Milão é a capital da região da Lombardia e a sua área metropolitana é a mais populosa de toda a Itália. Trata-se de uma zona industrial que é um dos motores da economia italiana com alguns pontos fortes nas finanças, no comércio e indústria, moda e design, e nos mídia. Ao nível das finanças, Milão destaca-se por ser a cidade da Bolsa de Valores do país e a sede dos maiores bancos e maiores empresas nacionais, ou delegações de empresas internacionais a operar em Itália. Mas, de qualquer forma, a cidade é sempre conhecida por ser uma das capitais mundiais da moda e do design, palco de vários eventos e feiras internacionais, como é o caso da Milan Fashion Week.
Em termos turísticos Milão tem uma oferta rica e diversificada, embora, num país como Itália, é incontornável fazer comparações com outras cidades que são autênticos museus vivos e, por isso, Milão acaba sempre por ficar numa segunda linha da preferência de qualquer turista. Ainda assim a cidade está cheia de monumentos, igrejas, museus e teatros, incluindo uma das salas de espetáculos mais famosas em todo o mundo, o La Scala. Existem também alguns monumentos de referência, como a Igreja de Santa Maria delle Grazie, com a pintura original da Última Ceia, de Leonardo da Vinci.
Milão é também uma cidade onde se vive o futebol de forma intensa, e onde coabitam dois dos principais clubes de futebol da Europa, o AC Milan e FC Internazionale (conhecido como Inter de Milão), com as rivalidades habituais entre clubes da mesma cidade.
Mas se quisermos identificar um símbolo maior desta cidade, quase como uma marca da sua imagem para o exterior, teremos que escolher a magnífica Piazza Duomo, com a sua majestosa catedral.
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Milão é uma cidade que se pode visitar ao longo de um a dois dias… só não convém que sejam dias de Inverno, daqueles dias tão pequenos que não rendem nada. Depois é também conveniente dormir na cidade duas noites e acordar bem cedo para que cada dia livre possa ser aproveitado completamente.
Foi o que aconteceu em 2005, com a Ana, a Beatriz com 7 anos e a Martinha com 8 meses… algo arrojado que sempre fizemos sem receios. Desta vez o hotel ficava na proximidade da Milano Centrale e foi esse o ponto de partida para uma longa caminhada, mas com um ritmo tranquilo e várias pausas programadas em cafés e restaurantes, mas também nos parques e zonas verdes da cidade.
Como guião de referência para explorarmos a cidade utilizámos o seguinte mapa com a indicação dos percursos e alguns pontos de paragem, no qual estão definidos os dois trajetos a efetuar para conhecer esta cidade:
E assim começámos o dia, bem cedo como fazemos sempre que viajamos, neste caso entrando na estação ferroviária da cidade, a Stazione di Milano Centrale. Tenho quase sempre este capricho de revisitar as estações de comboio das cidades por onde passei nos meus inter-rails nos anos 80. Mas, neste caso, a estação central de Milão é mesmo um lugar que deve ser visitado, tanto pela majestosa nave da gare ferroviária, onde se sucedem as chegadas e partidas das composições, como pelo edifício histórico que a alberga.
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Em frente à estação percorremos uma alameda ampla até à Piazza della Repubblica, onde desviámos junto a um dos parques da cidade, o Giardini Pubblici Indro Montanelli, um espaço verde bem cuidado com vários edifícios no seu interior e na envolvente.
A Norte do jardim seguimos pela Porta Venezia, uma praça movimentada com bastante tráfego automóvel, onde se erguem dois edifícios gémeos que deixam entre si uma passagem que terá sido, noutros tempos, uma das portas da cidade.
A cerca de 200 m da praça fica a Casa Galimberti, um edifício cujas fachadas decoradas lhe dão o estatuto de obra-de-arte. Construída em 1905 para os irmãos Galimberti, é considerada um dos exemplos mais brilhantes da Art Nouveau na cidade de Milão.
