sábado, 31 de agosto de 2024

Praias do Sul (zona de Cagliari)


Se escolhermos um alojamento em Cagliari e alugarmos um carro, vamos conseguir explorar algumas praias no Sul da ilha que, embora sejam menos famosas do que as praias da Costa Esmeralda, na zona Norte, não lhes ficam nada atrás, com as areias brancas e finas e a água transparente e quentinha.
Nesta zona Sul escolhemos dois dias para ir à praia, num deles pela costa do lado Nascente, ou Sudeste, perto do município de Villasimius, e no outro, na parte mais a Sul da ilha, nas zonas de Teulada e Chia, entre os cabos Spartivento e Malfatano.

No mapa seguinte representam-se os trajetos realizados a partir de Cagliari, até às praias a Sudeste, assinaladas a roxo, e pelas praias do Sul, marcadas a cor verde:


Spiaggia di Porto Giunco

Próximo da região turística de Villasimius, a cerca de uma hora de Cagliari, seguindo sempre na estrada mais marginal, chegamos ao extremo Sudeste da Sardenha onde fica uma praia bastante extensa, e das que mais gostámos em toda a ilha, a praia de Porto Giunco.

Registei previamente no mapa as localizações do estacionamento de cada praia, pois é algo bastante relevante para o acesso às praias, saber onde deixar o carro. Neste caso, o parque estava super-bem organizado e, por 5€, podíamos estacionar durante todo o dia.

Esta praia tem a particularidade de se encontrar junto a uma lagoa, que, às vezes, permite avistar grupos de flamingos... mas não foi o caso. Os flamingos são uma espécie de símbolo não-oficial da cidade de Cagliari, pois existem várias famílias nos muitos espelhos de água que se formam na envolvente da cidade, mas aqui, no lago junto à praia de Porto Giunco, não existia nenhum.
Entre a lagoa e o mar estende-se um imenso areal de uma areia muito branca e muito fina, o que faz com que esta praia não tenha problemas de espaço para se esticar as toalhas e cravar os chapéus de sol, embora haja tendência para toda a gente se amontoar na primeira linha, quase em cima da água.
Mas é natural que todos queiram estar à beira do mar, pois estas praias valem sobretudo pelas suas águas. O mar estava bastante calmo, pois não havia vento, que é o grande inimigo de um dia de praia. Assim, num dia calminho e soalheiro, como este, a praia estava uma autêntica piscina, com as águas paradas, transparentes e quentinhas, ótima para miúdos e graúdos, aquilo que se costuma chamar, uma praia familiar… e, pelo menos para a minha família, foi mesmo mesmo assim, uma praia maravilhosa.

Nas praias da Sardenha vamos sempre encontrar zonas com bares e restaurantes, que garantem um apoio de praia, se lá quisermos almoçar ou tomar uma bebida, mas com o inconveniente de ocuparem grandes extensões de areia com espreguiçadeiras e chapéus de sol para alugar, reduzindo o espaço livre do areal.

Do lado Sul da praia existe um penhasco, no topo do qual se encontra a antiga Torre di Porto Giunco, localizada a cerca de 50 metros acima do nível do mar. É uma torre de vigia espanhola e é possível chegar até lá a pé, seguindo um caminho que serpenteia pela mata mediterrânia, e de onde se pode desfrutar das magníficas paisagens sobre o areal, mas, com o calor de um dia de praia, não esteve nos nossos planos percorrer os trilhos até lá acima, e limitámo-nos a olhar a torre à distância.
Deixámo-nos ficar nesta praia durante toda a manhã, alternando entre a água e o areal, muito mais na água, que, com os seus 26º, nos convidava a ficar até estarmos todos engelhados.


Cala di Monte Turno

Depois de um percurso de carro de 17 km encontramos uma encantadora baía de areia fofa que mergulha no mar cristalino, e que foi escolhida como a praia mais bonita de 2018 pelos especialistas do Skyscanner… vale o que vale.

O estacionamento, desta vez, tem pagamento automático, mas que aceita cartão e tem duas modalidades, se chegarmos antes das 14h, pagam-se 10€, mas nós chegámos só à tarde, e pagámos 6€.

