domingo, 14 de junho de 2009

New York - Percurso 6 - Upper Manhattan



Neste percurso de um dia inteiro incluímos uma longa caminhada pelo grande jardim da cidade, o Central Park, com alguns desvios para visitarmos três dos principais museus de Manhattan, todos localizados junto ao parque.
Começámos a caminhada pela praça Columbus Circle, uma zona de entrada do parque, do lado West, o da 7th Avenue, que está totalmente rodeada por arranha-céus, como acontece na entrada do lado oposto, o lado East, junto à 5th Avenue. Mas, enquanto os arranha-céus desse lado são edifícios clássicos, cheios de história e glamour, do lado da Columbus Circle os arranha-céus são moderníssimos, como é o caso do complexo designado por Time Warner Center, um conjunto de edificações com a altura máxima de 229 m, e é também o caso de uma das Trump Tower’s, onde funciona um dos hotéis de luxo da cidade.
Seguindo pela avenida Central Park West, uma caminhada de cerca de 1,5 km, entre os arranha-céus e o parque, chegamos a um dos museus mais importantes da cidade, o Museu Americano de História Natural.
American Museum of Natural History foi fundado em 1869 e é o maior museu de história natural do mundo. É especialmente reconhecido pela sua vasta coleção de fósseis, incluindo de várias espécies de dinossauros. Uma das grandes atrações do museu é uma coleção de ossos de dinossauro, com fósseis e artefactos, espalhados por várias salas de exibição. 

Logo à entrada somos recebidos pela réplica de um enorme esqueleto de um T-Rex, com cerca de 15m, que nos dá as boas-vindas para o mundo de ciência e fantasia que nos espera.
O museu tem uma secção dedicada à história da América, embora de forma bastante antiquada, uma espécie de montras com bonecos no seu interior de índios, cowboys e muitas espécies de animais. Em 2006, o museu serviu como cenário para o filme "Night at the Museum", onde alguns destes bonecos adquirem vida e tornam-se personagens do filme, como o antigo presidente americano Theodore Roosevelt, que está ligado à fundação do museu e é atualmente recordado através de um memorial com a sua estátua.

A forma como explorámos este museu foi totalmente desordenada, fomos seguindo pelos corredores sem um destino definido, fazendo paragens nas salas mais apelativas e voltando de novo ao circuito, quase labiríntico, até darmos a visita por terminada, não porque já tivéssemos visitado exaustivamente tudo o que o museu tem para ver mas, muito provavelmente, parámos porque já estávamos exaustos. 

Como recordação daquelas horas que passámos neste museu, mostro aqui duas réplicas enormes recriando a era dos dinossauros, e destaco também alguns artefactos, como duas esculturas icónicas de cabeças (são duas réplicas, claro), uma da civilização Maia da américa central e outra recriando uma das famosas estátuas Moai, da Ilha da Páscoa.


Junto ainda uma foto da réplica de um grande meteorito, que domina a ala do museu onde se podem também ver pedaços de meteoritos verdadeiros e até tocar numa pedra trazida da lua pelos astronautas das missões Apollo, dos anos 70.

À saída do museu entrámos diretamente no admirável mundo de Central Park. Para visitar o parque é importante que esteja um dia de sol, caso contrário os verdes não serão tão verdes, nem encontraremos assim tantos nova-iorquinos e turistas praticando todo tipo de atividades que o parque permite.

Mas o nosso dia era mesmo um desses dias com um sol brilhante e pudemos apreciar devidamente as imagens maravilhosas que o parque pode oferecer.
A forma certa de conhecer este jardim imenso será deixarmo-nos perder serpenteando ao longo de cada caminho, para acedermos a cada lago, cada ponte, cada relvado... sempre sem destino previamente definido. Porque o parque é sempre uma surpresa e temos que deixar que ele nos surpreenda. Por isso, apesar de termos um destino final, que seria atingir o limite do lado Este do parque, percorremos alguns quilómetros por pura diversão e sem qualquer orientação... e foi assim que fomos passando por alguns locais menos frequentados, mas sempre muitos bonitos.

