A cidade de Roma tem sete colinas, tal como Lisboa, embora muito menos íngremes, mas isso é algo de que mal nos apercebemos, porque é na zona mais plana, a Nascente do Rio Tibre, que se desenvolve o centro histórico onde encontramos as principais atrações da cidade, e até o centro da Roma antiga, edificada há muitos séculos atrás, está também localizado nessa zona de planície.
Por isso, é fácil descobrir a Roma mais monumental apenas caminhando, de praça em praça, de monumento em monumento, sem ser necessário percorrer grandes distâncias, como quem se move entre os salões de uma galeria de arte, apreciando cada preciosidade que esta cidade-museu nos proporciona.
Poderíamos iniciar este percurso pelo cento histórico de muitas formas, mas resolvemos começar pela Via del Corso, a avenida que é o principal centro de comércio da cidade, derivando depois pelos locais e monumentos mais emblemáticos, seguindo, mais ou menos, o itinerário representado neste mapa:
Via del Corso
É uma das principais avenidas da cidade de Roma, com quase dois quilómetros, sempre em linha reta, entre a Piazza del Popolo e a Piazza Venezia. Cerca de metade da sua extensão, do lado a Piazza del Popolo, é apenas de uso pedonal e concentra várias lojas de marcas de referência, o que faz desta avenida o principal centro de comércio da capital italiana.
Piazza di Spagna
Esta bonita praça de Roma, cujo nome se deve à localização da embaixada espanhola, é sobretudo famosa pela escadaria ampla, que nos leva até à Chiesa della Trinità dei Monti.
A escadaria é um importante símbolo do mundo da moda ao ser utilizada para o desfile Donne Sotto le Stelle, que ocorre anualmente em meados de julho, e traz a este local as mais célebres top models mundiais, numa gala única de glamour e beleza, com o cenário magnífico que a praça proporciona.
No centro da piazza encontramos a Fontana della Barcaccia, uma obra de Bernini, criada para o Papa Urbano III, no século XVII.
Tivemos a coragem de subir os 135 degraus da escadaria até à igreja de Trinità dei Monti, uma escalada que vale bem a pena, tanto pela visita ao interior da igreja, como pela maior proximidade do Obelisco Sallustiano, e ainda pela vista que nos é oferecida a partir topo.
Há vários anos atrás presenciámos um evento em que o Papa, na altura João Paulo II, se deslocou à Piazza Mignanelli especialmente para fazer uma oração junto à imagem desta Nossa Senhora.
Fontana di Trevi
Resolvemos deixar o alinhamento principal da Via del Corso e entrar pelas ruelas mais estreitas do centro histórico, com a típica arquitetura romana, as casas coloridas nas cores de barro ou de ocre, contrastando com o verde viçoso das trepadeiras… sempre muito bonitas.
É no fim duma dessas ruas que se abre uma pequena praça onde se encontra a mais bela de todas as fontes, a maravilhosa Fontana di Trevi.
A sua origem remonta ao ano 19 a.C. quando, naquele local, existia uma zona de abastecimento no final do aqueduto Aqua Virgo, que fornecia água à cidade. Mas a primeira fonte só foi construída durante o Renascimento, sob as ordens do Papa Nicolau V.
A versão que hoje encontramos da Fontana di Trevi, com aquele aspeto e aquelas esculturas, só foi finalizada em meados do século XVIII por Giuseppe Pannini.
O nome de Fontana di Trevi resulta do termo Tre Vie (três vias), já que a praça onde a fonte se encontra é um ponto de confluência de três ruas. E é por essas três ruas que todos os dias chegam a este local vários milhares de pessoas, na sua maioria turistas, preenchendo toda a praça enquanto desfrutam do privilégio de observar aquela que é a mais bonita fonte do mundo.
