segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Capri

A ilha de Capri é a pérola principal do Golfo de Nápoles. Situada na zona do Mediterrâneo chamada de Mar Tirreno, Capri é uma pequena ilha rochosa e acidentada, com pouco mais de 10 quilómetros quadrados e com uma beleza singular, pelo contraste dos tons vivos entre o verde viçoso das encostas, o azul esmeralda das águas do mar e o amarelo dos limões, que pendem dos muitos limoeiros que se encontram por toda a ilha.

Mas Capri é também um dos locais de referência do glamour da dolce vita italiana, pelos hotéis e restaurantes de charme, pelas boutiques sofisticadas com artigos de moda de estilistas famosos, e por ser o destino de muitos milionários e celebridades, que chegam nos seus iates, que encontramos nas várias enseadas que se formam ao redor da ilha.
A forma mais fácil de chegarmos a Capri é a partir de Sorrento, num percurso de barco de apenas 15km. Mas, quem estiver alojado em Nápoles, como era o meu caso, pode fazer a viagem diretamente a partir do porto da cidade, num ferry que percorre os 34 km até à ilha de Capri em pouco mais de 1h30m, embora existam barcos mais rápidos, só para passageiros, mas também bastante mais caros.
Saímos ao princípio da manhã num ferry enorme da Calata Porta di Massa, um dos cais principais do imenso porto de Nápoles, e pouco mais de uma hora depois, já avistávamos o nosso destino, a ilha de Capri.
Capri tem a forma inconfundível do rochedo que se ergue do mar, e está cheia de gente bonita e elegante que, ora percorrem as lojas luxuosas e perfumadas, ora procuram um dos muitos barcos que não param de sair para passeios ao redor do rochedo. Trata-se de uma ilha pequena, composta por duas vilas, Capri e Anacapri, e por dois portos, a Marina Grande e a Marina Piccola.

A ilha já foi uma aldeia de pescadores, mas, a partir do século XIX, as famílias mais abastadas, não só italianas, mas também inglesas e alemãs, começaram a frequentá-la, encantados com a sua beleza e, logo aí, os pescadores começaram a explorar o potencial turístico que era o aluguer dos seus barcos para passeios. O turismo foi crescendo e tornou-se requintado, e a aldeia de pescadores foi-se transformando num destino de luxo que atrai milionários de todo o mundo. Mas os traços da antiga aldeia piscatória são ainda visíveis na arquitetura da Marina Grande, onde chegámos naquela manhã de agosto de 2019.
Mas a história desta ilha não começa com a pesca nem com o turismo, muito antes de tudo isso, Capri já tinha sido a residência de veraneio de Tibério, o filho do imperador romano Augusto, sendo que, atualmente, são apenas visíveis as ruínas e alguns jardins dos palácios que lhe pertenceram. Mas estou certo de que ninguém visita Capri interessado na sua história, Capri é mar e é glamour, e é isso que a diferencia de outros locais em Itália, onde há história de sobra para quem apreciar.

Por isso, também nós, mal saímos do ferry, corremos a procurar uma pequena embarcação que nos levasse num passeio em torno da ilha. Existem várias alternativas, com diferentes padrões de oferta e diferentes preços. De qualquer forma, existe sempre uma oferta separada entre a volta em torno da ilha e uma visita à Grotta Azzurra… mas optámos por não incluir esse extra.

O nosso objetivo era conhecer as principais atrações da ilha, assinaladas neste mapa, algumas delas iríamos vê-las apenas a partir do mar, e outras pretendíamos visitá-las mais tarde.

Foi desta forma que partimos para a primeira parte da nossa visita, uma volta de barco em torno da ilha onde iríamos poder apreciar as paisagens das encostas e rochedos, banhados pelas águas transparentes e com tons de azul vivo.

Encontrámos algumas bonitas enseadas, com pequenas praias, tão apetecíveis para um mergulho, mas que não estava previsto no percurso, e várias grutas escavadas nos rochedos ao longo da costa.


Mais à frente chegámos aos Faraglioni, três pequenos ilhéus a poucos metros da costa. São conhecidos pelos nomes de Stella, Faraglione di Mezzo e, o mais afastado, Faraglione di Fuori. 

