domingo, 25 de agosto de 2019

Monte Vesúvio

Saímos bem cedo da cidade de Nápoles para a primeira aventura desta viagem, a caminho do topo do Monte Vesúvio, observando ao longe a sua silhueta que domina a paisagem de toda Baía de Nápoles. 
O Vesúvio é bem mais que uma montanha silenciosa e pacífica, trata-se de um vulcão mítico, que é quase um ícone desta região do Sul de Itália, conhecido sobretudo pela enorme erupção no ano 79d.C., que soterrou as cidades vizinhas, matando milhares de pessoas, como em Pompeia, que ficou completamente coberta pelas cinzas e fragmentos de rocha projetados pelo vulcão, ou na cidade de Herculano, que ficou coberta por um manto de lamas vulcânicas que escorreram pelas encostas. 

Mas, antes de ali chegarmos, tínhamos feito a revisão da matéria dada nos antigos estudos de geologia sobre a origem dos vulcões. Percebemos então que o Vesúvio, como os outros vulcões, resultou do choque entre duas placas tectónicas com movimentos convergentes. Neste caso, a placa Africana, sendo menos densa, mergulhou sob a placa Euroasiática, criando grandes pressões nos materiais da base da montanha. Como consequência dessa pressão os materiais foram aquecendo até atingir a fusão, formando o magma. Como o magma é menos denso do que a rocha sólida em que está envolvido, e com as altas temperaturas e elevadas pressões, vai sendo empurrado para cima até encontrar um ponto mais frágil e, quando isso acontece, o magma rompe a crosta e dá-se a erupção.

É isso que diz nos livros e não tenho razões para duvidar e, mais tarde, já no topo da montanha, haveríamos de confirmar essas e outras particularidades da história deste vulcão, através das explicações de um guia local que nos acompanhou a visita em torno da cratera. 
Mas, o Monte Vesúvio que hoje encontramos, é apenas uma pequena parte da antiga montanha. Trata-se de um cone localizado no interior da cratera de um antigo vulcão de grande dimensão, o chamado Monte Somma. Na erupção do ano 79 foi criada uma nuvem piroclástica com temperaturas altíssimas que terá projetado cinzas e rochas a uma altura de 30 km, enquanto a lava escorria pela encosta, num processo que quase destruiu a própria montanha.

Ficámos assim a saber que, ao contrário do que imaginávamos, não foi o Vesúvio que sofreu a grande erupção no ano de 79, que destruiu tudo o que estava à sua volta, mas sim o enorme Monte Somma. Depois da erupção, restou apenas uma cratera da grande montanha e um vulcão de menor dimensão, chamado de Monte Vesúvio. Esta integração entre os dois vulcões torna-se mais percetível através da representação esquemática que mostra o contorno do antigo vulcão, que atingia uma grande altitude, tendo como comparação a altura atual do Vesúvio, que é de 1281 m.
Uma vista aérea atual sobre este complexo permite confirmar com clareza a existência das duas crateras, uma delas no topo do Vesúvio e, uma outra, definindo o contorno da antiga montanha.
Para terminar esta introdução histórico-científica falta referir que a última erupção do Vesúvio aconteceu há menos de um século, em 1944, e foi a partir daí que se abriu a cratera que hoje se encontra no topo da montanha. Ao longo dos últimos 75 anos, um período demasiado curto para se considerar que o vulcão se encontrará inativo, o Vesúvio tem produzido apenas uma pequena atividade sísmica e alguns focos de fumarolas, sem deformações do terreno. Mas, para nosso conforto, neste Verão de 2019, pudemos observar o interior da cratera, depois de uma longa caminhada até ao topo da montanha, e constatámos que não existia emissão de fumos ou quaisquer outros sinais de atividade.

E foi com este conhecimento prévio e cheios de curiosidade que chegámos, ainda cedo, à zona restrita de acesso ao vulcão, onde nos encaminharam para uma estrada onde iríamos estacionar, ainda bem longe do início da escalada e do topo que pretendíamos alcançar. 
Estávamos a mais de 2 km em estrada pavimentada, numa subida bem íngreme, que podemos substituir utilizando os minibuses que fazem este trajeto pelo preço de 2€ por pessoa, para subir e depois descer. Chegando ao fim da estrada encontramos o centro do Parco Nazionale del Vesuvio, onde podemos comprar o ingresso que nos permite fazer a caminhada até ao topo da montanha. 

Os trilhos em torno do vulcão são sinuosos e bastante inclinados. Felizmente o piso, de material vulcânico, é bastante abrasivo e permite uma boa aderência, mas, cuidado, que não será nada conveniente uma queda sobre um material daqueles. 

O esforço é enorme, sobretudo se for na hora do calor, mas nós fomos cedo, ainda pela fresquinha, mas a paisagem envolvente é bastante compensadora e, por isso, fazendo umas paragens pelo caminho, lá vamos subindo, pouco a pouco. 

Chegados ao todo da montanha, depois de cerca de 1 km de escalada, esperámos até nos juntarmos a um guia que deu as explicações históricas e científicas que já referi, deixando-nos depois sozinhos para explorarmos o contorno da imensa cratera.
Os estratos rochosos que constituem as paredes da chaminé do vulcão são perfeitamente visíveis, servindo de atração a geólogos que pretendam estudar os fenómenos vulcânicos, ou como curiosidade, para os muitos turistas que visitam o diariamente este vulcão.
A abertura da cratera é enorme, bastante profunda e com um diâmetro de 550 m, dando uma sensação algo ameaçadora, sempre que observamos o seu interior. 
Ainda assim quisemos ficar demoradamente em cada ponto de observação e desfrutar dessa sensação algo assustadora, mas também de fascínio, não só pela singularidade geológica daquele enorme buraco, mas sobretudo por aquilo que o vulcão representa pela carga histórica que lhe está associada. E foi assim que nos pusemos ao caminho e fomos percorrendo vagarosamente o trilho com cerca de 700 m, que contorna metade da cratera, até atingirmos a vertente do lado das cidades de Pompeia e Herculano, mostrando toda encosta que foi soterrada com cinzas, rochas e lamas vulcânicas, há quase dois mil anos.

Uma última imagem da boca do grande vulcão adormecido antes de iniciarmos a descida. 

Terminámos assim a visita a um vulcão que simboliza muito para além das suas características geológicas. O Vesúvio é sobretudo um marco histórico desta região, por estar associado à destruição das cidades romanas de Pompeia e Herculano, onde terão morrido em torno de 16 mil pessoas.

Mais tarde, já do interior das ruínas de Pompeia, voltámos a contemplar a silhueta do Vesúvio, uma montanha que nos parece ser completamente inofensiva, mas que, na realidade, continua a ser um monstro adormecido, que poderá acordar a qualquer momento.


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