Cracóvia é uma das bonitas cidades do Leste Europeu e, para muitos, será mesmo a mais bonita cidade da Polónia… mas não para mim, que gostei mais de Varsóvia, talvez pela sua história, que achei mais tocante.
Mas há muita gente que associa esta cidade à visita que se pode fazer aos campos de concentração de Auschwitz-Birkenau, e é por isso que Cracóvia ganha uma dimensão transcendente do ponto de vista da experiência que ali pode ser vivida.
Mas não foi o meu caso, que visitei apenas a cidade de Cracóvia, e não fui aos campos de concentração… algo que me deixou com pena, mas para uma visita destas todos terão de estar seguros de que serão capazes de suportar o desafio. Como nem todos estavam com coragem para uma experiência tão comovente como esta, ficámo-nos apenas pela cidade.
Assim, recorri ao depoimento de uma amiga, Dulce Cascalheira, que me cedeu as palavras e as fotografias que reproduzem a experiência vivida naqueles campos de extermínio.
E, assim sendo, Cracóvia já não será assim uma cidade tão impressionante, apesar de ser indiscutivelmente bastante bonita.
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Embora tenha perdido para Varsóvia o seu antigo estatuto de capital polaca, Cracóvia é ainda considerada como a capital cultural deste país, com o seu centro histórico, que é Património da UNESCO.
Trata-se de uma cidade pequena, mas com grande importância cultural e histórica, e com alguns recantos bastante bonitos, que se encontram nas suas ruas, praças e jardins, nas igrejas e torres, nas fortalezas, e nas paisagens bucólicas junto ao Rio Vístula, o mesmo que atravessa Varsóvia.
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Chegámos a Cracóvia vindos de comboio desde Varsóvia, cerca de 300 km, e entrámos na cidade pela zona da estação ferroviária, localizada do lado Norte, seguindo depois por entre as principais atrações locais, que se assinalam neste mapa da cidade:
A cidade de Cracóvia é relativamente pequena pelo que se consegue percorrer cada um dos seus recantos, apenas caminhando, embora haja quem experimente uma voltinha nas belas charretes que percorrem as ruas da cidade, e que são uma imagem de marca do seu centro histórico.
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Barbakan Krakowski
Vindos da estação, seguindo por uma larga avenida, que tem nome de praça, a Plac Jana Matejki, chegamos a uma faixa ocupada por um jardim, o chamado Parque Planty, que tem uma largura que varia entre os 100 e os 50 m, e que vai contornando toda a Cidade Velha.
Ao entramos neste jardim encontramos a Barbacã, ou Barbakan Krakowski, uma antiga fortaleza, que fazia parte do sistema defensivo da cidade e que sobreviveu a várias batalhas ao longo dos séculos.
Foi construída no final do século XV e foi a mais importante obra de engenharia militar para proteção da Cidade Velha, dos ataques sofridos durante toda a época medieval.
Durante a Segunda Guerra Mundial esta fortificação foi parcialmente destruída, pelo que a estrutura que hoje ali encontramos, resulta da quase total reconstrução efetuada no pós-guerra, com recurso os mesmos tijolos que foram recuperados dos escombros.
O edifício é bastante bonito e reflete a imagem das fortificações medievais polacas, construídas com tijolos vermelhos, tal como encontramos também nas muralhas da cidade de Varsóvia.
Quem quiser ver o interior desta fortaleza, poderá visitar o museu que ali foi criado, onde são contadas as histórias das várias guerras a que a cidade de Cracóvia esteve sujeita.
Esta fortaleza é uma das únicas barbacãs que existem ainda na Europa, juntamente com o de Varsóvia, e está bastante bem preservada, constituindo uma joia da herança cultural polaca.
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Teatro Juliusz Slowacki
Ainda antes de entrarmos no centro histórico, e continuando em pleno Parque Planty, encontramos o bonito edifício do Teatro Juliusz Slowacki.
Trata-se de um palácio lindíssimo, erguido em 1893, e com uma elegância que resulta da inspiração nas grandes óperas europeias, sobretudo na Ópera Garnier de Paris.
