Depois de termos percorrido do Centro Histórico de Roma, onde fomos encontrando as principais referências da cidade, faltava ainda visitar a periferia dessa zona central, onde iríamos agora encontrar as restantes atrações mais significativas da capital italiana.
Foi assim escolhido um longo percurso pedonal que segue o trajeto representado neste mapa, e que nos permitiu complementar a visita à cidade com algumas das suas preciosidades que estão localizadas, não no centro histórico, mas na sua envolvente.
Começámos por um passeio junto às margens do Rio Tibre, ou Fiume Tevere, que rodeia a cidade num contorno sinuoso onde descobrimos algumas das suas imagens mais bonitas, numa envolvente tranquila e bucólica, que nos serve de refúgio face à maioria dos locais frenéticos da cidade, sempre apinhados de turistas.
Castel Sant'Angelo
Entre as mais bonitas paisagens que o rio nos vai oferecendo surge o impressionante Castel Sant'Angelo, uma fortaleza que faz parte desta cidade há dois mil anos, e se encontra perfeitamente conservado, ao contrário da maioria dos outros monumentos da Roma Antiga que foram sendo reduzidos a ruínas.
O monumento foi construído no século II, d.C., como jazigo para o Imperador Adriano e para a sua família, pelo que é também conhecido como “Mausoléu do Adriano”. No entanto, a partir do século IV o Castelo perdeu sua função original transformando-se num posto avançado para a defesa da cidade de Roma.
Depois disso, durante os séculos seguintes, funcionou como prisão até passar a ser controlado pelo Vaticano e pelos seus Papas. Esta ligação ao Vaticano é materializada pelo famoso "Passetto", ou “Corridore di Borgo”, uma passagem escondida e fortificada com 800 m de comprimento, que liga o Palácio do Vaticano ao Castel Sant'Angelo, e que terá sido utilizada de forma secreta por alguns dos pontífices, permitindo que o chefe da igreja se refugiasse no castelo.
Mais recentemente, já no século XX, foi transformado no Museu Nacional de Castel Sant'Angelo, que pode ser visitado, embora talvez seja uma visita dispensável, no meio de tantas atrações que a cidade oferece. Mas, mesmo sem tempo, ou paciência, para uma visita ao museu, é impossível ficarmos indiferentes à figura imponente desta fortaleza, com a sua forma cilíndrica, erguendo-se junto a uma das margens do Rio Tibre… claramente um dos ex-líbris da cidade de Roma, desde a antiguidade e até aos nossos dias.
Em frente ao castelo encontra-se a Ponte Sant'Angelo, uma ponte pedonal que atravessa o rio Tibre, mandada construir pelo Imperador Adriano. Mais tarde, já no século XVII, a ponte foi redecorada pelo escultor Bernini que criou um conjunto de estátuas de anjos, que podem ser encontradas atualmente em ambos os lados da ponte.
Piazza Cavour
Logo depois do Castel Sant'Angelo surge o monumental Palácio de Justiça, a Corte Suprema di Cassazione. O edifício ergue-se na margem direita do Tibre, com a fachada principal junto à Piazza dei Tribunali e à Ponte Umberto I, e com o alçado posterior virado para o jardim da Piazza Cavour, formando um conjunto arquitetónico extraordinário, combinando a grandiosidade do palácio com a beleza da envolvente.
Piazza del Popolo
Fizemos depois um longo percurso junto ao rio, passando por uma outra fortaleza criada como sepulcro para a família de um antigo Imperador, o Mausoléu de Augusto, com um formato semelhante ao Castel Sant'Angelo, mas sem o mesmo destaque, por se encontrar meio escondida numa zona mais urbanizada. No final desse percurso, e já nas imediações do centro histórico, chegamos à praça onde convergem as ruas principais desta zona da cidade, a Piazza del Popolo.
Está localizada na antiga entrada da cidade nos tempos do Império Romano e, atualmente, continua a ser um importante polo da cidade mais moderna, onde começa, por exemplo, a Via del Corso, uma das principais ruas comerciais da cidade.
No centro da praça encontramos um obelisco egípcio de 24 m dedicado a Ramsés II, conhecido como Obelisco Flamínio, que esteve localizado no Circo Máximo desde o ano 10 a.C. até ser transportado para a Piazza del Popolo nos finais do século XVI.
