sábado, 5 de dezembro de 2009

Cracóvia


Cracóvia é uma das bonitas cidades do Leste Europeu e, para muitos, será mesmo a mais bonita cidade da Polónia… mas não para mim, que gostei mais de Varsóvia, talvez pela sua história, que achei mais tocante.

Mas há muita gente que associa esta cidade à visita que se pode fazer aos campos de concentração de Auschwitz-Birkenau, e é por isso que Cracóvia ganha uma dimensão transcendente do ponto de vista da experiência que ali pode ser vivida.

Mas não foi o meu caso, que visitei apenas a cidade de Cracóvia, e não fui aos campos de concentração… algo que me deixou com pena, mas para uma visita destas todos terão de estar seguros de que serão capazes de suportar o desafio. Como nem todos estavam com coragem para uma experiência tão comovente como esta, ficámo-nos apenas pela cidade.

Assim, recorri ao depoimento de uma amiga, Dulce Cascalheira, que me cedeu as palavras e as fotografias que reproduzem a experiência vivida naqueles campos de extermínio.

E, assim sendo, Cracóvia já não será assim uma cidade tão impressionante, apesar de ser indiscutivelmente bastante bonita.
Embora tenha perdido para Varsóvia o seu antigo estatuto de capital polaca, Cracóvia é ainda considerada como a capital cultural deste país, com o seu centro histórico, que é Património da UNESCO.

Trata-se de uma cidade pequena, mas com grande importância cultural e histórica, e com alguns recantos bastante bonitos, que se encontram nas suas ruas, praças e jardins, nas igrejas e torres, nas fortalezas, e nas paisagens bucólicas junto ao Rio Vístula, o mesmo que atravessa Varsóvia.
Chegámos a Cracóvia vindos de comboio desde Varsóvia, cerca de 300 km, e entrámos na cidade pela zona da estação ferroviária, localizada do lado Norte, seguindo depois por entre as principais atrações locais, que se assinalam neste mapa da cidade:
     
A cidade de Cracóvia é relativamente pequena pelo que se consegue percorrer cada um dos seus recantos, apenas caminhando, embora haja quem experimente uma voltinha nas belas charretes que percorrem as ruas da cidade, e que são uma imagem de marca do seu centro histórico.


Barbakan Krakowski

Vindos da estação, seguindo por uma larga avenida, que tem nome de praça, a Plac Jana Matejki, chegamos a uma faixa ocupada por um jardim, o chamado Parque Planty, que tem uma largura que varia entre os 100 e os 50 m, e que vai contornando toda a Cidade Velha.

Ao entramos neste jardim encontramos a Barbacã, ou Barbakan Krakowski, uma antiga fortaleza, que fazia parte do sistema defensivo da cidade e que sobreviveu a várias batalhas ao longo dos séculos.

Foi construída no final do século XV e foi a mais importante obra de engenharia militar para proteção da Cidade Velha, dos ataques sofridos durante toda a época medieval.

Durante a Segunda Guerra Mundial esta fortificação foi parcialmente destruída, pelo que a estrutura que hoje ali encontramos, resulta da quase total reconstrução efetuada no pós-guerra, com recurso os mesmos tijolos que foram recuperados dos escombros.

O edifício é bastante bonito e reflete a imagem das fortificações medievais polacas, construídas com tijolos vermelhos, tal como encontramos também nas muralhas da cidade de Varsóvia.

Quem quiser ver o interior desta fortaleza, poderá visitar o museu que ali foi criado, onde são contadas as histórias das várias guerras a que a cidade de Cracóvia esteve sujeita.

Esta fortaleza é uma das únicas barbacãs que existem ainda na Europa, juntamente com o de Varsóvia, e está bastante bem preservada, constituindo uma joia da herança cultural polaca.


Teatro Juliusz Slowacki

Ainda antes de entrarmos no centro histórico, e continuando em pleno Parque Planty, encontramos o bonito edifício do Teatro Juliusz Slowacki.

Trata-se de um palácio lindíssimo, erguido em 1893, e com uma elegância que resulta da inspiração nas grandes óperas europeias, sobretudo na Ópera Garnier de Paris.

O teatro tem o seu nome atual desde 1909, em homenagem a Juliusz Slowacki, um importante poeta e dramaturgo polaco.

Durante a ocupação pela Alemanha nazi o teatro foi dirigido por uma companhia alemã e foi sendo usado para deleite das forças de ocupação, o que permitiu com que o edifício tivesse sido poupado à destruição maciça que afetou grande parte da cidade.

Atualmente, este teatro é uma das mais importantes salas de espetáculos de toda a Polónia, e o edifício, que continua a ser uma autêntica obra de arte, foi classificado como Património Mundial da UNESCO.


Paróquia Católica Romana da Santa Cruz

Bem próximo deste teatro fica a Igreja de Santa Cruz, ou Sta Krzyża, uma das mais antigas igrejas católicas da cidade, construída e destruída várias vezes, desde a construção da primeira capela no início do século XIII.

A igreja atual mantém a imagem tradicional com a fachada formada por uma torre, onde se apoia a abóboda da nave principal, e é marcada pelo seu revestimento em tijolo vermelho.


Porta de St. Florian

Voltando de novo até perto da Barbacã, encontramos logo em frente uma das portas da antiga muralha, a Porta de St. Florian, que serve de entrada para o centro histórico. Além de ser o principal portão da cidade velha, tem também uma bonita torre, que foi construída no século XIV para proteção da cidade.


Rua Floriańska

Ao passarmos na Porta de St. Florian entramos numa das principais ruas de Cracóvia, a Rua Floriańska, que atravessa a Cidade Velha e nos conduz em linha reta até à Basílica de Santa Maria.

Trata-se de uma rua pedonal muito movimentada e cheia de comércio, com destaque para as lojas de souvenires e de artesanato.

Logo depois da Basílica, esta rua liga com a rua Grodzka, que dá acesso ao Castelo. Por isso, este eixo fazia parte da chamada Rota Real, que era utilizada pela nobreza para fazer a travessia da cidade a caminho do castelo do rei.

Ao atravessarmos a rua Floriańska vale a pena espreitar um dos cafés mais conhecidos da cidade, o Jama Michalika, com uma decoração em estilo art nouveau.
     


Praça do Mercado Principal

A Rynek Główny, a praça principal de Cracóvia, é um espaço quadrangular cercado por casas históricas e constitui o ponto central da Cidade Velha, em torno do qual tudo gira, e onde se concentram, quer os habitantes quer os turistas, na envolvente dos principais monumentos e ao longo das muitas esplanadas que ali se encontram.

É considerada uma das maiores praças medievais da Europa e é aqui que se localizam algumas das principais atrações de Cracóvia, como é o caso da Basílica de Santa Maria, da Torre da antiga Câmara Municipal e do Sukiennice, o antigo mercado de tecidos.
O MNK Sukiennice é o edifício central do antigo Mercado de Tecidos, que é considerado o shopping mais antigo da Polónia, e mantém a sua estrutura renascentista original, que foi criada em 1555. É constituído por um conjunto de arcadas e, no interior, formam-se vários corredores cheios de lojas de produtos de artesanato local.

