional no Norte de Itália que se chama “Come una volta”......que tinha um gelado de pera perfeitamente divinal.
Passámos ainda pela Piazza della Pace, onde se encontra o Palazzo della Pilotta, sede do Museo Archeologico Nazionale.
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Cinque Terre:
Saímos de Parma para ir dormir a La Spezia, na costa do Mediterrânio, num percurso de cerca de 130km em autoestrada, atravessando o Parque Nacional dell'Appennino, na cordilheira dos montes Apeninos, que percorrem longitudinalmente toda a Itália.
A cidade de La Spezia vai servir de base para visitar as Cinque Terre, um conjunto de aldeias classificadas como património mundial.
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Portovedere é uma das típicas aldeias da Ligúria, com as suas casas pitorescas com fachadas pintadas a cores pastel, contrastando entre si de forma muito característica.
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A alternativa que escolhi não é aquela que recomendo. E o que fiz foi percorrer de carro um caminho sinuoso entre montanhas, até à aldeia de Monterrosso. Depois deixámos o carro num estacionamento que existe junto à praia e visitámos as restantes aldeias de comboio.
Ou então pode ser escolhida a alternativa que mais recomendo e que consiste em deixar o carro na estação de La Spezia e sair de comboio numa viagem de cerca de 10 min até chegarmos às primeiras aldeias das Cinque Terre.
Em qualquer dos casos podemos adquirir um bilhete, uma espécie de passe, que permita sair e voltar a entrar no comboio. No caso de ficarmos a dormir na cidade de La Spezia, ainda podemos voltar a algumas aldeias durante a noite, porém, conta-me quem já lá esteve ao serão, que não se encontra grande animação e, pior ainda, as aldeias não estão sequer devidamente iluminadas, e o resultado pode ser uma certa desilusão.
De qualquer forma, vindo de La Spezia ou de Monterrosso, o comboio atingirá a estação de Riomaggiore em menos de 10 minutos e foi exatamente nessa estação que fizemos a nossa primeira paragem.
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Riomaggiori é uma das aldeias mais bonitas com as suas casas pintadas com as cores típicas da região, quase amontoadas entre si e dispostas sobre as encostas de um vale muito inclinado que se encaminha para o mar, que aqui é de um azul forte e brilhante.
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A rua principal de Riomaggiore é a Via Colombo, onde se encontra o principal comércio da aldeia, atualmente direcionado para o consumo turístico, com restaurantes, bares e lojas.
Como a aldeia se desenvolve nas encostas de um vale muito íngreme todas as ruas vão convergindo para a rua central, que passa sob a estação e desce até ao mar, numa pequena praia de calhau preto com uma rampa para apoio na entrada e saída das embarcações de pesca.
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Um mar imenso de um azul brilhante a beijar a aldeia numa pequena enseada, formando um conjunto que é quase comovente.
E a própria aldeia, que é uma terrinha de pescadores, chega a fazer-nos lembrar alguns filmes italianos, como o “Il Postino” (O carteiro de Pablo Neruda), que não foi ali rodado (aliás foi rodado numa aldeia muito menos bonita, na Sicília), mas o ambiente de aldeia piscatória está lá e é bem evidente.
Toda esta pureza e este enquadramento estético poderão, no entanto, ser perturbados se as condições atmosféricas não ajudarem, porque num dia cinzento a beleza daquele lugar perde-se completamente. Por isso diria que a escolha certa para esta viagem seria no Verão, quando as condições metrológicas serão, provavelmente, mais favoráveis. No entanto, nessa altura estaremos em plena época alta e o local estará, talvez insuportavelmente, cheio de turistas, ao contrário do que aconteceu na nossa estadia na Primavera de 2012, quando nem existiam assim tantos turistas e o local estava encantador.
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Tal como Riomaggiori, também Manarola tem vivido da vinha e da pesca, mas atualmente é sobretudo uma aldeia turística.
