domingo, 5 de setembro de 2021

Madeira - Costa Sudeste



Depois de aterrarmos na Madeira iniciámos a nossa viagem pela ilha percorrendo a zona costeira do lado Sudeste, que fica entre o Funchal e a Ponta de São Lourenço. Trata-se de uma zona bastante urbanizada, com muitas moradias ao longo das encostas, sendo aquela que se desenvolveu mais rapidamente, pela facilidade dos acessos, devido à proximidade ao aeroporto e àquela que foi a primeira via-rápida da ilha.

De qualquer forma, e apesar da ocupação urbana, ao longo desta costa vamos encontrando alguns locais bastante interessantes, sobretudo miradouros e pontos de acesso ao mar, a que chamam praias. Este percurso é ainda tranquilo, sem necessidade de caminhadas, pois podemos estacionar juntos aos locais que queremos visitar e assim conseguimos poupar a energia de que iremos precisar para os próximos dias.

Praia dos Reis Magos e Ponta da Oliveira

Começámos por parar na praia dos Reis Magos que fica no Caniço de Baixo, uma zona urbana com grande concentração turística de um nível bastante elevado, e que é conhecida pelo promenade que envolve os hotéis junto à costa, com destaque para o Hotel Riu Palace Madeira, um clássico desta praia.
Nesta zona encontramos também alguns pontos de acesso ao mar, uns públicos e outros privados, associados a hotéis ou restaurantes. Aqui, nos Reis Magos, a praia é pública e com um acesso bastante facilitado para uns bons banhos, embora com muito gente, já se sabe.

Mas se nos desviarmos um pouco da confusão podemos desfrutar de uma baía com um aspeto bastante natural e apetecível, sobretudo num dia de águas calmas, como este.

Seguindo mais um pouco ao longo da costa chegamos à Ponta da Oliveira, mais uma zona turística com várias piscinas e pontões que permitem o acesso ao mar para uns mergulhos, mas, neste caso, com necessidade de pagar ou de ser cliente, para lá chegar. De qualquer forma, posso garantir que, num dia quente e com a humidade elevada, que sempre encontramos na ilha, pagaremos o que for preciso para poder nadar neste mar azul de águas tépidas e transparentes.


Ponta do Grajau

Na paragem seguinte visitámos o miradouro do Cristo Rei, com uma estátua construída na encosta que se eleva sobre a praia do Grajau, onde hoje encontramos um teleférico que faz a ligação até à praia, evitando-se, dessa forma, a subida pela estrada que vence a encosta de forma sinuosa.
A estátua do Cristo é de 1927, anterior à estátua semelhante do Rio de Janeiro, que foi construída quatro anos depois (e é também mais antiga que o Cristo Rei de Almada, esse de 1959). Temos assim uma estátua quase desconhecida dos portugueses (talvez por ser bem mais pequena do que as outras duas), mas que foi pioneira neste conceito, meio religioso, meio épico, neste caso foi criada com o objetivo de abençoar e dar as boas-vindas aos forasteiros que chegavam à ilha de barco.
Do miradouro temos uma vista extraordinária sobre o imenso oceano e sobre a praia do Garajau, junto à qual se desenvolve a chamada Reserva Natural do Garajau.

Esta Reserva Natural foi criada em 1986 de forma a proteger a fauna que escolheu este local como seu habitat, sobretudo as famílias de meros que ali se encontram, mas também outros peixes grandes, como as mantas, em certas épocas do ano.

Foi a existência desta fauna tão rica, com tantos peixes habituados a conviver com os mergulhadores, que me fez procurar as profundezas destes mares, fazendo vários mergulhos pela ilha e, principalmente, aqui no Garajau. Foi já há mais de 20 anos que fiz esses mergulhos, mas mantenho a memória bem viva de um fundo do mar espetacular, onde éramos acompanhados pelos corpulentos meros, que nos recebiam à chegada aos 20 m de profundidade e nos seguiam durante todo o mergulho, enquanto nos deslumbrávamos com aquele mar extraordinário. Se gosta de mergulhar e for à Madeira, não deixe de procurar um dos spots de mergulho que proporcione uma diving experience no magnífico mar da Reserva do Garajau.