De um dos lados da praça, a marcar o início da cidade antiga, encontra-se um pórtico, a Porta del Popolo, criado pelo artista Gian Lorenzo Bernini, o grande escultor e arquiteto desta cidade.
Dos dois lados da praça encontram-se também algumas igrejas, como a Basilica Parrocchiale Santa Maria del Popolo, a Chiesa di Santa Maria dei Miracoli e a Basilica di Santa Maria in Montesanto, todas elas riquíssimas, quer pela sua arquitetura quer por algumas obras de arte da época do Renascimento que albergam.
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De qualquer maneira, e vou repetindo esta blasfémia, Roma é tão rica, que já não são uns Caravaggios no interior de uma igreja que nos motivam… preferimos sempre percorrer as ruas e conhecer os locais, do que consumir o tempo a visitar igrejas e museus.
Jardins da Villa Borghese
Foi por isso que preferimos subir até ao terraço do Pincio em Roma, no início dos jardins da Villa Borghese, com uma vista privilegiada sobre a piazza.
A partir deste terraço é também visível uma panorâmica sobre a cidade de Roma, onde se destacam as cúpulas de algumas das principais igrejas, como é o caso da basílica de São Pedro, no Vaticano, que aqui nos surge na paisagem.
Os jardins da Villa Borghese são como o Hyde Park ou o Central Park da capital italiana, combinando um extraordinário espaço de lazer no meio da natureza, com várias referências artísticas desta cidade. Ao atravessarmos estes jardins lindíssimos, vamos encontrando vários monumentos, fontes e esculturas de vários artistas importantes de diferentes épocas.
Dessas referências artísticas a mais importante é a Galeria Borghese, um dos museus de referência da capital italiana, que contém pinturas dos grandes mestres como Rafael, Tiziano ou Caravaggio.
Mas neste imenso jardim existem ainda algumas infraestruturas importantes da cidade, como o Jardim Zoológico, o Relógio de Água do Pincio ou o Silvano Toti Globe Theatre, uma espécie de cópia do teatro Shakespeare’s Globe Theatre de Londres.
Encontram-se também vários palácios e palacetes, como é o caso da Villa Medici que fica já no limite do jardim, próximo da igreja de Trinità dei Monti e das escadarias da Piazza di Spagna.
Ao fim de uma longa caminhada chegámos a um dos portões do jardim, a Porta Pinciana, localizada na antiga Muralha Aureliana, junto à Via Veneto.
Via Veneto
Atravessando a Porta Pinciana entramos numa das mais famosas e glamourosas ruas da cidade, a Via Veneto. Desde os anos 50 que esta rua era conhecida pelo seu glamour, sempre frequentada pelos principais artistas e modelos daquela época. Mas foi a partir de 1960, com o filme de Federico Fellini, La Dolce Vita, que a Via Veneto se tornou ainda mais célebre.
Atualmente, 60 anos depois do filme de Fellini, a procura das celebridades já não é tão compulsiva, mas a Via Veneto continua a mostrar o seu charme, sobretudo porque continua a atrair as maiores fortunas que visitam a cidade e que escolhem os hotéis de luxo que ali estão localizados.
E apesar das décadas que têm passado por esta rua, encontramos ainda hoje os vestígios do glamour de outros tempos, seja nos restaurantes, nas livrarias, nas lojas de alta moda ou nos cafés, apetece-nos sempre parar e espiar, ou ficar mesmo numa das esplanadas, nem que seja só para tomar um café, mesmo que o preço seja um pouco puxado, certamente irá valer a pena… será como uma espreitadela à Dolce Vita italiana.
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Piazza Barberini
Descendo toda a Via Veneto chegamos à Piazza Barberini, onde encontramos mais uma das fontes da cidade, a Fontana Del Tritone, mais uma criação do mestre Bernini, construída em 1643 por encomenda do Papa Urbano VIII. Foi recentemente restaurada e é considerada uma das mais bonitas fontes de Roma, mesmo que não seja muito grande, quando compara com outras fontes da cidade.