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Voltando ao interior do jardim encontramos o Planetário, o Museu de História Natural e o espetacular Palazzo Dugnani. O palácio foi construído no século XVII e foi originalmente residência da família Cavalchini. Em 1846 tornou-se a primeira sede do Museu de História Natural que, posteriormente, se mudou para o outro lado do parque, junto ao Corso Venezia. Atualmente o Palazzo funciona como Museu do Cinema.
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Saímos do parque junto ao Museu de História Natural, pelo Corso Venezia, que percorremos na direção do centro histórico até às Piazzas San Babila e San Carlo, já no Corso Vittorio Emanuele II, uma rua pedonal de comércio chique, que nos conduz até à parte posterior do Duomo, e logo de seguida até à principal praça da cidade, a Piazza del Duomo.
Chegámos, entretanto, ainda cedo à principal Piazza da cidade, antes da invasão massiva dos turistas. Naquele local há tanta coisa para ver que ficamos meio deslumbrados e sem saber por onde começar. Detivemo-nos algum tempo na própria praça, junto à Estátua Equestre a Vittorio Emanuele II, observando o palpitar daquele espaço com o seu movimento de turistas e habitantes, sempre rodeados por uma galeria de edifícios históricos que quase nos esmaga de tanta grandeza.
Antes do prato forte, que é catedral, percorremos toda a periferia da praça observando os vários edifícios monumentais, com destaque para o Palazzo Reale, que se dedica atualmente às grandes mostras temporárias da cidade, o Museo del Novecento, com a coleção municipal de arte contemporânea, ou o majestoso pórtico de entrada das Galerias Vittorio Emanuele.
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Finalmente dedicámo-nos ao Duomo di Milano, começando por contemplar o aspeto exterior, com as suas magníficas fachadas e empenas (embora com o risco de as podermos encontrar forradas a andaimes e tapadas por uma tela que reproduz o respetivo alçado, como nos aconteceu numa das nossas passagens pela cidade… o que é sempre uma tremenda frustração).
O Duomo é a sede da arquidiocese da cidade e é um dos edifícios mais célebres e complexos em estilo gótico de toda a Europa. A catedral é enorme, com 157 m de comprimento e 109 m de largura, sendo considerada a terceira maior catedral do mundo, depois da Basílica de São Pedro no Vaticano e da Catedral de Sevilha.
A sua construção começou em 1386 por iniciativa do arcebispo Antonio da Saluzzo, num estilo gótico de influência francesa, diferente do estilo corrente em Itália nessa época. Os trabalhos foram apoiados pelo senhor da cidade, o duque Gian Galeazzo Visconti, que impulsou a obra através de facilidades fiscais e que promoveu como material de construção o uso do mármore de Candoglia, uma zona dos Alpes italianos. A construção foi executada de trás para a frente, começando por integrar a Basílica de Santa Maria Maggiore, que foi sendo demolida por partes e que funcionou durante séculos como fachada provisória do Duomo. Nessa época medieval, o estaleiro de construção da catedral era um dos maiores da Europa, trazendo para Milão centenas de escultores, engenheiros, arquitetos e artesãos de todo o continente europeu. A obra avançou rapidamente e o altar-mor foi consagrado pelo Papa Martinho V em 1418.
Os seus alçados são dominados pela existência de 135 agulhas de mármore, cada uma com uma estátua no seu pináculo, como um autêntico museu de esculturas a céu aberto. E foi com a conclusão da agulha mais alta, em meados do século XVIII, que a catedral foi concluída, quando finalizaram a parte superior da cúpula, onde foi colocada a estátua da Madoninna, a Nossa Senhora, a quem o duque Galeazzo Visconti dedicou a nova catedral da cidade. A estátua Madonnina, feita de bronze e folheada a ouro, surge brilhante sobre a cidade do alto da agulha maior do Duomo, que durante muitos séculos foi mesmo o ponto mais alto da cidade.
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Das várias visitas à cidade entrámos na catedral apenas uma vez e, mesmo nessa altura, ficámos apenas pela igreja e não explorámos o museu da catedral. E sem grande pena minha, confesso… a menos da possibilidade de escalar até aos patamares localizados nos telhados para, dessa forma, poder contemplar uma vista sobre a cidade que será certamente grandiosa, sobretudo se o tempo ajudar e a visibilidade estiver perfeita.
