A cidade de Génova é bem diferente da maioria das cidades italianas e, na minha opinião, não é, de todo, das mais interessantes deste país. Tinha cá vindo numa passagem fugaz durante um inter-rail e não fiquei com grande vontade de voltar, e passaram quase 30 anos para esse regresso. Mas, desta vez, a cidade pareceu-me bastante diferente, sobretudo na zona do porto, que era apenas um porto industrial e agora toda aquela zona é uma imensa marina e um dos locais que mais atrai os habitantes da cidade e todos os que a visitam.
Historicamente a cidade é um local de referência, a antiga república marítima de Génova teve um papel de destaque na exploração do mar e no descobrimento de novas terras ao longo dos séculos da sua existência. Terá mesmo sido o berço oficial de um dos principais marinheiros da história, Cristóvão Colombo, ou Cristoforo Colombo, um genovês que descobriu meio mundo, embora nunca em representação do seu país natal... mas, a realidade talvez não seja bem essa e talvez o grande almirante nem seja sequer genovês, mas isso são teorias de conspiração que mais à frente vou desenvolver.
A cidade é bastante grande, mas os locais mais interessantes para uma visita turística acabam por se concentrar em três bairros, ou distritos, que incluem o porto e o centro histórico, com um emaranhado de ruelas e becos, ou Caruggi, como aqui são chamados. Foram esses três bairros, San Vincenzo, Molo e Maddalena, que percorremos ao longo do dia que passámos na cidade de Génova. Terminámos depois de uma breve paragem em Boccadasse, um antigo bairro típico de marinheiros e pescadores.
Quartieri di San Vincenzo:
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Começámos pela Piazza Giuseppe Verdi, junto ao edifício monumental da estação ferroviária e seguimos pela Via San Vincenzo, uma rua pedonal, bastante pitoresca e cheia de lojas.
Chegámos depois à avenida mais ampla, a Via XX Settembre, com o comércio mais rico da cidade, sobretudo nas galerias que se formam sob as arcadas dos edifícios imponentes que ficam já próximos da Piazza de Ferrari.
Desviámos na direção da Piazza Dante onde se encontra, junto à Porta Soprana, a Casa de Cristóvão Colombo, um pequeno edifício com uma fachada degradada onde, supostamente, terá nascido e vivido a sua infância, o famoso navegador e explorador do Novo Mundo, e onde está atualmente o museu La Casa di Colombo.
Quando viajamos ficamos surpreendentemente interessados por temas que nos eram completamente indiferentes, mas que, agora, nos fazem todo o sentido. Isso está sempre a acontecer e, no caso concreto da cidade de Génova, é quase natural que se tente refletir um pouco sobre a figura daquele marinheiro que descobriu meio mundo e que terá nascido e vivido naquele local.
Mas, neste caso, existe ainda uma dúvida que é também uma curiosidade interessante, porque, na verdade, não há a certeza de que Cristóvão Colombo tenha nascido naquela casa, nem sequer que tenha nascido em Génova. Para mim - e lá vem a teoria da conspiração - Cristóvão Colombo não era o filho de um tecelão genovês... pelo contrário, Cristóvão Colombo era bem português. Um português nascido no século XV em Cuba, no Alentejo, não foi um acaso ter batizado com o mesmo nome a maior ilha que descobriu no mar das Caraíbas. Era judeu e era fidalgo, porque um filho de um tecelão não chegaria a comandante de uma armada e jamais poderia desposar uma fidalga, como Colombo, que casou com Filipa Moniz, uma portuguesa filha do governador (na altura, capitão donatário) da ilha de Porto Santo.
Mas, se era português, por que razão D. João II lhe negou o apoio da coroa portuguesa para uma expedição na busca do Novo Mundo? E foi essa a razão que o fez rumar a Espanha e foi em nome da coroa espanhola que o navegador se fez ao mar e encontrou as américas em 1492.
A resposta é, também ela, parte da teoria da conspiração. A verdade é que os portugueses já conheciam o que existia a Oeste nas suas incursões por aquelas bandas, embora só tenham formalizado o descobrimento do Brasil seis anos depois de Colombo ter descoberto a América. Mas, conhecendo aquela linha de continente, os portugueses já sabiam que não seria daquele lado que se iria encontrar aquilo que todos procuravam, que era a Índia. Vá-se lá saber porquê mas, naquela época, os reis passavam-se com pimenta e canela e outras ervas de cheiro.
Assim, Colombo foi para Espanha enviado por D. João II justamente para fazer com que a armada espanhola seguisse para Ocidente, desviando-se irremediavelmente da direção que os levaria até à India. E a América foi um efeito secundário, uma espécie de prémio de consolação.
E foi desta forma que alguns anos depois, Portugal, representado por Vasco da Gama, já durante o reinado do rei D. Manuel I, descobriu o caminho marítimo para a Índia entre 1497-1499. Ou seja, ficámos nós com as especiarias, no bem-bom, enquanto eles tiveram de se contentar com a América e as Caraíbas... se calhar sou só eu, mas isto não me soa lá muito bem!!!
