segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Zaragoza

Como na maior parte das cidades, a melhor forma de descobrirmos os edifícios e praças monumentais de Zaragoza é passearmos através das suas ruas. Vamos descobrindo toda a riqueza dos muitos séculos da sua história, revelando igrejas, basílicas, palácios e casas senhoriais, ao longo de praças e ruas amplas ou das ruelas mais estreitas, do centro histórico e do casco velho. Vamos encontrando reflexos da passagem de várias civilizações que ocuparam a capital de Aragão, romanos, muçulmanos, judeus e cristãos, todos deixaram um legado cultural que pode ainda ser admirado nesta cidade.

Depois de uma breve paragem no hotel para deixar as bagagens, estacionámos o carro um pouco antes do centro, num parque público pago, e bem pago, na zona do Paseo de la Independencia, próximo do maior El Corte Inglês da cidade. Saímos a pé devidamente preparados para enfrentar um dia que se adivinhava chuvoso, e iniciámos um percurso ao longo do centro histórico palmilhando as ruas e praças onde se vão dispondo os vários monumentos e igrejas da cidade.
O Paseo de la Independencia é uma das principais alamedas da cidade, entre a Plaza Paraíso Basílio, e a Plaza España, passando ainda pela Plaza de Aragon. É composta por alguns dos edifícios mais chiques da cidade, onde ficam também as melhores lojas, sobretudo na zona mais próxima da Plaza España, onde os edifícios vão formando arcadas, ocupadas por lojas de qualidade mais elevada.

A Plaza España, com o monumento aos mártires bem ao centro, fica junto à Calle del Coso que limita o início do casco velho da cidade.
E foi por aí que entrámos, entre as ruas mais clássicas do centro histórico e as ruelas mais pitorescas do bairro El Tubo, seguindo de forma mais ou menos aleatória, sabendo contudo quais os locais de maior interesse onde queríamos fazer algumas paragens.

Começámos pelo Museo del Teatro de Caesaraugusta, um anfiteatro romano localizado bem no centro da cidade. O Museu Cesaraugusta é o espaço onde se expõem algumas ruínas do antigo teatro romano, cujos vestígios foram descobertos em 1972 durante as escavações de uma obra de construção. As ruínas correspondem a um anfiteatro do século primeiro d.C., ocupando uma superfície de 7.000m2, que estava preparado para 6.000 espectadores, sendo considerado como um dos maiores anfiteatros da Hispânia romana.

Atualmente encontra-se limitado por uma vedação em grade metálica, que o torna totalmente visível das ruas que o envolvem, e está protegido em toda a sua área por uma cobertura com estrutura metálica revestida a poli-carbonato translúcido, o que permite a entrada da luz natural.
Depois de vários anos de restauração e de um grande investimento, o museu abriu ao público em 2003, podendo ser visitados os vários vestígios arqueológicos encontrados, para além de maquetas que reproduzem o que terá sido aquele complexo. No anfiteatro são também realizados diversos tipos de espetáculos.
Saímos da zona das ruínas romanas, sempre no casco velho da cidade e dirigimo-nos para as margens do rio Ebro. A ideia era atravessar o rio para depois nos aproximarmos da zona histórica mais monumental, a partir da margem oposta, para podermos contemplar as melhores paisagens dessa zona da cidade. Assim, atravessámos a Puente del Pilar com umas belas paisagens, tornando o passeio bastante interessante, com vista para a Puente de Piedra por onde o rio corre veloz, e atrás sobressaem as silhuetas da Basílica da Nuestra Señora del Pilar e da Catedral del Salvador de Zaragoza.
Voltámos então a atravessar o rio na direção do centro histórico, desta vez sobre a Puente de Piedra, que nos dá o ângulo de observação perfeito para apreciarmos os detalhes arquitetónicos do edifício da Basílica.
A Puente de Piedra é uma ponte monumental construída sobre o rio Ebro no século XV, que é atualmente utilizada apenas para passagem de peões. A história da ponte é bastante rica, mas quase tudo o que ali foi vivido se mantém incógnito a quem por lá passa, à exceção da Cruz Basilio, junto à qual se regista a seguinte inscrição, que relata factos que ali terão acontecido: "Aqui foram vilmente assassinados R. P. Boggiero e padre Basílio Santiago Sas - Aqui, caiu mortalmente ferido o Barão de Warsage - Honra aos heróis e glória aos mártires". Esta inscrição refere-se a factos do início do século XIX durante a guerra da independência espanhola, após as invasões francesas da península.
Depois de atingirmos a margem esquerda do Erbo, entrámos na Plaza del Pilar, um dos locais mais interessantes e movimentados da zona histórica de Zaragoza. É nesta praça que se encontra a maior concentração de monumentos de toda a cidade, desde logo a Basílica del Pilar, mas também outros edifícios importantes, como o edifício La Lonja, a Catedral de Salvador, as esculturas dedicadas a Goya e a Fuente de la Hispanidad.