De qualquer maneira existem alguns dados e algumas curiosidades interessantes relativos ao interior da catedral que quero aqui registar, como o facto de ser constituída por cinco naves com uma altura que chega aos 45 m, divididas por 40 pilares e atingindo uma largura total de 57 m e um comprimento de 149 m.
No seu interior, perto das portas da entrada, é visível no chão uma Meridiana, constituída por um friso de cobre que divide a catedral entre as naves direita e esquerda, decorada com os signos do Zodíaco. É a Meridiana do Duomo, um calendário e relógio solar, colocada na catedral no final do século XVIII quando foi instituída uma reforma das horas que impunha a necessidade de se calcular com precisão o meio-dia solar. Assim, diariamente, ao meio-dia, um raio de luz entra por um furo minúsculo colocado no teto da nave direita e bate na meridiana marcando a hora e o período do mês. No entanto, são poucos os turistas que entram no Duomo de Milão e, ao atravessar a porta, reparam no longo friso dourado no pavimento, decorado com os signos do Zodíaco.
Outra curiosidade resulta de uma lenda que refere a existência na catedral de um dos três pregos sagrados da cruz de Jesus Cristo, doado à cidade pela imperatriz Helena, mãe do imperador Constantino, no século IV, na época em que era imperador de Roma e a capital era Milão. O prego fica no relicário da catedral, onde uma luz vermelha o identifica. Todos os anos, no segundo sábado de setembro, o Cardeal Arcebispo de Milão sobe dentro de uma estrutura que parece uma nuvem, retira o prego e desce, deixando-o depois exposto por dois dias para a admiração dos fiéis. No entanto, e para que conste, apesar de terem existido (alegadamente) apenas três pregos sagrados, existem pelo mundo fora mais de vinte igrejas que reclamam ter lá um deles… e que será certamente genuíno - ou, neste caso, Jesuíno (por ser de Jesus… peço perdão!).
Das inúmeras estátuas com que o interior se encontra recheado destaca-se a de São Bartolomeu. É a mais fotografada e todos se perguntarão quem é aquele homem tão musculoso que ali está representado. A verdade é que se trata de São Bartolomeu, um dos apóstolos de Jesus Cristo, que apresenta a musculação saliente porque, segundo reza a história, no seu doloroso martírio foi esfolado em Albanópolis, a mando do governador, por ser cristão. A estátua é uma obra renascentista do século XV do escultor Marco Agrate. O que parece ser o manto que lhe cai pelo seu corpo é, na verdade, a sua própria pele... horrível.
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Saídos do Duomo voltámos à Piazza e era agora altura para explorar as requintadíssimas Gallerias Vittorio Emanuele, onde se concentram lojas de algumas das marcas mais luxuosas do mundo da moda.
Entrámos e atravessámos a galeria bem devagar, contemplando e usufruindo daquele ambiente extraordinário, e arriscámos mesmo uma pausa demorada num dos cafés mais chiques da galeria, o café Gucci. Foi assim que nos deliciámos neste espaço de galerias comerciais que é um colosso artístico e arquitetónico, funcionando como um autêntico templo do requinte e do luxo, e que é também uma marca da identidade da cidade de Milão e dos seus habitantes.
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As galerias são uma homenagem ao antigo rei de Itália durante o século XIX, Vittorio Emanuele II, também apelidado pelos italianos como o Pai da Pátria, por ter unificado a Península Itálica. O complexo foi construído no final do século XIX e é formado por duas galerias dispostas perpendicularmente, que se cruzam numa praça central coberta por uma enorme e majestosa cúpula envidraçada. A galeria principal, com cerca de 200 m, foi concebida como um corredor coberto para ligar a Piazza Duomo à Piazza della Scala, a meio da qual se dá a interceção com a galeria secundária, com cerca de 100 m de comprimento.
O espaço é conhecido pelos habitantes da cidade como “Il salotto di Milano”, ou seja, a sala de estar dos milaneses, devido ao ambiente chique e acolhedor dos cafés e restaurantes que se estendem pelo pavimento exterior, totalmente coberto pelas magníficas cúpulas revestidas a vidro, e forrado com uma seleção de mármores decorativos, sempre com grande requinte.
