Chegámos à cidade de Inverness ao final da tarde e começámos por fazer o check-in no hotel, partindo, logo de seguida, numa pequena caminhada para visitar o essencial desta cidade, aproveitando a claridade que permanece até bastante tarde nesta altura do ano.
Inverness
Trata-se de uma cidade na costa nordeste da Escócia, onde o rio Ness se encontra com o braço de mar Moray, e que é também a maior cidade e a capital cultural das Terras Altas, que visitámos percorrendo, mais ou menos, os trilhos assinalados neste mapa:
O hotel que escolhemos, o Glen Mhor Hotel & Apartments, localiza-se mesmo junto ao rio, e é formado por um conjunto de bonitas moradias, como estas que aqui represento, onde se inclui a receção do hotel, uma destilaria de whisky, e o restaurante Waterside, onde servem os pequenos-almoços e onde iriamos jantar mais tarde, e que recomendo vivamente, tanto pelo ambiente como pela qualidade da comida.
Como estávamos junto ao rio foi por aí que iniciámos a nossa caminhada de reconhecimento da cidade de Inverness, começando por atravessar a Infirmary Bridge, uma bonita ponte, exclusiva para peões e bicicletas.
Já no lado oposto, na margem esquerda do rio Ness, seguimos por um percurso pedonal que é conhecido por Ness Walk, e que inclui um conjunto de arruamentos e passeios que percorrem esta margem do rio.
Um pouco depois, chegámos à Catedral de Inverness, mesmo à frente do hotel, na margem oposta. É uma catedral anglicana, ou protestante, do século XIX, foi construída em 1866 usando materiais que são determinantes para a sua imagem, como a pedra vermelha das fachadas e o granito das colunas da nave principal.
Logo a seguir estávamos em frente ao Castelo de Inverness, que se ergue no alto da colina, na margem oposta do rio. Este castelo foi construído em 1836 num pequeno monte onde existiram várias fortificações, já desde o século XI.
Ao longo dos séculos os castelos aqui localizados foram sendo sitiados, destruídos e reconstruídos várias vezes, resultando o atual castelo, bastante bonito e em bom estado de conservação, após as recentes obras de reabilitação.
Podemos apreciar a silhueta do castelo do lado de fora, com vistas de várias perspetivas, sem termos necessidade de ter de pagar para entrar, pois a posição do castelo torna-o visível de toda a envolvente, nomeadamente da margem oposta do rio, de onde se obtém a melhor vista.
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Continuando pela marginal atravessámos mais uma ponte pedonal que nos leva até onde se encontram duas das igrejas da cidade, a Free Church of Scotland e a The Junction Church Inverness.
Ao chegarmos à margem direita podemos agora observar mais uma igreja, que fica na margem esquerda do rio Ness, a St Mary's Roman Catholic Church, uma igreja católica, ao contrário das demais, todas protestantes ou anglicanas.
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Entrámos depois nas principais ruas do centro histórico, passando por alguns dos polos locais de principal interesse.
Um dos edifícios notáveis desta zona é o Dunbar’s Hospital Building, uma das edificações mais antigas de Inverness, que apresenta um estilo arquitetónico bastante sóbrio e pouco comum nesta zona. Foi construído em 1668 como uma casa de caridade para os doentes e pobres e é, atualmente, uma combinação de casas particulares e de uma loja.
Chegámos, entretanto, à Falcon Square, a praça onde se encontra a estação ferroviária, onde já tinha estado a dormitar algumas horas, numa madrugada chuvosa em meados dos anos 80, a caminho da minha primeira viagem às Terras Altas… e que, por isso, quis voltar a visitar, talvez em busca de algumas recordações remotas.
Logo em frente da estação fica o histórico Victorian Market, um mercado vitoriano coberto que vende alimentos, roupas e artesanato e onde se encontram vários cafés e restaurantes… uma espécie de centro comercial antigo, que faz concorrência ao grande shopping da cidade, o Eastgate Shopping Centre, que fica ali bem perto.
Entre as várias ruas do centro destaca-se a High Street, a principal artéria pedonal e de comércio local de Inverness, que chega a estar bastante concorrida, mas não à hora tardia em lá estivemos, já com as lojas fechadas.
No percurso seguinte, já de volta ao hotel, virámos na Church Street e passámos junto ao Inverness Museum and Art Gallery, um edifício moderno, que quase se desenquadra da harmonia arquitetónica da cidade.
