Esta é a primeira viagem em que vou ter a oportunidade de relatar, em tempo real, a experiência que vamos vivendo, usando um livro de notas onde vou apontando as principais informações e registando as sensações mais marcantes ao longo de todo o percurso. Tudo começou na madrugada do dia 28 de junho de 2015, quando eu, a Ana e as minhas filhas mais novas, Beatriz e Marta, apanhámos um avião da KLM com destino ao aeroporto de Schiphol em Amsterdão.
Já em plenos Países Baixos alugámos um carro e saímos, estrada fora, à descoberta do chamado Benelux, uma abreviatura para a zona da Europa que integra a Bélgica, os Netherlands e o Luxemburgo. Programámos começar pelo litoral holandês, fazendo algumas paragens, ainda nas proximidades do aeroporto, seguindo depois para Sul até entrarmos na Bélgica.
Madurodam
Como aterrámos bastante cedo, levantámos o carro alugado e, antes das 10h da manhã, estávamos já a caminho de Haia, ou Den Haag, em holandês, a capital administrativa da Holanda (atualmente Países Baixos), e fizemos a primeira paragem para visitar o parque Madurodam.
O Madurodam foi construído em 1952 com dinheiro doado pela família Maduro em homenagem ao seu filho George Maduro, que tinha morrido em combate durante a ocupação nazi.
Trata-se de um parque localizado perto de Haia, onde se representa em miniatura uma parte das cidades e da paisagem campestre da Holanda. Concebido num modelo a uma escala de 1:25 com uma perfeição impressionante, o Madurodam é composto por alguns dos principais marcos da arquitetura holandesa, as casas típicas e os moinhos ao longo dos canais, o Palácio Real na praça de Dam, o Rijksmuseum, a torre da catedral de Utrecht, alguns dos portos e principais obras hidráulicas do país e o aeroporto de Schiphol, entre outros símbolos do país. Tudo isto se encontra representado com os mais ínfimos pormenores e a fazer lembrar uma cidade real, com os moinhos, os barcos, os carros e comboios, tudo em movimento.
Scheveningen
Depois da visita ao parque de Madurodam demos um salto à praia vizinha de Scheveningen, onde fomos almoçar. Uma marginal imensa com um calçadão pedonal ladeado por restaurantes e, bem a meio, o imponente Hotel Kurhaus, com uma linha arquitetónica clássica a fazer lembrar os hotéis monumentais de outras épocas.
A praia até pode ser interessante, mas só para os holandeses, e num dia de céu cinzento como este, nada daquilo nos encantou. Aliás, nós, os portugueses, não nos deslumbramos facilmente com zonas de praia, porque vivemos à beira de uma das costas mais fantásticas da Europa, por isso, e como já se esperava, foi apenas uma breve paragem para o almoço sem quaisquer surpresas.
Kinderdijk
Mas, como estávamos na Holanda, quisemos procurar pelas paisagens holandesas mais típicas. Assim, seguimos na direção da cidade de Haia, que atravessámos, e continuámos depois até Roterdão, outra cidade holandesa de referência. A pouco mais de 20 km de Roterdão entrámos na zona rural de Kinderdijk, onde encontramos uma paisagem típica dos Países Baixos, com as imagens bucólicas dos canais com os seus moinhos.
Na verdade, quando imaginamos a Holanda como um país cheio de moinhos por toda parte, estamos completamente enganados, não é nada disso que vamos encontrar... mas, particularmente em Kinderdijk essa imagem torna-se realidade. Aliás, Kinderdijk é mesmo mundialmente conhecida por ser o local com a maior concentração de moinhos em toda a Holanda, o que lhe valeu o título de Património Mundial da UNESCO, juntando um conjunto de 19 moinhos de vento, construídos no século XVIII.
Há um museu e um moinho aberto para visita por um preço de 7,50€ (adultos) mas nós preferimos apenas passear entre os moinhos e fazer um percurso de barco nos canais, por 5€ os adultos e 3€ as crianças.
O ambiente é bucólico, as paisagens são encantadoras, autênticos cartões-postal de uma Holanda imaginada.
A última grande cheia registada nesta região é uma história de encantar, que está na origem do próprio nome do local e da aldeia vizinha. Segundo a lenda, em 1421, durante a maior das cheias de que havia memória, o berço de uma criança foi mantido em equilíbrio por um gato até à encosta de um dique, tendo assim sido salva. E foi assim que este local foi batizado como kinderdijk (kinder significa criança e dijk significa dique).
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Bruges
Acordámos em Bruges, a bonita cidade belga que é capital da Flandres Ocidental, onde se fala a língua flamenga, e que é marcada pela presença de igrejas e dos seus carrilhões e pode ser associada a imagens saídas de contos de fadas.
Bruges chega a ser chamada a "Veneza do Norte", por causa dos seus canais que a cercam e a atravessam... mas estes chavões em nada engrandecem ou diminuem, uma cidade que vale por si só, pelas suas paisagens e pela sua personalidade, e não precisa de comparações com quaisquer outras cidades.
À chegada a Bruges estávamos à espera de uma terra de sonhos e cheia de imagens de encantar. Mas talvez não tenha sido exatamente assim que a cidade se revelou. Não quer dizer que não achámos a cidade bonita, por que é efetivamente muito bonita, é só que, quando a expetativa é muito alta, a realidade nem sempre consegue lá chegar.
Mas, e repito, Bruges não deixa de ser uma cidade bem bonita, com uma arquitetura que nos situa nas terras de príncipes e princesas e com recantos de uma beleza sublime, que nos fazem apetecer ficar demoradamente naquelas ruas e praças, desfrutando do encanto que se vai descobrindo. Mas uma expetativa muito alta e o facto da cidade se encontrar repleta de turistas, não nos permitiu captar a plenitude dos seus encantos e ficámos com um ligeiro sabor a desilusão.