Atualmente, esses restaurantes e cafés são sobretudo polos de concentração de turistas, mas são ainda os mesmos desde a abertura, e são por isso verdadeiros clássicos desta cidade.
Do lado oposto da galeria saímos na Piazza della Scala, com a Statua di Leonardo da Vinci bem ao centro, com um dos lados ocupado pelo Palazzo Marino, onde funciona a Comune di Milano e, do outro lado, encontramos o grandioso Teatro alla Scala.
O Scala de Milano é um edifício neoclássico que não deixa ninguém deslumbrado pela sua arquitetura, porque o verdadeiro esplendor está no seu interior, com uma bela sala em forma de ferradura que sempre foi, e é ainda hoje, um dos palcos mais emblemáticos para os grandes espetáculos de ópera, e não só, além da temporada lírica, recebem também espetáculos de ballet e de orquestras sinfónicas. Foi por este palco que passaram as figuras maiores do canto lírico de todos os tempos, como Luciano Pavarotti ou Maria Callas… interpretando as grandes óperas intemporais, desde logo as italianas, de Verdi ou Rossini, mas também outros clássicos, como os de Mozart. E é aqui que ainda hoje desfilam os grandes cantores líricos da atualidade… não lhes conheço os nomes nem as suas competências, mas têm desde logo uma grande vantagem face àqueles que mencionei, que é o facto de estarem vivos.
Mas toda esta conversa sobre as grandes performances serve apenas para valorizar o lastro histórico desta sala de espetáculos, e não para recomendar aos leitores que assistam a uma destas apresentações, porque seria até obsceno. Para que este blog possa estar devidamente atualizado consultei os preços atuais, para as óperas anunciadas nesta temporada, no final de 2016. Escolhendo uma plateia, primeiro balcão ou uma frisa no primeiro nível de camarotes, basicamente os únicos lugares que podem ser considerados como bons lugares, o preço por pessoa é uma quantia redonda de 500€. Ou seja, a ópera já não é algo muito acessível ao cidadão comum, mas muito menos neste Teatro alla Scala.
Mas como quem não tem cão caça com gato, há uma alternativa bem mais razoável de fazer a visita turística ao museu do teatro, ao hall principal e ao próprio salão do auditório, neste caso a partir de um dos camarotes, pela modesta quantia de 7 € por pessoa. A visita torna-se interessante e tem um horário alargado entre as 9h e as 17h30. Deve-se apenas confirmar se não estão a ocorrer ensaios, porque, nesse caso, não é possível visitar o auditório… que é justamente o mais estimulante.
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Depois de tanta história e tanta cultura, deu-nos a fome e dirigimo-nos até ao quartiere Brera, o antigo bairro dos artistas e de casas de prostituição até aos anos 50, que é hoje um dos metros quadrados mais caros da cidade e um ponto de visita obrigatória para os turistas. Os prédios conservam ainda a arquitetura popular das casas milaneses mais típicas dos séculos passados, como na Via Fiori Chiari e no final da Via Brera, transformados em polos turísticos, com os seus bares e restaurantes, lojas e galerias, sempre com um ambiente animado, com muita gente na rua. Além da atual concentração de bares e restaurantes, este bairro tem sido historicamente frequentado pelos intelectuais e artistas que, desde o séc. XIX, gravitavam em torno da Academia de Belas Artes, tendo transformado este bairro num dos mais típicos da cidade.
É fácil escolher um dos muitos restaurantes e optámos naturalmente pelo histórico Bar Brera onde comemos uma salada de queijo de cabra e umas fatias de focaccia devidamente temperadas com sal grosso, azeite e alecrim, o ideal para acompanhar um bom tinto italiano… e demos também um biberon à nossa Martinha, apesar dela se agarrar com gosto à focaccia.
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Começa aqui o segundo percurso programado para esta cidade, no qual seguimos passámos pelos locais assinalados a verde no mapa anterior.