O teatro tem o seu nome atual desde 1909, em homenagem a Juliusz Slowacki, um importante poeta e dramaturgo polaco.
Durante a ocupação pela Alemanha nazi o teatro foi dirigido por uma companhia alemã e foi sendo usado para deleite das forças de ocupação, o que permitiu com que o edifício tivesse sido poupado à destruição maciça que afetou grande parte da cidade.
Atualmente, este teatro é uma das mais importantes salas de espetáculos de toda a Polónia, e o edifício, que continua a ser uma autêntica obra de arte, foi classificado como Património Mundial da UNESCO.
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Paróquia Católica Romana da Santa Cruz
Bem próximo deste teatro fica a Igreja de Santa Cruz, ou Sta Krzyża, uma das mais antigas igrejas católicas da cidade, construída e destruída várias vezes, desde a construção da primeira capela no início do século XIII.
A igreja atual mantém a imagem tradicional com a fachada formada por uma torre, onde se apoia a abóboda da nave principal, e é marcada pelo seu revestimento em tijolo vermelho.
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Porta de St. Florian
Voltando de novo até perto da Barbacã, encontramos logo em frente uma das portas da antiga muralha, a Porta de St. Florian, que serve de entrada para o centro histórico. Além de ser o principal portão da cidade velha, tem também uma bonita torre, que foi construída no século XIV para proteção da cidade.
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Rua Floriańska
Ao passarmos na Porta de St. Florian entramos numa das principais ruas de Cracóvia, a Rua Floriańska, que atravessa a Cidade Velha e nos conduz em linha reta até à Basílica de Santa Maria.
Trata-se de uma rua pedonal muito movimentada e cheia de comércio, com destaque para as lojas de souvenires e de artesanato.
Logo depois da Basílica, esta rua liga com a rua Grodzka, que dá acesso ao Castelo. Por isso, este eixo fazia parte da chamada Rota Real, que era utilizada pela nobreza para fazer a travessia da cidade a caminho do castelo do rei.
Ao atravessarmos a rua Floriańska vale a pena espreitar um dos cafés mais conhecidos da cidade, o Jama Michalika, com uma decoração em estilo art nouveau.
Praça do Mercado Principal
A Rynek Główny, a praça principal de Cracóvia, é um espaço quadrangular cercado por casas históricas e constitui o ponto central da Cidade Velha, em torno do qual tudo gira, e onde se concentram, quer os habitantes quer os turistas, na envolvente dos principais monumentos e ao longo das muitas esplanadas que ali se encontram.
É considerada uma das maiores praças medievais da Europa e é aqui que se localizam algumas das principais atrações de Cracóvia, como é o caso da Basílica de Santa Maria, da Torre da antiga Câmara Municipal e do Sukiennice, o antigo mercado de tecidos.
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O MNK Sukiennice é o edifício central do antigo Mercado de Tecidos, que é considerado o shopping mais antigo da Polónia, e mantém a sua estrutura renascentista original, que foi criada em 1555. É constituído por um conjunto de arcadas e, no interior, formam-se vários corredores cheios de lojas de produtos de artesanato local.
Além da parte comercial do mercado, encontramos no piso superior o Museu Nacional, onde se expõem diversas obras representativos da história polaca.
Existem também, no interior do edifício, várias bancas de comida, e que se espalham pela praça num vasto conjunto de esplanadas.
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Para além destas esplanadas, encontramos ainda outros cafés e restaurantes, que ocupam o piso térreo dos edifícios que contornam a praça, cujas esplanadas preenchem grande parte do piso empedrado.
No inverno, a praça funciona como mercado de Natal, sobretudo à noite, quando se torna mais animada, e onde podemos comprar o artesanato local, bastante apelativo, e também provar algumas das iguarias desta época, muito na base das salsichas e dos joelhos de porco, que são acompanhados, ou pela habitual cerveja, ou pelo vinho quente, que nos aquece a alma nestas noites frias… apesar de ser tão doce que se torna enjoativo.