O museu apresenta uma exposição permanente que conta a história de Inverness, e a herança e cultura das Highlands. Tem também algumas exposições temporárias para quem deseje apreciar a arte local… mas não nos pareceu minimamente apelativo e ficámos apenas do lado de fora.
Ao longo da marginal, e já na proximidade do hotel, encontrámos ainda uma última igreja, a Ness Bank Church, também protestante ou anglicana ou de uma congregação da Igreja da Escócia… ou lá aquilo que chamam a estas igrejas, que não são católicas. Mas, independentemente do culto que aqui se celebre, esta igreja, tal como a maioria das igrejas, vale sobretudo pela beleza das suas fachadas, e foi nisso que nos focámos.
Voltando ao hotel, saímos de seguida, já de carro, para o campo de batalha Culloden Battlefield, e depois para o Clava Cairns, um cemitério ancestral, ambos a cerca de 10 km de Inverness.
A partir daí percorremos, mais tarde, o conjunto de trilhos das Terras Altas escocesas que estão representados no mesmo mapa, desta vez seguindo os caminhos assinalados a verde:
Culloden Battlefield
A poucos quilómetros de Inverness chegámos a um imenso campo relvado onde se destacam algumas linhas assinaladas por bandeiras, que marcavam as posições inimigas na antiga batalha de Culloden, que terminou com o fim de séculos da resistência escocesa contra o domínio inglês.
O levantamento jacobita foi uma tentativa de reconquista do trono britânico para um representante da família Stuart, no caso o eleito seria Jaime Francisco Eduardo Stuart, derrubando as dinastias protestantes e implantando uma monarquia católica. Esta rebelião ocorreu durante a Guerra da Sucessão Austríaca, quando a maior parte do exército britânico lutava na Europa continental. Nesse período de várias décadas, com início em 1689, os Jacobitas tentaram uma série de revoltas que haveriam de terminar aqui, no campo de Batalha de Culloden, onde ocorreu o confronto final em 16 de abril de 1746.
Uma força do governo britânico, comandada pelo príncipe Guilherme Augusto, duque de Cumberland, com mais de 9.000 casacas vermelhas do exército inglês, defrontou os cerca de 2.000 soldados do exército Jacobita da família Stuart. O resultado foi aquele que se esperaria face a um desequilíbrio tão pronunciado, e os Jacobitas foram derrotados de forma definitiva, ao longo de uma batalha que durou apenas 40 minutos, aniquilando quase na totalidade os membros dos vários Clãs que dominavam as Highlands escocesas.
Este local foi palco desta última batalha e é o terreno de descanso de quase dois milhares de Jacobitas que ali tombaram e de apenas 50 soldados do governo inglês, que também morreram naquele dia de 1746.
Hoje, podemos caminhar ao longo das linhas de batalha onde lápides homenageiam os soldados mortos e o Memorial Cairn presta homenagem àqueles que morreram pela causa Jacobita, com um conjunto de pedras com os nomes dos clãs que ali foram dizimados.
Encontramos também o centro interpretativo que oferece uma série de atrações de divulgação histórica, com recurso a apresentações audiovisuais sobre esta batalha, mas que são pagas, e tem também um pequeno restaurante e um wc, que poderá ser útil.
Mesmo sem entrar neste edifício, podemos subir aos terraços e contemplar toda a envolvente do imenso campo de batalha, com as várias lápides e monumentos que dali se podem avistar, e com uma das chamadas Leanach Cottage, umas residências com telhado de palha do século XVIII, das quais, se mantêm apenas pouquíssimos exemplos.
Clava Cairns
A menos de 3 km do campo de batalha encontramos o Clava Cairns, onde os fãs de Outlander estarão à espera de encontrar referências importantes desta série… mas acho que não será bem assim.
O chamado Clava Cairns é um dos mais importantes locais pré-históricos da Escócia e diz-se mesmo que este local oferece aos visitantes uma experiência semelhante à de Stonehenge… mas é preciso muito boa vontade para estabelecermos essa comparação, porque não tem nada a ver.
Na visita que fizemos, com acesso e estacionamento gratuito, encontrámos vários símbolos, como alguns tipos de sepulturas circulares, chamadas de Balnuran de Clava, de um antigo cemitério da Idade do Bronze, que constitui um dos locais históricos mais sagrados da Escócia.