Entrando de novo na zona mais histórica da cidade, junto ao La Scala, seguimos desta vez pela Via Dante, uma rua ampla em linha reta, sem trânsito, recheada de lojas e sempre bastante concorrida. Fizemos essa Via Dante até ao Monumento a Garibaldi já muito próximo do Castello Sforzesco, que serve de porta de acesso ao Parque Sempione.
O Castello Sforzesco foi construído no século XV sobre os restos de uma fortificação antiga para Francesco Sforza, Duque de Milão, sendo portanto o Palácio Ducal da cidade. Atualmente acolhe várias coleções dos museus e galerias de arte da cidade.
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Entrámos, entretanto, no Parque Sempione, e fizemos uma pausa naquela imensa zona verde com lagos e monumentos no seu interior, como o imponente Arco Della Pace.
O próximo percurso levou-nos a uma das preciosidades históricas da cidade, a Igreja Santa Maria delle Grazie. A Igreja e o Convento Dominicano, estão classificados como Património Mundial da UNESCO porque, na parede do refeitório do convento adjacente à igreja, se encontra uma das obras mais célebres de todo o mundo, o fresco de "A Última Ceia" pintado por Leonardo da Vinci, entre 1494 e 1498.
O fresco do mestre Da Vinci tem estado sujeito a séculos de deterioração o que tem justificado diversas restaurações. A mais recente foi em 1999, com recurso aos métodos científicos mais evoluídos naquela altura, o que permitiu a recuperação das cores originais e a remoção dos vestígios de tinta aplicada em tentativas anteriores de restauro.
Desde essa última recuperação da pintura, para assegurar a sua preservação à temperatura ambiente, o acesso a visitantes passou a ser limitado a grupos até 25 pessoas em cada 15 minutos. Desta forma, a visita a este local torna-se algo quase inacessível, obrigando a uma reserva com várias semanas de antecedência, o que, por vezes, não é nada fácil de programar. De qualquer forma este monumento atrai mais de nove milhões de visitantes por ano, que usufruem de uma visita guiada à igreja Santa Maria delle Grazie e, sobretudo, têm direito a uma breve passagem pelo refeitório onde contemplam a obra-prima do mestre Da Vinci, e têm também acesso a vários esboços prévios que permitem conhecer de que forma Da Vinci evoluiu entre as suas primeiras ideias e a pintura final.
Esta procura massiva por parte de turistas vindos de todo o mundo foi altamente potenciada nas últimas décadas, após o best seller de Dan Brown, O Código Da Vinci, onde A Última Ceia surge como um dos elementos simbólicos para o desenlace da trama.
A única tentativa que fiz para visitar o refeitório da igreja Santa Maria delle Grazie foi em 2005, dois anos depois da publicação do livro de Dan Brown e numa fase em que já se preparava a estreia do filme realizado por Ron Howard e interpretado por Tom Hanks e Audrey Tautou. Assim, e apesar da tentativa que fiz para reservar uma visita ainda com algumas semanas de antecedência, deparei com o acesso a este local completamente esgotado para os meses seguintes. Dessa forma, limitámo-nos a visitar as zonas públicas da igreja e entrar na loja com todo o merchandising relacionado com Da Vinci e com A Última Ceia, onde tivemos oportunidade de ver todo o tipo de reproduções, desde pósteres a porta-chaves.
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Para além de todos os símbolos que têm a ver com a existência dissimulada de Maria Madalena entre os apóstolos, cuja análise e especulação rendeu a Ban Brown vários milhões de dólares, a mim chamou-me a atenção a bizarria de alguém ter aberto uma porta atravessando a pintura por baixo da mesa, tal a necessidade de improvisar uma nova arrecadação para o refeitório… temos aqui uns quilos de arroz para guardar, faz-se uma porta debaixo de Jesus Cristo e cria-se uma despensa muito jeitosa… parece sensato!
Queríamos, entretanto, chegar até ao chamado Quadrilatero della Moda e, pelo caminho, pretendíamos ainda passar por dois monumentos com uma arquitetura interessante. Começámos assim por passar na Piazza Sant'Ambrogio onde se encontra uma das mais antigas igrejas de Milão, a Basilica di Sant'Ambrogio, um monumento medieval de inspiração cristã.