Além da parte comercial do mercado, encontramos no piso superior o Museu Nacional, onde se expõem diversas obras representativos da história polaca.

Existem também, no interior do edifício, várias bancas de comida, e que se espalham pela praça num vasto conjunto de esplanadas.
Para além destas esplanadas, encontramos ainda outros cafés e restaurantes, que ocupam o piso térreo dos edifícios que contornam a praça, cujas esplanadas preenchem grande parte do piso empedrado.

No inverno, a praça funciona como mercado de Natal, sobretudo à noite, quando se torna mais animada, e onde podemos comprar o artesanato local, bastante apelativo, e também provar algumas das iguarias desta época, muito na base das salsichas e dos joelhos de porco, que são acompanhados, ou pela habitual cerveja, ou pelo vinho quente, que nos aquece a alma nestas noites frias… apesar de ser tão doce que se torna enjoativo.





Torre da Antiga Câmara Municipal

Voltando à luz do dia e aos principais monumentos da Praça do Mercado, refiro-me agora à Wieza Ratuszowa, uma bonita torre com 75 metros de altura que se encontra num dos cantos da praça, e representa o que restou da antiga câmara municipal.

A torre é forrada com tijolos vermelhos e com pedra branca trabalhada, e foi construída durante o século XIV em estilo gótico, como parte do edifício da primeira Câmara Municipal de Cracóvia. Este edifício veio a ser demolido em 1820, mas a torre foi salva e permaneceu de pé e isolada até à atualidade.

A escada íngreme do seu interior pode ser utilizada por quem esteja disponível para subir os 110 degraus até ao topo, de onde poderá apreciar a paisagem sobre a cidade. Na subida encontram-se as máquinas da antiga torre do relógio, acompanhadas por uma coleção de fotografias históricas que mostram como a cidade evoluiu.


Basílica de Santa Maria

Mas a principal atração da Praça do Mercado, e até de toda a cidade de Cracóvia, é a Basílica de Santa Maria, ou Kosciol Mariacki, cuja belíssima imagem da fachada se salienta na silhueta da praça, deixando em segundo plano todos os restantes edifícios e monumentos.
A Igreja de Santa Maria tem uma fachada grandiosa com duas torres sineiras de tamanhos diferentes. A torre mais alta, adornada com uma coroa dourada desde 1666, é conhecida como “Hejnalica”. No passado, esta torre tocava o sino diariamente, quando as portas da cidade se abriam e se fechavam, e ainda quando a cidade era atacada ou se ocorria algum incêndio.

Hoje em dia, em vez de um sino, é tocada a cada hora a melodia da música Hejnal Mariacki, utilizando um clarim, que é uma daquelas trompetas dos quarteis.

Mas mais do que o toque dos sinos ou o soar da trompeta, aquilo que realmente impressiona nesta basílica é a sua belíssima fachada, sobretudo pelas suas torres assimétricas que formam um conjunto extraordinariamente bonito.
Mas se o exterior é impressionante o interior desta igreja não fica nada atrás. Na verdade, quem não visse alguma foto do interior desta igreja, não imaginaria o que ali iria encontrar, e talvez nem se preocupasse em entrar, até porque o acesso é pago.

Mas registo aqui que a visita ao interior da basílica é completamente imperdível, pois vamos encontrar uma imagem bastante diferenciada da grande maioria das igrejas, com o teto e o altar decorados com cores e detalhes que são de uma beleza fascinante.
O teto abobado está revestido a azul e salpicado por estrelas douradas, e o altar é extraordinariamente bonito, de onde sobressaem também os magníficos vitrais.

Não é fácil explicar aquilo que se sente ao entrarmos nesta igreja, repito apenas que é algo imperdível, e cada um deverá aproveitar a experiência à sua maneira.
Para quem quiser desfrutar da vista sobre a cidade, é possível subir à torre mais alta da Basílica, pagando um suplemento sobre o custo da entrada, e até pode conhecer a sala do trompetista que irá tocar, às horas certas, a tal melodia a que chamam hejnal.


Igreja de Santo Adalberto

Ainda na mesma praça, num dos seus cantos, encontra-se uma pequena capela que é chamada de Igreja de Santo Adalberto. Quando comparada com os colossos monumentais que ocupam a Praça do Mercado, esta pequena igreja é completamente insignificante, porém, trata-se de uma das mais antigas da cidade, com mais de 1000 anos de existência. Apesar de não ser uma igreja vistosa, sobretudo para os turistas, que preferem os monumentos deslumbrantes que estão ali perto, a verdade é que continuam a ser ali realizadas missas semanais, e esta é mesmo uma das igrejas mais queridas dos moradores da cidade.
Enquanto saíamos da Praça do Mercado faltava-nos ainda conhecer uma vasta zona da Cidade Velha e, por isso, seguimos sem destino pelas ruas e praças do centro histórico, o Stare Miasto, onde fomos encontrando casas pitorescas e edifícios históricos, numa área que foi declarada Património da Humanidade pela UNESCO.

Ao longo desta caminhada pelo centro encontrámos alguns monumentos interessantes, que estão assinalados no mapa, e de onde se destaca o Museu Czartoryski, um dos principais museus da Polónia, cujo principal tesouro é o quadro “A Dama do Arminho”, de Leonardo da Vinci.
Encontramos ainda ao longo deste percurso o Palácio da Arte, que fica na plac Szczepański, e a Universidade Jaguelônica, a mais antiga escola da cidade.

Depois desta caminhada pela Cidade Velha, regressámos à Praça do Mercado, que é sempre o centro nevrálgico da cidade, e onde voltaremos constantemente durante os dias em que estivermos de visita a Cracóvia.
Ao sairmos de novo da Praça do Mercado, desta vez com destino ao Castelo, vamos seguir pela Rua Grodzka, a mesma que, juntamente com a Rua Floriańska, formava o antigo Caminho Real da cidade. Trata-se de mais uma rua pedonal movimentada, onde estão localizadas alguma das lojas mais importantes, bem como vários restaurantes e cafés.

Numa das interseções da rua Grodzka, a Plac Wszystkich Świętych, uma rua larga por onde passa a linha do elétrico, ou tram, encontram-se duas igrejas, uma de cada lado.


Basílica de São Francisco de Assis

De um dos lados ergue-se a Basílica de São Francisco de Assis, uma igreja do século XIII que é muito apreciada pelos seus vitrais, que justificam uma visita pelo interior, já que a vista das fachadas é algo discreta.
Ao lado desta igreja localiza-se o Palácio Wielopolskich, que é atualmente a sede da Câmara Municipal da cidade.

Do outro lado da Plac Wszystkich Świętych e não muito longe da Basílica de São Francisco de Assis, vamos encontrar mais uma bela igreja.


Basílica da Santíssima Trindade

Esta bonita igreja, forrada a tijolo vermelho, foi construída no século XIII num estilo neogótico, por monges dominicanos, o que faz com que seja conhecida como a Igreja dos Dominicanos.