Desta forma, quem quiser visitar Corniglia deve continuar até à próxima paragem de comboio, já na aldeia de Vernazza, e daí apanhar um autocarro que faz o percurso de cerca de 6 km até ao alto da encosta, e assim, poder visitar a aldeia de Corniglia. No final da visita deverá depois fazer o trajeto inverso.
Corniglia é claramente a aldeia menos interessante das cinco e por isso a maioria dos visitantes acabam por nem ir lá, devido a toda a logística que é necessária, mas durante o percurso de autocarro é possível observar algumas bonitas paisagens desta aldeia.
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Entramos depois nas ruelas da aldeia com casas coloridas, como nas aldeias vizinhas, mas não tão bonitas. Encontramos também a igreja católica, que é o único monumento da terra, a Chiesa di San Giovanni Battista.
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Falta-me ainda falar da gastronomia local e, porque estamos na Ligúria, será incontornável experimentarmos o molho de Pesto, originário desta região de Itália, um preparado com manjericão, pinhões, queijo e alho.
Assim, na paragem que fizemos para almoço, numa das esplanadas que estas aldeias oferecem, experimentámos justamente um prato típico da região, o Trofie al Pesto. Pode ser considerado o prato mais clássico da Ligúria, por ser feito com o pesto local e com trofie, um tipo de massa que é também da região, bastante bom mas com um aspeto um pouco duvidoso, mais parecem “minhocas” brancas.
Mas o conjunto é excelente, sobretudo porque o acompanhámos com um branco seco (muito fresquinho) feito das uvas de vinhas plantadas nas encostas da Ligúria.
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Terminámos uma viagem de um único dia à região das Cinque Terre, que pode ser suficiente desde que o dia seja bem esticado, começando bem cedo e terminando já tarde, o que facilita se for numa época de dias longos, na Primavera ou no Verão.
O local é uma preciosidade e deixa-nos encantados. Pode ficar uma sensação de que poderíamos demorar mais tempo mas, na realidade, para além de percorrermos as ruas e desfrutarmos das paisagens, não há muito mais que possa ser feito......a não ser parar nalguma esplanada para almoçar ou tomar uma bebida. Mas tudo isso cabe tranquilamente dentro de um só dia.......e será certamente um dia inesquecível, como foi este dia.
Já ao pôr-do-sol fizemos ainda o trajeto até à Riviera Italiana e fomos ficar à cidade de Rapallo.
Riviera Italiana:
A zona da Riviera é uma das mais elegantes e glamourosas de Itália, sobretudo Portofino, um local que me encantou logo na primeira visita, ainda nos anos 80, o que me fez lá voltar depois disso mais 3 vezes.
São cidades ou aldeias com grande charme, embora sejam frequentadas de forma massiva na época balnear, apesar das praias não terem a qualidade a que estamos habituados no nosso país e muitas delas serem privadas. Mas além dessa afluência mais popular em época alta, a Riviera é também o local de concentração das grandes fortunas, de Itália e de França, tal como a Riviera francesa, por onde circulam nos seus Bentleys ou Ferraris entre os campos de golf, os restaurantes de altíssimo nível, e as marinas apinhadas de barcos de luxo. Atrizes e atores, top-models e milionários são alguns dos frequentadores desta zona que tem uma arquitetura preciosa, que consegue misturar a traça pitoresca da Ligúria com toda uma envolvente luxosa.
E nós, turistas portugueses, tentamos experimentar o luxo e o charme de alguns locais, mas sem direito a andar de Ferrari e sem nos esticarmos muito nos restaurantes. Mas ainda assim é um local onde nos sentimos bastante bem, e acaba por ter uma oferta tão grande de restaurantes e esplanadas, que se conseguem preços perfeitamente razoáveis em espaços muito interessantes.
Dormimos em Rapallo, a maior cidade da zona da Riviera, e passámos um dia tranquilo, sem grandes pressas, em torno de três locais desta região, Portofino, Camogli e a própria cidade de Rapallo. Fomos também percorrendo alguns dos locais mais bonitos que se vão revelando ao longo da costa, com paisagens magníficas, do contraste do mar azul com as encostas verdejantes adornadas pelas casas de luxo, sempre coloridas, com os tons típicos da Ligúria.