Assim, a quem decida visitar a cidade de Bruges, deixo apenas o conselho de moderar as expetativas, sabendo contudo que vai encontrar uma cidade com uma arquitetura bonita, cheia de igrejas, com recantos românticos e bucólicos, sobretudo nas margens dos canais, mas que não será fácil apreciar toda essa envolvente sem a presença constante de umas centenas de outros turistas com os mesmos objetivos.
Aqui encontrámos mesmo excursões de jovens onde todos usavam coletes refletores, transformando-os em autênticas manchas andantes, amarelas ou laranjas florescentes, que borravam a paisagem, supostamente medieval.
Mas, assumindo a cidade como ela é, não é difícil percorrer as ruas que nos levam às principais praças e aos monumentos mais relevantes e nos permitem encontrar as mais bonitas margens dos canais, e mesmo que não se goste muito de andar a pé, não são necessárias caminhadas muito exigentes.
O percurso que escolhemos levou-nos aos principais pontos de interesse, começando pela Igreja Nossa Sra. Mariastraat e pelos canais nas proximidades.
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A praça central, o Markt, é o coração de Bruges e ainda preserva boa parte de seu traçado original. Em tempos este local era chamado de fórum, tendo sido palco de muitos episódios da história da Flandres, desde batalhas a festas populares.
Cada lado da praça é ocupado por edifícios de diferentes estilos e diferentes épocas. De um lado o grandioso Palácio Provincial e o antigo correio ocupam as edificações neogóticas. Num dos topos dispõem-se em sequência um conjunto de casas coloridas de quatro andares, muito bem conservadas, que parecem quase casas de brinquedo, atualmente ocupadas por esplanadas de cafés e restaurantes.
Ao centro da praça fica a estátua de Jan Breidel e Piet de Konink, feita em 1887, em bronze e pedra, para homenagear o triunfo dos belgas numa batalha contra o rei da França, na revolução de 1302.
O Campanário de Bruges foi feito em etapas. Inicialmente, no século XIV, foram construídos o campanário e o corpo do prédio. Alguns anos depois, foi construído um terceiro trecho da torre, com secção octogonal (enquanto o corpo mais antigo é quadrado), levando-a até aos 80 m de altura. Assim a torre podia ser usada como observatório que servia, por exemplo, para evitar a propagação de algum incêndio, o que era bastante comum naquela época.
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A Ana e a Martinha optaram por ficar a disfrutar de um gofre magnífico, numa daquelas esplanadas nas casinhas coloridas que se observavam lá do alto... mas logo nos juntaríamos a elas, também merecíamos o nosso gofre.
Depois de deambularmos pelas ruas envolventes à praça central, o Markt, e experimentarmos algumas das iguarias mais típicas, como os gofres, e até comprarmos uns souvenires, seguimos pela principal rua de comércio, a Steenstraat, passando pela Simon Stevinplein, uma praça cheia de esplanadas, totalmente repletas, neste dia de sol e calor, até chegarmos à catedral de Sint-Salvators.
No regresso até à ponte de saída do centro da cidade, para voltarmos ao hotel, passámos ainda pelo principal jardim da cidade, o Minnewaterpark, mais um recanto bucólico desta cidade belíssima.
Mas há ainda uma outra hipótese de explorarmos esta cidade, que será fazermos um passeio de barco nos canais, aumentando a proximidade, e também a nossa entrega, nesta procura da face mais profunda da cidade... embora os canais, ao contrário do que acontece, por exemplo, em Amesterdão, não atravessem os principais pontos de interesse, cercando apenas o centro da cidade velha, mas, ainda assim, vão-nos dando uma perspetiva interessante daquilo que teria sido esta cidade medieval durante os séculos da sua existência.
Uma outra opção seria fazer um passeio de charrete o que me pareceu uma alternativa interessante, pelo menos para os mais preguiçosos (embora não tenha sequer sabido os preços, que não devem ser baixos, porque ali tudo é caríssimo). No entanto, esta proliferação de charretes pelas ruas do centro histórico provoca um efeito secundário bastante nefasto, com o cheiro a bosta de cavalo que domina a cidade, em vez daquilo que estaríamos à espera... que seria a mistura dos aromas vindos das casas de gofres e das chocolatarias.
Tivemos ainda a oportunidade de jantar numa das praças preenchidas por mesas e cadeiras das muitas esplanadas que a cidade oferece, e pudemos experimentar um dos pratos mais característicos da cozinha belga, os mules, ou mexilhões, que aqui se cozinham ao natural ou com vários tipos de molhos. O prato é bastante agradável e vale a pena experimentar pelo menos uma vez, embora os preços, como quase tudo nesta cidade, sejam proibitivos. Temíamos que viesse a ser assim em toda a Bélgica e até em toda a viagem mas, na realidade, Bruges foi mesmo a cidade mais cara que encontrámos.
Em jeito de balanço, referia atrás que houve uma pequena dose de desilusão, mas isso não quer dizer que Bruges seja uma cidade desinteressante, nada disso, e se dei essa ideia fui enganador. Foi só o problema de expectativas demasiado elevadas, porque, na realidade, Bruges foi mesmo um dos destinos mais interessantes de toda esta viagem e, claramente, uma das cidades mais bonitas da Bélgica.