Miradouro do Pináculo

É o miradouro que melhor nos permite apreciar a paisagem da cidade do Funchal, com o verde dominante, as pequenas casas ao longo da encosta e, em baixo, a belíssima baía. Deve ser um local privilegiado para assistir ao icónico fogo de artifício de fim de ano… o que não será novidade para os moradores locais, porque a maioria das casas desta cidade são também excelentes miradouros com vista sobre a baía, o que constitui um grande privilégio para os funchalenses. Mas nós, os turistas, teremos que encontrar locais para comtemplar a paisagem da cidade e este miradouro do Pináculo é aquele que nos oferece uma das melhores vistas.
O miradouro está instalado no topo de uma ravina que cai de forma abruta, deixando-nos com vertigens quando olhamos para o mar azul lá em baixo, mas as paisagens são de tirar o fôlego e valem bem o treme-treme que nos entorpece as pernas.

Mas, apesar das soberbas paisagens sobre o mar e a cidade, que aqui contemplamos, não haverá imagens mais belas do que aquelas que os meus olhos viam nesta manhã soalheira de setembro, com o Funchal como pano de fundo.

Seguimos depois para o Funchal para dar entrada no alojamento reservado e para passar o final da tarde na cidade. 


Já no dia seguinte, e ainda focados nesta zona Sudeste da região, resolvemos partir para o local que constitui a extremidade mais oriental da ilha, a Ponta de São Lourenço, um estranho local que contrasta com o resto da ilha da Madeira por ser completamente seco e castanho, ao contrário do verde viçoso que encontramos por todo o lado. 

Resolvemos chegar quase de madrugada a esta zona, para podermos assistir ao espetáculo do nascer do Sol, e seguimos depois para explorar a vereda que se encontra ao longo dos rochedos que formam a Ponta de São Lourenço, conforme descrevo numa outra crónica deste blogue dedicada exclusivamente aos passeios mais arrojados e de aventura.

Assim, salto já para o local seguinte, onde fomos após uma manhã inteira a percorrer as veredas desta extremidade da região da Madeira, e que não poderia ser mais diferenciado, por ser marcado por um verde ainda mais vivo do que nas outras encostas da ilha… trata-se de um imenso campo de golfe integrado nos bosques locais e percorrendo as encostas entre as montanhas e o mar.

Santo da Serra

O campo de golfe do Santo da Serra é um local tranquilo que me habituei a frequentar, não para jogar golfe, mas para usufruir de um restaurante muito agradável, não tanto pela qualidade da comida ou mesmo pelo ambiente, mas sim pelas paisagens que oferece, que são únicas em toda a ilha. Por isso, há 20 anos atrás, no caminho da Meia Serra, para onde me deslocava frequentemente, parava algumas vezes neste local para um almoço ligeiro, uma salada ou um prego no bolo do caco e, às vezes, deixava-me ficar na esplanada a apreciar as magníficas paisagens envolventes… e quis agora repetir estes momentos zen, para baixar a adrenalina depois da caminhada desta manhã na Ponta de São Lourenço, e deixámo-nos ficar por ali algum tempo naquela esplanada a curtir este ambiente inspirador.
Lembro-me que este local era também conhecido por ser um dos espaços utilizados fazer alguns negócios do Governo Regional, nomeadamente naquilo que tem a ver com os contratos de empreitadas. Por isso era habitual encontrar secretários regionais e empresários locais, entre eles os representantes das maiores construtoras.

Mas apesar da minha função de diretor de uma empresa de engenharia para um grande contrato público na ilha, nunca fui chamado a essas reuniões secretas e, felizmente, sempre que almocei no Santo da Serra, consegui estar longe do ambiente dos negócios que ali se faziam, e pude estar tranquilo aproveitando a paisagem que, naquela altura, como agora, era perfeitamente deslumbrante.


Depois do Santo da Serra voltámos para mais perto do Funchal e fomos ao Monte, um dos locais icónicos da ilha.