O interior possui vários apontamentos interessantes, como as capelas, os altares e, sobretudo, os belos vitrais.
Um pouco depois estávamos de volta à Rua Grodzka e a passar por duas das igrejas locais mais importantes.


Igreja de São Pedro e São Paulo e a Igreja de Santo André

Estas duas igrejas, que se encontram em plena Rota Real, ficam na proximidade uma da outra, como se formassem um conjunto.

A Igreja de São Pedro e São Paulo foi construída no início do século XVII, em estilo barroco, e destaca-se pela imponente fachada, decorada com estátuas dos Doze Apóstolos, alinhadas ao longo do muro de vedação.

A Igreja de Santo André é bastante diferente, bem mais antiga, do final do século XI, e em estilo românico, é aliás uma das poucas construções românicas que sobrevivem ainda em toda a Polónia. Nesta igreja destacam-se sobretudo as duas torres que são a sua imagem de marca, e que se encontram cobertas por cúpulas barrocas que foram acrescentadas ao antigo edifício já no século XVII.
Continuando o nosso caminho, viramos à direita e seguimos pela Rua Kanonicza, uma paralela à Rua Grodzka mas menos movimentada, embora talvez ainda mais pitoresca. Ao longo desta rua encontram-se várias casas senhoriais e, no número 19, encontra-se o edifício onde residia Karol Wojtyla antes de se tornar o Papa João Paulo II, e onde existe atualmente um museu onde são expostos alguns dos seus objetos pessoais.

Mais à frente, já dentro do pátio do castelo, vamos encontrar um monumento em homenagem a este Papa, uma das figuras mais ilustres da história polaca.


Castelo de Wawel

Este castelo, que já foi residência dos reis da Polónia, é uma das atrações mais importantes da cidade de Cracóvia e constitui um símbolo histórico, cultural e espiritual do país.

Fica situado no topo da Colina de Wawel, na margem do rio Vístula, tendo sido contruído originalmente no século XI, mas depois ampliado e renovado em diferentes estilos ao longo dos séculos, incluindo o românico, o gótico e o renascentista.

Atualmente, funciona principalmente como museu e local para visitas turísticas, com o galardão de ter sido considerado como Património Mundial da UNESCO, em 1978, juntamente com o centro histórico da cidade.

O Castelo de Wawel viveu a sua época dourada quando era ocupado pela família real, sob o domínio do rei Segismundo I, no século XVI, quando foi transformado numa magnífica residência renascentista.
Após a mudança da capital para Varsóvia, no final do século XVI, o castelo perdeu a sua relevância política e passou a ter funções militares, tendo sido usado como quartel.
No século XX, o castelo foi restaurado e transformado num museu nacional, guardando alguns tesouros históricos e culturais, dispondo, atualmente de algumas atrações muito interessantes, como a Catedral de Wawel, os Apartamentos Reais, o Salão das Tapeçarias, ou o Tesouro da Coroa e Arsenal.

O pátio do Castelo Real pode ser visitado sem precisarmos de pagar qualquer ingresso e, nessa zona, já podemos contemplar as bonitas fachadas de todo o conjunto.
Mas para podermos apreciar cada uma das atrações deste conjunto, teremos de pagar o respetivo ingresso, com um bilhete separado para cada espaço.

A principal atração é a Catedral de Wawel, ou apenas Catedral de Cracóvia, e que pode também ser chamada de Basílica de São Estanislau e São Venceslau, os dois santos a que é dedicada. Trata-se de uma das igrejas católicas mais importantes do país, e foi o local de coroação dos reis da Polónia e onde todos eles vieram a ser sepultados.

O edifício da catedral foi construído originalmente no século XI, sendo que a versão atual, já em estilo gótico, resulta das obras realizadas no século XIV.

Nesta igreja destaca-se a Torre do Sino Zygmunt que marca a silhueta deste conjunto, e que pode ser visitada, oferecendo uma vista ampla sobre a cidade de Cracóvia. Junto à catedral, encontra-se a estátua de uma das grandes figuras da Polónia, o Papa João Paulo II, a que me referi ainda há pouco.
No interior destaca-se a Capela de Sigismundo, considerada uma obra-prima do renascimento e que constitui o mausoléu dos reis Sigismundo I e Sigismundo II Augusto. Salientam-se em todo este conjunto, os sarcófagos reais, onde repousam quase todos os reis polacos, mas sobretudo as Relíquias de São Estanislau, um bispo e mártir, que é o padroeiro da Polónia. O túmulo de São Estanislau, é um dos locais mais sagrados da catedral e um importante destino de peregrinação.

Mas para um qualquer visitante anónimo, como nós, aquilo que mais impressiona não será toda esta densa carga histórica, mas antes a beleza extraordinária do interior desta igreja.
Uma visita mais completa pode levar-nos aos Apartamentos Reais, com quartos luxuosos e uma decoração renascentista, que mostram como era a vida dos monarcas. Uma outra sala de referência é o Salão das Tapeçarias, com uma coleção de tapetes flamengos encomendada por Segismundo Augusto no século XVI.

Encontra-se também ao longo desta visita o Tesouro da Coroa e Arsenal, com a exposição de armas, armaduras e outras relíquias militares.

Quem visitar estes salões do castelo terá a possibilidade de espreitar pelas janelas e contemplar a imagem do conjunto que ali se forma, e que é bastante bonita… na minha opinião é bem mais bonita do que as camas e reposteiros que ali se expõem.
Na fase mais negra da cidade, durante a Segunda Guerra Mundial, o castelo foi ocupado pelos nazis e usado como sede do governador geral da Polónia ocupada.

Ao sairmos da área do castelo a caminho do bairro judeu, passamos ainda por mais uma igreja católica.


Igreja de São Bernardino de Sena

Esta igreja é uma joia da arquitetura gótica e barroca, associada à Ordem Franciscana dos Bernardinos, e é bem diferente da maioria das igrejas da cidade, onde dominam as fachadas em tijolo avermelhado.

Neste caso, encontramos um edifício branco, que faz até lembrar algumas das igrejas portuguesas.


Bairro Kazimierz

A caminho do rio vamos entrar no bairro judaico da cidade, o Bairro Kazimierz. Durante a ocupação nazi, este bairro foi brutalmente devastado. Foi daqui que saíram mais de 40 mil judeus para os campos de extermínio.

No fim da guerra os judeus voltaram a ocupar o bairro de Kazimierz, tendo sido criadas várias infraestruturas importantes para a comunidade judaica, como várias sinagogas e cemitérios judaicos.

Mas na plac Wolnica, a maior praça de todo o bairro, surge com grande destaque a silhueta de mais uma igreja católica, a Basílica de Corpus Christi.


Basílica de Corpus Christi

É mais uma das importantes igrejas católicas da cidade, esta com a particularidade de se encontrar no coração da comunidade judaica, em pleno bairro histórico de Kazimierz.