Raramente faço referência aos hotéis onde ficamos porque raramente esses hotéis têm importância relevante na viagem. Mas em Bruges o hotel foi uma agradável surpresa. Situado fora dos limites da cidade velha, que são materializados pelo canal principal, mas apenas a escassas centenas de metros, oferece facilidades de estacionamento, o que se torna impossível nos vários hotéis do centro. O hotel, o Bed&Breakfast Filemon&Baucis é um espaço extremamente acolhedor, numa casa antiga totalmente recuperada com muito bom gosto e com uma decoração de estilo romântico, cheia de peças de grande requinte, tornando os quartos e os espaços comuns muito bem decorados e bastante aprazíveis. A dona do hotel foi uma simpatia e, para completar, o pequeno-almoço foi divinal, o que não é nada habitual por estas paragens. Por isso, recomendo vivamente este hotel pelo deixo aqui o link para acesso à respetiva página de Facebook (apesar de não ter qualquer interesse direto ou indireto):
Gent
Saindo de Bruges a caminho de Bruxelas, encontramos Gent a escassos 40 km. A cidade de Gent, que é também chamada pelo nome de Gante, é mais uma belíssima cidade da parte flamenga da Bélgica,.
A cidade é fantástica, com catedrais e igrejas monumentais, e até um castelo, todas muito próximas umas das outras, num centro histórico banhado por um canal que faz com que esta cidade seja muito peculiar, diferente de qualquer outra cidade, na Bélgica como na Europa.
E essa é uma característica bastante relevante. Na verdade, há uma tendência para que as cidades, em determinadas zonas e, neste caso, no centro da Europa, sejam muito semelhantes. Os centros históricos quase não se distinguem entre si, a menos de pequenos detalhes que resultam, por vezes, de algum monumento que se diferencie do comum. Existem depois as cidades mais do norte, como as holandesas, que são atravessadas por canais e apresentam, também elas, semelhanças entre si. É esse o caso da cidade de Bruges que podia ser uma cidade holandesa. Mas Gent é diferente de todas essas cidades, tem uma personalidade própria e isso constitui, desde logo, um grande atrativo para os visitantes.
Gent é a capital da província de Flandres Oriental e chegou a ser uma das cidades mais ricas e prósperas do Norte da Europa. Hoje é a terceira maior cidade da Bélgica e tem pouco mais de 200 mil habitantes. Não é uma cidade muito grande, mas o seu esplendor arquitetónico mantém-se bem preservado. Além disso, é uma cidade bem animada por ser uma das cidades universitárias belgas, é muito frequentada por jovens, é alegre e movimentada, servindo de palco a festivais de música e cinema.
O centro histórico não é muito grande e pode-se perfeitamente caminhar passando pelos principais pontos de interesse. Foi isso que fizemos, caminhámos pelas principais ruas e praças, deambulando por entre monumentos e casas que parecem ter saído dos contos de fadas. O percurso passa obrigatoriamente por alguns dos principais monumentos.
Começámos junto ao canal e à rua pedonal, ambos com o nome de Kraanlei, em direção à praça Vrijdagmarkt. A praça fica em torno da estátua de Jacob van Artevelde, um antigo líder da cidade. A maior parte dos edifícios remontam ao século XVIII, mas já desde o século XII que a praça serve de palco a um mercado semanal. Logo à saída da Vrijdagmarkt surge a imponente igreja de Sint-Jacobskerk.
Seguimos depois atravessando uma das principais ruas de comércio, a Hoogpoort, em direção à Pensmarkt e à praça seguinte, a Korenmarkt. Cheia de esplanadas e com centenas pessoas na rua é aqui que o centro desta cidade palpita.
Do outro lado da praça fica o Post Plaza, a antiga sede dos correios, um imponente edifício em estilo neogótico, atualmente em obras para se tornar num shopping grandioso.
Chegados à rua Sint-Michielspleis é possível observar o alinhamento das três principais torres da cidade de Gent, razão pela qual lhe é dado o nome da "cidade das três torres".
A primeira das três torres é a da Igreja de St. Nicholas (Sint Niklaaskerk), construída no século XIII em estilo gótico, dedicada ao padroeiro dos mercadores.
A torre seguinte é a do campanário (Belford) de Gent, que teve a sua origem do século XIV. O campanário foi construído para servir como torre de vigia, alarme e relógio e é um ponto de referência na cidade com os seus 90 m de altura.
No final da rua surge a praça de St. Bavo, em torno da qual terá nascido a cidade e é por isso considerada como o coração de Gent. É aí que fica a terceira torre, na Catedral de St. Bavo (Sint Baafskathedraal), em estilo gótico, feita ao longo de vários séculos, entre o Séc. X e o Séc. XVI.
Regressando no sentido oposto desde a Catedral de St. Bavo até ao canal que atravessa o centro histórico, chega-se à ponte de St. Michael.
Esta é uma das zonas mais encantadoras da cidade, parece um porto medieval com uma paisagem lindíssima, com a imagem das casas junto às águas calmas do canal, que já serviu como principal ponto de comércio para os mercadores europeus.
Foi nesta zona que nos demorámos mais tempo, e foi junto a essas margens do canal que escolhemos uma das muitas chocolatarias, a Chocolaterie Cédric Van Hoorebeke, onde comprámos algumas obras de arte da chocolataria belga.
Os belgas orgulham-se de produzir alguns dos melhores chocolates do mundo. Normalmente são pequenos bombons com recheios delicados e coberturas do mais fino chocolate. As lojas de chocolate são também, elas próprias, dignas de uma visita, pelo modo como expõem os bombons em vitrinas de forma quase preciosa, como se fossem joias e estivéssemos numa ourivesaria.
Talvez não seja um hábito gastronómico belga mas está mesmo a pedir que se juntem estas duas especialidades locais, acompanhando chocolates com cerveja... para mim faz todo o sentido e é delicioso.
Continuando ao longo do canal chegámos ao castelo de Gravensteen, uma fortaleza medieval que, inesperadamente, surge em pleno centro histórico da cidade.
Terminámos a visita à cidade em cerca de quatro horas, percorrendo os trilhos assinalados neste mapa e visitando os principais pontos de interesse do centro histórico.