A Fontana está ainda associada a um mito popular, que não é mais do que uma réplica de um filme de 1954, Three Coins in the Fountain ou, A Fonte dos Amores, onde se diz que quem atirar uma moeda na fonte, voltará a Roma - se atirar duas, encontrará o amor com uma bela italiana (ou italiano) - e se forem três, irá mesmo casar com a pessoa que conheceu. Para que isso funcione é recomendável que a moeda seja arremessada com a mão direita e sobre o ombro esquerdo. Demasiados requisitos para tão poucas esperanças… felizmente não estabelecem o valor de cada moeda, mas, ainda assim, todos os anos retiram da fonte cerca de um milhão de euros, mas pelo menos o dinheiro é doado a instituições carenciadas.
Mas, com mais ou menos fé nos mitos populares, não haverá quase ninguém que passe por este lugar e não atire à água, pelo menos uma moeda. Por isso, a zona do murete junto ao espelho de água está permanentemente ocupada por turistas, de costas viradas para a fonte, que se preparam ou executam o arremesso de mais uma moeda… todos o fazem, e nós também o fizemos, quisemos pelo menos assegurar que voltaríamos à cidade.
Piazza Colonna e Palazzo Montecitorio
Voltámos à Via del Corso, que serve de eixo orientador nesta parte da cidade, e chegámos a uma zona onde encontramos alguns edifícios públicos de referência. Começámos pela Piazza Colonna, uma praça quadrangular rodeada por alguns edifícios imponentes, como o Palácio Chigi (a residência oficial do primeiro ministro e sede do governo italiano), ou o edifício monumental onde funciona a Galleria Comercial Alberto Sordi.
Ainda na proximidade, na Piazza di Pietra, encontramos a fachada, constituída por um conjunto de colunas, do Templo de Adriano, dedicado ao marcante imperador romano.
Panteão
Percorrendo apenas mais algumas das ruas apertadas e muito frequentadas, desta zona, sempre com muita animação, atingimos a Piazza della Rotonda onde se ergue o mítico Panteão de Roma.
É uma praça ampla, ao centro da qual se encontra mais uma das fontes romanas, a Fontana del Pantheon, encomendada pelo Papa Gregório XIII no século XVI, constituída por um conjunto de estátuas em mármore e por um obelisco com os habituais caracteres egípcios.
A grande fachada retangular, em pórtico, é composta por 16 colunas de granito de 14 m de altura e esconde a enorme cúpula, da qual só nos apercebemos a partir do interior.
Um pormenor que surpreende na arquitetura do Panteão são as suas dimensões, o edifício circular tem exatamente o mesmo diâmetro do que a altura da cúpula: 43,30 m. O centro da cúpula abre-se num óculo de 8,92 m de diâmetro, o que permite que a luz natural ilumine todo o seu interior.
Depois dessa transformação numa igreja o seu interior foi sendo enriquecido, com forras e colunas de mármore e várias obras de arte, e passou também a ser utilizado como mausoléu das sepulturas de alguns réis de Itália e de certos personagens de referência, como é o caso do pintor e arquiteto renascentista Rafael.
Campo dei Fiori e Piazza Farnese
O ponto de paragem seguinte foi o Campo dei Fiori, uma praça que é atualmente, e desde 1869, transformada diariamente num dos mais populares mercados de rua da cidade. Todas as manhãs, de segunda a sábado, são montadas as bancas onde são vendidos alimentos e flores, mas também outro tipo de produtos. E é nesse período que a praça se torna mais interessante, com a azáfama do mercado a funcionar em pleno. Mas, infelizmente, não estivemos atentos a esse pormenor e só lá chegámos à tarde, e encontrámos apenas escassos vestígios do mercado desse dia.
Mas a história desta praça vai muito para além do local que hoje encontramos e onde se compram frutas e verduras. Foi construída em 1456 por ordem do Papa Calixto III num lugar onde existia um imenso campo de flores. Após a construção de alguns edifícios importantes naquela época, esta praça chegou mesmo a estar na moda e a ser frequentada pelas personalidades mais importantes da cidade.