Foi construída no século XIV, por ordem do rei Casimiro III, o Grande, originalmente em estilo gótico, mas tem alguns elementos barrocos, na torre e na decoração interior, que foram adicionados posteriormente, e apresenta o aspeto mais comum das igrejas polacas, com as fachadas em cor de tijolo.

A Basílica de Corpus Christi desempenhou um papel significativo na vida religiosa de Cracóvia e continua a ser um local de peregrinação e culto e é também um importante ponto turístico para os visitantes que desejam explorar a herança histórica e cultural da cidade.


Ponte do Padre Bernatek e Bairro de Podgórze

Ao chegarmos ao rio Vistula vamos passar para a margem oposta onde fica o bairro de Podgórze. Trata-se de mais um bairro judeu, mas com menos presença da comunidade judaica, pois as sinagogas e cemitérios judeus, encontram-se principalmente no bairro de Kazimierz. Mas este local tem a importância histórica de ter sido ali criado, durante a ocupação nazi, o gueto de Cracóvia, onde os judeus foram isolados da restante população.

No acesso ao bairro, vindos de Kazimierz, atravessamos a Ponte do Padre Bernatek, dedicada a um monge franciscano que teve um papel importante na história local, sendo responsável por várias obras de caridade na região.

Esta ponte, recém-inaugurada à época da nossa visita, é de uso pedonal e tem um design contemporâneo, feita com um arco tubular metálico que vence todo o vão, e de onde se suspende o tabuleiro. Nos tirantes de suspensão estão penduradas esculturas que representam acrobatas em equilíbrio, criadas pelo artista polaco Jerzy Kędziora.
Estando num bairro judeu, vamos encontrar uma sinagoga, mas é de novo a igreja católica local que mais se destaca.


Igreja de São José

Estando já bem longe do centro histórico, esta igreja surge como uma excelente surpresa, por ser uma das mais bonitas de toda a cidade.

Foi construída na primeira década do século XX, muito mais recente do que todas as outras igrejas da cidade, num estilo arquitetónico neogótico. Apesar de ser construída em tijolo vermelho, como é comum nas igrejas polacas, neste caso destacam-se as suas torres na fachada principal e a torre central, todas elas pontiagudas, formando um conjunto que faz lembrar a forma dos palácios das princesas da Disney.

Esta igreja é um centro ativo do culto católico local e é um polo turístico muito procurado, devido à sua beleza arquitetónica.


Praça dos Heróis do Gueto

A Plac Bohaterów Getta fazia parte do Gueto de Cracóvia criado pelos nazis em 1941, onde foram colocados cerca de 15 mil judeus em condições desumanas. A praça ficava no centro do gueto e era o local onde juntavam a população judaica antes de os deportarem para os campos de concentração de Auschwitz-Birkenau e Płaszów.

Em 2005, foi inaugurado um memorial em homenagem às vítimas do gueto e a todos os judeus de Cracóvia, que ocupa toda esta praça. Trata-se de um monumento composto por 70 cadeiras de metal espalhadas por toda a praça, que simbolizam o vazio e a perda dos pertences deixados para trás pelas vítimas daquelas deportações forçadas. Cada cadeira é também uma metáfora para a ausência das pessoas que foram retiradas violentamente das suas casas e das suas vidas.

A Praça dos Heróis do Gueto é hoje um espaço de reflexão sobre as atrocidades da guerra e a importância de preservar a memória, e é visitada por pessoas do mundo inteiro que querem homenagear as vítimas do Holocausto.


Fábrica de Schindler

Esta era apenas mais uma fábrica local que, neste caso, produzia utensílios em esmalte, como panelas e talheres, e que até tinha sido fundada por um empresário alemão, chamado Oskar Schindler.

Porém, este local haveria de ter um papel muito singular durante a segunda guerra, quando o empresário resolveu contratar cerca de 1.200 judeus para a sua fábrica e, usando a sua riqueza e a sua influência, tentou salvar estas vidas, correndo riscos consideráveis. Com a proteção que lhes foi dada, grande parte destes judeus foram poupados de um destino quase certo, em que seriam encaminhados para os campos de extermínio.

Esta história ficou registada como um dos acontecimentos mais comoventes durante a ocupação nazi da Polónia, e Oskar Schindler foi mesmo reconhecido como "Justo entre as Nações", uma distinção concedida pelo Estado de Israel a não judeus que arriscaram suas vidas para salvar judeus durante o Holocausto.

Esta história veio a ser amplamente divulgada através do filme de 1993, “A Lista de Schindler”, dirigido por Steven Spielberg, um filme emocionante que mostra a vida deste homem extraordinário e da sua incrível missão.
Atualmente foi criado o Museu Oskar Schindler onde se encontra uma exposição permanente chamada “Cracóvia sob a ocupação nazista de 1939 a 1945”.

Não tivemos oportunidade de visitar este museu, mas penso tratar-se de um local imperdível, dada a importância história do período negro do domínio alemão, que aqui nos é relatado. O local explora a história da ocupação nazi e do seu impacto sobre a comunidade judaica, mas apresenta também detalhes sobre a vida de Oskar Schindler e sobre os seus esforços humanitários.


A cidade durante a noite

Deixo aqui uma referência àquilo que podemos encontrar durante a noite na cidade de Cracóvia, quando a maioria dos monumentos se encontra iluminada, e quando as ruas se enchem de pessoas, que procuram passar o serão nos restaurantes, ou preferem deambular pelos quiosques que se distribuem pelas principais praças.

Desde logo, ainda junto ao rio, é possível apreciar a imagem do castelo iluminado, um dos monumentos mais interessantes da cidade.
Depois, percorrendo as mesmas ruas por onde andámos sob a luz do dia, fomos passando por alguns dos locais mais bonitos da cidade de Cracóvia, que aqui vou representar.
    


Termino com a Praça do Mercado Principal, a mais importante praça da cidade, com a imagem da Basílica de Santa Maria, o verdadeiro ex-líbris de Cracóvia, que à noite está ainda mais bonita do que de dia.

O destino lógico, depois de percorrermos demoradamente esta cidade, seria visitarmos os campos de concentração de Auschwitz-Birkenau, localizados a menos de 70 km desta cidade, e onde iriamos ter a possibilidade de ver de perto os vestígios de uma época negra, não só da Polónia para todo o mundo.

A proximidade dos testemunhos das atrocidades ali vividas, que se encontram expostos nestes campos, é algo que pode ser altamente perturbador, e que nem todos têm a coragem de enfrentar.

Foi por isso que resolvemos não fazer esta visita, poupando-nos de uma carga emocional que poderia vir ser demasiado dolorosa. A escolha não foi minha, mas compreendi e aceitei esta decisão.

Por isso, faltava-me aqui uma parte essencial de qualquer viagem à Polónia, pelo que desafiei a minha amiga Dulce Cascalheira para escrever sobre a sua experiência na visita aos campos de concentração de Auschwitz-Birkenau no ano de 2024, que junto numa crónica separada, agradecendo a disponibilidade da Dulce para aqui partilhar o seu relato e as suas emoções.


