sábado, 14 de abril de 2012

Bolonha


Bolonha é uma cidade cheia de história e com uma arquitetura preciosa, marcada pela sua origem Etrusca, com os edifícios de tonalidade avermelhada ou de terracota, que dominam todo o centro da cidade, onde se sucedem monumentos e igrejas, as extensas galerias com pórticos ou arcadas e, sobretudo, as tão características torres, que constituem uma marca incontornável desta cidade.

Caminhar pelas ruas do centro histórico de Bolonha é um prazer, como se voltássemos ao período medieval, aquelas torres levam-nos ao imaginário que o cinema nos ajudou a contruir das épocas de reis e rainhas, de batalhas sangrentas e das grandes epidemias. 

Mas, atualmente, Bolonha é uma cidade moderna que combina o seu aspeto ancestral com uma vivência animada e cosmopolita. É uma das cidades universitárias italianas mais importantes, com cerca de 100 mil estudantes, e mistura a sua história, a arte e a cultura, e uma gastronomia preciosa, com um ambiente jovem e estudantil, que faz desta cidade um dos polos turísticos imperdíveis em qualquer visita a Itália.

A forma de conhecermos a cidade de Bolonha será, necessariamente, caminhando, e nem é sequer preciso fazer grandes percursos, porque a cidade histórica é relativamente pequena e em 3 ou 4 km conseguimos percorrer todos os locais de maior interesse.

Atenção para quem venha de carro que terá de o deixar fora do centro histórico, porque o acesso a essa zona está condicionado e é exclusivo para quem lá mora ou trabalha. Podemos não nos aperceber dessa informação, embora esteja representada em várias placas de trânsito e, nesse caso, estaremos sujeitos a receber uma multa em casa alguns meses depois. Portanto, é melhor procurar um parque de estacionamento mais afastado e depois vir de autocarro ou táxi, ou mesmo a pé... dependerá da distância, claro.

O percurso que aqui vou recomendar é apenas uma alternativa das muitas possibilidades que podemos seguir na nossa caminhada, mas passará, em qualquer dos casos, pelos monumentos mais importantes e pela praça mais emblemática da cidade, a Piazza Maggiore. Mas a melhor forma de contemplarmos a cidade será subirmos a uma das torres visitáveis, que permite uma panorâmica sobre o centro histórico.
O percurso representado começa na Catedral de Bolonha, a Cattedrale Metropolitana di San Pietro, com o seu campanário, uma das torres da cidade. A Catedral é uma das principais igrejas católicas da cidade, mas, reconheço, que para quem está a percorrer Itália, mais catedral, menos catedral, já não adianta grande coisa e esta não será certamente a mais emblemática... ou seja, nem visitámos o seu interior.

Por estar entalada nas ruas apertadas do centro histórico, nem conseguimos observar apropriadamente as fachadas da Catedral, mas percebemos que se trata de um edifício imponente e com uma arquitetura bastante rica.
Muito próximo da Catedral surge a principal praça da cidade, a Piazza Maggiore, que alberga alguns dos seus monumentos mais importantes. É a praça central de Bolonha e é quase um mostruário de monumentos, todos eles preciosos. 

No topo Norte salienta-se a emblemática Fontana del Nettuno, junto ao Palazzo Re Enzo, que se funde com o Palazzo del Podestà. Em todo o lado Poente ergue-se o Palazzo Comunale que domina a praça com a sua Torre dell'Orologio. No topo Sul surge o Palazzo dei Notai e a imponente Basílica de São Petrônio. Já do lado Poente desenvolve-se o bonito Palazzo dei Banchi, cheio de arcadas, algumas delas dão acesso à teia de ruelas, quase medievais, como a Via Clavature que liga ao Santuário de Santa Maria della Vita.

Assim, qualquer fotografia desta praça incluirá sempre vários destes monumentos riquíssimos, que poderiam ter um papel dominante em qualquer praça de uma outra cidade menos monumental, mas aqui, na Piazza Maggiore, passam quase despercebidos ao pé daqueles que merecem o maior destaque.
Para falarmos desta praça e dos seus monumentos, vamos começar pela Basílica de São Petrónio, construída para homenagear o padroeiro da cidade, São Petrónio, antigo bispo de Bolonha no século V. 