Mais tarde, tornou-se mais popular e transformou-se num lugar associado ao trabalho dos artesãos, com a instalação de várias oficinas de artesanato e de alguns albergues, e começou aí o primeiro mercado de rua, para venda de cavalos.
Mas o Campo dei Fiori chegou também a ser um local de execuções públicas, e a recordação desse período é feita através da estátua que se eleva no centro da praça com a figura de Giordano Bruno, um filósofo e frade dominicano que foi queimado pela Inquisição neste mesmo sítio, no ano de 1600, acusado de heresia. Três séculos depois foi construído este monumento em sua homenagem.
Mas esta praça, que durante o dia é usada como mercado, à noite transforma-se completamente e, cheia de esplanadas e sempre com artistas de rua, é um dos locais mais agradáveis para um jantar e uma saída noturna.
Uns poucos metros depois do Capo dei Fiori, fica a Piazza Farnese, onde encontramos a já costumeira fontana, e vários edifícios grandiosos, com destaque para o Palazzo Farnese, onde fica atualmente a Embaixada de França.
Piazza Navona
Talvez seja a principal praça da cidade de Roma, a Piazza Navona ocupa o mesmo espaço onde, no século primeiro, se situava o estádio de Domiciano, ou Circo Agonal, construído pelo imperador Dominicano, com capacidade para mais de 30.000 espectadores, onde se assistiam aos jogos atléticos, que seguiam o modelo dos jogos olímpicos gregos da antiguidade.
Com o passar dos séculos foram acontecendo várias modificações, mas aquilo que mais marcou esta praça foi a construção das suas principais atrações, as três fontes mandadas executar sob o mandato do Papa Gregório XIII, no início do Século XVI, e que foram aperfeiçoadas no século seguinte, sobretudo pela mão do artista Gian Lorenzo Bernini.
Além disso, foi também construída a Chiesa Sant'Agnese in Agone e vários edifícios que, até aos dias de hoje, continuam a ser bastante bonitos, dando a todo este conjunto uma imagem requintada e de grande valor artístico, e que é um dos principais cartões de visita da capital italiana.
As principais relíquias desta praça são as suas três fontes, todas inspiradas na água, no mar ou nos rios.
A Fontana del Moro, localizada na entrada do lado Sul, foi criada por Giacomo della Porta mas as esculturas foram aperfeiçoadas posteriormente por Bernini, que incluiu alguns golfinhos com um aspeto bizarro. Representa um mouro, ou africano, de pé sobre uma concha, lutando com um desses estranhos golfinhos, e cercado por quatro tritões ajoelhados sobre conchas. O detalhe das esculturas é impressionante, como acontece em todas as obras de Bernini.
A Fontana del Nettuno, está localizada no extremo Norte, e foi criada por Giacomo della Porta, tal como a Fonte do Mouro, mas permaneceu ao abandono desde a sua criação até ao ano de 1873, quando foi finalizada, com a inclusão de estátuas decorativas feitas pelos escultores por Gregorio Zappalà et Antonio Della Bitta.
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A afluência é o mais eclética possível, dos apreciadores de arte sacra, aos turistas de pé-descalço, dos visitantes estrangeiros, de todas as proveniências, aos turistas italianos, e há também os artistas de rua, dos mais variados tipos, que vão animando o ambiente. E, em conjunto, todos contribuem para que esta praça seja um dos locais mais agradáveis e interessantes da cidade de Roma, praticamente a qualquer hora, tanto de dia como à noite, sendo que à noite, adquire ainda uma beleza mais apurada.
Terminamos assim um dos circuitos possíveis para conhecer uma parte do centro histórico da cidade de Roma. Nos próximos dias faremos novos percursos em que iremos visitar algumas das atrações deste mesmo centro histórico, que não foram incluídas no dia de hoje, apenas por uma questão de proximidade geográfica e de otimização dos percursos.