Dezembro de 2009
Carlos Prestes




terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Varsóvia


Ao viajarmos para o Norte da Europa durante o Inverno, e nesta altura estávamos a meio de dezembro de 2009, corremos o risco de apanhar condições climatéricas menos favoráveis, com chuva, nevoeiro ou até neve, e vamos sempre encontrar uns dias muito pequenos, em que a noite chega muito próximo das 16h, o que é algo bastante condicionante para quem viaja.

Desta vez, nas poucas horas de luz solar que apanhámos, os dias estavam maioritariamente carregados de uma imensa neblina, deixando a cidade de Varsóvia ainda mais triste, talvez para nos fazer recordar a história dramática que ali foi vivida oito décadas antes.

No mapa que apresento abaixo assinalam-se os percursos feitos a pé ao longo dos três dias em que visitámos a capital polaca, levando-nos a passar nas proximidades daquelas que são as suas principais atrações.

Mas, desta vez, irei escrever sobre cada tipo de atração seguindo os conjuntos que agrupei em Monumentos e Jardins, Cidade Velha, Igrejas e Memoriais de Guerra e, pelo caminho, vou também falando sobre as ruas e as praças desta cidade… marcados neste mapa com cores distintas:
 


Monumentos e Jardins da cidade


Ao percorrermos a cidade de Varsóvia apreciando os seus monumentos e as suas igrejas, é impossível não admirarmos a capacidade deste povo de renascer das cinzas, reerguendo-se da total destruição a que a cidade esteve sujeita devido à presença alemã e às batalhas que enfrentou.

A todos aqueles que visitem a Polónia, que esta viagem não fique apenas como uma simples visita turística, mas seja também uma oportunidade de reflexão sobre este e muitos outros povos que viveram a experiência devastadora de uma guerra tão bárbara com esta, sofrendo na pele as consequências do pior lado do ser humano… para que nenhum de nós alguma vez o possa esquecer.


Voltando à época da nossa viagem, dezembro de 2009, saindo do hotel onde ficámos, o Sofitel, que é uma referência do centro da cidade, começámos pelo bairro Śródmieście, apreciando a imagem imponente de um dos principais símbolos da cidade, o Palácio da Cultura e Ciência.

Trata-se de uma torre construída em 1955, com 42 andares e 237 metros de altura, o que faz com que seja o edifício mais alto de Varsóvia. Foi um presente do povo russo que Estaline quis dar à cidade, e a sua imagem de inspiração soviética é bem notória e, talvez por isso mesmo, muitas vozes têm apelado à sua demolição, como forma simbólica de contestar os anos de opressão russa.

Além de ser um ponto de referência na capital polaca e o símbolo da Varsóvia moderna, o Palácio da Cultura e Ciência contém teatros, museus, cafés, um cinema, e possui ainda várias salas de reunião e conferências e as duas salas de espetáculos mais importantes do país.

Mas além de tudo isso, é também um miradouro muito procurado pelos turistas, permitindo o acesso ao trigésimo andar, de onde se pode desfrutar de paisagens amplas sobre toda a cidade.

Mas aquilo que mais se salienta neste edifício, é mesmo a sua fachada claramente inspirada nos tempos de influência soviética, e as suas semelhanças com o edifício da Universidade Estadual de Moscovo, mas que também chega a fazer lembrar o Empire State Building de Nova York… o que não deixa de ser desconcertante, considerando que a ideia deste edifício partiu da cabeça de Estaline.
Fizemos de seguida um longo percurso até ao Parque Łazienki, um jardim que é um dos lugares de visita obrigatória na cidade de Varsóvia. Na verdade, trata-se de um jardim bastante bonito, com lagos e palácios, como o Pałac na Wyspie, ou Palácio na Ilha, mandado construir numa pequena ilha que emerge de um dos lagos, pelo Príncipe Stanisław Herakliusz Lubomirski, no final do século XVII. Cerca de um século depois, o Rei polaco à época, Stanisław August, resolveu adaptar o palácio para a sua residência de verão, transformando-o assim num dos palácios reais da Polónia.
Mas não será pela possibilidade de visitarmos os palácios que aqui se encontram, que faz com que consideremos este jardim como um lugar imperdível. Aquilo que nos leva a todos a este local, é o Monumento a Frédéric Chopin, que aqui vamos encontrar.

Num pequeno jardim com um lago ao centro, ergue-se uma estátua dedicada a Chopin, um dos mais destacados compositores da era romântica, que nasceu e viveu na Polónia na primeira metade do século XIX.

O monumento, em estilo Art Nouveau, é feito de bronze e fica sobre um pedestal de arenito vermelho, com um total de 6,40 m de altura, retratando o compositor sentado sob um salgueiro-chorão estilizado, enquanto ouve o barulho do vento sobre as árvores e, inspirado, estica a mão direita sobre o teclado de um piano invisível.

Esta estátua foi apreendida pelos alemães em maio de 1940 e reerguida em outubro de 1946, como símbolo da reconstrução da nação… tal como se encontra inscrito no seu pedestal.

Aproveitando a proximidade desta estátua dedicada a Chopin, faço aqui referência às figuras mais ilustres da cidade de Varsóvia e da Polónia, para além do compositor aqui retratado.

Há uma imensa lista de celebridades nascidas no território que corresponde à atual Polónia, de onde se podem destacar Copérnico, o Papa João Paulo II, os escritores Joseph Conrad e Czeslaw Milosz, que foi Nobel da Literatura, e os cineastas Andrzei Wajda e Roman Polanski.

Mas para além de Frédéric Chopin, a figura mais destacada da cidade de Varsóvia será mesmo a de Marie Curie. A casa onde nasceu, na Rua Freta 16, é atualmente uma casa-museu, e representa um pouco da vida e obra desta extraordinária cientista, com dois prémios Nobel, da física e da química, com a criação das bases que levariam ao estudo do fenómeno da radioatividade. Tal como Chopin, também Marie Curie haveria de rumar até França, onde se tornou na primeira mulher a lecionar na Sorbonne, e onde viveu até à sua morte, em 1934, sob o efeito da exposição constante às radiações.

Para além do seu museu, bem no centro da cidade, encontra-se ainda uma Estátua de Marie Curie, mas essa já mais afastada e que dificilmente será incluída num percurso pedonal pela cidade.
Voltando de novo ao nosso percurso, desta vez um longo caminho até ao centro histórico, vamos entrar na rua Krakowskie Przedmieście, talvez a principal rua da cidade, e onde existe um monumento que homenageia uma das figuras anteriormente referidas, o astrónomo e matemático Nicolau Copérnico.

Copérnico, que nasceu e morreu na Polónia, fez grande parte da sua carreira científica em Itália, e pode ser chamado de “pai” da astronomia moderna, pois foi ele que, através dos seus estudos e cálculos, percebeu e defendeu a tese de que a Terra, assim como os demais planetas, gira em torno do Sol, numa teoria que é chamada de Heliocentrismo.