Mais tarde, pudemos contemplar uma bonita paisagem sobre estes ilhéus que nos é oferecida a partir de terra, no miradouro dos Jardins de Augustus.

O Faraglioni mais alto atinge os 100 m de altura, dois deles são compactos e o Fariglione di Mezzo é atravessado por uma abertura que é chamada de Arco dell’Amore. Reza a lenda que, basta beijarmos a pessoa amada enquanto o barco onde estivermos atravessar este arco, para que o nosso amor seja eternizado… provavelmente será só mais uma farsa para alegrar os turistas, mas ninguém deixa de cumprir este desígnio.
A meio da costa do lado Sul da ilha encontramos a Marina Piccola, o segundo porto de Capri, mais pequeno e, por isso, usado apenas por embarcações de menor porte.
Percorrendo a restante costa Sul da ilha, dobramos o cabo de Punta Carena, a cerca de 3 km a sudoeste de Anacapri. Neste cabo encontramos o Farol de Punta Carena, que é uma das construções de referência da ilha e que está em funcionamento desde o fim do século XIX.

Voltando ao lado Norte da ilha, já a caminho da Marina Grande, fazemos uma última paragem junto à Grotta Azzurra. Como já referi, optámos por não comprar este extra do passeio que nos obrigaria a passar para uma lancha pequena e ficar a aguardar numa fila demorada pela nossa entrada na gruta. É um dos locais naturais mais famosos da ilha, por ser uma caverna completamente escura onde o mar brilha com uma cor azul viva, devido à luz do sol que incide nas águas através de uma cavidade e cria um reflexo que ilumina as águas no interior desta caverna.

À entrada da gruta as embarcações acumulavam-se. Sabíamos que ia ser demorado e não quisemos perder tanto tempo. Além disso, só a entrada na gruta era quase tão cara como toda a viagem em torno da ilha.
Mas, como compensação, ao longo do percurso, entrámos nalgumas pequenas grutas onde fomos surpreendidos pela cor das águas. Certamente não tão “azzurras” como na “grotta”, mas, ainda assim, eram também de um azul impressionante.
Pouco depois estávamos de regresso ao porto e às ruas que o envolvem, sempre movimentadas e muito apelativas, com turistas a saírem dos barcos e a procurarem táxis, ou a entrarem nas lojas e nas esplanadas. São imagens bem fiéis do verão mediterrânico que imaginamos, e é muito prazeroso poder ficar por ali a observar a vida daquele local e, melhor ainda, fazer parte dessa dinâmica. E nós não quisemos perder essa oportunidade.


Mas também queríamos aproveitar o calor que se fazia sentir e fomos andando até à Spiaggia Marina Grande, a praia junto à Marina. As praias não são como as nossas, não se encontram grandes areais, e os poucos espaços a que chamam praia, têm areia negra e pedra, muita pedra. Mas há algo que desculpa tudo isso… são as águas, cristalinas e com tons de azul vivo, e com uma temperatura magnífica. Por isso, não podíamos desperdiçar a oportunidade de tomar uns banhos de mar fantásticos, e foi o que fizemos, deixámo-nos ficar de molho demoradamente e saímos, quase uma hora depois, totalmente retemperados.

De volta ao porto procurámos o funicular que faz o percurso até ao alto da montanha, onde fica o centro da vila de Capri. Por vezes é necessário esperar na fila, dos bilhetes ou mesmo na entrada. Foi o que nos aconteceu, mas apenas 15 minutos de espera, nada de mais.

No topo da linha do funicular chegamos à Piazza Umberto I, o centro histórico desta vila. Detivemo-nos algum tempo a contemplar as vistas deste lado Norte na ilha, sobre a encosta que atinge o mar junto à Marina Grande. Entre os rochedos, com as suas encostas verdejantes, e o azul forte do mar, surge o casario, como que arrumado com a perfeição de uma aguarela... que bonitas paisagens.

É da praça Umberto I que saem todas as ruas e, principalmente, as ruelas mais estreitas, que nos permitem percorrer esta parte da ilha por entre boutiques de luxo e hotéis de charme. Para um lado temos a montanha mais alta, que não nos será acessível, mas, para o lado oposto, encontraremos vários caminhos pedonais que nos vão conduzir até à encosta Sul, onde nos seremos brindados pelas mais belas imagens da ilha.