Só para rematar... esta teoria não é minha e já li justificações que a vão provando ao longo das várias fases da vida de Cristóvão Colombo. E eu, que até sou um bocado sético, achei que faziam todo o sentido.
Mas sendo português ou genovês, a verdade é que esta é a casa oficial do grande almirante Cristóvão Colombo e é aqui que podemos visitar o museu feito em sua honra e memória.
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A Porta Soprana ou Porta di Sant'Andrea, que fica logo ao lado da Casa de Colombo, foi uma das antigas portas da cidade. Foi construída na época medieval, mas o seu aspeto atual, apesar das diversas restaurações a que foi sujeita, reproduz ainda o projeto original, com um arco central e duas torres laterais.
Esta porta assinala o limite entre a zona nova da cidade, com uma arquitetura clássica, e o seu centro histórico, a cidade medieval, constituída por uma teia de ruelas apertadas, autênticos becos, como a Salita del Prione ou a Via di Ravecca.
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Antes de entramos definitivamente pela parte velha da cidade, voltámos à zona mais nobre e mais clássica, chegando à Piazza de Ferrari, ou Piazza Raffaele de Ferrari. É talvez a praça mais emblemática de toda a cidade, fica localizada no seu coração, quase no limite do centro histórico, e é conhecida pela sua fonte majestosa, que é quase um ícone da cidade de Génova.
Na envolvente desta praça existem vários edifícios clássicos, de escritórios, sedes de bancos e companhias de seguros, o que torna este local como o principal centro financeiro e de negócios da cidade de Génova. No final do século XIX, Génova era um dos principais centros financeiros de Itália, juntamente com Milão, e a Piazza de Ferrari foi o lugar onde algumas das principais instituições se estabeleceram, como a Bolsa de Valores, o Crédito Italiano e uma importante filial do Banco da Itália.
A Piazza abriga ainda o alçado lateral do Palácio Ducal, o Museo Accademia Ligustica di Belle Ar, o Teatro Carlo Felice e o monumento a Victor Emmanuel II.
Apesar de estarmos bem no limite do bairro do Molo e do centro histórico quisemos ainda percorrer algumas das ruas mais chiques e monumentais do bairro de San Vincenzo, como a Via de Roma e a Galleria Giuseppe Mazzini, até chegarmos à Piazza Corvetto, com a estátua equestre de Victor Emmanuel II.
Nesta zona, os monumentos e praças majestosas sucedem-se uns aos outros. Ainda no bairro de San Vicenza, mas mesmo à entrada do centro histórico, e do bairro do Molo, encontra-se a Chiesa del Gesù e dei Santi Ambrogio e Andrea, uma das igrejas mais antigas da cidade.
Quartieri di Molo:
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Passámos ainda pela Chiesa di San Matteo, uma pequena igreja de estilo gótico muito próxima do Palácio Ducal.
Entrámos depois no coração do centro histórico, com ruas estreitas e becos, os chamados Caruggi, que caracterizam esta parte da cidade, e que vão intercetando pequenas praças, quase sempre ocupadas por esplanadas de restaurantes ou cafés, como é o caso da Piazza d’Erbe.
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Já pelo meio das ruelas medievais da cidade velha passamos junto à torre Maruffo e, logo ao lado, fica a Via San Lorenzo e ergue-se a majestosa Cattedrale di San Lorenzo, a maior igreja da cidade. O Duomo é a igreja consagrada a San Lorenzo, fundada no século IX e escolhida como catedral devido à sua localização protegida, no interior das muralhas da cidade.
Tem uma fachada com listas negras e brancas e caracteriza-se por conter os diversos estilos arquitetónicos da cidade de Génova, desde o portal lateral de San Geovanni, no estilo românico, datado do século XII, aos elementos barrocos de algumas capelas laterais e, no extremo oeste, os três portais em estilo gótico francês. A capela mais luxuosa da catedral é dedicada a São João Batista, o santo padroeiro de Génova, com um sarcófago do século XIII, onde outrora foram guardadas as relíquias do santo.
O Museo del Tesoro di San Lorenzo, localizado no piso inferior e com entrada pela sacristia, alberga vários tesouros, como um prato de vidro verde que, supostamente, terá sido usado na Última Ceia e um prato caledónico azul onde, alegadamente, foi apresentada a Salomé a cabeça de São João Batista.
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Nesta zona do centro histórico da cidade encontramo-nos num autêntico emaranhado de ruelas e pracetas entaladas nos edifícios, normalmente altos e com as fachadas pintadas a cores pastel da Ligúria. São os chamados Caruggi, uma espécie de becos muito característicos do centro histórico desta cidade, que são bem diferentes de outros tipos de ruelas que encontramos nas outras cidades italianas.
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Chegámos um pouco depois ao nível do mar, uma marginal ampla e extensa junto à marina, com um imenso espaço pedonal, mas que é, inusitadamente, atravessado por uma via rápida em viaduto, certamente produto de uma época em que esta zona da cidade não tinha a nobreza que atualmente lhe é conferida.