O Monumento a Copérnico é uma estátua de bronze do século XIX, onde o cientista se encontra sentado com uma bússola e uma esfera armilar na mão, formando o sistema solar, com os seus planetas, o sol e a lua.

De forma simbólica este monumento encontra-se junto ao Palácio de Staszic, a sede da Academia de Ciências da Polónia, um palácio belíssimo que foi construído em estilo neoclássico no século XIX.
Um pouco mais à frente, ainda na rua Krakowskie Przedmieście, passamos junto aos portões do campus da Universidade de Varsóvia e, ao entrarmos, encontramos em frente o edifício clássico da biblioteca da Universidade.

A paragem seguinte foi em frente ao Palácio Presidencial, conhecido como Pałac Prezydencki, um edifício do século XVII, que é atualmente a residência oficial do presidente polaco. Depois da devastação que sofreu durante a Segunda Guerra Mundial, o palácio foi meticulosamente restaurado, preservando a sua fachada neoclássica e toda a sua grandeza. Atualmente, este palácio é um importante  símbolo do poder político da Polónia.
Já no final da rua Krakowskie Przedmieście, junto à entrada da Cidade Velha, encontramos a Praça do Castelo, um imenso empedrado que representa o centro desta cidade, com a fachada principal do Castelo Real de Varsóvia, nos seus tons avermelhados vivos, e com a Coluna de Sigismundo, em plena praça.
Além destes dois monumentos principais, a praça é rodeada por um conjunto de bonitos edifícios, com fachadas coloridas e com uma traça que é característica comum em toda a cidade velha.
A Coluna de Zygmunt, que encontramos ao centro da praça, é um dos marcos icónicos da cidade. Este monumento foi erguido no século XVII por decisão do Rei Władysław IV Vasa em homenagem ao seu pai, o Rei Sigismundo III Vasa, e simboliza a história e a resiliência da capital polaca.

Mas o grande monumento desta praça é o histórico Castelo Real de Varsóvia, um imenso edifício que foi a antiga residência real, e que é hoje um dos principais símbolos de toda a Polónia.

As origens deste majestoso palácio barroco datam do século XIV, quando a Torre Real foi construída. Ao longo da sua história atravessou o período mais negro da cidade, com a ocupação nazi e a guerra que ali implodiu, e que levou à sua completa destruição. Porém, com o fim da guerra, e como quase toda a cidade de Varsóvia, o palácio veio a ser reconstruído a partir dos escombros, mantendo ainda a sua fachada distinta, com a tonalidade avermelhada dominante, que ainda hoje encontramos.
Mas a beleza arquitetónica deste palácio não se fica só por esta fachada principal, também vamos encontrar uma outra fachada bastante interessante, no tardoz do edifício, do lado das Arcadas Kubicki.
Deixando a Cidade Velha para depois, seguimos para o próximo monumento, o Palácio Krasiński, localizado no jardim com o mesmo nome, mais um dos grandes parques municipais da cidade.

O palácio foi construído no século XVII e é considerado um dos exemplos mais notáveis ​​da arquitetura moderna na Polónia e, atualmente, expõe várias coleções artísticas, como gravuras antigas, manuscritos, gráficos, cartografia e itens musicais, que são propriedade da Biblioteca Nacional. Mas o interior do palácio não está diariamente aberto ao público, embora sejam organizadas algumas visitas com guia, que serão a oportunidade para quem o quiser visitar.
Terminámos esta visita aos monumentos da cidade, na Plac Teatralny, ou Praça do Teatro, junto a mais dois importantes palácios, o Jabłonowski Palace e o Teatro Wielki.

O Jabłonowski Palace é um bonito palácio histórico do século XVIII que chegou a servir de Câmara Municipal da cidade... e não há muito mais que possa acrescentar.
O Teatr Wielki - Polish National Opera é a casa da Ópera Nacional, do Ballet Nacional, da Galeria de Ópera e do Museu do Teatro. Passam por ali apresentações de ópera, dança, concertos, exposições, e diversos tipos de workshops. É também é utilizado para eventos especiais, como estreias de filmes, conferências ou galas.
O teatro Wielki é um edifício bastante grande e com uma imagem austera, que resulta de uma obra original que foi construída na primeira metade do século XIX e, como quase toda a cidade de Varsóvia, sucumbiu às forças alemãs no início da Segunda Guerra Mundial. Depois veio a ser reerguido dos escombros, seguindo a influência dos estilos dominantes do bloco de Leste, tendo sido inaugurado em 1965, em plena época de guerra fria, onde o poder soviético era determinante.

Atualmente, e depois da queda da União Soviética e da influência russa sobre a Polónia, este teatro tem vindo a tornar-se numa instituição completamente moderna, que mantém a sua função de casa de espetáculos de ópera, música e ballet, mas seguindo novas ideias e novas aspirações de um país que se mantém em reconstrução há várias décadas.


Cidade Velha

Ao chegarmos à praça do Castelo, a que me referi ainda há pouco, estamos às portas da Stare Miastro, ou Cidade Velha, a parte antiga de Varsóvia que se encontra rodeada por muralhas.

As Muralhas da Cidade têm uma marca muito especial, que as diferenciam da grande maioria das outras cidades muralhadas que encontramos pela Europa, e que é a sua cor, de um tijolo avermelhado vivo, que se ostenta como uma marca deste centro histórico.

Ao longo desta muralha surge a chamada Barbacã de Varsóvia, que é a porta que liga a Cidade Velha com a parte nova da capital polaca, e que servia também como torre de vigilância.

O conjunto das muralhas e torres de Varsóvia começou a ser construído no século XV, com o objetivo de proteger a antiga cidade dos ataques externos.

Em 1540, um arquiteto renascentista italiano projetou a porta a que se chama Barbacã, com de 30 metros de comprimento, e que constitui o principal ponto de referência ao longo de todo o perímetro muralhado.

Durante a Segunda Guerra Mundial, e como seria de esperar, também a Barbacã foi totalmente destruída pelos nazis. Mas na sua reconstrução foram usados os tijolos originais que puderam ser recuperados dos escombros, contribuindo assim para a semelhança das atuais muralhas com a obra original.

Hoje em dia a Barbacã é um dos lugares mais visitado de Varsóvia, servindo ainda como ponto de ligação entre a Cidade Velha e a sua zona mais moderna.

O centro muralhado é constituído com um conjunto de ruas com o mesmo tipo de edifícios, sempre coloridos e muito distintos.


Por entre o emaranhado de ruas existem algumas igrejas, de que falarei mais à frente, e algumas praças, como é o caso da pequena praça do Dzwon na Kanonii, que significa Sino dos Desejos, que encontramos em plena praça.

Esta relíquia, com origem no século XVII, está associada a uma lenda com um final trágico. Conta-se que dois apaixonados por uma bela donzela, filha do fabricante de sinos, depois de uma trama complexa e associada a este sino, acabariam por morrer, enquanto ela, completamente desolada, haveria de entrar para um convento.

No final desta história dramática o sino foi colocado na praça para que nunca mais fosse tocado, e diz-se que qualquer oração feita na sua direção irá direto para o céu.

