A zona da Riviera é uma das mais elegantes e glamourosas de Itália, sobretudo Portofino, um local que me encantou logo na primeira visita, ainda nos anos 80, o que me fez lá voltar depois disso mais três vezes.
São cidades ou aldeias com grande charme, embora sejam frequentadas de forma massiva na época balnear, apesar das praias não terem a qualidade a que estamos habituados no nosso país e, muitas delas, serem privadas. Mas além dessa afluência mais popular em época alta, a Riviera é também o local de concentração das grandes fortunas, de Itália e de França, tal como a Riviera Francesa, por onde circulam nos seus Bentleys ou Ferraris entre os campos de golf, os restaurantes de altíssimo nível, e as marinas apinhadas de barcos de luxo. Atrizes e atores, top-models e milionários são alguns dos frequentadores desta zona que tem uma arquitetura preciosa, que consegue misturar a traça pitoresca da Ligúria com toda uma envolvente luxosa.
E nós, turistas portugueses, tentamos experimentar o luxo e o charme de alguns locais, mas sem direito a andar de Ferrari e sem nos esticarmos muito nos restaurantes. Mas, ainda assim, é um local onde nos sentimos bastante bem, e acaba por ter uma oferta tão grande de restaurantes e esplanadas, que se conseguem preços perfeitamente razoáveis em espaços muito interessantes.
Dormimos em Rapallo, a maior cidade da zona da Riviera, e passámos um dia tranquilo, sem grandes pressas, em torno de três locais desta região, Portofino, Camogli e a própria cidade de Rapallo. Fomos também percorrendo alguns dos locais mais bonitos que se vão revelando ao longo da costa, com paisagens magníficas, do contraste do mar azul com as encostas verdejantes adornadas pelas casas de luxo, sempre coloridas, com os tons típicos da Ligúria.
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Rapallo:
Tivemos o primeiro contacto com Rapallo já à noite, quando saímos para jantar depois de regressarmos das Cinque Terre. E ficámos encantados com a quantidade e qualidade de restaurantes que a cidade disponibiliza, para todos os gostos e todas as bolsas, sobretudo com uma oferta à base de peixe e marisco, principalmente ao longo da marginal, que é esplendorosa e que à noite é particularmente marcada pela presença do castelo iluminado sobre uma pequena língua de terra que invade o mar junto à costa.
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Desta vez calhou-nos um hotel bem no centro histórico da cidade, na praça principal, a Piazza Cavour, junto à Basílica dei SS Gervasio e Protasio e mesmo no prédio onde se ergue o arco que dá acesso à praça. Ficámos num “alberggo” tradicional italiano (meio típico – meio manhoso), no último andar de um prédio antigo, pintado a amarelo caril, mesmo ao lado da torre da basílica, de onde se ouviram o martelar vigoroso dos sinos a cada hora da madrugada.
A cidade desenvolve-se em torno de uma baía circular com cerca de 500 m de diâmetro, e apresenta um centro histórico muito característico, também com os edifícios coloridos, tanto os mais clássicos como os mais modernos.
Ao longo da marginal, no contorno de toda a baía, dispõem-se várias praias privadas e todo o lado Poente é ocupado por uma vasta marina.
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Do lado Nascente, mais ou menos a meio, ergue-se o ícone principal desta zona da marina, o Castelo.
O Castello di Rapallo encontra-se em pleno espelho de água da baía, ao contrário da maioria dos castelos, que se localizam nas colinas mais altas. A sua construção remonta ao século XVI e contém, no seu interior, uma pequena capela dedicada a San Gaetano.
O monumento é o símbolo principal da cidade de Rapallo e foi declarado como um monumento nacional italiano... e é sobretudo uma preciosidade paisagística, quando enquadrado na magnífica baía de Rapallo.
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Portofino:
E isso fez-me recordar uma referência cinematográfica que me leva a este lugar, no filme "Al di là delle nuvole" (Para além das nuvens), um conjunto de quatro contos encantadores, criados de forma sublime por Michelangelo Antonioni. E, no segundo conto, Portofino surge cinzento e enevoado, tal como neste dia, como cenário para as cenas de um amor impudico, entre Sophie Marceau e John Malkovich.
Saindo do cinema, mas ainda por fora do mundo real, Portofino era também a referência das passerelles internacionais por onde passavam as super top-models (naquela época era a Claudia Schiffer que estava no topo), nos desfiles que passavam por cá na TV, realizados em plena Piazza Martiri dell'Olivetta, junto à baía que banha esta aldeia.