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Torre da Antiga Câmara Municipal
Voltando à luz do dia e aos principais monumentos da Praça do Mercado, refiro-me agora à Wieza Ratuszowa, uma bonita torre com 75 metros de altura que se encontra num dos cantos da praça, e representa o que restou da antiga câmara municipal.
A torre é forrada com tijolos vermelhos e com pedra branca trabalhada, e foi construída durante o século XIV em estilo gótico, como parte do edifício da primeira Câmara Municipal de Cracóvia. Este edifício veio a ser demolido em 1820, mas a torre foi salva e permaneceu de pé e isolada até à atualidade.
A escada íngreme do seu interior pode ser utilizada por quem esteja disponível para subir os 110 degraus até ao topo, de onde poderá apreciar a paisagem sobre a cidade. Na subida encontram-se as máquinas da antiga torre do relógio, acompanhadas por uma coleção de fotografias históricas que mostram como a cidade evoluiu.
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Basílica de Santa Maria
Mas a principal atração da Praça do Mercado, e até de toda a cidade de Cracóvia, é a Basílica de Santa Maria, ou Kosciol Mariacki, cuja belíssima imagem da fachada se salienta na silhueta da praça, deixando em segundo plano todos os restantes edifícios e monumentos.
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A Igreja de Santa Maria tem uma fachada grandiosa com duas torres sineiras de tamanhos diferentes. A torre mais alta, adornada com uma coroa dourada desde 1666, é conhecida como “Hejnalica”. No passado, esta torre tocava o sino diariamente, quando as portas da cidade se abriam e se fechavam, e ainda quando a cidade era atacada ou se ocorria algum incêndio.
Hoje em dia, em vez de um sino, é tocada a cada hora a melodia da música Hejnal Mariacki, utilizando um clarim, que é uma daquelas trompetas dos quarteis.
Mas mais do que o toque dos sinos ou o soar da trompeta, aquilo que realmente impressiona nesta basílica é a sua belíssima fachada, sobretudo pelas suas torres assimétricas que formam um conjunto extraordinariamente bonito.
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Mas se o exterior é impressionante o interior desta igreja não fica nada atrás. Na verdade, quem não visse alguma foto do interior desta igreja, não imaginaria o que ali iria encontrar, e talvez nem se preocupasse em entrar, até porque o acesso é pago.
Mas registo aqui que a visita ao interior da basílica é completamente imperdível, pois vamos encontrar uma imagem bastante diferenciada da grande maioria das igrejas, com o teto e o altar decorados com cores e detalhes que são de uma beleza fascinante.
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O teto abobado está revestido a azul e salpicado por estrelas douradas, e o altar é extraordinariamente bonito, de onde sobressaem também os magníficos vitrais.
Não é fácil explicar aquilo que se sente ao entrarmos nesta igreja, repito apenas que é algo imperdível, e cada um deverá aproveitar a experiência à sua maneira.
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Para quem quiser desfrutar da vista sobre a cidade, é possível subir à torre mais alta da Basílica, pagando um suplemento sobre o custo da entrada, e até pode conhecer a sala do trompetista que irá tocar, às horas certas, a tal melodia a que chamam hejnal.
Igreja de Santo Adalberto
Ainda na mesma praça, num dos seus cantos, encontra-se uma pequena capela que é chamada de Igreja de Santo Adalberto. Quando comparada com os colossos monumentais que ocupam a Praça do Mercado, esta pequena igreja é completamente insignificante, porém, trata-se de uma das mais antigas da cidade, com mais de 1000 anos de existência. Apesar de não ser uma igreja vistosa, sobretudo para os turistas, que preferem os monumentos deslumbrantes que estão ali perto, a verdade é que continuam a ser ali realizadas missas semanais, e esta é mesmo uma das igrejas mais queridas dos moradores da cidade.
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Enquanto saíamos da Praça do Mercado faltava-nos ainda conhecer uma vasta zona da Cidade Velha e, por isso, seguimos sem destino pelas ruas e praças do centro histórico, o Stare Miasto, onde fomos encontrando casas pitorescas e edifícios históricos, numa área que foi declarada Património da Humanidade pela UNESCO.