Numa época de dias grandes, sobretudo nesta zona Norte da Europa, em que o sol se põe para lá das 10 da noite, permite-nos esticar os dias até nos levar quase à exaustão. Neste dia não será diferente e partimos para Bruxelas onde iríamos ficar duas noites e passar ainda o final deste dia. A viagem era de apenas 50 km de autoestrada mas que se revelaram difíceis de percorrer.
Faço agora uma referência à rede de estradas que encontramos ao longo deste país, que é um ponto importante para quem viaja de carro. Foi na Bélgica que foram criadas as autoestradas tal como as conhecemos, com os sentidos do tráfego separados. Inclusive, na Bélgica, todas as autoestradas são totalmente iluminadas, e não apenas nos nós de ligação, como acontece em Portugal e na maioria dos outros países (o que não fez diferença nenhuma, porque só fazia noite quase às 23 h). Mas, o melhor é que não se paga qualquer portagem ao longo das muitas centenas de quilómetros de autoestradas belgas. Porém, como não há bela sem senão e, não havendo concessionárias de autoestradas, não há também obrigação em garantir que o tráfego se mantenha com o mínimo de perturbações, o que faz com que as obras de reparação decorram durante as horas do dia e mesmo nas horas de ponta, impondo estrangulamentos por cada local de interrupção... e são muitos. Ora, o resultado é que estamos sempre sujeitos a filas enormes, como foi o caso deste percurso entre Gent e Bruxelas, em que demorámos 1h30m para percorrer apenas 50 km. E uns dias depois, já a caminho de Luxemburgo, voltámos a passar pelo mesmo inferno.
Bruxelas
Chegados a Bruxelas tivemos ainda uma receção semelhante no que se refere ao trânsito. A Av. Anspachlaan, onde ficava o nosso hotel e que é uma das principais artérias de acesso ao centro histórico da cidade, depois de toda uma vida comportando automóveis, foi cortada ao trânsito tendo passado a ser definitivamente uma rua pedonal, tal como outras ruas de ligação a esta avenida principal. E esta alteração, que provocou o caos na circulação automóvel na cidade, tinha que acontecer exatamente no dia em que lá íamos chegar. Assim, o GPS mandava-nos por uma rua e os polícias indicavam-nos outros caminhos. Um autêntico pandemónio com os túneis que cruzam toda a cidade e distribuem depois o tráfego pelas várias saídas para o centro, a ficarem totalmente entupidos. Conclusão, passámos uma hora dentro de um túnel para fazer apenas 6 km. Mais do que um conselho para futuros viajantes, esta referência é só um desabafo... tantas vezes dizemos, a respeito de Portugal, que só neste país é que estas coisas acontecem mas, afinal, acontecem coisas bem piores em países ditos civilizados.
A primeira noite na cidade acabou por ser bem agradável naquele conjunto de ruas que se tornaram pedonais naquele mesmo dia, o que levou centenas de pessoas a sair àquela hora e a permanecerem em pleno asfalto, usando skates ou bicicletas, ou ficando apenas sentados em grupos, bebendo e fumando…provavelmente algumas substâncias menos lícitas.
Mas, a verdade é que, naquela noite, Bruxelas estava uma cidade espantosa, cheia de vida na rua, naquele que foi o primeiro dia de uma cidade nova que ali tinha acabado de nascer.
Para o dia seguinte tínhamos planeado fazer uma caminhada passando pelos principais pontos de interesse da cidade, seguindo mais ou menos os pontos representados neste mapa:
Apesar do centro principal da cidade ser a Grand Place, para onde convergem todos os caminhos, acabámos por fazer um percurso ao longo das atrações mais periféricas, localizadas na envolvente, de forma a acabar depois o dia mais perto do centro histórico.
Fizemos um percurso passando por alguns dos locais mais interessantes, tendo começado pela Catedral de St. Michael, uma igreja católica romana do Séc. XVI localizada no monte Treurenberg.
Seguimos depois pela Place Royal, uma praça construída no local do antigo mercado da cidade, junto ao palácio de Coudenberg. O palácio sofreu um grande incêndio em 1731, tendo destruído grande parte dos edifícios daquele complexo. A praça foi entretanto reconstruída até 1780, com novos edifícios e monumentos, em que o palácio original foi reconstruído e é utilizado atualmente a Igreja Saint Jacques-sur-Coudenberg.
Ainda nesta mesma praça encontramos os Musées Royaux des Beaux-Arts de Belgique e, localizado bem ao centro, está a estátua equestre de Godfrey of Bouillon, um dos líderes da primeira Cruzada no século XI.
Continuámos pela Rue de La Régence e passámos até à Église Notre-Dame du Sablon, om bonita catedral, e chegámos depois à Place Poelaert, onde se destaca o imponente edifício do Palais de Justice.
É o edifício do tribunal mais importante na Bélgica e um dos maiores tribunais do mundo. Foi construído entre 1866 e 1883, em estilo eclético pelo arquiteto Joseph Poelaert, que dá o seu nome à praça. O palácio terá sido o maior edifício construído no século XIX e constitui um marco notável de Bruxelas.
No percurso seguinte fomos entrando gradualmente no centro histórico e fizemos uma paragem na junto à pequena estátua, quase ridícula de tão pequena, mas que tem o peso de ser o principal ex-líbris desta cidade, o Manneken Pis.
Trata-se de uma fonte constituída por uma pequena estátua em bronze de um menino a urinar. As fotografias de primeiro plano tiradas à estátua, que surgem em postais ou folhetos turísticos, dão uma sensação errada da sua verdadeira estatura, parecendo muito maior do que é na realidade, uma vez que a estátua apresenta a dimensão real de um bebé... o que deixa os turistas desapontados.
Entrámos depois no centro da cidade, a caminho da Grand Place, através da Rue de l'Etuve, onde as lojas de souvenires para turistas se misturam com as montras decoradas por gofres com as mais variadas e coloridas coberturas, dispostos de forma apelativa para fazer babar quem vai passando e que acaba quase sempre por ceder à tentação, como aconteceu connosco.
