quinta-feira, 18 de abril de 2019

Éfeso - A grande cidade do Império Romano


Junto à costa do mar Egeu, a menos de uma centena de quilómetros da cidade de Izmir, encontramos as ruínas da antiga cidade de Éfeso. Trata-se de uma cidade da Grécia antiga, construída no século X aC, e que se transformou depois numa das capitais mais importantes do Império Romano na Ásia Menor.
A cidade de Éfeso guarda séculos e séculos da história da própria humanidade, tendo sido um dos berços das antigas civilizações durante várias eras. A sua localização estratégica, por estar junto a um porto importante para a expansão das trocas comerciais, fez com que a cidade constituísse um polo fundamental de todas as civilizações que se desenvolveram naquela zona. 

Chegou a fazer parte do Império Persa, antes de Alexandre - O Grande, e passou depois pelo domínio egípcio, até cair nas mãos dos romanos, tornando-se na grande capital da Ásia Menor no período Bizantino e uma das cidades mais importantes do Império Romano, depois de Roma.

Sofreu alguns terramotos que a destruíram parcialmente e, mais tarde, durante o Império Otomano, foi ocupada pelos muçulmanos e aí sofreu profundas alterações, ao serem eliminadas as referências cristãs existentes da cidade.

Com toda esta história, e apesar da destruição a que foi sujeita, a cidade é atualmente uma espécie de museu ao ar livre e uma das cidades do mundo antigo que se encontra em melhor estado de conservação.

Encontramos extensas ruas em mármore, como a Rua Curetes, e vários vestígios das colunas e pórticos de antigos templos, e uma série de esculturas com um valor histórico incalculável.

Dos vários templos da cidade de Éfeso salientam-se as ruínas do Templo de Adriano, construído numa homenagem ao Imperador Adriano, é atualmente uma das estruturas em melhor estado de conservação.
Das esculturas que vamos encontrando destaca-se o baixo relevo com a figura da Deusa da Vitória ou Deusa Nice (ou Nike), que personifica a vitória, a força e a velocidade e é representada por uma mulher alada, filha de Palas e Estige, duas figuras da mitologia grega.

Esta imagem de pedra serviu de inspiração à marca de artigos desportivo Nike para criar o seu logótipo, que apresenta uma forma triangular deitada, semelhante à da representação desta deusa grega.
Encontramos também as ruínas do Monumento Memmius, construído durante o reinado de Augusto, no século I dC, por Memmius, em homenagem ao seu avô, o ditador Lucius Sulla. Além de alguns vestígios em mau estado, o monumento inclui uma escultura em baixo relevo com as figuras do pai e do avô do seu autor. 
Mas o monumento mais prestigiado da cidade de Éfeso é a Biblioteca de Celsus. Foi fundada no ano 115 dC para honrar e servir como sepultura a Tiberius Julius Celsus Polemaeanus, membro do alto escalão do Império Romano. Foi uma das primeiras bibliotecas públicas, embora com financiamento privado, custeada pela fortuna pessoal da família, sob a gestão do filho de Celsus. 

A biblioteca foi construída para armazenar 12 mil rolos de pergaminho, e era referida nos textos históricos como a terceira maior da antiguidade, só superada pela biblioteca de Pérgamo e, principalmente, pela grande Biblioteca de Alexandria. 
A estrutura da Biblioteca de Celsus tem uma fachada impressionante em mármore, com dois andares adornados por 16 colunas em estilo coríntio, que ajudam a suportar o conjunto com três portas e três janelas, e algumas estátuas, que são réplicas das originais.

Mas a qualidade daquela fachada que hoje ali encontramos, resulta de uma extraordinária combinação entre a arqueologia e a engenharia. Na verdade, durante os séculos da sua existência, a biblioteca foi sendo danificada, primeiro por um incêndio e, posteriormente, por terramotos, que a foram derrubando, deixando-a totalmente destruída. Só recentemente, na década de 1960, uma equipa de arqueólogos austríacos desencadeou um projeto de reconstrução desta fachada, uma tarefa quase impossível que, no entanto, acabou por ser bem-sucedida. Com os trabalhos de reforço projetados pelos engenheiros da equipa, foi possível garantir a estabilidade daquele monumento até à atualidade, e a biblioteca é agora uma das atrações mais populares da antiga cidade de Éfeso. 
Ainda na mesma praça da biblioteca fica um edifício que é identificado como sendo o prostíbulo da cidade, sendo que se conta uma estória, ou uma lenda, de que existiria um túnel que ligava esta casa de diversão para homens, até à biblioteca. Se esta lenda for mesmo verdadeira imagino a preocupação das mulheres do Império Romano, com o facto dos respetivos maridos passarem horas a fio a ler pergaminhos. Isto numa altura em que as mulheres não estavam autorizadas a entrar em bibliotecas.
Além dos vestígios dos templos e monumentos mais nobres, também são visíveis algumas marcas de uma vida mais corrente, como é o caso da zona das latrinas que faziam parte dos antigos balneários públicos.
A cidade perdeu uma parte da sua importância quando a zona do porto foi assoreando e o mar se afastou da cidade cerca de 6 quilómetros, perdendo-se a vantagem das trocas comerciais diretamente das embarcações até ao centro da cidade.

Na zona do antigo porto começava a entrada Sul da cidade, com a chamada Rua do Porto, que permitia que os recém-chegados por via marítima, entrassem diretamente na cidade junto à sua maior edificação, o Grande Teatro.

Trata-se de um anfiteatro do século III aC, que ao longo dos tempos foi espaço para lutas de gladiadores e peças de teatro. É o maior de toda a Turquia com capacidade para 25 mil pessoas, ao longo das 66 filas da enorme bancada e encontra-se, ainda hoje, num estado de conservação muito razoável, o que permite a sua utilização na realização de eventos musicais ou de teatro.

A sensação de estar naquele espaço é fantástica. Subimos até ao ponto escolhido, sentamo-nos, inspiramos fundo e deixamo-nos por lá ficar observando aquela envolvente. Há sempre alguma pantomina com o que cada um resolve fazer, e há quem cante ou quem declame, só para testar a acústica do espaço. Mas mesmo com toda a azáfama que os turistas sempre trazem, acaba por se experimentar uma sensação interessante de alguma introspeção, quando tentamos imaginar os espetáculos que acontecerem naquele mesmo espaço durante séculos e séculos. 

Terminámos assim a visita a Éfeso, a grande cidade romana do oriente, que chegou a albergar mais de 250 mil habitantes, e que hoje é uma espécie de museu a céu aberto que atrai milhares de turistas todos os anos, desde os apaixonados pela história de arte e pelos temas religiosos, a todos os outros que, como nós, são apenas curiosos que escutam atentamente o que os guias lhes dizem, tiram muitas fotos e seguem em frente, sem a inspiração que aquela carga histórica tão fantástica deveria merecer. 

Este é mais um dos problemas duma viagem à Turquia, a densidade de informação é tanta e em turbilhão, que nem conseguimos processar para apreciarmos convenientemente a preciosidade de locais como este.