Por ser um imenso bosque encaixado no coração de uma cidade como Nova Iorque, o Central Park, oferece paisagens únicas, mostrando o contraste entre o verde dos campos e dos lagos, com as fachadas dos arranha-céus que se mostram por detrás da copa das árvores, com um resultado muito peculiar e perfeitamente magnífico.

Do lado East do parque localizam-se dois museus, o Guggenheim Museum e o The Metropolitan Museum. Parámos em cada um deles mas depois voltámos ao parque e fizemos todo o final de tarde no meio da dinâmica que o parque adquire a essa hora, com centenas e centenas de pessoas por todo o lado num frenesim incrível. E passámos ainda por alguns locais carismáticos, que nos são até algo familiares, por já os teremos visto no cinema ou na televisão.

Passámos, por exemplo, pela conhecida casa dos barcos, ou The Loeb Boathouse, e pela zona da Bethesda Fountain, uma fonte tantas vezes utilizada como cenário de filmes que recordamos, tal como as suas arcadas, as Minton Tiles at Bethesda Arcade.

Chegámos depois ao imenso relvado, o Sheep Meadow, que os nova-iorquinos utilizam para todo o tipo de atividades de lazer ao ar livre. O ambiente é excelente, apetece-nos ficar por ali, fazer parte daquele mundo... e foi isso que tentámos fazer, inspirar bem fundo e apreciar devidamente aquele momento.
Mas, para além da excitação daquele momento, surgiram-me ainda memórias antigas que deram mais brilho àquele lugar, já de si espantoso. É que o Sheep Meadow é exatamente o local onde grandes músicos quiseram dar os seus concertos e gravar os seus discos ao vivo no Central Parque, mas, para mim, este local lembra-me sobretudo aquele que foi um dos álbuns de referência da minha juventude, o Simon e Garfunkel "Live in Central Parque", gravado em 1982 neste mesmo local.
Já na fase final do dia, depois de escalarmos o rochedo do parque, o Umpire Rock, como todos fazem, e quando nos preparávamos para sair do parque e mergulharmos de novo na vibração de Manhattan, tivemos ainda um último vislumbre que nos trouxe à memória muitas cenas de filmes que aqui foram rodados... falo da imagem da charrete que tantas vezes foi palco de cenas de amor passadas no grande ecrã ao longo de muitos e muitos anos.
Como última referência ao Central Park queria só mencionar o Wollman Rink, uma imensa pista de gelo onde tantos atores já por lá patinaram em tantos filmes ao longo da história do cinema americano. Em junho não há gelo e, por isso, não tivemos acesso a esta atração, mas quem visitar esta cidade no Inverno não deixe de alugar uns patins de gelo e arriscar um passeio nesta pista mítica... se caírem será o sítio certo para se aleijarem... até fica bem, se é para partir uma perna que seja a patinar no gelo no Central Park, e ficam com uma boa história para contar.

Voltando atrás, quando saímos do parque do lado da 5th Avenue, e antes de termos reentrado de novo em direção ao Sul do parque, passámos pelo Museu Guggenheim e depois pelo Metropolitan Museum.

Mas optámos por não visitar o Guggenheim, trata-se de um museu de arte moderna, tal como o MoMa, e já não sobrava tempo, nem disposição, para mais uma visita, sobretudo porque ainda tínhamos o Metropolitan para visitar.

Assim, focámo-nos apenas nos aspetos arquitetónicos do edifício e deixámos as obras de arte para uma próxima visita.