A Grand Place é o centro geográfico, histórico e comercial de Bruxelas e o local mais visitado por todos os turistas. Uma praça empedrada, sempre movimentada, onde se mantém em funcionamento o centro político da cidade, passados séculos da sua criação. Trata-se do melhor exemplo da arquitetura barroca do século XVII, mas a sua origem remonta ao século XI, quando se realizavam mercados ao ar livre naquele local. No entanto, o seu edifício principal, o Hotel de Ville, só foi construído no final do século XIV. Em 1695, dois dias de intensos bombardeamentos franceses, destruíram todos os edifícios à exceção do Hotel de Ville. A praça foi então reconstruída com a imposição do estilo arquitetónico por parte do conselho municipal, originando assim a harmoniosa unidade de edifícios da renascença flamenga que se vêm ainda hoje.
A arquitetura na Grand Place é única e grandiosa e como não se trata de uma praça muito grande, com cerca de 110 x 60 m2, a concentração de monumentos com aquela impressionante riqueza arquitetónica, dá-nos a sensação de que aquele local é quase um museu de arquitetura, onde se observam lado a lado, e sem qualquer vestígio de arquitetura mais moderna, palácios, palacetes, um conjunto de edifícios adornados com fachadas artísticas, e sobretudo o majestoso edifício do Hotel de Ville, a Câmara Municipal da cidade. Com a sua fachada gótica, ocupa toda a zona sudoeste da praça e é esplendoroso com as suas inúmeras colunas decoradas, torreões, arcadas e estátuas, como a de São Miguel (padroeiro da cidade) colocada no cimo da sua maior torre. Atualmente, como outrora, funciona ainda como edifício oficial da Câmara Municipal da Bruxelas.
Outra das perturbações que podemos encontrar é a utilização da praça como arena de espetáculos. Sendo este o local mais central da cidade é natural que ali se realizem alguns eventos que poderão descaracterizar, mais ou menos, os aspeto original da praça. Nesta altura existiam dois grandes blocos de bancadas e, numa das noites, o local transformou-se numa imensa festa medieval, com centenas de atores e figurantes, reproduzindo todo o tipo de acontecimentos medievais, num festival de luzes e som. Embora se tratasse de um evento apropriado à época a que a praça nos transporta, e as cores das luzes tivessem dado uma dimensão grandiosa àqueles edifícios, talvez tivesse sido mais conveniente poder ver a praça tal como ela é, sem adereços e sem bancadas, sem atores e sem cenários.
Demorámo-nos naquela zona envolvente à Grand Place, onde acabámos por almoçar as famosas frites de Bruxelas, batatas fritas aos palitos que são vendidas em cartuchos, como as castanhas assadas, e que pingam gordura e colesterol por todo o lado, mas que ainda molhamos na maionese, para que a overdose se complete… de qualquer maneira, tínhamos que provar este clássico da cidade e que acabaram por nos saber bastante bem, devidamente acompanhadas por uma das típicas cervejas belgas. Mas para que a glicémia não ficasse desequilibrada em relação aos picos de colesterol, já tínhamos ido aos gofres e, mais à noite, iremos aos chocolates artesanais e aos macarons, sempre com uma cervejinha bem fresquinha, que vai bem com tudo.
Ainda nas proximidades existem alguns locais interessantes, como é o caso das Galeries Royales Saint-Hubert, com entrada pela Rue du Marché aux Herbes. As galerias são compostas por dois edifícios principais, cada um mais de 100 metros, a Galerie du Roi e a Galerie de la Reine, separadas pela Rue des Bouchers, e por uma galeria menor, perpendicular às outras, chamada Galerie des Princes. Desde a sua abertura, a meio do século XIX que estas galerias, que albergam lojas, cafés, restaurantes e auditórios, constituem um polo fundamental da moda e da cultura da cidade. Os visitantes são atraídos sobretudo pelas marcas de luxo, pelos elegantes cafés e pelos espaços culturais, onde se incluíram o Théâtre du Vaudeville, o Cinéma des Galeries e o antigo Café des Arts, que, até à última década do século XIX, serviu de ponto de encontro para pintores e escritores da época, incluindo a comunidade de refugiados franceses ilustres, como Victor Hugo, Alexandre Dumas e outros. Uma placa comemorativa recorda a primeira exibição da câmara de cinema dos irmãos Lumière em 1896.
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Assim, depois da árdua tarefa de sair de carro do centro de Bruxelas, chegámos à zona do Atomium.
Mas neste complexo existe ainda um outro local importante, um dos estádios mais marcantes de toda a história do futebol, e pelas piores razões… o estádio do Heysel que, durante décadas, foi o mais importante estádio de Bruxelas e da equipa principal da cidade, o Anderlecht.
Em 1985, numa final da taça dos campeões europeus entre o Liverpool e a Juventus, as claques dos dois clubes envolveram-se em confrontos, provocando a fuga do público em massa, o que originou que as pessoas dos lugares junto às grades que separavam os vários setores das bancadas, tivessem começado a ficar desesperadamente comprimidas. Morreram 39 pessoas na bancada de adeptos da Juventus esmagados pela pressão da grande massa de adeptos que se deslocava fugindo dos conflitos. Foi uma das mais negras páginas da história do futebol mundial, que contribuiu para que a Inglaterra estivesse vários anos sem acesso às competições europeias, tendo, a partir dessa data, implementado um conjunto de medidas severas contra o holiganismo, o que veio a ter efeitos perfeitamente visíveis, sendo hoje justamente a Inglaterra, um dos locais em que o futebol se tornou menos violento, com a presença constante das famílias nos estádios.
Não visitámos aquele estádio, não é sequer visitável, mas reavivei a memória daquele dia negro em que, pela televisão e em direto, segui aquela tragédia, que me marcou durante anos e mudou a minha forma de encarar os espetáculos de futebol.
