A cidade de Pompeia é um dos locais arqueológicos maiores e mais importantes de todo o mundo, ocupando uma área total de 67 hectares... e é certamente aquele que apresenta melhores condições de preservação de toda uma cidade romana da antiguidade.
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São poucos os sites arqueológicos que nos transmitem esta sensação de estarmos a percorrer uma cidade autêntica, com as suas casas, as ruas e praças e os seus monumentos. É algo que nos chega a arrepiar, pensar que num dia esta era uma grande cidade do império romano, com os seus 20 mil habitantes na sua azáfama habitual, e que, no dia seguinte, nada mais havia que um espesso manto de cinzas e rochas em brasa, que soterraram toda a cidade.
E esse primeiro instante de silêncio absoluto aconteceu exatamente no mesmo dia da nossa visita a este local, o dia 25 de agosto, mas muitos anos antes, quase dois mil, quando, na véspera, 24 de agosto de 79 d.C., o grande vulcão, a que hoje chamamos Monte Vesúvio, entrou em erupção, projetando toneladas de cinzas e pedras incandescentes que foram cobrindo a cidade de Pompeia durante a noite, enquanto todos permaneciam nas suas casas, o que fez com que a maior parte da população tenha procurado abrigo em vez de tentar fugir.
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A chuva de destroços continuou a soterrar a cidade enquanto um manto de lamas vulcânicas escoria pelas encostas da grande montanha, destruindo outros povoados, como a cidade romana de Herculano.
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Quando a erupção terminou, Pompeia estava sepultada por uma camada de mais de cinco metros de cinzas, e assim permaneceu durante cerca de 1.700 anos. A cidade de Pompeia, tal como a de Herculano, só vieram a ser redescobertas em 1748, com as escavações conduzidas por um engenheiro militar, Roque Joaquin de Alcubierre, com o apoio do Rei de Nápoles. Mas somente em 1860, sob o comando de Giuseppe Fiorelli, os trabalhos de escavação foram intensificados o que permitiu descobrir estas cidades da antiguidade.
Além das construções, bem preservadas, devido à proteção assegurada pelas camadas de cobertura de cinzas e lava, foram encontrados corpos petrificados de alguns milhares de vítimas, deixando um testemunho arrepiante desta tragédia.
E foi a própria erupção, que causou tanta morte e tanta destruição, que conservou um dos maiores testemunhos do modo de vida romano do primeiro século d.C., fazendo de Pompeia um dos locais mais importantes para o estudo da sociedade romana, permitindo aos historiadores um melhor entendimento dos hábitos e costumes do seu quotidiano, bem como das técnicas de construção que eram usadas naquela época.
Assim, quando entramos neste site arqueológico, não encontramos apenas ruínas, mas sim ruas e praças, edifícios e monumentos ainda de pé, como se circulássemos numa cidade romana de há dois mil anos atrás.
Fizemos a entrada pela Porta Marinha, o cartão de visita do local por ser a principal porta de acesso às escavações. Foi decidido chamá-la assim porque tinha vista para o mar, mas, originalmente, tinha sido conhecida como a Porta de Neptuno.
A área visitável é de tal forma vasta que temos que fazer escolhas daquilo que devemos visitar, caso contrário, demoraríamos várias horas para percorrer este espaço. Mas, mesmo com o auxílio de um mapa, e de uma escolha criteriosa, não conseguiremos demorar menos de três a quatro horas.
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Começámos pela primeira zona monumental, com o Quadriportico dei Teatri, localizado por detrás do palco do Grande Teatro, e que chegou a ser usado como caserna para gladiadores.
O Grande Teatro de Pompeia, habitual em todas as cidades do império romano, tal como Teatro Menor, também chamado de Odeon, localizados lado a lado, apresentam as características arquiteturais dos teatros gregos, como era habitual nos anfiteatros romanos.
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A cidade mantém as antigas ruas e praças, sendo ainda visitáveis algumas das grandes casas senhoriais das suas famílias mais importantes. Continuam a ser impressionantes as villas que encontrámos, com jardins interiores, as suas próprias termas, e com vários afrescos decorativos que adornam as paredes. Uma dessas villas que se encontra em melhor estado é a chamada Casa de Menandro.
Chegámos junto à muralha sudeste da cidade e entrámos no espaço da Palestra Grande, uma construção com um pátio de grande dimensão, que abrigava uma escola de luta corpo-a-corpo e funcionava também como local de convívio social masculino, para conversas sobre literatura, filosofia e música.
Logo ao lado ergue-se o Anfiteatro principal, com uma lotação para cinco mil pessoas, o que revela que será bastante pequeno se o comparamos com os 50 mil da lotação do Coliseu de Roma, mas era utilizado da mesma forma, com as habituais lutas de gladiadores.