Mas para além desta lenda, há ainda uma outra crença, segundo o que diz o povo, e que os guias turísticos repetem… quem fizer um pedido enquanto anda ao redor do sino, tocando depois nele no final da volta, então os seus sonhos haverão de se tornar realidade… e quem quiser acreditar, pode ensaiar uma voltinha.
Se existe um lugar que melhor reflete a história de Varsóvia, é a Praça do Mercado, que vamos encontrar no coração da Cidade Velha.

Originalmente, essa praça era um local de encontro, troca de mercadorias, julgamentos e outros eventos públicos. Ao longo dos séculos esta praça sofreu graves danos, como alguns incêndios, e acabou por ser completamente destruída pelos nazis, o que faz com que a atual praça seja ainda bastante recente, com menos de um século… como acontece com toda a cidade.

Atualmente, as casas coloridas da praça são reconstruções que replicam os edifícios existentes antes da guerra, restando apenas três construções originais.

A praça é o epicentro de Varsóvia e a sua área mais animada, onde encontramos lojas e bares, e nesta altura, em dezembro, está totalmente preenchida de mercadinhos de Natal, com vários quiosques, com venda de artesanato, quadros, comida e bebida… onde aproveitámos para experimentar o vinho quente local, que nos aqueceu a alma nas noites mais frias.

No centro da praça encontra-se a Sereia de Varsóvia, que representa o símbolo da cidade, uma estátua de uma sereia com uma espada e um escudo, que faz parte de uma lenda tão antiga quanto a origem da própria cidade de Varsóvia. Duas sereias irmãs, ansiosas por conhecer o mundo, entraram no mar Báltico vindas do Oceano Atlântico. Uma delas ficou em Copenhague, e por lá se mantém, e a outra continuou a sua jornada até chegar a Dansk, onde nadou ao longo do rio Vístula até chegar à Varsóvia. Já na cidade foi capturada por um comerciante maléfico e rico, até que um pescador polaco se apaixonou pelo seu choro e a salvou. A sereia prometeu que, como recompensa, defenderia a cidade de Varsóvia sempre que fosse necessário, com a sua espada e o seu escudo. Os habitantes da cidade uniram os nomes do pescador (War) e da sereia (Szawa) e batizaram a cidade de Warszawa… Varsóvia.

A estátua da sereia que está na Praça do Mercado não é a original, mas sim uma cópia moderna em zinco. A sereia de bronze original, criada por Konstanty Hegel em 1855, pode ser vista no Museu Histórico de Varsóvia.

Saindo agora um pouco da Cidade Velha, destaco aqui uma das mais importantes ruas da envolvente do centro histórico, Rua Krakowskie Przedmieście, que termina na Praça do Castelo, e onde encontramos vários monumentos e igrejas, as principais lojas da cidade, e alguns hotéis, com destaque para o edifício clássico do Hotel Bristol.


Destaco ainda a Praça Marszałka Józefa Piłsudskiego, uma das maiores praças da cidade, onde fica o monumento ao soldado desconhecido, qua ainda iremos visitar, e o Hotel onde ficámos, o Sofitel.


Igrejas de Varsóvia


Começando junto à cidade velha vamos encontrando várias igrejas, por se tratar de uma cidade fortemente católica. Para não tornar este texto demasiado maçudo, vou falar apenas sobre as igrejas que estão no meu arquivo fotográfico, e sem fazer grandes referências à sua história nem ao interior de cada uma delas, mesmo daquelas que visitámos, algumas delas bastante bonitas… e também não vou voltar a dizer que uma determinada igreja foi arrasada durante o período da invasão nazi, e que foi reerguida posteriormente, porque isso é algo que aconteceu com todas elas, sem exceção.

Começando no centro histórico vou-me referindo a cada igreja à medida que me surgem pelo caminho, sendo a primeira a Field Cathedral of the Polish Army, ou Catedral de Campo do Exército Polaco, que fica ainda do lado de fora das muralhas da cidade velha. Trata-se de uma igreja católica construída originalmente no século XVII, em estilo barroco, e está associada ao exército da Polónia, tal como o nome indica.
Ainda do lado de fora das muralhas, mas, deste vez, muito próximo da Barbacã de Varsóvia, fica a Igreja do Espírito Santo, que foi originalmente construída em estilo gótico e está ao lado de um antigo hospital, com origem no século XIV.

Um pouco depois, se seguirmos pelo caminho paralelo às margens do rio, surge a Igreja de São Casimiro, que tem um formato algo diferenciado, com uma cúpula esverdeada, fazendo até lembrar os templos ortodoxos, apesar de se tratar de uma igreja católica romana.
    
Continuando na direção do rio Vístula, vamos chegar a uma igreja diferente das anteriores, por ser feita em tijolo avermelhado, a Igreja da Visitação da Santíssima Virgem Maria.

Construída inicialmente no século XV, este bonito edifício feito de tijolos é formado por dois corpos, o da igreja e uma torre de vigia.
Voltando agora ao interior da cidade velha, vamos encontrar a Basílica Arquicatedral de São João Batista, com a sua fachada singular, com a cobertura em forma de triangulo.

A igreja remonta ao século XIV, o que faz dela a mais antiga igreja de Varsóvia, e é considerada uma das mais ilustres de toda a cidade. A sua importância histórica decorre da sua origem e também por ter sido o local de coroações reais e outras celebrações nacionais, e de ser atualmente reconhecida como Património Mundial, pela sua beleza arquitetónica e a sua conexão, bastante dolorosa, com alguns dos eventos mais devastadores que aconteceram durante a Segunda Guerra Mundial.
Saímos agora do centro da cidade, atravessando o rio pela Ponte Śląsko-Dąbrowski, até chegarmos à Catedral de Varsóvia, chamada de Catedral de São Miguel Arcanjo e São Floriano o Mártir.

Foi consagrada em 1901 como Catedral e é formada por um corpo central construído em tijolo, com três naves e duas torres principais. É bem maior do que todas as outras igrejas da cidade e é considerada como um modelo da arquitetura sacra polaca.

Esta igreja foi destruída por uma grande explosão acionada pelos alemães durante a sua retirada de Varsóvia. Apenas sobreviveram algumas partes do edifício e das paredes, e fragmentos das estátuas dos santos padroeiros, tendo sido miraculosamente preservada a pintura de Nossa Senhora de Częstochowa.

Depois da sua reconstrução, e já em 1992, tornou-se na recém-criada catedral da Diocese de Varsóvia, por decisão do Papa João Paulo II e, em 1997, foi elevada ao estatuto de basílica.
Ao voltarmos de novo à Praça do Castelo aproximamo-nos de mais uma igreja católica romana, a Igreja de Santa Ana.

Este templo é formado pelo edifício principal e por uma torre e, ao contrário das igrejas forradas a tijolo e com coloração avermelhada, esta surge ornamentada com elementos em pedra, o que faz com que as suas fachadas sejam em tons claros.
Esta igreja já está localizada na principal rua da cidade, a Rua Krakowskie Przedmieście, ao longo da qual vamos encontrar as restantes igrejas a que me vou referir.