A Cala di Monte Turno estende-se por 300 metros em forma de arco e deve o seu nome ao perfil arredondado da montanha que se destaca por detrás da baía.
A praia está localizada perto da chamada Costa Rei, no município de Castiadas, entre o rochedo de Sant'Elmo, a Norte, e a marina de San Pietro, a Sul, e é frequentemente descrita como a mais tranquila e menos movimentada praia dessa zona turística… mas não será bem assim, pois o areal encontrava-se completamente apinhado de chapéus de sol, com muitos italianos, que têm o hábito de juntar vários chapéus, altos e de grande diâmetro, formando uma espécie de tendas, onde eles passam o dia.

Por isso, nesta praia, como noutras que iriamos encontrar durante a viagem, temos sempre o areal apinhado de pessoas e chapéus, mas, felizmente, na água nunca há muita gente, o que é ótimo, porque areia temos nós muita nas nossas praias, mas água a 26º é que não passa por cá e, por isso, voltámos a estar a maior parte do tempo dentro de água.
Esta praia tem uma paisagem particularmente sugestiva pelo contraste entre o azul-turquesa da água cristalina, o verde da vegetação envolvente e o escuro da rocha vulcânica da colina, quebrado ainda pelo branco dourado da areia fofa e fina.
Desta vez aproveitámos o bar de praia para um almoço ligeiro, que, por estarmos em Itália, mas junto ao mar, segue muito as ofertas de pasta ou de saladas com camarões e mexilhões.
Mais tarde regressámos a Cagliari seguindo por uma estrada que atravessa vários túneis, num trilho afastado da costa, mas mais rápido, quase direto até à praia do Poetto, já próximo da capital da ilha.


Spiaggia di Tuerredda

No dia seguinte saímos de Cagliari para Sul e a cerca de uma hora de carro, chegámos a Tuerredda, onde fica uma praia lindíssima, numa baía que está encaixada entre os promontórios do Cabo Spartivento e do Cabo Malfatano.

Tal como na maioria das praias da Sardenha, também esta tem uma areia branca e fina, e águas mornas em tons de azul-turquesa. Neste caso, o areal tem um formato em V, com o vértice ao centro, que avança sobre o mar, desenhando uma praia de cada um dos lados.

Como se trata de uma praia muito procurada, deve-se tentar chegar cedo ou então só ao final da tarde, para não termos dificuldades com o estacionamento, que aqui custa 10€ por todo o dia.

Esta praia é uma das mais interessantes da zona Sul, muito bonita, por estar completamente envolvida por uma densa vegetação mediterrânica, e animada, pela presença de um restaurante-bar de apoio que é uma referência, chamado de Tuerredda Beach Club, em frente do qual fica a parte do areal que forma o V.

Mas as faixas de areia que contornam as duas baías são muito estreitas e mal dão espaço para esticar as toalhas, com os italianos sempre em grupos e com vários chapéus de sol por família. Por isso, e como já vai sendo uma constante, deixamos a toalha na areia e lá vamos nós para dentro de água, que é ali que estamos bem.

Ao longo do dia, fomos fazendo umas caminhadas pelas margens das duas baías, disfrutando das imagens fantásticas que nos são oferecidas num lugar tão bonito como este.

Ao centro das duas praias, bem em frente do Tuerredda Beach Club, fica a Isola Tueredda, uma pequena ilhota qua nos faz lembrar a ilha da Anicha no Portinho da Arrábida, e onde os banhistas chegam de canoa ou de paddle, num enquadramento que é mesmo muito parecido… mas com a água com mais 10º do que na nossa Arrábida.
A praia mais distante, que fica à direita do restaurante, tem uma faixa de areia muito estreita e, por isso, tem espaço para menos gente, mas é claramente a mais bonita, nem carece de qualquer descrição, basta ver as fotografias.

À esquerda do restaurante e mais próxima de que vem do estacionamento, fica a outra praia, esta com uma faixa de areia bem maior, mas que, por isso, também acolhe muito mais gente. No final, não a achei tão bonita como a sua vizinha do lado direito, mas, ainda assim, será sempre uma praia bastante agradável.