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Tivemos o primeiro contacto com Rapallo já à noite, quando saímos para jantar depois de regressarmos das Cinque Terre. E ficámos encantados com a quantidade e qualidade de restaurantes que a cidade disponibiliza, para todos os gostos e todas as bolsas, sobretudo com uma oferta à base de peixe e marisco, principalmente ao longo da marginal, que é esplendorosa e que à noite é particularmente marcada pela presença do castelo iluminado sobre uma pequena língua de terra que invade o mar junto à costa.
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Ao longo da marginal, no contorno de toda a baía, dispõem-se várias praias privadas e todo o lado Poente é ocupado por uma vasta marina.
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O Castello di Rapallo encontra-se em pleno espelho de água da baía, ao contrário da maioria dos castelos, que se localizam nos montes mais altos. A sua construção remonta ao século XVI e contém no seu interior uma pequena capela dedicada a San Gaetano.
O monumento é o símbolo principal da cidade de Rapallo e foi declarado como um monumento nacional italiano........e é sobretudo uma preciosidade paisagística, quando enquadrado na magnífica baía de Rapallo.
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Fez-me recordar a referência cinematográfica que me leva a este lugar, no filme Al di là delle nuvole (Para além das nuvens), um conjunto de quatro contos encantadores, criados de forma sublime por Michelangelo Antonioni. E no segundo conto Portofino surge cinzento e enevoado, como cenário para as cenas de um amor impudico, entre Sophie Marceau e John Malkovich.
Saindo do cinema mas ainda por fora do mundo real, Portofino era também a referência das passerelles internacionais por onde passavam as super top-models (naquela época Claudia Schiffer estava no topo), nos desfiles que passavam por cá na TV, realizados em plena Piazza Martiri dell'Olivetta, bem junto à baía que banha a aldeia.
Depois há ainda a recordação do que o meu pai me dizia sobre este local, um dos que mais tinha gostado de todos quantos tinha visitado em Itália, e que me deixou curioso sobre este lugar, quase insignificante de tão pequeno, mas que seria certamente muito bonito.
E são essas imagens e essas referências que me estimulam e me tocam de cada vez que percorro as ruas de Portofino e contemplo as suas paisagens, não é apenas aquele momento que ali estou a viver, há todo um lastro de memórias, algumas são pouco mais que imaginação, mas que me fazem sentir que estou num local que me é familiar.
Por tudo isso as sensações que experimento cada vez que visito a pitoresca aldeia de Portofino vão muito para além do que conseguirei descrever nesta crónica.....fica apenas o registo, mas cada um terá de viver as suas próprias emoções, que serão muito pessoais e, certamente, diferentes da minha.
Mas o que é incontornável é a beleza deste local.......e não são precisas memórias ou referências ao cinema para reconhecer que estamos perante um lugar mágico e encantador.
A aldeia é toda ela um centro turístico, todos edifícios ou são lojas, muitas delas de marcas top, ou são bares e restaurantes, ou gelatarias.
Apesar de ser um local que atrai milionários, alguns deles chegam nos seus iates, a verdade é que se consegue almoçar ou jantar nas esplanadas do paredão, a centímetros do espelho de água, por preços razoáveis. Essa é uma particularidade que só encontramos em Itália, mesmo nos restaurantes mais luxuosos, para além dos pratos mais caros, há sempre alguns pratos mais acessíveis, como as massas, as pizzas ou as saladas.
Visitar esta terra impõe que se possa desfrutar daquelas esplanadas, para almoçar, jantar ou pelo menos para tonar uma bebida ou comer um gelado, caso contrário não entraremos verdadeiramente naquele ambiente glamouroso e seremos só meros espetadores e não players da dinâmica que aquele local oferece. Por isso, não deixámos de aproveitar a boa comida italiana num almoço tardio numa esplanada sobre o mar, que foi muito além de uma simples refeição.