No caminho de volta ao centro passámos ainda pela maior catedral da cidade, a basílica Koekelberg ou Basilique Nationale du Sacré-Coeur, uma das dez maiores igrejas católicas romanas do mundo. Feita em betão armado e revestida a tijolo maciço, a igreja apresenta duas torres finas e uma cúpula na nave central que atinge 89 m de altura e está revestida a chapa de cobre de cor verde, dominando o horizonte noroeste da cidade de Bruxelas. A igreja foi dedicada ao Sagrado Coração, inspirada no Sacré-Coeur de Paris, e a sua primeira pedra foi lançada simbolicamente pelo Rei Leopoldo II em 1905. A construção foi interrompida pelas duas guerras mundiais atrasando a conclusão da basílica, que aconteceu apenas em 1969.
A minha memória, de há quase 30 anos, na minha única visita à cidade, já era quase exclusiva da Grand Place e das ruas vizinhas. Mas mesmo a Ana, que esteve 6 meses em Bruxelas a fazer Erasmus, há 20 anos, tinha exatamente a mesma memória… sempre aquele centro histórico, sempre aquela praça, sempre uma enorme concentração de turistas.
E assim, a Bélgica fica vista para mais 20 anos…
Antes da saída de Bruxelas fizemos ainda dois desvios dentro da cidade. Primeiro junto das instalações da Comunidade Europeia, com um acesso muito condicionado e o trânsito entupido e com dificuldades em chegar aos estacionamentos devido a obras. Esta zona pareceu-nos pouco interessante do ponto de vista turístico, porque, embora lá estejam os grandes edifícios da CEE, não se torna nada fácil chegar lá perto, pelas dificuldades no trânsito, mas também devido aos perímetros de segurança que são garantidos, sobretudo em ocasiões das principais reuniões e cimeiras. Mas a zona não nos traz nada mais que não seja a possibilidade de reconhecer algum edifício que tenhamos visto nos telejornais.
O outro desvio foi uma breve paragem na faculdade de engenharia onde a Ana tinha estado a fazer Erasmus, 20 anos atrás, apenas para avivar memórias.
Luxemburgo
Partimos então para mais um dia de viagem e mais um país, o nosso próximo destino seria o Gran Ducado do Luxemburgo.
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Mas ainda hoje parece-nos que o país não faz sentido. Tão pequeno e nem uma língua materna consegue ter, com o francês, o alemão e o próprio luxemburguês, como línguas oficiais, e admito que, com a quantidade de portugueses que lá vivem, a língua portuguesa será também quase uma língua oficial alternativa.
Mas apesar desta falta de personalidade, a verdade é que o Luxemburgo tem hoje, como no passado, uma posição na Europa perfeitamente definida, com um papel ativo nos processos da governação europeia.
E é um país que permite um bom nível de qualidade de vida, embora a grande quantidade de emigrantes portugueses que lá vivem, e são muitos, privilegiem sobretudo o acumular das poupanças e não tanto a qualidade de vida no dia-a-dia. Mas há indicadores interessantes, como o salário mínimo de 1.900 €/mês, que é o mais elevado de toda a Europa. O custo de vida é caro, mas não mais que nas vizinhas Bélgica, França ou Alemanha… mas também não parece que a comunidade portuguesa frequente assim tanto restaurantes e hotéis, ou lojas de roupa, por exemplo… por isso deve dar para amealhar um bom dinheiro.
Como polo turístico a cidade do Luxemburgo não é particularmente interessante. Não é contudo mais uma cidade do centro da Europa. Tem um formato diferente do habitual por se localizar em torno de um vale cavado, que é ligado por várias pontes que nos permitem contemplar os dois lados da cidade e a parte mais baixa da cidade, que ocupa o próprio vale ao longo do rio.
Fizemos um percurso que nos levou ao longo da zona histórica da cidade que, apesar de não ter sido muito extenso, foi penoso, devido aos 30 e muitos graus com que a cidade nos aguardava.
Começámos pela travessia da Pont Adolphe ou Adolphe-Brücke, no sentido oposto ao centro histórico. Com um vão central de 90 m, a Pont Adolphe era a maior ponte em arco de alvenaria de pedra, quando foi construída no início do século XX. O seu nome vem do Grão-Duque Adolphe que reinou no Luxemburgo entre 1890-1917 e a sua finalidade era garantir a travessia do Vale Pétrusse, ligando assim os dois lados da cidade.
A ponte tornou-se um símbolo nacional não oficial por representar a independência do Luxemburgo, e tornou-se uma das atrações turísticas da cidade.
Mas não tivemos sorte e apanhámos a ponte em trabalhos de reforço e reabilitação estrutural e alargamento do tabuleiro. Para garantir as condições de segurança para a população, a ponte foi totalmente coberta por uma tela de proteção que a ocultava completamente.
Do lado oposto da ponte passámos pelo edifício da Alta Autoridade da Communauté Européenne du Charbon et de l'Acier, isto é, a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA).
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Seguimos depois até à fortaleza do Bock, um miradouro privilegiado sobre o bairro do Grund, onde se situam as Casemates du Bock, que foram as antigas muralhas da cidade de Luxemburgo, da época da sua fundação, por volta do ano 1000 e que, em 1994, foram declaradas pela UNESCO como património da humanidade. Atualmente estão abertas ao público durante a primavera e o verão. A visita a este lugar pode ser interessante, embora não seja recomendável para claustrofóbicos, cheia de passagens e cavernas ocultas.
Da Rue du Cure descemos até à Place Guillaume II que fica a situada no coração do centro histórico da cidade, no bairro Ville Haute. A praça é dominada pelo edifício da Câmara Municipal e pela estátua equestre do antigo Grão-Duque Guilherme II, que dá o nome à praça.
