Ao terceiro dia na Madeira partimos para a zona Noroeste da ilha, que inclui o planalto do Paul da Serra e o Rabaçal, e também a costa Norte entre Porto Moniz e São Vicente.
Serra de Água
A entrada nesta zona faz-se através do vale que rasga a ilha quase a meio, entre a Ribeira Brava, a Sul, e São Vicente, do lado Norte. Trata-se do vale da Serra de Água, que está ligado por um túnel que atravessa a montanha sob a zona da Encumeada. Neste caso, como iriamos seguir para o Paul da Serra, não entrámos no túnel e seguimos pelas estradas que sobem a montanha, com a vantagem de poder desfrutar das paisagens magníficas que nos vão sendo oferecidas ao longo do vale.
Miradouro da Encumeada
Ao chegar ao topo da montanha passamos pela Pousada dos Vinháticos, onde temos acesso ao Miradouro do Pico da Murta, com uma bela vista sobre o vale e, um pouco depois, chegamos à Encumeada e ao seu Miradouro.
Por definição, a encumeada de uma montanha corresponde à sua linha de maior altitude, ou aquela que liga os seus cumes. Neste caso, o Miradouro da Boca da Encumeada fica a uma cota de 1007 m sobre a crista da cordilheira que atravessa o interior da ilha, e oferece uma bela paisagem sobre as duas costas, a Sul e a Norte, avistando-se o mar no final dos dois vales que descem até à Ribeira Brava e até São Vicente.
A curiosidade de serem visíveis dali em simultâneo as costas Sul e Norte, leva muitos turistas à procura dessa experiência, e torna-se provável que encontremos por lá autocarros de turismo. Mas, nesta manhã, era ainda bastante cedo e não encontrámos quaisquer turistas, ficámos com o miradouro todo por nossa conta. Mas também não conseguimos avistar o mar dos dois lados, tinha-se levantado um nevoeiro a Norte que nos impediu de contemplar a vista desse lado, mas, ainda assim, conseguimos aproveitar a bonita paisagem que se deixava ver do lado Sul.
Seguindo na direção do Paul da Serra, o planalto que se forna nesta zona da ilha, fomos atravessando uma estrada de montanha, onde encontrámos túneis com um acabamento ainda um pouco artesanal, deixando alguma sensação de desconforto, ao contrário do que acontece com a maioria dos túneis que perfuram toda a ilha, que são robustos e nos dão uma sensação de segurança.
Miradouro Lombo do Mouro
Atravessámos alguns destes túneis, ainda com um certo receio de que o nevoeiro caísse sobre a estrada, o que é bastante comum nesta zona, e nos bloqueasse a visibilidade. Mas tivemos sorte e chegámos ao Miradouro Lombo do Mouro já com o céu praticamente limpo e, desta vez, pudemos apreciar algumas vistas encantadoras sobre toda a encosta do lado Sul, que chegavam mesmo até ao mar.
O ponto de paragem seguinte seria o Miradouro da Bica da Cana que, em dias limpos, permite apreciar a paisagem das encostas a Norte. Porém, desse lado da ilha o nevoeiro persistia, pelo que optámos por parar num outro miradouro, o Miradouro Molinas, bem perto deste, mas com vista para Sul, que estava completamente limpa e espetacular.
Fizemos depois cerca de 10 km ao longo deste planalto do Paul da Serra, onde encontrámos uma paisagem quase lunar, de tão seca e castanha, até chegarmos à zona do Rabaçal que, ao contrário, apresenta uma vegetação bastante verde e densa, e com grande diversidade, que forma a chamada floresta Laurissilva, classificada como Património Mundial Natural pela UNESCO.
Nesta zona do Rabaçal saem vários trilhos ao longo das diversas levadas que ali se formam, conduzindo as águas das nascentes que abundam nestes vales, para outras partes da ilha. Assim sendo, escolhemos fazer um dos percursos mais procurados, aquele que nos leva às quedas de água do Risco e das 25 Fontes, ambas extraordinariamente bonitas, cujas caminhadas serão descritas numa outra crónica deste mesmo blogue sobre a ilha da Madeira… para já, ficam duas fotos destas cascatas magníficas.
Fanal
Depois da longa caminhada que nos ocupou toda a manhã voltámos ao carro e, em menos de 15min, estávamos já a estacionar junto à floresta do Fanal, um lugar estranho e quase místico, e que hoje se apresentava sem a neblina que é tão habitual nesta zona da ilha.
Localizado no planalto do Paul da Serra, o Fanal é formado por um bosque com umas estranhas árvores, frondosas e espetaculares, chamadas de Ocotea foetens, mas conhecidas popularmente como Til ou Tis, e que correspondem a uma espécie da família das lauráceas, endémica da Laurissilva, a floresta típica desta zona da ilha.
Estes exemplares centenários têm resistido ao tempo, com origem anterior ao período do descobrimento da Ilha, o que é algo assinalável. São bastante estranhos, até porque a sua forma é distinta de árvore para árvore, e não se assemelha a outras espécies que se conheçam… e, em dias de nevoeiro, chegam a fazer lembrar algumas figuras fantasmagóricas e assustadoras.