Depois, havia ainda a recordação do que o meu pai me dizia sobre esta aldeia pitoresca, um dos sítios que mais tinha gostado de todos quantos tinha visitado em Itália, e que me deixou curioso sobre este lugar, quase insignificante de tão pequeno, mas que seria certamente muito especial... e era mesmo verdade.
E são essas imagens e essas referências que me estimulam e me tocam de cada vez que percorro as ruas de Portofino e contemplo as suas paisagens, não é apenas aquele momento que ali estou a viver, há todo um lastro de memórias, algumas são pouco mais que imaginação, mas que me fazem sentir que estou num local que me é familiar.
Por tudo isso, as sensações que experimento cada vez que visito a pitoresca aldeia de Portofino, vão muito para além do que conseguirei descrever nesta crónica... fica aqui apenas o meu registo, mas cada um terá de viver as suas próprias emoções, que serão muito pessoais e, certamente, diferentes da minha.
Mas, mesmo para além de todas as memórias, o que é incontornável neste local, é a sua própria beleza... e não são precisas referências ao cinema para reconhecer que estamos perante um lugar mágico e encantador.
No meio de um conjunto montanhoso e estreito, que avança sobre as águas do Mediterrâneo, surge uma baía recortada, como uma enseada, onde repousa a pitoresca aldeia de Portofino, que se transformou numa marina natural lindíssima, ornamentada pelas casas coloridas e as encostas pintadas de um verde viçoso... e o resultado final é fantástico.
Chegar a Portofino não é a coisa mais fácil do mundo. Existe um parque de estacionamento a cerca de 3 km, junto à praia Giò e Rino, na estrada que vem de Santa Margherita Ligure, onde se pode deixar o carro por 1€/hora (em 2012) e seguir depois de autocarro. A outra alternativa será levar o carro até Portofino e estacionar numa garagem em pleno centro, mas preparem-se para pagar 5,5€/hora e pode não haver lugar e terem que esperar algum tempo. Mas foi dessa forma que fizemos e nem tivemos que esperar, aliás foi sempre assim que fiz das vezes em que lá cheguei de carro.
A aldeia é toda ela um centro turístico, todos edifícios ou são lojas, muitas delas de marcas top, ou são bares e restaurantes, ou gelatarias.
Apesar de ser um local que atrai milionários, alguns deles chegam nos seus iates, a verdade é que se consegue almoçar ou jantar nas esplanadas do paredão, a centímetros do espelho de água, por preços razoáveis. Essa é uma particularidade que só encontramos em Itália, mesmo nos restaurantes mais luxuosos, para além dos pratos mais caros, há sempre alguns pratos mais acessíveis, como as massas, as pizzas ou as saladas.
Visitar esta terra impõe que se possa desfrutar daquelas esplanadas, para almoçar, jantar ou, pelo menos, para tomar uma bebida ou comer um gelado, caso contrário não entraremos verdadeiramente naquele ambiente glamouroso e seremos só meros espetadores e não players da dinâmica que aquele local oferece. Por isso, não deixámos de aproveitar a boa comida italiana num almoço tardio numa esplanada sobre o mar, que foi muito além de uma simples refeição.
Saindo depois do centro podemos percorrer os paredões em todo o contorno da baía e subir ao topo da encosta Poente. Esta subida leva-nos até à Chiesa San Giorgio, uma igreja localizada na cumeeira da colina, que nos permite observar o mar do lado oposto ao da baía.
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Mas o interesse principal nesta escalada até à Chiesa San Giorgio será a possibilidade de nos posicionarmos com uma vista especial sobre a aldeia e a sua baía.
E este é um daqueles lugares onde paramos e de onde não nos apetece sair... mesmo sabendo que a tarifa do estacionamento não dará tréguas.
Um último adeus com esta imagem da bonita aldeia de Portofino, neste caso corresponde à nossa visita de 2005, num sábado soalheiro, quando o local se encontrava bastante cheio, de turistas e de embarcações de alto luxo... ao contrário do seu aspeto num dia de semana enovoado, em abril de 2012, mais vazia e mais melancólica.
Continuando pelas estradas sinuosas da Riviera num percurso de cerca de 15 km, chegámos a Camogli, uma das muitas praias que esta zona vai oferecendo ao longo de toda a costa até Génova. No entanto, embora os locais sejam bastante charmosos, as praias não se aproximam do nosso conceito daquilo que é uma praia. Além de não haver areia branca, e às vezes nem há mesmo areia, as praias são praticamente privadas, porque a grande maioria do espaço fica ocupada pelos concessionários que criam um espécie de esplanadas com espreguiçadeiras, e nada se assemelha à imagem habitual das nossas praias.