A Basílica foi concebida pelo conselho municipal como um templo cívico, em oposição direta ao papa, em Roma, e o seu projeto original previa que seria maior do que a Basílica de São Pedro, mas, durante o processo, o plano foi reduzido e uma parte do dinheiro foi desviada para outras coisas. Ainda assim a Basílica é a mais imponente de toda a cidade e a 15ª maior igreja católica do mundo, com 132 m por 66 m de largura e uma altura de 47 m, e pode abrigar 28 mil pessoas. Foi erguida em estilo gótico e a sua construção começou no século XIV, mas rapidamente começou a sofrer alterações e suspensões resultantes das decisões das autoridades religiosas que fizeram prolongar as obras por vários séculos, sendo que a fachada nunca chegou a ser concluída, estando a parte inferior em mármore rosa e os dois terços superiores ainda em alvenaria de tijolo.
O Palazzo Comunale é composto por uma coleção de edifícios que, ao longo dos séculos, se uniram gradualmente num núcleo adquirido pela Comuna durante o século XIII, e inclui a Biblioteca Salaborsa, a Comune di Bologna (a Câmara Municipal da cidade), e o próprio o Palazzo Comunale, que em conjunto com o Palazzo d’Accursio dominam a Piazza Maggiore, envergando a Torre Torre d’Accursio ou Torre do Relógio, bem diferente das demais torres da cidade e com uma beleza e um requinte sublimes. 
O Palazzo del Podestà foi a primeira sede do governo da cidade, representada pelo Podestà e os seus juízes e oficiais. O layout original não diferia muito do atual, e sob os cofres das arcadas haviam lojas de artesãos e mercearias, e espaços onde os notários publicavam contas e contratos. O projeto original incluiu uma torre de sino chamada Torre dell'Arengo, cujo propósito era convocar os cidadãos em caso de eventos fora do comum, como assembleias, guerras, etc. Inicialmente, a torre foi construída em madeira, mas foi substituída no século XIII pela torre de tijolos de forma quadrada que ali se encontra ainda hoje.
O recanto do lado Noroeste da Piazza Maggiore é designado como Piazza del Nettuno e enverga a icónica Fontana del Nettuno, uma das principais imagens de referência da cidade de Bolonha. A fonte com a estátua do rei Nettuno foi construída no século XVI pelo escultor flamengo Giambologna e é suposto ser um símbolo do poder do Papa, que governou o mundo como Neptuno governou os mares. 

Junto da estátua, existem ainda quatro pequenos anjos que representam os rios dos quatro continentes descobertos naquela época: Ganges, Nilo, Amazonas e Danúbio.
Saímos da praça como quem abandona a cidade, porque é ali que palpita o coração de Bolonha e o resto da cidade já pouco poderá vir a acrescentar de relevante.

De qualquer forma resolvemos vaguear sem destino, como se indica no mapa anterior, mas não só, porque a caminhada leva-nos sempre a outros recantos que o mapa não consegue refletir, e assim fomos passando pelas ruelas mais apertadas e pelas ruas mais amplas e, em qualquer dos casos, fomo-nos deixando surpreender pelos pormenores que nos vão surgindo.

Uma das características que marca a arquitetura da cidade é a existência de longas galerias com arcadas, que marcam a imagem das fachadas dos edifícios e funcionam como espaços comerciais ou apenas como passeios cobertos, usados para que as pessoas possam caminhar abrigados da chuva ou da neve. 

Bolonha tem mais de 30 km dessas galerias, como uma teia paralela de caminhos cobertos, com arcadas ou pórticos, sendo a galeria mais longa aquela que é conhecida como Via di San Luca, com mais de 2 km, entre o Arco Del Meloncello e o Santuário Madonna di San Luca.
Mas, mais do que ser a cidade das arcadas, Bolonha é sobretudo a cidade das torres. Torres para todos os gostos e todos os feitios, mas que foram desaparecendo ao longo dos séculos, existindo, atualmente, apenas vinte das quase duzentas torres que a cidade envergava no final do século XII... seja isso mito ou realidade.
Algumas dessas torres foram já encontradas nos monumentos da Piazza Maggiori, mas outras vão surgindo espalhadas pela cidade, isoladas ou como campanários das várias igrejas.