Descemos o emaranhado de trilhos que respiram glamour, com as suas lojas luxuosas, conduzindo-nos sempre na direção do Giardini di Augustus, junto ao mosteiro de San Giacomo Capri, na encosta Sul.

Entramos no jardim do antigo imperador romano e estamos num dos mais fabulosos miradouros que se possa imaginar. O luxo que se vê na vila estende-se também pelo mar, com vários barcos, lanchas e iates, oferecendo a quem os ocupa o desfrute daquelas águas maravilhosas.
E é deste jardim que podemos contemplar a paisagem fantástica sobre os Faraglioni, por onde passámos nesta manhã. 

E mudando o ângulo de visão conseguimos ver a encosta da Via Krupp, mais uma belíssima paisagem que este jardim nos oferece. O alemão Friedrich Alfred Krupp, que passava as férias de verão em Capri e atracava o iate na Marina Piccola, resolveu contratar a construção de um carreiro que o levasse de um novo cais, onde passou a ancorar o seu barco, até aos Jardins de Augustus. O resultado foi uma das mais interessantes ruas jamais vistas, que vence em ziguezague todo desnível até ao mar. 

Atualmente esta via não está aberta a peões, mas a paisagem que resulta da encosta rochosa rasgada em socalcos até ao mar tornou-se um ex-líbris da ilha de Capri, quer seja vista a partir deste miradouro ou contemplada de um barco, como a tínhamos visto nesta mesma manhã.


Depois destes momentos inspiradores em que pudemos desfrutar de tão belas paisagens, deixámo-nos levar pelos aromas desta ilha que nos envolvem ao longo dos caminhos floridos e com vegetação mais densa. Sente-se um perfume que paira no ar, uma mistura de aromas de flores, laranjas e limões, e encontramos mesmo algumas boutiques onde podemos cheirar as essências de cada um desses componentes que, quando devidamente misturados, dão origem a várias flagrâncias produzidas pela Carthusia, a marca de perfumes com aromas do Mediterrâneo, com origem na ilha de Capri… e todas as lojas, ateliers ou galerias, exalam o leve aroma deste perfume, que iremos recordar como a flagrância da própria ilha.

Mas, para além dos aromas, impressionou-nos tudo aquilo que tem a ver com os limões. Também é fácil identificar o seu perfume, principalmente do limão siciliano, limões grandes que crescem por todo o lado. Mas também os gelados, os granizados, as limonadas e, claro, o Limoncello, um licor de limão produzido originalmente nesta zona do sul de Itália.

Não deixámos de experimentar todas estas iguarias que nos foram refrescando durante este dia.

Seguimos depois pela via Camerelle, uma das mais glamourosas da ilha, com as suas boutiques elegantes, os hotéis de charme e as mansões, que só conseguimos espreitar através dos portões. 

No final desta rua liga-se um trilho estreito que nos conduz a uma outra atração desta encosta, o Arco Naturale. Um pórtico que se formou naturalmente na rocha e que proporciona uma vista incrível sobre o mar, e que é também visível lá de baixo, quando passamos de barco.

Voltando ao centro da vila, de novo pelas ruas mais chiques, até chegarmos à la Piazzetta, como é conhecida a Piazza Umberto I, junto à Torre dell'orologio e à Chiesa Santo Stefano.


Fizemos uma romagem breve a algumas das lojas mais apelativas, como as perfumarias, e escolhemos um restaurante onde pudéssemos saborear alguns dos paladares mediterrânicos que esta região tem para oferecer.

Mais tarde, já o final deste dia na ilha de Capri se estava a aproximar, fizemos um passeio de despedida pelas ruas da vila e optámos ainda por uma última caminhada e, em vez do funicular, resolvemos descer um carreiro florido que nos conduziu até ao cais, para fazer perdurar a memória do perfume a flores e citrinos com que esta ilha nos brinda.


Só mais umas imagens das águas que banham a ilha e do cais da Marina Grande, que vamos guardar como souvenires deste local tão encantador. 


Mais tarde, a ilha de Capri desaparecia no horizonte enquanto a cidade de Nápoles nos esperava com as cores nostálgicas do entardecer, bem apropriadas à sensação que esta despedida nos tinha deixado… já saudosos e melancólicos daquele local inspirador.