Toda esta zona, não só a praça, mas também o palácio que fica na sua proximidade, têm como referência o nome Barberini, por terem sido encomendados por Maffeo Barbeni, o Papa Urbano VIII, também conhecido como Papa Barberini.
Quanto ao palácio, o Palazzo Barberini, trata-se de um edifício luxuosíssimo do século XVII, que superava em ostentação e beleza as residências mais luxuosas que pertenciam à nobreza romana daquela época.
O palácio foi concebido pelo arquiteto Carlo Maderno, o mesmo que esteve encarregado da construção da fachada da Basílica de São Pedro, mas os trabalhos acabaram por ser finalizados no ano de 1633 - por quem haveria de ser - pelo mestre Bernini.
Em 1949 o estado italiano comprou o palazzo e passou a utilizá-lo como sede da Galeria Nacional de Arte Antiga, que é hoje um magnífico museu com uma coleção grandiosa, criada a partir das doações das coleções privadas de algumas famílias nobres.
Piazza del Quirinale
Na paragem seguinte atingimos a Piazza del Quirinale, localizada na mais alta das sete solinas de Roma, uma praça ampla onde encontramos alguns edifícios públicos importantes, como o Palazzo del Quirinale, antiga residência do Rei de Itália e a atual residência oficial do Presidente da República italiana.
Em plena praça ergue-se a habitual fonte romana, neste caso trata-se da Fontana dei Dioscuri, composta por um Obelisco e pelas estátuas de Castor e Pólux, os deuses gémeos que, segundo a mitologia grega e romana, seriam filhos de Zeus e padroeiros dos navegantes.
Antes de serem levadas para esta praça as estátuas estavam colocadas à entrada das antigas Termas de Constantino, localizadas exatamente neste Monte Quirinale, enquanto o obelisco terá sido retirado do Mausoléu de Augusto.
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Piazza della República
Fizemos mais um longo percurso passando pelo Teatro da Ópera de Roma até atingirmos a Praça da República, que é apenas uma rotunda, mas é vista como uma das mais importantes praças da cidade.
O seu principal interesse estará na sua grande fonte – sempre mais uma fonte - construída sobre a rotunda no final do século XIX. Tem o nome de Fontana delle Naiadi e é adornada por quatro estátuas de ninfas nuas que representam a água e que escandalizaram bastante as pessoas daquela época.
Basílica de Santa Maria degli Angeli e dei Martiri
Num dos lados da Piazza della Repubblica encontramos uma das igrejas de referência da cidade, a Basílica de Santa Maria degli Angeli e dei Martiri. Trata-se de um edifício do século XVI que é visto como a única igreja renascentista de Roma, mas a sua principal relevância resulta do facto de ter sido um dos últimos grandes projetos do mestre Michelangelo.
A igreja apresenta um enorme contraste entre as suas fachadas de aspeto modesto com o seu interior, amplo e espetacular, e recheado de preciosidades artísticas, como estátuas e afrescos nas paredes e abóbadas.
Das várias atrações desta basílica, e são muitas, destaco apenas a Porta da Ressurreição, uma das portas de bronze da entrada principal da igreja, adornada por uma estátua concebida pelo escultor polaco Igor Mitoraj, já no início do século XXI.
Stazione Termini
É uma das maiores estações ferroviárias da Europa e um clássico da cidade de Roma. Para quem, como eu, percorreu a Europa de comboio, com o chamado bilhete de inter-rail, as estações ferroviárias têm sempre uma importância especial porque nos recebem como um primeiro cartão de visita de cada cidade.
Foi isso que se passou na primeira vez que cheguei a Roma, ainda nos anos 80, e que recordo agora com saudade, fiz a entrada na cidade pela estação Termini e pela imensa praça junto à estação, até mergulhar nas ruas e praças de uma cidade que me iria cativar a ponto de me fazer regressar várias vezes.
Ao contrário do que possa parecer, Termini não é uma alusão ao facto de ser uma estação terminal. É apenas uma confusão, porque, na realidade, o nome desta estação resulta do nome do distrito homónimo, que foi atribuído àquela zona devido à existência das antigas Termas de Diocleciano, cujas ruínas se encontram em frente à entrada principal da estação.