Já em plena marina existem vários polos de interesse, como a zona do Porto Antico ou o Museo Nazionale dell'Antartide, bem junto à baía. E, numa área mais recuada, já depois do viaduto da via rápida, no início da maior praça desta zona, a Piazza Caricamento, ergue-se um bonito edifício, sobretudo pela sua fachada decorada com pinturas, o Palazzo San Giorgio. O palácio foi construído no século XIII para separar e elevar o poder do governo da república do poder religioso do clero, centrado na Catedral de San Lorenzo. Na sua construção foram utilizados materiais da demolição da embaixada veneziana em Constantinopla, que foram oferecidos pelo imperador bizantino como recompensa pela ajuda genovesa contra os venezianos. O palácio chegou a ser usado como uma prisão mas também como edifício residencial, e o seu morador mais notável foi mesmo o explorador Marco Polo, curiosamente uma das grandes figuras da nação veneziana.
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Voltando de novo para junto da baía surge o Aquário de Génova, um edifício moderno que se estende ao longo da marina. O aquário é um dos maiores da Europa e atrai mais de um milhão de visitantes por ano. Os tanques contêm seis milhões de litros de água, onde vivem mais de cinco mil animais aquáticos de cerca 500 espécies diferentes. Nos mais de 70 tanques e nichos encontram-se golfinhos, tubarões, tartarugas, pinguins, fundos de mar em coral e até se recriam rios de florestas tropicais, o mar Vermelho e o oceano Índico. Toda a exposição é focada na interação com o homem como grande responsável do mar e do ambiente aquático.
Vale a pena uma visita, embora nós, portugueses, estejamos bastante bem servidos com o nosso oceanário e já não nos deixamos deslumbrar facilmente.
Voltámos à Piazza Caricamento, a maior praça da zona do porto, com alguns edifícios interessantes e uma estátua de bronze de Raffaele Rubattino, um armador naval e figura de destaque da cidade no século XIX.
É nesta zona em que atingimos o outro bairro do cento histórico da cidade, o Bairro da Maddalena, que nasce junto ao porto e sobe pela encosta através de ruelas estreitas, pracetas e edifícios medievais, tal como no bairro vizinho do Molo.
Quartieri di Maddalena:
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Ainda junto à marina percorremos a marginal em torno do Galeone Neptune. O Neptuno é uma réplica de um galeão espanhol do século XVII, construído em 1985 para o filme Os Piratas, de Roman Polanski, e que hoje funciona como museu e é um dos ex-líbris da marina de Génova.
Do galeão até ao Museo del Mar, fica uma zona da marina que abriga barcos de pesca, bem próxima da Porta dei Vacca, uma das antigas portas da cidade, por onde entrámos de novo no centro histórico, seguindo os trilhos que formam o bairro da Maddalena.
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Passando pela Porta dei Vacca entrámos então novamente no centro histórico percorrendo, de forma mais ou menos aleatória, a teia de ruas e ruelas que nos foi levando até a alguns dos monumentos da cidade velha, como a Chiesa Dell'Annunziata ou a Basilica di San Siro, e pelas principais praças e ruas mais amplas, como a Piazza Fossatello e as Vias Cairoli e Garibaldi.
E por entre essas ruas mais espaçosas continuam a surgir algumas praças onde emergem pequenas igrejas, como a Chiesa di Sta Maria di Vigne ou a Chiesa di San Pietro in Banchi.
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Mas, em cada recanto, a cidade vai-nos surpreendendo com novos becos e novas pracetas, os Caruggi de Génova, que mantêm ainda o mesmo aspeto das ruas estreitas do antigo centro da cidade, e são ainda hoje, como eram antes, o seu coração palpitante.
Existem mesmo passeios organizados para se conhecer os Caruggi de um dos maiores centros históricos medievais de toda a Europa.
Terminámos a visita ao centro da cidade chegando de novo à Piazza S. Lorenzo e saindo depois da cidade velha pelo bairro de San Vincenzo.
Boccadasse:
Para terminar a visita à cidade de Génova é necessário voltar ao carro e fazer um percurso de cerca de 5 km até à costa do lado Nascente da cidade. O objetivo é visitar o bairro do Boccadasse, um antigo bairro típico de marinheiros e pescadores.
O local é bastante pitoresco, com as casas de pescadores pintadas nas cores da Ligúria, com semelhanças evidentes com as aldeias das Cinque Terre.
O local é bastante pitoresco, com as casas de pescadores pintadas nas cores da Ligúria, com semelhanças evidentes com as aldeias das Cinque Terre.
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O bairro é visitado por muitos turistas que são atraídos pelas suas bonitas imagens que figuram em todos os folhetos turísticos sobre a cidade de Génova. Em Boccadasse encontramos uma pequena praia e uma plataforma que a contorna de um dos lados, onde são guardados os típicos barcos dos pescadores.
A origem do nome do bairro resulta da forma da baía em que este se situa, sendo o nome formado a partir da abreviatura do termo genovês para boca de burro, que é boca d'aze.
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Foi assim, depois de um final de tarde nublado mas encantador, que terminámos a visita à cidade de Génova, depois de um percurso, desde Veneza até à região da Ligúria.