Ao longo desta caminhada pelo centro encontrámos alguns monumentos interessantes, que estão assinalados no mapa, e de onde se destaca o Museu Czartoryski, um dos principais museus da Polónia, cujo principal tesouro é o quadro “A Dama do Arminho”, de Leonardo da Vinci.
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Encontramos ainda ao longo deste percurso o Palácio da Arte, que fica na plac Szczepański, e a Universidade Jaguelônica, a mais antiga escola da cidade.
Depois desta caminhada pela Cidade Velha, regressámos à Praça do Mercado, que é sempre o centro nevrálgico da cidade, e onde voltaremos constantemente durante os dias em que estivermos de visita a Cracóvia.
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Ao sairmos de novo da Praça do Mercado, desta vez com destino ao Castelo, vamos seguir pela Rua Grodzka, a mesma que, juntamente com a Rua Floriańska, formava o antigo Caminho Real da cidade. Trata-se de mais uma rua pedonal movimentada, onde estão localizadas alguma das lojas mais importantes, bem como vários restaurantes e cafés.
Numa das interseções da rua Grodzka, a Plac Wszystkich Świętych, uma rua larga por onde passa a linha do elétrico, ou tram, encontram-se duas igrejas, uma de cada lado.
Basílica de São Francisco de Assis
De um dos lados ergue-se a Basílica de São Francisco de Assis, uma igreja do século XIII que é muito apreciada pelos seus vitrais, que justificam uma visita pelo interior, já que a vista das fachadas é algo discreta.
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Ao lado desta igreja localiza-se o Palácio Wielopolskich, que é atualmente a sede da Câmara Municipal da cidade.
Do outro lado da Plac Wszystkich Świętych e não muito longe da Basílica de São Francisco de Assis, vamos encontrar mais uma bela igreja.
Basílica da Santíssima Trindade
Esta bonita igreja, forrada a tijolo vermelho, foi construída no século XIII num estilo neogótico, por monges dominicanos, o que faz com que seja conhecida como a Igreja dos Dominicanos.
O interior possui vários apontamentos interessantes, como as capelas, os altares e, sobretudo, os belos vitrais.
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Um pouco depois estávamos de volta à Rua Grodzka e a passar por duas das igrejas locais mais importantes.
Igreja de São Pedro e São Paulo e a Igreja de Santo André
Estas duas igrejas, que se encontram em plena Rota Real, ficam na proximidade uma da outra, como se formassem um conjunto.
A Igreja de São Pedro e São Paulo foi construída no início do século XVII, em estilo barroco, e destaca-se pela imponente fachada, decorada com estátuas dos Doze Apóstolos, alinhadas ao longo do muro de vedação.
A Igreja de Santo André é bastante diferente, bem mais antiga, do final do século XI, e em estilo românico, é aliás uma das poucas construções românicas que sobrevivem ainda em toda a Polónia. Nesta igreja destacam-se sobretudo as duas torres que são a sua imagem de marca, e que se encontram cobertas por cúpulas barrocas que foram acrescentadas ao antigo edifício já no século XVII.
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Continuando o nosso caminho, viramos à direita e seguimos pela Rua Kanonicza, uma paralela à Rua Grodzka mas menos movimentada, embora talvez ainda mais pitoresca. Ao longo desta rua encontram-se várias casas senhoriais e, no número 19, encontra-se o edifício onde residia Karol Wojtyla antes de se tornar o Papa João Paulo II, e onde existe atualmente um museu onde são expostos alguns dos seus objetos pessoais.
Mais à frente, já dentro do pátio do castelo, vamos encontrar um monumento em homenagem a este Papa, uma das figuras mais ilustres da história polaca.
Castelo de Wawel
Este castelo, que já foi residência dos reis da Polónia, é uma das atrações mais importantes da cidade de Cracóvia e constitui um símbolo histórico, cultural e espiritual do país.
Fica situado no topo da Colina de Wawel, na margem do rio Vístula, tendo sido contruído originalmente no século XI, mas depois ampliado e renovado em diferentes estilos ao longo dos séculos, incluindo o românico, o gótico e o renascentista.