Consta que, a certas horas, mais próximo do fim do dia, conseguiremos ver a luz do sol alaranjada a brilhar entre as árvores e as sepulturas, enquanto o céu escurece sobre o cemitério, criando uma atmosfera mística que estará na origem da simbologia deste espaço. Mas isso só acontecerá se visitarmos este lugar ao final da tarde, e se o céu estiver limpo, o que é raro, para que os raios do pôr-do-sol possam iluminar as sepulturas e demais símbolos com os seus tons alaranjados… sendo, por isso, pouco provável que alguém consiga ver esse efeito.
Para além destas sepulturas circulares de grande dimensão, encontram-se também outros monumentos funerários, alguns são apenas pedras colocadas na vertical… supostamente tudo aquilo se alinha com um solstício qualquer, mas, como não existe qualquer centro interpretativo neste site, não conseguimos obter essa explicação e, se quisermos saber mais sobre tema, teremos de procurar na net.
Mas aqueles que seguem a série Outlander chegam entusiasmados a este local pensando que foram ali rodadas as cenas mais determinantes da história, onde a personagem principal se encosta a uma pedra e atravessa para uma dimensão algures no passado. Ora, apesar do local invocado na série ser historicamente semelhante a este Clava Cairns, e das sepulturas representadas no mundo de ficção do Outlander, serem idênticas àquelas que aqui se encontram, a verdade é que as cenas da série não foram aqui gravadas, mas sim numa outra colina, com uma vista sobre o lago de Inverness, mas que não tem sepulturas da Idade do Bronze. O mundo da ficção é assim, engana-nos sempre, tal como nos levou a pensar que estas pedras serviriam de portal para o passado, mas, ao exprimentarmos, não aconteceu absolutamente nada… que estranho!
Loch Ness
Continuámos a nossa viagem para Sul e, a cerca de 10 km de Inverness, chegámos às margens do Loch Ness, provavelmente um dos lagos mais famosos do mundo, por fazer parte de uma lenda, como morada da Nessie, o célebre Monstro de Loch Ness, um animal marinho com nove metros de comprimento, que dizem habitar as suas águas geladas.
Mas ainda antes de chegarmos aos locais onde pudemos avistar o imenso espelho de água do lago, tentando observar alguns sinais de um qualquer monstro marinho, parámos no chamado Loch Ness by Jacobite - Dochgarroch Lock, um local com várias infraestruturas de aproveitamento do lago, como alugueres de kayaks ou paddels, e de onde saem alguns cruzeiros que percorrem o lago.
Este local tem também um espaço com oferta variada, com um restaurante, cafetaria e loja de souvenires, e que é bastante agradável, sobretudo numa zona onde não existe mais nada equivalente.
Mas aquilo que mais apreciei nesta paragem para um café e uns cookies, foi a propriedade rural vedada que fica logo ao lado do estacionamento, e onde pudemos confraternizar com algumas das pachorrentas vacas das Highlands, cuja imagem é divulgada como atração turística, mas que não são assim tão fáceis de encontrar. Aqui as vaquinhas estão tranquilas a pastar e não se afastam das pessoas, algumas até se aproximam… e gostámos de estar ali algum tempo de conversa com elas, bem mais hospitaleiras do que a vizinha do lago, a Nessie, que nem apareceu para nos cumprimentar.
Voltando ao Loch Ness, trata-se do segundo maior lago da Escócia, mas é aquele que tem o maior volume de água, devido à sua profundidade que chega aos 250 m… o lugar ideal para a criação de monstros marinhos.
Os caminhos ao redor do lago Ness são bastante bonitos e percorremos toda a estrada ao longo da margem do lado ocidental, fazendo algumas paragens para apreciar o enquadramento deste bonito espelho de água.
Depois de percorrermos cerca de 15 km pela margem do lago, passámos por Drumnadrochit, onde existe o Centro Interpretativo do Lago Ness, para quem quiser aprender um pouco mais sobre este lago e sobre as lendas em torno do seu famoso monstro, cuja existência tem sido fonte de posições contraditórias, por vezes até bem acesas.
Para mim, que sou um sético em quase tudo, ninguém me convence que este monstro alguma vez tivesse existido como animal marinho, mas certamente existiu, e continua a existir, como um incontornável símbolo do imaginário popular da cultura escocesa.
Castelo de Urquhart
Mais à frente chegámos ao principal castelo que se encontra ao longo do Loch Ness e que é, atualmente, o mais importante ponto de visita para quem quer conhecer este lago.