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Apenas para terminar registo que Portofino se pode revelar com um aspeto e uma envolvente bastante distintos, quase como se a aldeia tivesse duas caras, apesar de ser sempre um local encantador. Esse contraste foi bem visível nas nossas duas últimas visitas, quando a baía estava apinhada de barcos de luxo e cheia de gente, naquela tarde de um domingo soalheiro em 2005, ou numa manhã pacata com o céu meio nublado, mais vazia e mais melancólica, como aconteceu num dia de semana em abril de 2012.
A imagem da visita de 2005 revela uma baía cheia de barcos de alto luxo, conferindo ao local um glamour que não foi visível naquela aldeia pacata e com pouco sol, que encontrámos em 2012.
Das várias zonas balneares desta costa escolhemos Camogli, por ser muito mais do que uma simples zona de praia, mas sim uma vila já com alguma dimensão e bastante interessante, sobretudo pela sua arquitetura tão pitoresca que se desenvolve ao longo de toda a praia e na baía do porto.
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A baía desenvolve-se numa extensão de cerca de 400m e é sempre acompanhada pela Via Garibaldi, que começa por ser apenas uma ruela por entre as casas, mas depois, já junto à praia, percorre toda a baía até ao lado oposto onde se ergue a Basilica di Santa Maria Assunta.
Em novembro de 1988, o papa João Paulo II elevou a igreja ao estatuto de uma pequena basílica. A sua beleza interior é afamada e faz parte dos registos, mas certamente nada é mais singular e mais precioso nesta igreja do que a beleza do seu edifício naquele enquadramento tão pitoresco, entre as casas coloridas e o azul do Mediterrâneo.
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Passando para outra baía, atrás do castelo, encontramos uma marina e porto de pesca, totalmente rodeada por edifícios idênticos aos demais desta vila, conferindo a este porto um aspeto pitoresco e uma paisagem muito peculiar, que não se encontra noutros locais, mesmo aqui em Itália.
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Antes de regressarmos ao carro percorremos ainda as ruelas, autênticos becos e sempre muito típicas, que envolvem toda a zona do porto. Atravessámos depois a rua principal, que passa longitudinalmente ao longo de toda a vila, a Via della Repubblica, mais uma rua interessante e também ela bastante típica.
Esta vila é m uito peculiar e, sobretudo fora da época alta, justifica certamente uma paragem a quem viaje pela Riviera italiana.
Todos estes locais da Riviera e até das Cinque Terre podem também ser visitados de barco e existem várias alternativas de passeios ou pequenos cruzeiros com saídas de todos os portos para visitar dessa forma estes locais que fui referindo ao longo desta crónica......dependerá da vossa escolha, ou da vossa bolsa.
No final do dia seguimos ainda até Génova sempre nas estradas secundárias ao longo da costa, evitando propositadamente a autoestrada que atravessa as montanhas entre túneis e viadutos.
Génova:
A cidade de Génova é bem diferente da maioria das cidades italianas e, na minha opinião, não é, de todo, das mais interessantes deste país. Tinha cá vindo numa passagem fugaz durante um inter-rail e não fiquei com grande vontade de voltar, e passaram quase 30 anos para esse regresso. Mas desta vez a cidade pareceu-me bastante diferente, sobretudo na zona do porto, que era apenas um porto industrial e agora toda aquela zona é uma imensa marina e um dos locais que mais atrai os habitantes da cidade e todos os que a visitam.
Historicamente a cidade é um local de referência, a antiga república marítima de Génova teve um papel de destaque na exploração do mar e no descobrimento de novas terras ao longo dos séculos da sua existência. Terá mesmo sido o berço oficial de um dos principais marinheiros da história, Cristóvão Colombo, ou Cristoforo Colombo, um genovês que descobriu meio mundo, embora nunca em representação do seu país natal.......mas a realidade talvez não seja bem essa e talvez o grande almirante nem seja sequer genovês, mas isso são teorias de conspiração que mais à frente vou desenvolver.