Atualmente, funciona principalmente como museu e local para visitas turísticas, com o galardão de ter sido considerado como Património Mundial da UNESCO, em 1978, juntamente com o centro histórico da cidade.
O Castelo de Wawel viveu a sua época dourada quando era ocupado pela família real, sob o domínio do rei Segismundo I, no século XVI, quando foi transformado numa magnífica residência renascentista.
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Após a mudança da capital para Varsóvia, no final do século XVI, o castelo perdeu a sua relevância política e passou a ter funções militares, tendo sido usado como quartel.
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No século XX, o castelo foi restaurado e transformado num museu nacional, guardando alguns tesouros históricos e culturais, dispondo, atualmente de algumas atrações muito interessantes, como a Catedral de Wawel, os Apartamentos Reais, o Salão das Tapeçarias, ou o Tesouro da Coroa e Arsenal.
O pátio do Castelo Real pode ser visitado sem precisarmos de pagar qualquer ingresso e, nessa zona, já podemos contemplar as bonitas fachadas de todo o conjunto.
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Mas para podermos apreciar cada uma das atrações deste conjunto, teremos de pagar o respetivo ingresso, com um bilhete separado para cada espaço.
A principal atração é a Catedral de Wawel, ou apenas Catedral de Cracóvia, e que pode também ser chamada de Basílica de São Estanislau e São Venceslau, os dois santos a que é dedicada. Trata-se de uma das igrejas católicas mais importantes do país, e foi o local de coroação dos reis da Polónia e onde todos eles vieram a ser sepultados.
O edifício da catedral foi construído originalmente no século XI, sendo que a versão atual, já em estilo gótico, resulta das obras realizadas no século XIV.
Nesta igreja destaca-se a Torre do Sino Zygmunt que marca a silhueta deste conjunto, e que pode ser visitada, oferecendo uma vista ampla sobre a cidade de Cracóvia. Junto à catedral, encontra-se a estátua de uma das grandes figuras da Polónia, o Papa João Paulo II, a que me referi ainda há pouco.
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No interior destaca-se a Capela de Sigismundo, considerada uma obra-prima do renascimento e que constitui o mausoléu dos reis Sigismundo I e Sigismundo II Augusto. Salientam-se em todo este conjunto, os sarcófagos reais, onde repousam quase todos os reis polacos, mas sobretudo as Relíquias de São Estanislau, um bispo e mártir, que é o padroeiro da Polónia. O túmulo de São Estanislau, é um dos locais mais sagrados da catedral e um importante destino de peregrinação.
Mas para um qualquer visitante anónimo, como nós, aquilo que mais impressiona não será toda esta densa carga histórica, mas antes a beleza extraordinária do interior desta igreja.
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Uma visita mais completa pode levar-nos aos Apartamentos Reais, com quartos luxuosos e uma decoração renascentista, que mostram como era a vida dos monarcas. Uma outra sala de referência é o Salão das Tapeçarias, com uma coleção de tapetes flamengos encomendada por Segismundo Augusto no século XVI.
Encontra-se também ao longo desta visita o Tesouro da Coroa e Arsenal, com a exposição de armas, armaduras e outras relíquias militares.
Quem visitar estes salões do castelo terá a possibilidade de espreitar pelas janelas e contemplar a imagem do conjunto que ali se forma, e que é bastante bonita… na minha opinião é bem mais bonita do que as camas e reposteiros que ali se expõem.
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Na fase mais negra da cidade, durante a Segunda Guerra Mundial, o castelo foi ocupado pelos nazis e usado como sede do governador geral da Polónia ocupada.
Ao sairmos da área do castelo a caminho do bairro judeu, passamos ainda por mais uma igreja católica.
Igreja de São Bernardino de Sena
Esta igreja é uma joia da arquitetura gótica e barroca, associada à Ordem Franciscana dos Bernardinos, e é bem diferente da maioria das igrejas da cidade, onde dominam as fachadas em tijolo avermelhado.