A apenas 500 m abaixo do Museu Guggenheim surge o Metropolitan Museum of Art, conhecido informalmente como The MET, e é um dos museus de arte mais visitados, não só nos Estados Unidos, como em todo o mundo.
Foi aberto ao público em 1872 e desde então que é considerado como um dos maiores e mais importantes museus do mundo. Abriga importantes coleções de pintura europeia dos séculos XII ao XX e obras de arte antiga (grega, romana, egípcia, oriental e assírio-babilónica). São salões enormes com estátuas, quadros e peças de cerâmica, onde nos poderíamos perder por um dia inteiro, e ainda assim jamais conseguiríamos analisar o detalhe que este museu tem para oferecer.
No entanto, depois de já termos visitado uma grande parte da cidade de Nova Iorque, e termos sido bombardeados com toneladas de informação e conhecimento, entramos agora no MET e tudo nos parece demasiado grandioso... diria mesmo, assustadoramente grandioso. É nestas alturas que é preciso saber dosear o tempo e definir o foco, o que é que gostamos mesmo e não podemos perder, e do que é que podemos perfeitamente prescindir, sem grande perda. E foi isso que fizemos, dispensámos toda aquela arte clássica e fomos diretos observar a coleção fascinante que ocupa toda a ala dos impressionistas.

Eu sempre fui fã dos impressionistas, e tenho visto algumas obras na Europa, nomeadamente em França, onde estão as galerias com as principais peças deste movimento. Mas a coleção dos impressionistas do MET pareceu-me ser perfeitamente extraordinária, contendo algumas das pérolas do movimento criado em França no século XIX.

E assim deixámo-nos ficar um pouco por aquelas galerias, sobretudo em torno de algumas das obras de que mais gostámos e que mais nos tocaram.

Começo por referir uma pintura de Paul Gauguin, já do pós-impressionismo, o famoso “Two Tahitian Women with Mango Blossoms”. 
Depois, já na zona dos impressionistas, passámos por algumas obras de Edgar Degas, como o “Woman with a Towel” e um dos muitos quadros que Degas pintou sobre o tema “As bailarinas”.
Renoir é talvez o meu favorito de todos os impressionistas. Embora as suas principais obras se encontrem espalhadas por alguns museus de Paris, aqui encontrámos também várias peças importantes da coleção do pintor, como o “Madame charpentier et ses filles” ou o “Femme assise au bord de la mer”.
Outro dos pintores impressionistas representados nesta ala do MET é o francês Claude Monet. Escolhi as imagens do “Regatta at Sainte Adresse” e de um dos vários “Buquê de Girassóis”. Registo também um dos famosos “Nenúfares”, sendo que a coleção principal sobre este tema se encontra no Museu Orangerie em Paris.

E chegámos a Vincent Van Gogh, com todo um espaço dedicado a este pintor, não faltando um dos seus habituais auto-retratos.
Van Gogh tem a maior parte da sua obra exposta no museu com o seu nome em Amesterdão, onde já fui duas vezes, mas foi aqui que, pela primeira vez, um quadro do pintor holandês me haveria de emocionar. 

Muito para além de todas as obras que tinha vindo a encontrar, fui surpreendido, quase esmagado, pelo magnífico quadro a óleo “Campo de Trigo com Ciprestes” de Vincent Van Gogh.

Conhecia a imagem mas não estava à espera que este pequeno quadro, com apenas 73cm x 93cm, me pudesse tocar daquela forma. Fiquei sentado, imóvel e em silêncio, observando aquelas cores, aquele emaranhado de pinceladas espessas que quase me arrepiaram, aquela luz, que parecia irradiar das camadas subjacentes de tinta, já com 120 anos de idade.

Aquele quadro tinha um efeito quase físico, um magnetismo que me impressionou de uma forma brutal... e eu não estava preparado para toda aquela beleza.

Ah, é verdade, antes de acabar ainda falta a referência ao cinema! Foi um clássico na minha juventude (quem nunca viu que procure), chama-se Vestida Para Matar, um thriller de Brian de Palma. Tem uma cena determinante em pleno museu.


Depois de sairmos definitivamente do parque voltámos então ao frenesim daquela parte da cidade a caminho da Times Square e com um único desvio, passar à porta do Carnegie Hall, a mítica sala de espetáculos nova-iorquina por onde passaram tantas figuras da música, de todo o tipo de estilos  e provenientes de todas as partes do mundo.