A cidade é bastante grande mas os locais mais interessantes para uma visita turística acabam por se concentrar em três bairros, ou distritos, que incluem o porto e o centro histórico, com um emaranhado de ruelas e becos, ou Caruggi, como aqui são chamados. Foram esses três bairros, San Vincenzo, Molo e Maddalena, que percorremos ao longo do dia que passámos na cidade de Génova. Terminámos depois de uma breve paragem em Boccadasse, um antigo bairro típico de marinheiros e pescadores.
Quartieri di San Vincenzo:
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Chegámos depois à avenida mais ampla, a Via XX Settembre, com o comércio mais rico da cidade, sobretudo nas galerias que se formam sob as aracadas dos edifícios imponentes que ficam já próximos da Piazza de Ferrari.
Quando viajamos ficamos surpreendentemente interessados por temas que nos eram completamente indiferentes, mas que agora nos fazem todo o sentido. Isso está sempre a acontecer e no caso concreto da cidade de Génova é quase natural que se tente refletir um pouco sobre a figura daquele marinheiro que descobriu meio mundo e que terá nascido e vivido ali naquele local.
Mas neste caso existe ainda uma dúvida que é também uma curiosidade interessante, porque, na verdade, não há a certeza de que Cristóvão Colombo tenha nascido naquela casa, nem sequer que tenha nascido em Génova. Para mim - e lá vem a teoria da conspiração - Cristóvão Colombo não era o filho de um tecelão genovês........Cristóvão Colombo era portugês. Um português nascido no século XV em Cuba, no Alentejo, não foi um acaso ter baptizado com o mesmo nome a maior ilha que descobriu no mar das Caraíbas. Era judeu e era fidalgo, porque um filho de um tecelão não chegaria a comandante de uma armada e jamais poderia desposar uma fidalga, como Colombo, que casou com Filipa Moniz, uma portuguesa filha do governador (na altura, capitão donatário) da ilha de Porto Santo.
Mas se era português, porque razão D. João II lhe negou o apoio da coroa portuguesa para uma expedição na busca do Novo Mundo? E foi essa a razão que o fez rumar a Espanha e foi em nome da coroa espanhola que o navegador se fez ao mar e encontrou as américas em 1492.
A resposta é, também ela, parte da teoria da conspiração. A verdade é que os portugueses já conheciam o que existia a Oeste nas suas incursões por aquelas bandas, embora só tenham formalizado o descobrimento do Brasil seis anos depois de Colombo ter descoberto a América. Mas conhecendo aquela linha de continente os portugueses já sabiam que não seria daquele lado que se iria encontar aquilo que todos procuravam, que era a Índia. Vá-se lá saber porquê mas naquela época os reis passavam-se com pimenta e canela e outras ervas de cheiro.
Assim, Colombo foi para Espanha enviado por D. João II justamente para fazer com que a armada espanhola seguisse para Ocidente, desviando-se irremediavelmente da direção que os levaria até à India. E a América foi um efeito secundário, uma espécie de prémio de consolação.
E foi desta forma que alguns anos depois, Portugal, representado por Vasco da Gama, já durante o reinado do rei D. Manuel I, descobriu o caminho marítimo para a Índia entre 1497-1499. Ou seja, ficámos nós com as especiarias, no bem-bom, enquanto eles tiveram de se contentar com a América e as Caraíbas......se calhar sou só eu, mas isto não me soa lá muito bem!!!
Só para rematar.......esta teoria não é minha e já li justificações que a vão provando ao longo das várias fases da vida de Cristóvão Colombo. E eu, que até sou um bocado sético, achei que faziam todo o sentido.
Mas sendo português ou genovês, a verdade é que esta é a casa oficial do grande Cristóvão Colombo e é aqui que podemos visitar o museu feito em sua honra e memória.