No caminho de volta o hotel, eram já quase 22 h, apesar do sol estar ainda visível, voltámos à Place de la Constitution, onde surge a estátua dourada, iluminada pelo sol que começava a alaranjar, do Monument du Souvenir.
Foi naquele local que permanecemos o tempo que faltava para que o dia acabasse, observando o verde intenso do vale e os monumentos de tons amarelados pela luz do pôr-do-sol que se começava a desenhar.
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Vale do Reno
Fizemos um percurso de 190 Km atravessando a fronteira com a Alemanha, entrando no vale do rio Rhein ou Reno, como o conhecemos, que iremos percorrer ao longo das suas margens, passando por aldeias pitorescas, por encostas de um verde vivo, algumas cobertas de vinha, e onde se salientam os vários castelos e palácios que marcam a paisagem do vale. No final do dia chegaremos a algumas das grandes cidades alemãs que são banhadas pelo rio Reno.
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Desde a colonização dos países por onde passa, o rio Reno constituiu sempre uma fronteira bem demarcada. No vale e nos terrenos envolventes foram crescendo pequenos burgos, alguns deles que são ainda hoje pequenas aldeias, mas outros acabaram por se transformar em grandes cidades de cada um dos países atravessados. Foram também construídas diversas fortificações ao longo do curso do rio, que dominam e caracterizam a paisagem do vale. Atualmente, uma das principais atrações do vale são mesmo os numerosos castelos e fortificações visíveis sobre as escarpas, a maioria deles construídos entre a idade média e o barroco, demarcando cada zona dominada pelos senhores e nobres que controlavam o vale.
Com o seu potencial agrícola, pastoril, piscatório, eólico e hidroelétrico, o vale do Reno tornou-se numa das mais importantes regiões comerciais da Europa, desde a Idade Média até aos dias de hoje.
Em 2000, a UNESCO inscreveu uma parte do vale do Reno, numa extensão de 65 km, como património mundial da humanidade.
Começámos a nossa viagem ao vale do Reno pela aldeia de Boppard. Uma aldeia muito mimosa, entre as encostas cobertas de vinha e o rio, com a presença do habitual castelo no topo da colina e com edifícios que parecem quase casas de bonecas.
Percorremos cada uma das ruas da aldeia até chegarmos à beira do rio, até ao cais onde chegam e partem barcos que fazem os passeios, subindo ou descendo o rio, o que constitui um dos programas turísticos mais procurados em toda a Alemanha. E assim entrámos no próprio vale e na típica paisagem, com um rio largo que corre para Norte entre colinas, maioritariamente cobertas por vinha, onde vão surgindo, como se estivéssemos em pleno conto de fadas, castelos e palácios de épocas, tipos e tamanhos diversos.
Por isso, a quem queira visitar a Alemanha ou o centro da Europa, deixo o conselho para não perder a visita a este vale… seja de carro ou de barco, este deverá ser um local obrigatório.
A paisagem é indiscutivelmente muito bonita, mas já os vinhos, ficam a anos de luz dos nossos e particularmente daqueles que se fazem nas encostas do nosso vale do Douro.
Bona
Ao fim de cerca de 90 km pelo Vale do Reno, acompanhando o rio na sua descida até ao mar, chegámos a Bona, a antiga capital da República Federal Alemã, antes da reunificação que se verificou após a queda do muro de Berlim em 1989.
Percorremos o centro histórico da cidade, que não é mais que um conjunto de meia dúzia de praças e as ruas que as ligam, semelhantes às da maioria das cidades alemãs, embora neste caso sejam visíveis várias alusões à sua figura maior, o compositor Ludwig van Beethoven.
Resolvemos percorrer a pequena teia de ruas e praças da cidade, começando pelo seu centro, a Münsterplatz, com a estátua de Beethoven, como anfitrião de quem ali chega.
E logo depois continuámos até à Beethoven-Haus, a casa-museu do compositor, onde visitámos algumas das relíquias do espólio de um dos criadores mais marcantes na história da música. Beethoven ficou conhecido, tanto pela sua magnífica obra, como pela sua surdez, aparentemente incompatível com a criação musical mas que, neste caso, não o impediu de continuar a compor. Registo por exemplo que, na sua última década de vida, numa fase em que já estaria completamente surdo, conseguiu ainda compor 44 obras musicais. Ao morrer, em 1827, estava a trabalhar numa nova sinfonia e projetava escrever ainda um Requiem.
Mas a visita ao museu não nos leva à dimensão do compositor, aliás, nada nos poderá transportar até à grandeza de tal figura a não ser a sua própria música. Por isso, nada será melhor para nos aproximarmos de Ludwig van Beethoven do que escutar atentamente alguma das suas composições, só assim conseguiremos um conhecimento mais profundo sobre o autor de obras-primas como o Hino à Alegria, que faz parte da 9ª sinfonia, ou o concerto para piano Für Elise. Mas o museu não nos transmite essa magia que só a música nos pode dar. E sendo assim, acabámos por comprar algum merchandising… que é o que se costuma fazer neste tipo de museus.
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Foi uma paragem curta mas suficiente para aquilo que a cidade tem para oferecer. O centro é interessante, embora muito semelhante a outras cidades alemãs, mas com a particular presença da sua figura mais ilustre, o compositor Ludwig van Beethoven. Impressionaram-nos também alguns bairros com vivendas clássicas, quase apalaçadas, que terão sido ocupadas pelos diversos membros do corpo diplomático, na época em que Bona era a capital administrativa da chamada Alemanha Ocidental.