Voltando às ruas, percorremos o empedrado da Via dell'Abbondanza, uma das principais artérias da cidade, até à Via Stabiana, onde ficam os banhos termais de Stabianas, as termas mais antigas e mais importantes de Pompeia.
Uma outra visita obrigatória é o Lupanar que, em latim, significa "covil de lobas", termo que designava os prostíbulos na Roma Antiga. Este pequeno edifício era o mais importante dos bordéis da antiga cidade. Além de manter as divisões originais, mostra ainda um conjunto muito interessante de pinturas eróticas que cobrem suas paredes.
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Atingimos entretanto a praça principal da cidade, o Fórum de Pompeia. Esta praça foi usada como centro de comércio e era ali que se encontravam os principais edifícios públicos, como o tribunal. Também os principais templos religiosos estavam neste fórum, como a Basílica ou os templos dos Deuses Júpiter e Apolo.
E é igualmente a partir desta praça que se torna mais evidente a silhueta do Monte Vesúvio, que se mostra agora como uma simples montanha, pacífica e até protetora, mas que outrora mostrou toda a sua fúria, aniquilando definitivamente a antiga cidade.
Neste Fórum central, encontra-se um depósito para armazenamento de todo o tipo de artefactos e objetos da antiga cidade, como uma coleção de jarros, ânforas e diversas esculturas, e também - o mais arrepiante dos testemunhos da tragédia - os famosos corpos de Pompeia.
Durante as escavações, o arqueólogo Giuseppe Fiorelli descobriu que as cinzas petrificadas eram ocas em alguns pontos, e que dentro dessas cavidades existiam ossos humanos. Percebeu assim que se tratavam de vazios que foram deixados pelo corpos soterrados, e decidiu preenchê-los com gesso, como se fossem moldes com a forma dos corpos daqueles que ali tinham morrido. São essas as figuras que encontramos em alguns dos locais da cidade e que retratam os últimos instantes daquelas pessoas numa luta desesperada pela vida.
Naturalmente, estes não são os corpos reais, mas esculturas feitas de gesso, ainda assim, não deixa de ser um espetáculo impressionante, aqueles corpos enrolados, adultos e crianças, tentando desesperadamente proteger-se das cinzas incandescentes que os soterravam.
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Ultrapassado este momento de introspeção, tornando-se incontornável a ideia aterradora do desespero daqueles milhares de pessoas, voltamos à praça retangular do Fórum rodeado por esculturas e vestígios do que resta dos templos e monumentos que ali existiram.
O Templo de Júpiter, o Deus equivalente ao grego Zeus, definido pelos romanos como o melhor, o maior e o mais sábio de todos os Deuses. Por este motivo, o seu templo ocupa uma das partes com maior destaque do Fórum. Contudo, restam atualmente deste templo algumas colunas da fachada principal.
Encontramos também a Basílica, que era a sede da administração da justiça e o edifício mais importante da cidade. A data de construção inicial é mais de um século antes de Cristo, ou seja, já teria cerca de 200 anos à data da sua destruição. Na nave principal, observaremos algo curioso, é que quase todas as colunas têm a mesma altura, o que faz depreender que, à data da erupção, o edifício estaria em reconstrução e as colunas estavam ainda por terminar.
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O átrio da Basílica tinha cinco portas que se abriam para o Fórum, uma delas mostrando a escultura principal da praça, o Centauro de bronze.
Junto à Basílica localiza-se ainda o Templo de Apolo. O culto a esse Deus foi importado da Grécia Antiga e foi generalizado nas cidades do império romano. Nas escavações, foi encontrada uma estátua deste Deus num gesto de quem atira uma flecha. Com base da mitologia grega, acredita-se que essa flecha fora usada para enviar pragas para o campo de batalha da Guerra de Troia, ou para ajudar Páris a matar Aquiles, guiando a flecha do arco até ao seu frágil calcanhar.
Atualmente, encontramos no Templo uma réplica da estátua de Apolo encontrada nas escavações, estando o original no Museu de Nápoles.
Terminámos assim a visita às ruínas da cidade de Pompeia ao fim de três horas num dia de calor abrasador, o dia 25 de agosto de 2019, exatamente 1940 anos depois daquele que foi o primeiro dia em que toda uma cidade não mais iria despertar, deixando sob os destroços de um vulcão furioso, quase duas dezenas de milhar de vidas, terminando bruscamente com as suas rotinas e os seus sonhos. E a nós coube-nos testemunhar os vestígios de uma cidade redescoberta e imaginar a verdadeira dimensão de uma das grandes tragédias da antiguidade.