Começando pela Igreja Carmelita, junto à estátua de Adam Mickiewicz, um poeta e dramaturgo polaco, seguida da chamada Igreja Católica Romana, e da Igreja da Santa Cruz, todas elas ao longo da mesma rua.

    
E só mais uma última igreja, também ela católica, localizada ainda na mesma rua, a Igreja de Santo Alexandre, projetada em estilo neoclássico e remodelada mais tarde como uma igreja neorrenascentista, com uma cúpula central e ornamentada por um conjunto de seis colunas no pórtico da sua entrada principal.
Ainda existem muitas outras igrejas ao longo da cidade de Varsóvia, mas ficam apenas as referências àquelas que visitámos durante a nossa estadia na capital polaca.


Memoriais de Guerra

A história de Varsóvia está indissociavelmente ligada à da sua comunidade judaica. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, a capital era habitada por mais de 350 ​​mil judeus, representando um terço da população total da cidade. Em outubro de 1940, os muros de três metros de altura do gueto dividiram a capital, num ato determinado pela política antissemita do Terceiro Reich.

Ao longo da cidade vamos encontrando diversos locais onde se assinalam várias homenagens aos protagonistas dos eventos mais dolorosos que foram vividos durante a guerra.


Memoriais do Muro do Gueto de Varsóvia

São os diversos vestígios desses muros e as lápides que ali foram colocadas depois da guerra, que formam um conjunto de monumentos notáveis que assinalam a barbárie que ali foi vivida, e que melhor retratam esta página negra da cidade de Varsóvia.

Os fragmentos de muro que se encontram por vários locais da cidade, num conjunto de 22 placas indicativas que relembram os limites do gueto, nos distritos de Wola e Śródmieście, constituem os Memoriais do Muro do Gueto de Varsóvia.

Estes pedaços originais do muro que separou a população judia do resto da cidade de Varsóvia, naquele que foi o maior gueto de judeus criado pelos nazis em todas as cidades invadidas, e as placas que recordam o que ali se passou, são um importante testemunho, que nos arrepia e nos faz sentir incomodados, só de imaginar o que ali aconteceu... ainda assim, e para que a memória perdure e não nos deixe cair em esquecimento, devemo-nos sujeitar a essa sensação de desconforto.



Monumento aos Heróis de Varsóvia

Trata-se de uma estátua que é também chamada de monumento Nike, pela semelhança da figura representada com a imagem da deusa grega da vitória, conhecida pelo nome de Nike, que deu origem à famosa marca de artigos desportivos.

Esta estátua representa todos aqueles que morreram na cidade durante a segunda guerra, entre 1939 e 1945, incluindo os participantes da defesa de Varsóvia em setembro de 1939, os participantes da Revolta do Gueto de Varsóvia e todas as vítimas do terror alemão na capital ocupada.

No alto de um pedestal de granito representa-se a escultura de uma mulher inclinada, com uma espada na mão direita erguida acima da cabeça, numa alusão à capacidade de resistência do povo polaco ao ser invadido e humilhado.


Monumento aos Heróis do Levante do Gueto

Este monumento é um símbolo comovente de resistência e lembrança, que foi erguido em 1948, e homenageia a bravura e a resiliência dos combatentes judeus durante o Levante do Gueto de Varsóvia de 1943.

A sua construção utilizou granito sueco que, originalmente, era destinado a um monumento nazi, já programado, e que aqui forma um imenso bloco, com uma caixa ao centro de onde saem as imagens esculpidas em bronze dos heróis que protagonizaram esta rebelião contra os nazis.

O monumento, que fica localizado junto ao Museu Polin, onde se representa a história dos judeus polacos, não é apenas um tributo àqueles que lutaram naquele dia de insurreição, mas também uma memória pungente sobre o destino trágico dos habitantes do gueto durante todo o período da ocupação alemã.


Túmulo do Soldado Desconhecido

No imenso jardim de Saxon Garden, no centro da capital polaca, fica um pequeno mausoléu com três arcos centrais, que assinala a morte de heróis sem nome que lutaram pela independência polaca, ao longo de toda a sua história.

O monumento foi erguido inicialmente em 1925, e é uma forma de homenagem aos soldados não identificados que morreram na defesa de sua pátria.

Durante a ocupação nazi este monumento foi abandonado, e a chama que ali ardia foi apagada. Mas depois do fim da guerra, em maio de 1946, a chama eterna foi novamente acesa e foram colocadas no seu interior do pequeno mausoléu, várias urnas com o solo recolhido de 24 campos de batalha, e foi assim reaberto o Túmulo do Soldado Desconhecido.

A troca cerimonial da guarda e a colocação de coroas de flores por representantes das autoridades, acontecem aqui durante os feriados nacionais, mas a Guarda de Honra ao túmulo funciona 24 horas por dia e é realizada por soldados do exército polaco.



Monumento à Revolta de Varsóvia

Este monumento representa e homenageia os heróis da Insurreição do Gueto de Varsóvia, a revolta da população judaica juntamente com o Exército da Pátria durante a ocupação alemã.

Durante esta batalha morreram cerca de 20 mil revoltosos e mais de 180 mil civis e, com a derrota esperada desta rebelião, os alemães expulsaram os habitantes que sobreviveram e iniciaram a planeada demolição e incêndio de toda a cidade de Varsóvia.

O monumento foi inaugurado em 1989 e é formado por uma escultura de bronze que retrata um grupo de lutadores em combate, sob as ruínas de um prédio em colapso.
Uma estrutura menor mostra alguns revoltosos entrando numa caixa de esgoto, sabendo-se que o sistema de esgotos foi usado, para acesso e fuga, durante esta revolta.

Termino com esta imagem que relembra um dos últimos momentos do martírio dos habitantes de Varsóvia, principalmente do povo judeu, numa altura em que já poucos sobreviviam neste inferno que os alemães ali criaram. Para agravar ainda mais a existência de um povo completamente destroçado, as tropas nazis iriam ainda destruir e queimar tudo o que ainda restava, deixando a cidade totalmente arrasada.

A Varsóvia moderna que hoje encontramos, e que recupera a sua identidade original, foi o resultado de um esforço colossal de reconstrução de uma cidade em escombros, de todo um povo, mas também dos sucessivos governos, que, naquela altura, eram fortemente suportados pelo bloco soviético, e esse mérito não pode deixar de ser assinalado.

Ao percorrermos as ruas de Varsóvia e ao apreciarmos os seus monumentos e igrejas, e a arquitetura pitoresca que se encontra por todo o lado, e principalmente na Cidade Velha, não deveríamos deixar de refletir, olhando para esta cidade como um imenso memorial ao sofrimento dos seus habitantes e ao esforço necessário para se reerguerem das cinzas, recriando a bonita cidade que hoje encontramos… e com essa reflexão profunda, é impossível não nos deixarmos emocionar.


Dezembro de 2009
Carlos Prestes