Começámos pela zona da Catedral del Salvador, do lado Sul da praça, construída no local da antiga Saraqusta, a maior mesquita, cujo minarete ainda permanece como marca na torre atual. Na envolvente ficam as esculturas dedicadas a Francisco Goya. A coleção foi criada pelo escultor catalão Frederic Mares e inclui um prestigiado Goya segurando um livro e uma caneta, e duas mulheres e dois cavalheiros, no melhor estilo do século XVII.
Junto às estátuas dedicadas a Goya fica a La Lonja, um edifício de estilo renascentista, construído na primeira metade do século XVI, e que é hoje a sala de exposições da Câmara Municipal da cidade.
Dominando a maior parte da praça del Pilar localiza-se a imponente Basílica de Nuestra Señora del Pilar. Construída entre os séculos XVII e XVIII, a Igreja católica da Virgem del Pilar é uma jóia da arte barroca e um dos mais importantes destinos espirituais em Espanha, só superado pela Catedral de Santiago de Compostela.
Visitámos o interior com vários espaços de culto onde surgem algumas preciosidades da arte sacra, destacando-se a extraordinária Santa Capilla, que abriga a imagem da Virgen del Pilar.
Do lado Norte da praça, em frente à igreja de San Juan de los Panetes, fica a Fuente de la Hispanidad, uma escultura com a forma do mapa da América Latina, que é também uma fonte de grandes dimensões, onde se forma uma queda de água que cai sobre um espelho de água com a forma América do Sul e Terra de Fogo.
Saindo da praça Del Pilar pelo lado Norte encontramos as Murallas Romanas, que se dispõem ao longo da Plaza César Augusto.
Ainda na Plaza César Augusto e junto ao monumento dedicado àquele imperador romano, localiza-se o Mercado Central de Zaragoza. Trata-se de um edifício construído numa estrutura de ferro com um design funcional e harmonioso. Foi projetado em 1895 pelo arquiteto aragonês Félix Navarro Pérez para substituir o mercado tradicional feito ao ar livre na Praça do Mercado Velho. É um monumento histórico nacional e considerado de Interesse Cultural.
Depois de sairmos dessa concentração de monumentos que é a praça Del Pilar e a sua envolvente, continuámos a percorrer as ruas da zona histórica da cidade, algumas com bastante comércio, o que atrai sempre muitas pessoas, mas apenas quando as lojas reabrem após as intermináveis horas de almoço, quer sejam ou não aproveitadas para a tradicional siesta. É o caso da Calle de Alfonso I, que é quase um centro comercial de rua e que se encontrava praticamente deserto, embora algumas horas mais tarde já se apresentasse apinhada de gente que entrava e saía das lojas ou passava apenas pela rua, nessa altura já cheia de animação.
Em plena Calle de Alfonso I fica o Gran Café de Zaragoza, onde aproveitámos para nos aquecer com chocolate caliente e churros, que ajudaram a quebrar o gelo de uma tarde chuvosa e cinzenta. O Gran Café foi uma antiga loja de jóias convertido num café de charme a partir do final do século XIX. Atualmente mantém ainda a maior parte da sua decoração original e é assinalado como um dos polos turísticos da cidade e é por isso bastante frequentado.
Por entre as ruas da zona histórica vão-se enleando as ruelas estreitas do casco velho que formam o típico Barrio El Tubo. É a zona da cidade mais popular e animada durante a noite para umas tapas e umas cañas. O El Tubo tem um charme especial e é famoso como um dos melhores locais de Espanha para se tapear, com as suas ruas estreitas cheias de bares, que se vão estendendo para o exterior, ocupando o empedrado das ruas, onde se juntam os clientes que vão chegando ao longo da noite.

Escolhemos um dos muitos bares que ofereciam uma barra de tapas bem diversa, mas não pudemos deixar de provar também uma das especialidades aragonesas que mais apreciamos, o chuleton de boi, que aqui acompanhámos com um tinto, também da região de Aragão, onde se produzem alguns dos melhores vinhos espanhóis.
Depois de um jantar bem calórico, como se pedia numa noite fria como aquela, fizemos ainda uma nova caminhada pelo centro histórico para apreciarmos todos aqueles monumentos, agora devidamente iluminados, começando pela Calle de Alfonso I, chegando depois até à Plaza del Pilar e à Puente de Piedra.



Na manhã do dia seguinte quisemos ainda visitar o local da Expo 2008, mas encontrámos apenas alguns edifícios e pontes de aspeto futurista, numa zona que parecia meio abandonada, como aliás aconteceu com a Isla Cartuja após a Expo 92 de Sevilha.

Neste aspeto a nossa Expo 98 foi um exemplo, pouco tempo depois da exposição fechar portas e já ali nascia um dos bairros mais interessantes da cidade de Lisboa, o que nos faz pensar que também sabemos planificar, às vezes só falta vontade.

Depois de uma hora de visita ao “cemitério” da Expo 2008, fizemos o longo percurso até casa, que é sempre a parte mais dolorosa destas viagens à neve. E assim acabámos uma semana de férias de neve, com um ski fabuloso, complementada pela visita a cidades, por onde temos passado tantas vezes sem nunca lá ter entrado.

Carlos Prestes
Fevereiro de 2016


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