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Na envolvente desta praça existem vários edifícios clássicos, de escritórios, sedes de bancos e companhias de seguros, o que torna este local como o principal centro financeiro e de negócios da cidade de Génova. No final do século XIX, Génova era o principal centro financeiro de Itália, juntamente com Milão, e a Piazza de Ferrari foi o lugar onde algumas das principais instituições se estabeleceram, como a Bolsa de Valores, o Crédito Italiano e uma importante filial do Banco da Itália.
A Piazza abriga ainda o alçado lateral do Palácio Ducal, o Museo Accademia Ligustica di Belle Ar, o Teatro Carlo Felice e o monumento a Victor Emmanuel II.
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Quartieri di Molo:
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Entrámos depois no coração do centro histórico, com ruas estreitas e becos, os chamados Caruggi, que caracterizam esta parte da cidade, e que vão intercetando pequenas praças, quase sempre ocupadas por esplanadas de restaurantes ou cafés, como é o caso da Piazza d’Erbe.
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Tem uma fachada com listas negras e brancas e caracteriza-se por conter os diversos estilos arquitetónicos da cidade de Génova, desde o portal lateral de San Geovanni, no estilo românico, datado do século XII, aos elementos barrocos de algumas capelas laterais e, no extremo oeste, os três portais em estilo gótico francês. A capela mais luxuosa da catedral é dedicada a São João Batista, o santo padroeiro de Génova, com um sarcófago do século XIII, onde outrora foram guardadas as relíquias do santo.
O Museo del Tesoro di San Lorenzo, localizado no piso inferior e com entrada pela sacristia, alberga vários tesouros, como um prato de vidro verde que, supostamente, terá sido usado na Última Ceia e um prato caledónico azul onde, alegadamente, foi apresentada a Salomé a cabeça de São João Batista.
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Já em plena marina existem vários polos de interesse, como a zona do Porto Antico ou o Museo Nazionale dell'Antartide, bem junto à baía. E numa área mais recuada, já depois do viaduto da via rápida, no início da maior praça desta zona, a Piazza Caricamento, ergue-se um bonito edifício, sobretudo pela sua fachada decorada com pinturas, o Palazzo San Giorgio. O palácio foi construído no século XIII para separar e elevar o poder do governo da república do poder religioso do clero, centrado na Catedral de San Lorenzo. Na sua construção foram utilizados materiais da demolição da embaixada veneziana em Constantinopla, que foram oferecidos pelo imperador bizantino como recompensa pela ajuda genovesa contra os venezianos. O palácio chegou a ser usado como uma prisão mas também como edifício residencial, e o seu morador mais notável foi o explorador Marco Polo, curiosamente uma das grandes figuras da nação veneziana.
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Vale a pena uma visita, embora nós, portugueses, estejamos bastante bem servidos com o nosso oceanário e já não nos deixamos deslumbrar facilmente.
É nesta zona em que atingimos o outro bairro do cento histórico da cidade, o Bairro da Maddalena, que nasce junto ao porto e sobe pela encosta através de ruelas estreitas, pracetas e edifícios medievais, tal como no bairro vizinho do Molo.
Quartieri di Maddalena:
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Para terminar a visita à cidade de Génova é necessário voltar ao carro e fazer um percurso de cerca de 5km até à costa do lado Nascente da cidade. O objetivo é visitar o bairro do Boccadasse, um antigo bairro típico de marinheiros e pescadores.
O local é bastante pitoresco, com as casas de pescadores pintadas nas cores da Ligúria, com semelhanças evidentes com as aldeias das Cinque Terre.
O local é bastante pitoresco, com as casas de pescadores pintadas nas cores da Ligúria, com semelhanças evidentes com as aldeias das Cinque Terre.
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Foi assim, depois de um final de tarde nublado mas encantador, que terminámos a visita à cidade de Génova, e é também assim que vou finalizar a crónica deste percurso, que nos trouxe desde a costa adriática do país, em Veneza, até à região da Ligúria.
Havia ainda por percorrer 180km de autoestrada até ao aeroporto de Malpensa, perto de Milão, por ser a alternativa mais económica, uma vez que, a partir de Génova, não existiam voos diretos para Lisboa.
Carlos Prestes
Abril de 2012