E existem aquelas que associamos como símbolo tradicional da cidade de Bolonha, que são as chamadas Le due Torri (as duas torres), um conjunto formado pelas torres de Garisenda e de Asinelli, já as duas em condições de verticalidade muito duvidosa, o que constitui um atrativo turístico adicional, apesar de algo periclitante.
A Torre Garisenda, a mais pequena, tem hoje uma altura de 48 m, embora inicialmente tivesse sido mais alta, com cerca de 60 m, mas teve que ser rebaixada devido à cedência do solo de fundação, que deixou a torre oblíqua e perigosa. Inicialmente tratava-se de uma propriedade privada, daí o seu nome, que corresponde ao da família proprietária, mas, no final do século XIX, a torre tornou-se uma propriedade municipal.

É também chamada como a Torre Dante, que terá visto a torre tão inclinada quando era estudante na Universidade de Bolonha que lhe dedicou uns versos na Divina Commedia (Inferno, canto 31º), que se podem ler também numa lápide colocada atualmente na base da torre:

Qual pare a riguardar la Garisenda 
sotto 'l chinato, quando un nuvol vada 
sovr' essa sì, che ella incontro penda; 

tal parve Anteo a me che stava a bada 
di vederlo chinare, e fu tal ora 
ch' i' avrei voluto ir per altra strada.

A Torre degli Asinelli, a mais alta das duas, com 97 m, foi construída no século XII para abrilhantar as vaidades da família dos Asinelli, mas rapidamente passou a fazer parte das propriedades da Comuna local. A sua altura e a sua localização, numa das entradas da cidade, fez com que a torre tenha sido utilizada com funções de vigilância e defesa. 

O facto de estar apetrechada com uma escada interior em toda a sua altura, permitiria o acesso ao topo (nem sempre autorizado) que ofereceria uma vista deslumbrante para o visitante mais afoito que pretendesse, e conseguisse, escalar os seus 498 degraus. Entra-se na torre por uma porta estreita e sobe-se uma escada circular com cerca de quinze metros até a bilheteira. Os bilhetes de ingresso custavam três euros, mas fiquem sabendo que não é barato, porque o sacrifício é descomunal, mas, no final, para os que consigam resistir, será certamente inesquecível. 

A torre é toda ela oca, com os degraus da escada, de madeira de carvalho, fixados ao longo das paredes e, de quando em quando, surge uma pequena janela que permite a entrada da claridade e do ar frio. Depois de quatrocentos e noventa e oito degraus, alcança-se finalmente um sótão que parece uma caixa e que dá acesso a um terraço que permite contemplar toda a cidade.

E é daí, a partir de vários ângulos, que será possível observar toda a cidade, as suas ruas, as arcadas, os edifícios e a Piazza Maggiori com os seus monumentos.
É também possível observar as restantes torres da cidade, muitas delas quase invisíveis ao nível do solo, devido à grande densidade de edifícios que a zona histórica da cidade apresenta. 

E, num dos ângulos, será também possível enquadrar a Cattedrale Metropolitana di San Pietro, onde começámos o nosso percurso, e onde se destaca o seu Campanário, com 70 m de altura e, à sua esquerda, a Torre Azzoguidi, também conhecida como Torre Altabella, com os seus 61 m. Ainda na mesma envolvente mas do lado direito do plano de visão, fica ainda a Torre Prendiparte ou Coronata, com 60 m.
Terminámos assim uma visita breve à cidade, não consumimos muitas horas, porque se trata de uma cidade com um centro histórico relativamente pequeno.

Não dormimos em Bolonha mas admito que seja um local agradável para uma saída noturna, desde logo para experimentar a gastronomia local, que é conceituada, mas também porque o ambiente noturno me pareceu ser interessante, pela frequência de estudantes universitários bastante visível.

Voltámos ao carro para a etapa seguinte em direção a Parma.


Voltar à página "Pelo Norte de Itália, de costa a costa"