Trata-se de um bonito castelo e com uma história bastante relevante, quando, durante as lutas pela independência da Escócia, ficou sob o controle de Robert the Bruce, depois deste se ter tornado o primeiro rei dos escoceses, em 1306.
O castelo foi saqueado várias vezes pelos ambiciosos Senhores das Ilhas, tendo sido severamente danificado e até foi destruído pelo próprio dono durante a revolução Jacobita no século XVIII… na verdade, a Coroa Inglesa enganou o proprietário dizendo que iria pagar pelos prejuízos caso ele explodisse o castelo, mas o dono nunca chegou a receber esse pagamento.
Esta história é contada num vídeo que é apresentado no centro interpretativo que visitámos, e que constitui a única forma de podermos observar este castelo. Quem não quiser pagar o ingresso de £14,50 por pessoa, nem conseguirá ver a silhueta do castelo nem vai conseguir estacionar o carro.
Assim, temos que assumir o custo e entrar no estacionamento que fica na encosta, seguindo depois diretamente para um anfiteatro onde projetam o tal vídeo explicativo da história do castelo. No final do vídeo o ecrã abre-se e temos, pela primeira vez, contacto com a bela imagem do castelo e do seu lago, uma paisagem magnífica que já fazia parte do nosso imaginário como um dos símbolos da Escócia.
Fizemos depois a visita ao castelo e a toda a sua envolvente, apreciando as belas imagens que combinam a silhueta das ruínas do castelo, com o espelho de água e as encostas envolventes do Loch Ness.
Castelo Eilean Donan
Aquela imagem bonita que temos da Escócia, com os seus castelos que se erguem nas margens dos lagos, é materializada na perfeição no bonito Castelo Eilean Donan, que encontramos numa ilhota no vilarejo de Dornie, onde se juntam dois lagos, o Loch Duich e o Loch Long, que, na verdade não são lagos, mas sim braços de mar.
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Mas antes de chegarmos a este castelo, percorremos ainda quase 90 km desde o Castelo de Urquhart, primeiro seguindo junto às margens do Loch Ness e depois atravessando as montanhas e o Loch Cluanie, onde a paisagem se torna mais agreste, ainda com sinais dos últimos nevões e com a vegetação amarelada do frio do Inverno ainda próximo.
Chegando ao Castelo Eilean Donan podemos escolher se o queremos visitar, ou se nos ficamos pelas margens do lago, aproveitando os vários ângulos em que este castelo pode ser observado.
O castelo foi construído originalmente no século XIII durante o reinado de Alexandre II para proteger a localidade do clã MacDonald e seu Senhor das Ilhas, cujos membros eram descendentes dos Vikings e dos Celtas. No mesmo século, após a morte do rei e depois de uma batalha entre os clãs MacDonald e Mackenzie, estes últimos tomaram posse do castelo.
Muitos anos após a batalha original, já no século XVI, o castelo foi passado para o clã dos MacRae, cujos líderes eram amigos de longa data dos Mackenzies, e que continuam a ser, até hoje, os proprietários do castelo Eilean Donan.
No século XVIII tropas espanholas em aliança com os revolucionários invadiram o castelo numa tentativa de trazer uma nova revolta jacobita, com a qual a Escócia queria novamente levar ao trono inglês um representante da família Stuart, e restabelecer a religião católica. Mas quando os espanhóis e os revoltosos escoceses foram derrotados o castelo foi reconquistado e acabou demolido.
Foi assim que este castelo permaneceu durante 200 anos em ruínas, até que, no início do século XX, quando a família MacRae resolveu reconstruí-lo, mantendo o mesmo local e aproveitando os antigos escombros, criando uma réplica perfeita daquilo que tinha sido o histórico Castelo Eilean Donan… e recuperando assim a belíssima paisagem do castelo entre os lagos e as montanhas que os rodeiam.
Durante esta reforma, foi acrescentada ao projeto uma ponte, que não existia no original, para facilitar o acesso a quem visita o castelo… e que percorremos no acesso até à ilha onde esta fortaleza se ergue.
Seguimos depois até ao hotel, já nas proximidades da Skye Bridge, que atravessa o braço de mar que separa o continente escocês da Ilha de Skye, e fomos ainda jantar a um restaurante em Broadford, que menciono aqui como referência, por ser bastante agradável e com boa comida: The Claymore Restaurant.