Neste caso, encontramos um edifício branco, que faz até lembrar algumas das igrejas portuguesas.
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Bairro Kazimierz
A caminho do rio vamos entrar no bairro judaico da cidade, o Bairro Kazimierz. Durante a ocupação nazi, este bairro foi brutalmente devastado. Foi daqui que saíram mais de 40 mil judeus para os campos de extermínio.
No fim da guerra os judeus voltaram a ocupar o bairro de Kazimierz, tendo sido criadas várias infraestruturas importantes para a comunidade judaica, como várias sinagogas e cemitérios judaicos.
Mas na plac Wolnica, a maior praça de todo o bairro, surge com grande destaque a silhueta de mais uma igreja católica, a Basílica de Corpus Christi.
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Basílica de Corpus Christi
É mais uma das importantes igrejas católicas da cidade, esta com a particularidade de se encontrar no coração da comunidade judaica, em pleno bairro histórico de Kazimierz.
Foi construída no século XIV, por ordem do rei Casimiro III, o Grande, originalmente em estilo gótico, mas tem alguns elementos barrocos, na torre e na decoração interior, que foram adicionados posteriormente, e apresenta o aspeto mais comum das igrejas polacas, com as fachadas em cor de tijolo.
A Basílica de Corpus Christi desempenhou um papel significativo na vida religiosa de Cracóvia e continua a ser um local de peregrinação e culto e é também um importante ponto turístico para os visitantes que desejam explorar a herança histórica e cultural da cidade.
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Ponte do Padre Bernatek e Bairro de Podgórze
Ao chegarmos ao rio Vistula vamos passar para a margem oposta onde fica o bairro de Podgórze. Trata-se de mais um bairro judeu, mas com menos presença da comunidade judaica, pois as sinagogas e cemitérios judeus, encontram-se principalmente no bairro de Kazimierz. Mas este local tem a importância histórica de ter sido ali criado, durante a ocupação nazi, o gueto de Cracóvia, onde os judeus foram isolados da restante população.
No acesso ao bairro, vindos de Kazimierz, atravessamos a Ponte do Padre Bernatek, dedicada a um monge franciscano que teve um papel importante na história local, sendo responsável por várias obras de caridade na região.
Esta ponte, recém-inaugurada à época da nossa visita, é de uso pedonal e tem um design contemporâneo, feita com um arco tubular metálico que vence todo o vão, e de onde se suspende o tabuleiro. Nos tirantes de suspensão estão penduradas esculturas que representam acrobatas em equilíbrio, criadas pelo artista polaco Jerzy Kędziora.
Estando num bairro judeu, vamos encontrar uma sinagoga, mas é de novo a igreja católica local que mais se destaca.
Igreja de São José
Estando já bem longe do centro histórico, esta igreja surge como uma excelente surpresa, por ser uma das mais bonitas de toda a cidade.
Foi construída na primeira década do século XX, muito mais recente do que todas as outras igrejas da cidade, num estilo arquitetónico neogótico. Apesar de ser construída em tijolo vermelho, como é comum nas igrejas polacas, neste caso destacam-se as suas torres na fachada principal e a torre central, todas elas pontiagudas, formando um conjunto que faz lembrar a forma dos palácios das princesas da Disney.
Esta igreja é um centro ativo do culto católico local e é um polo turístico muito procurado, devido à sua beleza arquitetónica.
Praça dos Heróis do Gueto
A Plac Bohaterów Getta fazia parte do Gueto de Cracóvia criado pelos nazis em 1941, onde foram colocados cerca de 15 mil judeus em condições desumanas. A praça ficava no centro do gueto e era o local onde juntavam a população judaica antes de os deportarem para os campos de concentração de Auschwitz-Birkenau e Płaszów.
Em 2005, foi inaugurado um memorial em homenagem às vítimas do gueto e a todos os judeus de Cracóvia, que ocupa toda esta praça. Trata-se de um monumento composto por 70 cadeiras de metal espalhadas por toda a praça, que simbolizam o vazio e a perda dos pertences deixados para trás pelas vítimas daquelas deportações forçadas. Cada cadeira é também uma metáfora para a ausência das pessoas que foram retiradas violentamente das suas casas e das suas vidas.