Freguesia do Monte

Plantada ao longo da encosta que evolui por detrás da cidade velha do Funchal, a freguesia do Monte tem sido sempre um ponto de atração turística ao longo dos anos. Uma das grandes referências desta freguesia é a padroeira da vila, a Nossa Senhora do Monte, cuja igreja ocupa o local de maior destaque e cuja festa anual constitui um evento de referência, não só para os habitantes da freguesia, mas também para os funchalenses.
Atualmente, o acesso a este patamar, onde fica o centro da vila, pode ser feito através do teleférico que vem diretamente do Funchal, mesmo junto à baía. Mas quem se quiser aventurar a subir de carro, sobretudo se não conhecer as estradas e se optar por seguir o que o GPS manda, está sujeito a entrar por ladeiras com inclinações quase impossíveis de subir ou descer e que são um enorme susto… percebe-se que fiquei um pouco perturbado com algumas das experiências que ali vivi. Mas com mais ou menos dificuldade lá consegui chegar à igreja da Nossa Senhora do Monte.

Embora seja um local de atração de devotos, a freguesia do Monte oferece outras coisas para além da igreja. Tem alguns jardins com uma vegetação frondosa na envolvente da igreja, mas tem também o luxoso jardim do Monte Palace Madeira, um espaço exótico, quer pelas plantas quer por alguns animais, e até peças de arte, e que pode ser visitado pelos turistas… trata-se de mais um dos brinquedos do Joe Berardo, que fiz questão de não visitar.

O centro da vila fica no Largo da Fonte, junto ao Parque do Monte, que se desenvolve no interior de um vale localizado um pouco abaixo da igreja.
O Largo da Fonte, onde encontramos o Fontenário da Nossa Senhora, é também um dos palcos habituais da famosa festa da Nossa Senhora de Monte, a mais importante celebração religiosa da Madeira, que ocorre todos anos em agosto e atrai a este largo milhares de pessoas.

Mas este lugar, de festa e alegria, nunca mais será o mesmo, desde que, no ano de 2017, em pleno arraial das festas do Monte, ocorreu uma tragédia, quando a queda de uma árvore enorme sobre a praça provocou a morte a 13 pessoas e deixou meia centena de feridos, alguns com gravidade.

Depois disso as festas foram retomadas, mas, para tentar recuperar as condições de segurança, têm sido abatidas todas as árvores centenárias que ali existiam, e hoje é possível ver os troncos cortados junto ao solo, alterando completamente a imagem desta praça, que agora está completamente despida das muitas árvores que ali se erguiam. Esta medida de segurança tomada pelas autoridades poderá fazer voltar as pessoas às festas do Monte, mas jamais será recuperado o brilho que estas festas tinham para os madeirenses.
Mas a maioria dos turistas que se desloca ao Monte fora da época das festas, nem se apercebe da importância destes arraiais, nem sequer do drama que ali foi vivido, e que será certamente insuperável para as populações locais. Para os turistas, o Monte é aquela aldeia com uma igreja no topo de uma enorme escadaria, de onde saem os tradicionais Carros de Cestos, levando os turistas pela encosta abaixo.
Os Carreiros do Monte, como são chamados estes Carros de Cesto, começaram por ser um meio de transporte que levava as famílias mais abastadas de volta ao Funchal, depois das celebrações religiosas, onde chegavam de burro e desciam depois de cesto, para ser mais rápido e confortável.

Hoje em dia, a necessidade deixou de existir e estas descidas são feitas apenas para deleite dos turistas mais arrojados. A descida vai do Monte ao Livramento por uma rampa de dois quilómetros, o chamada Caminho do Comboio, onde os carros feitos em cestos de vime montados sobre uns patins de madeira, descem durante 10 minutos, devidamente acompanhados por dois carreiros, vestidos de branco e com chapéu de palha, e com uma enorme perícia para conduzir estas viaturas endiabradas, utilizando as próprias botas como travões.

Conta quem fez a descida que é muito interessante, e chega mesmo a provocar alguma descarga de adrenalina… eu fiz a parte mais difícil, fiquei na estrada à espera dos cestos para os fotografar e consegui escapar ileso.

Mas para mim, que não sou devoto, nem aprecio festas populares e muito menos montanhas-russas feitas com cestos de vime, a maior riqueza desta vila do Monte é a paisagem magnífica que nos é oferecida permanentemente sobre a bela cidade do Funchal e a sua baía.