Basilica Papale di Santa Maria Maggiore
A escassos 500 m da estação Termini surge a Basílica de Santa Maria Maggiore, uma antiga igreja católica que é a maior de todas as igrejas dedicadas à Virgem Maria na cidade de Roma, para além de ser uma das quatro maiores basílicas da cidade.
A Santa Maria Maggiore foi construída em meados do século IV sob as ordens do Papa Libério. Segundo a lenda, a Virgem terá aparecido ao Papa com a indicação das instruções para a construção da igreja, e a sua planta foi mesmo desenhada através de uma milagrosa queda de neve que esboçou os seus contornos. Eram bem mais fáceis aqueles tempos, agora são necessários arquitetos e engenheiros… felizmente.
Com o passar dos anos, a basílica teve alguns nomes diferentes, como Santa Maria das Neves (devido à queda de neve que esboçou o seu formato), ou Santa Maria Liberiana (devido ao Papa Libério), e só mais tarde foi chamada de Santa Maria Maggiore, por ser a maior das 26 igrejas de Roma dedicadas à Virgem Maria.
O interior da basílica é extraordinário e imperdível, não deixem de o visitar. A entrada é livre, mas não se podem esquecer de levar um lenço para cobrir os ombros das senhoras ou meninas, e cuidado também com os calções ou saias curtas, caso contrário não serão autorizadas a entrar.
A riqueza do interior da Basílica é imensa, pela sua construção com colunas e abóbadas, mas também pela sua decoração cheia de relíquias, estátuas e pinturas, e com mosaicos de mármore, do período medieval, ou algumas colunas jónicas, provenientes de edifícios da Roma Antiga.
Mas mesmo o seu exterior é também bastante peculiar, mostrando estilos arquitetónicos variados, em que a fachada principal, que integra o campanário da igreja, em nada se parece com o seu alçado posterior.
Independentemente do nosso gosto pessoal pela arte sacra, esta igreja será sempre uma referência da cidade de Roma e, na minha opinião, é claramente a principal e a mais bonita de todas as igrejas da cidade, à exceção da Basílica de São Pedro, no Vaticano, que é uma coisa do outro mundo.
Basílica de San Pietro in Vincoli
Mais uma caminhada, desta vez, na direção do Coliseu, até chegarmos ao alto do Monte Ópio, onde encontramos uma igreja aparentemente modesta, cujo nome é indicador da sua principal existência - Basílica de San Pietro in Vincoli - ou São Pedro acorrentado. Na realidade esta igreja muito antiga, do século V, foi construída exatamente para guardar as correntes com as quais São Pedro tinha sido preso em Jerusalém. Segundo a lenda a imperatriz Eudóxia terá oferecido ao Papa Leão I uma das correntes com as quais São Pedro fora encarcerado em Jerusalém, e este ordenou a construção de um templo para a abrigar. Anos mais tarde a segunda corrente foi levada até Roma, onde foi unida à anterior.
A Basílica de San Pietro in Vincoli é um templo diferente dos demais pela sua simplicidade e pouca decoração. Mas sob o altar maior encontramos o relicário onde se guardam as tais correntes de São Pedro, que era suposto ser a referência mais importante da igreja.
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Mas, a verdade é que não são as correntes que fazem com que esta igreja se tenha tornado num local de visita obrigatória para quem quer conhecer a cidade de Roma. A outra grande atração da basílica, e bem mais interessante, surge no mausoléu do Papa Júlio II, que é composto pela impressionante e bem conhecida escultura de Moisés, criada pelo mestre Michelangelo no início do século XVI.
Ao longo deste trajeto fizemos ainda uma paragem para almoçar num restaurante próximo da Stazione Termini, a Trattoria Sapori di Casa, que não quis deixar de mencionar, por se tratar de um local excelente onde experimentámos dos melhores paladares italianos que já tínhamos provado… por isso fica aqui o nome e a minha sugestão.
Termino assim a crónica da nossa visita ao redor do centro histórico, tornando-se evidente que, mesmo saindo do roteiro principal de visita a esta cidade, continuamos a encontrar várias atrações interessantíssimas, o que só reforça a ideia de que Roma é uma cidade inacreditável, que nos apaixona em cada recanto que exploramos.