Este tipo de árvore é claramente o exemplo mais notável e diferenciado de toda a floresta Laurissilva e, só por isso, justifica pararmos o carro e explorarmos o bosque. Mas quem for mais curioso pode mesmo seguir por alguns dos trilhos que ali se formam, como o acesso ao miradouro do Fio, a Vereda do Fanal ou a Levada dos Cedros.
Não era essa a nossa intenção, já trazíamos mais de 10 km nas pernas e queríamos apenas observar esta floresta tão invulgar tentando captar aquela mística do mundo fantástico que ali se respira.
Na verdade, esta floresta leva-nos ao ambiente das histórias de encantar, de duendes e gnomos, de bruxas e feiticeiros, que parecem surgir aqui em cada uma daquelas árvores. Esta carga mística, que leva a que este lugar seja conhecido por Floresta Mágica, faz-se sentir quando caminhamos ao longo do bosque, sobretudo se nos deixarmos levar pela imaginação, dando vida às formas bizarras de cada uma das árvores, que quase se transformam em monstros do bosque com as suas mãos, esguias e tortuosas, entrelaçadas.
Essa sensação de estarmos rodeados por um ambiente místico, materializado pelas imagens quase fantasmagóricas destas árvores, é sobretudo percetível nos dias de nevoeiros densos que costumam cobrir todo o planalto do Paul. Mas, por azar ou por sorte, neste dia em que nos deixámos levar através das paisagens misteriosas do bosque do Fanal, estava um céu bastante limpo, o que não nos permitiu mergulhar completamente no reino encantado das fadas, mas também não deixou que se criasse aquele ambiente místico e que nos chega a assustar… como acontecia num outro dia, alguns anos antes, em que tirei esta foto.
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Porto Moniz
Descendo pela encosta abaixo na direção do mar seguimos pela estrada que vai rasgando a densa vegetação da Laurissilva, sempre verde e viçosa. O mar vai-se aproximando e vão começando a aparecer as magníficas imagens da costa Norte, com falésias enormes a morrer no espelho de água, onde sobressaem algumas povoações que ocupam as fajãs, como o Seixal, que se vê ao fundo desde o Miradouro da Eira da Achada.
Mais abaixo chegamos junto ao mar e entramos no túnel que liga agora as povoações desta zona da ilha, evitando as antigas estradas que cortavam a encosta e que obrigavam a viagens que eram autênticos pesadelos, pelo tempo que se demorava e pela sensação de vertigem que se sentia em plena condução (foi assim há mais de 30 anos, na minha primeira viagem à Madeira). Mas agora as coisas são diferentes, escolhemos os locais onde queremos ir, as povoações ou os miradouros, entramos num túnel e chegamos ao destino em poucos minutos.
Parámos então em Porto Moniz, a capital de concelho de toda esta zona e um dos polos turísticos da costa Norte.
A atração principal e que sempre levou muitos turistas a Porto Moniz, mesmo quando chegávamos por estradas penduradas na encosta, são as famosas piscinas naturais que ali existem.
Inicialmente existiam apenas umas únicas piscinas, nessa altura, bastante naturais. Mas, recentemente, construíram outras que quase parecem as comuns piscinas municipais e com muito pouco de natural, a não ser a água do mar que ali chega.
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Reconheço que não sou nada fã deste conceito de piscina municipal cheia de gente e continuo a gostar muito mais das antigas piscinas, que são ainda naturais, aproveitando a água retida entre as rochas, e são também bastante mais bonitas, neste caso devido ao enquadramento da paisagem envolvente, dominada pela imagem do Ilhéu Mole.
Mas quem preferir o mar sem a proteção das piscinas, pode deslocar-se ao porto de abrigo e encontrará uma baía calma e bonita, sobretudo pela vista fantástica das falésias verdes desta costa Norte e dos ilhéus da Janela e da Rib, que se avistam ao longe.
Seixal
A povoação seguinte tem um nome nos é familiar, chama-se Seixal, e ocupa a única grande fajã que se forma no sopé de toda esta falésia do lado Norte da ilha... que ali se encontra num derradeiro sinal da resistência humana, face à imponência da natureza.
Trata-se de uma terra de pescadores que, atualmente, está devidamente preparada para acolher turistas, com várias piscinas naturais e com uma bonita praia de areia preta, que se forma no porto da vila.
Uma outra atração turística que aqui encontramos é a cascata que se forma na falésia e cai sobre o mar, conhecida como Véu da Noiva, que pode ser vista a partir do porto, mas existe também um miradouro onde esta queda de água se pode ver ainda melhor.
São Vicente
Terminámos o dia chegando de novo ao vale que atravessa a ilha transversalmente na ligação à costa Sul, desta vez entrando pelo lado Norte, junto à vila de São Vicente.
Esta zona é dominada por um pico imponente que marca a paisagem, perto do vale que rasga a falésia e serve de berço à vila de São Vicente, uma terra pitoresca, a única nesta costa Norte que consegue fugir da pressão causada pela proximidade do mar.