A Praça dos Heróis do Gueto é hoje um espaço de reflexão sobre as atrocidades da guerra e a importância de preservar a memória, e é visitada por pessoas do mundo inteiro que querem homenagear as vítimas do Holocausto.
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Fábrica de Schindler
Esta era apenas mais uma fábrica local que, neste caso, produzia utensílios em esmalte, como panelas e talheres, e que até tinha sido fundada por um empresário alemão, chamado Oskar Schindler.
Porém, este local haveria de ter um papel muito singular durante a segunda guerra, quando o empresário resolveu contratar cerca de 1.200 judeus para a sua fábrica e, usando a sua riqueza e a sua influência, tentou salvar estas vidas, correndo riscos consideráveis. Com a proteção que lhes foi dada, grande parte destes judeus foram poupados de um destino quase certo, em que seriam encaminhados para os campos de extermínio.
Esta história ficou registada como um dos acontecimentos mais comoventes durante a ocupação nazi da Polónia, e Oskar Schindler foi mesmo reconhecido como "Justo entre as Nações", uma distinção concedida pelo Estado de Israel a não judeus que arriscaram suas vidas para salvar judeus durante o Holocausto.
Esta história veio a ser amplamente divulgada através do filme de 1993, “A Lista de Schindler”, dirigido por Steven Spielberg, um filme emocionante que mostra a vida deste homem extraordinário e da sua incrível missão.
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Atualmente foi criado o Museu Oskar Schindler onde se encontra uma exposição permanente chamada “Cracóvia sob a ocupação nazista de 1939 a 1945”.
Não tivemos oportunidade de visitar este museu, mas penso tratar-se de um local imperdível, dada a importância história do período negro do domínio alemão, que aqui nos é relatado. O local explora a história da ocupação nazi e do seu impacto sobre a comunidade judaica, mas apresenta também detalhes sobre a vida de Oskar Schindler e sobre os seus esforços humanitários.
A cidade durante a noite
Deixo aqui uma referência àquilo que podemos encontrar durante a noite na cidade de Cracóvia, quando a maioria dos monumentos se encontra iluminada, e quando as ruas se enchem de pessoas, que procuram passar o serão nos restaurantes, ou preferem deambular pelos quiosques que se distribuem pelas principais praças.
Desde logo, ainda junto ao rio, é possível apreciar a imagem do castelo iluminado, um dos monumentos mais interessantes da cidade.
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Depois, percorrendo as mesmas ruas por onde andámos sob a luz do dia, fomos passando por alguns dos locais mais bonitos da cidade de Cracóvia, que aqui vou representar.
Termino com a Praça do Mercado Principal, a mais importante praça da cidade, com a imagem da Basílica de Santa Maria, o verdadeiro ex-líbris de Cracóvia, que à noite está ainda mais bonita do que de dia.
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O destino lógico, depois de percorrermos demoradamente esta cidade, seria visitarmos os campos de concentração de Auschwitz-Birkenau, localizados a menos de 70 km desta cidade, e onde iriamos ter a possibilidade de ver de perto os vestígios de uma época negra, não só da Polónia para todo o mundo.
A proximidade dos testemunhos das atrocidades ali vividas, que se encontram expostos nestes campos, é algo que pode ser altamente perturbador, e que nem todos têm a coragem de enfrentar.
Foi por isso que resolvemos não fazer esta visita, poupando-nos de uma carga emocional que poderia vir ser demasiado dolorosa. A escolha não foi minha, mas compreendi e aceitei esta decisão.
Por isso, faltava-me aqui uma parte essencial de qualquer viagem à Polónia, pelo que desafiei a minha amiga Dulce Cascalheira para escrever sobre a sua experiência na visita aos campos de concentração de Auschwitz-Birkenau no ano de 2024, que junto numa crónica separada, agradecendo a disponibilidade da Dulce para aqui partilhar o seu relato e as suas emoções.
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