Além disso, durante o Verão estas praias ficam apinhadas de banhistas e o local perde grande parte da sua beleza, por isso esta zona torna-se claramente mais bonita e interessante fora da época alta, como foi o caso das nossas duas últimas viagens, ambas na Primavera.
Camogli:
Das várias zonas balneares desta costa escolhemos Camogli, por ser muito mais do que uma simples zona de praia, mas sim uma vila já com alguma dimensão e bastante interessante, sobretudo pela sua arquitetura pitoresca que se desenvolve ao longo de toda a praia e na baía do porto.
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Estacionámos junto à estação ferroviária e iniciámos uma pequena caminhada que nos iria levar até à praia e, depois, até ao porto, de recreio e também de pesca, até regressarmos pelas ruas do interior da vila, também elas bastante pitorescas.
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Já junto à praia estende-se um calçadão pedonal, a Via Giuseppe Garibaldi, cheia de restaurante e gelatarias, com várias esplanadas a ocupar a calçada ao longo da rua. Do lado do mar são visíveis as infraestruturas dos concessionários balneares, os chamados Bagni, que nesta altura se apresentavam fechados e desertos, mas que, na época alta, ocuparão quase toda a praia com as espreguiçadeiras e chapéus de sol, que fazem com que o acesso se torne praticamente privado, sobrando apenas umas pequenas línguas de areia (ou, neste caso, de calhau) para utilização pública... um problema que, felizmente, não temos em Portugal, onde todas as praias são públicas.
A baía desenvolve-se numa extensão de cerca de 400 m e é sempre acompanhada pela Via Garibaldi, que começa por ser apenas uma ruela por entre as casas, mas depois, já junto à praia, percorre toda a baía até ao lado oposto onde se ergue a Basilica di Santa Maria Assunta.
A Basílica de Santa Maria Assunta é o principal lugar de culto católico da vila de Camogli e localiza-se junto à praia a poucos metros do mar. A igreja está construída sobre uma pequena ilha rochosa que separa a praia e o porto da marina, mas, atualmente, a ilha desapareceu tendo dado lugar a uma pequena península.
Em novembro de 1988, o Papa João Paulo II elevou a igreja ao estatuto de uma pequena basílica. A sua beleza interior é reconhecida e faz parte dos registos de culto deste espaço, mas, certamente, nada será mais singular e mais precioso nesta igreja do que a própria beleza do edifício naquele enquadramento tão pitoresco, entre as casas coloridas e as águas do Mediterrâneo.
Ainda na mesma ilha ou península, ergue-se sobre o rochedo, por detrás da basílica, o Castello della Dragonara, também ele visível no bonito enquadramento paisagístico que ali se desenha.
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Passando para outra baía, atrás do castelo, encontramos uma marina, que é também um porto de pesca, totalmente rodeada por edifícios idênticos aos demais desta vila, conferindo a este porto um aspeto pitoresco e uma paisagem muito peculiar, que não se encontra noutros locais, mesmo aqui em Itália.
Na envolvente do porto e da praia são várias as esplanadas que nos convidam a uma paragem para um lanche ou uma bebida. Fizemos essa paragem e só não nos demorámos mais longamente porque o céu tinha ficado coberto de nuvens o que retira grande parte do fascínio deste lugar.
Antes de regressarmos ao carro percorremos ainda as ruelas, autênticos becos e sempre muito típicos, que envolvem toda a zona do porto. Atravessámos depois a rua principal, que passa longitudinalmente ao longo de toda a vila, a Via della Repubblica, mais uma rua interessante e também ela bastante típica.
Esta vila é muito peculiar e, sobretudo fora da época alta, justifica certamente uma paragem a quem viaje pela Riviera italiana.
Todos estes locais da Riviera e até das Cinque Terre podem também ser visitados de barco e existem várias alternativas de passeios ou pequenos cruzeiros com saídas de todos os portos para visitar, dessa forma, estes locais que fui referindo ao longo desta crónica... dependerá da vossa escolha, ou da vossa bolsa.
No final do dia seguimos ainda até Génova sempre nas estradas secundárias ao longo da costa, evitando propositadamente a autoestrada que atravessa as montanhas entre túneis e viadutos.
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