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A pouco mais de 800 m depois, no bairro de Carrobbio, fica a Basilica San Lorenzo Maggiore e as Colonne di San Lorenzo. A Basílica está entre as igrejas católicas mais antigas da cidade e está posicionada de forma integrada com as colunas de San Lorenzo, um dos monumentos da época romana Milão.
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Outra vez nas proximidades da Piazza Duomo fizemos uma passagem pela Piazza Cordusio, considerada como o centro financeiro da cidade.
Passámos depois de novo na Piazza alla Scala e entrámos no bairro designado como Quadrilatero della Moda. Uma espécie de Fashion District, onde se concentram alguns dos grandes polos do comércio e produção do luxo, com joalheiros, boutiques e showrooms de design de moda e de mobiliário. É também neste bairro que se encontram algumas ruas famosas pelas lojas dos estilistas mais importantes do mundo da moda.
O coração do bairro é a Via Montenapoleone, que é considerada a quinta rua mais prestigiada e mais cara do mundo, de acordo com o índice “Main Streets Across the World", que classifica as ruas comerciais mais caras ao nível mundial.
Ainda dentro do mesmo bairro, localiza-se a Piazza Filippo Meda, dominada pela famosa obra de Arnaldo Pomodoro, uma escultura de bronze intitulada "Disco" realizada em 1980. Além da estátua a Piazza Meda está rodeada por edifícios clássicos em estilo renascentista.
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À noite saímos sempre para jantar e conhecer a vida noturna de Milanno. Foi sempre assim nas várias visitas à cidade, mas, em 2005, presenciámos uma situação completamente sui generis. A cidade preparava-se para uma grande festa quando saímos para jantar… é que se jogava a final da Liga dos Campeões e, ao intervalo, um dos clubes da terra, o AC Milan, ganhava ao Liverpool por 3-0. A festa já se começava a manifestar e imaginávamos ver a Piazza Duomo completamente forrada a bandeiras e cachecóis rubro e negro, as cores do clube que se preparava para se sagrar campeão europeu. Algumas horas depois, quando terminámos o jantar, estranhámos o silêncio nas ruas e não acreditámos ao ver a Piazza Duomo completamente deserta. A história é conhecida como o maior golpe de teatro em finais da Champions, o Liverpool marcou 3 golos sem resposta na segunda parte e, nos penaltis, acabou por bater o Milan e ganhou a taça, para grande tristeza do nosso Rui Costa que jogava em Milão nessa época.
De qualquer forma, e em situações mais correntes, a cidade tem uma noite bastante interessante, com movimento de rua e com os monumentos iluminados, adquirindo dessa forma uma beleza especial. E tal como acontece em todas as cidades italianas, quando a noite cai e os monumentos se iluminam a cidade fica ainda mais bonita.
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Na manhã seguinte saímos de carro em direção ao Lago di Como. E aproveito agora para deixar uma informação sobre a utilização do carro no centro da cidade, devido à proibição de se circular no centro histórico com viaturas não autorizadas, sendo que existe um sistema de câmaras de vigilância que registam as matrículas dos prevaricadores. É algo que é comum em Itália, mas foi só aqui que me aconteceu ter sido multado e conheço ainda outros portugueses a quem lhes sucedeu o mesmo. O facto é que o próprio GPS me conduziu para estacionamentos que se encontravam em zonas de tráfego limitado sem que me tivesse apercebido… a não ser quando recebi a multa já em Portugal.
Numa das ocasiões em que visitei Milão resolvi fazer um pequeno desvio para passar num local que é um símbolo da cidade e uma referência para todos os adeptos de futebol. Refiro-me ao estádio municipal de San Siro, também chamado como Stadio Giuseppe Meazza, o qual, é estranhamente partilhado pelos dois rivais da cidade, o que jamais aconteceria em Portugal, ou mesmo noutros países com os principais campeonatos de futebol, como Espanha ou Inglaterra.
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E foi com um cheirinho a futebol, neste país de tifosi's, que termino esta crónica sobre a cidade de Milão.
Carlos Prestes
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