Ainda ao longo do Reno, mas agora já por autoestrada, fizemos mais 30 Km e chegámos à maior das cidades alemãs desta zona, Köln, ou Colónia. Fizemos o check-in num hotel bem perto da imensa e majestosa catedral e saímos para uma cidade animadíssima onde as pessoas enchiam as ruas, praças e os espaços verdes junto às margens do Reno. Jantámos numa das muitas esplanadas e, desta vez, quisemos escolher comida alemã, como as típicas salsichas, e para beber, umas weizenbiers, a cerveja de trigo alemã que foi sempre a minha escolha preferida nas várias visitas que tenho feito à Alemanha.
Desta vez deixámo-nos ficar até depois da meia-noite para conseguirmos assistir a um pôr-do-sol verdadeiro, de modo a que a escuridão da noite se instalasse, fazendo realçar algumas imagens lindíssimas que a noite de Colónia nos oferece, com os principais monumentos iluminados, sobretudo a Catedral, a igreja de Sankt Martin e a ponte metálica Hohenzollernbrücke, proporcionando uma paisagem magnífica.
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Colónia
Reservámos toda a manhã para uma visita à cidade de Colónia. Voltámos à Kölner Hauptbahnhof, a Estação Central de Colónia, que é uma das mais movimentadas estações ferroviárias da Alemanha, com uma estimativa de 280 mil viajantes diários. A estação está umbilicalmente conectada à via-férrea proveniente de Sudeste, através da ligação sobre a ponte de Hohenzollern que cruza o rio Reno. A estação, para além ser um polo ferroviário determinante para aquela zona do país, é também o interface principal de ligação a todos os transportes públicos que operam na cidade.
O edifício da estação é ainda uma importante obra de engenharia, concebido com várias naves de grandes dimensões, com cúpulas construídas em estrutura metálica, que lhe conferem uma dimensão majestosa.
Chegámos assim à grande catedral, a Kölner Dom, um monumento considerado pela UNESCO como património da humanidade, é a terceira igreja mais alta do mundo e é indiscutivelmente o símbolo desta cidade. Atrai mais de seis milhões de turistas por ano, o que lhe dá o estatuto do local turístico mais visitado da Alemanha.
A construção da igreja de estilo gótico começou no século XIII e levou mais de 600 anos para ser acabada. A sua nave central tem um comprimento de 144 m e uma largura de 86 m, e as duas torres têm 157 m de altura. Quando foi concluída, em 1880, era o edifício mais alto do mundo. A catedral é dedicada a São Pedro e à Nossa Senhora.
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Segundo a lenda que envolve esta Catedral, no seu interior estará guardado o relicário de ouro com os restos mortais dos Três Reis Magos, Baltazar, Belchior e Gaspar. Conta a história que, em 1164, foram trazidas de Milão as supostas ossadas dos Três Reis Magos e que as mesmas estarão guardadas atrás do altar, numa arca de ouro e prata, ornamentada com pedras preciosas. A arca está lá, as ossadas talvez também lá estejam, agora se são ou não dos Reis Magos, isso já dependerá da fé de cada um.
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A marca da flagrância Nº 4711, a água-de-colónia da empresa alemã Mäurer & Wirtz GmbH & Co, obteve a denominação da empresa e respetiva marca devido à morada do edifício da sua loja original, na Rua Glockengasse nº 4711, bem no centro da cidade de Colónia.
Chegados à margem Norte entramos no coração da Cidade Velha, com as suas casas típicas e os espaços verdes junto ao rio, a zona do Fischmarkt. Mais atrás fica o Alter Markt e a praça da câmara municipal da cidade, o Historisches Rathaus. E bem no meio destes aglomerados que formam a cidade velha, sobressai a Gross Sankt Martin, a grande Igreja de Saint Martin, uma igreja românica católica cuja origem dos atuais edifícios remonta ao século XII. A igreja foi muito danificada na Segunda Guerra Mundial tendo sido sujeita a trabalhos de restauração profundos que foram concluídos em 1985.
A envolvente à cidade velha é uma zona ocupada por restaurantes, bares e esplanadas, onde se misturam habitantes e turistas.
Neste dia preparava-se uma festa de orgulho gay e por isso as ruas estavam preenchidas de uma forma um bocadinho peculiar… com muita gente, digamos que, “orgulhosa”.
Saímos do centro pela Hohe Straße, a principal rua comercial de Colónia, constituída pelo trajeto pedonal entre a Praça Wallraf e a Rua Porte. Na extremidade desta rua chegámos de novo a praça Domplatte junto à Catedral, onde terminámos a visita à cidade.
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Düsseldorf
Seguimos viagem mais 40 km até Düsseldorf, o último destino nas margens do Reno.
Durante alguns anos, no início da década de 2000 fiz várias viagens a esta cidade sempre em trabalho e, por isso, sem grandes memórias. Tal como a maioria das cidades alemãs não deslumbra mas tem sempre algum interesse. Düsseldorf é marcada pela forma como os seus habitantes utilizam as ruas que se transformam em autênticos bares e cervejarias através de esplanadas contínuas, quer seja verão ou inverno, onde eles bebem as suas cervejas de final de tarde, nos dias de semana, ou ao longo de todo o dia, nos sábados.
Algumas mangueiras deixavam sair esguichos de água que pulverizavam as ruas para refrescar quem passava, fazendo lembrar o hábito andaluz nas tórridas “calles” de Sevilha.
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Daquilo que vimos deste Benelux ficam alguns lugares interessantes como Bruges e Bruxelas e outros mesmo encantadores, sobretudo Kinderdijk, Gent, ou o Vale do Reno, incluindo a cidade de Colónia mas, no global, foi uma viagem muito interessante mas não arrebatadora, embora falte ainda acrescentar a parte de Amesterdão.
Registo ainda que se trata de uma das zonas mais caras, tanto em hotéis como em restaurantes, por onde viajámos nos últimos anos, pior do que, por exemplo, Itália, França e mesmo Inglaterra, e este facto também condiciona alguns graus de liberdade.
Carlos Prestes
Julho de 2015