Ficámos pela Spiaggia di Tuerredda durante toda a manhã, e saímos com alguma pena, pois tínhamos vontade de permanecer ali todo o dia, mas ainda queríamos conhecer outras praias naquela tarde. Tive logo a sensação de que esta praia seria uma das mais bonitas de toda a ilha da Sardenha e, uns dias mais tarde, haveria de confirmar essa posição no ranking.


Cala Cipolla e Spiaggia di Su Giudeu

Estas duas praias são servidas pelo mesmo parque de estacionamento, de onde saem dois trilhos, um deles plano e com um passadiço de madeira, que nos leva até à praia de Su Giudeu, e um outro por um caminho íngreme de terra, de acesso à Cala Cipolla. Como são duas praias diferentes, ambas merecem ser visitadas.

Deixámos o carro no parque que cobrava apenas 4€ depois das 16 horas, e 6€ pelo dia todo… realmente não encontrámos qualquer padrão nos estacionamentos, cada um tem as suas regras.

Começámos por percorrer os 350m que nos levaram até à Cala Cipolla, que fica para lá do promontório rochoso revestido por dunas de areia e mata mediterrânica, onde termina a praia Su Giudeu.

Trata-se de uma enseada resguardada e calma, com um areal com alguma profundidade, permitindo que os chapéus de sol não fiquem todos uns em cima dos outros, e a baía que ali se forma, é suficientemente espaçosa para acomodar todos os banhistas.
Aproveitámos para uns mergulhos prolongados nas águas desta baía, também cristalinas e quentinhas, mas muito menos atraentes do que as da praia anterior, apesar da beleza do conjunto formado pela vegetação envolvente, pelo areal e pela água do mar.

Não nos detivemos por ali muito tempo, pois queríamos experimentar uma praia diferente, e essa seria a Praia Su Giudeu, que é tida como uma das praias mais bonitas da região de Cagliari.

Esta praia é conhecida por ter um mar com ondas, algo raro aqui na ilha e, por isso, chega a atrair alguns praticantes de surf.

Mas ainda antes de chegar ao mar, encontramos uma lagoa, tal como na praia de Porto Giunco, que visitámos ontem, mas esta quase seca e cheia de sal, e também não tinha flamingos. Logo depois entramos por um areal profundo, com um espaço de sobra para chapéus de sol.
E depois atingimos o mar e lá estão as ondas, nada que dê para surfar, mas o suficiente para estarmos por ali nos mergulhos e a fazer carreirinhas, sem vontade de sair… é que estas ondas são bem distintas das nossas, são ondas quentinhas, e isso faz muita diferença.


Esta praia está bem servida de restaurantes e bares, e ainda aproveitámos para tomar um drink de final de tarde, enquanto o sol ia baixando e nos preparávamos para o regresso a Cagliari. 


Estávamos a cerca de 60 km, quase uma hora de viagem até à capital da Sardenha, onde iriamos jantar e dormir, naquela que seria a nossa última noite no Sul da ilha.

No dia seguinte partiríamos para Norte, deixando para trás uma belíssima cidade e um conjunto de praias fantásticas, que são muitas vezes ignoradas pelos turistas que chegam a esta ilha apenas focados nas praias da Costa Esmeralda, que fica a Norte… mas sem saberem o que estão a perder.


Agosto de 2024

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Cagliari


A cidade de Cagliari, tal como a própria ilha da Sardenha, foi fundada pelos fenícios, ocupada pelos cartagineses e romanos e, mais tarde, foi ainda disputada e governada por espanhóis, pisanos e piemonteses, até de se tornar italiana, depois da unificação de Itália como país.

Uma das presenças marcantes nesta ilha foi a da coroa espanhola, a partir do século XIV, quando o Reino de Aragão conquistou Cagliari numa batalha contra os pisanos, oriundos de Pisa, que dominavam o território. Depois de ter sido conquistada pelo exército catalão-aragonês, Cagliari foi repovoada por catalães, valencianos e aragoneses, e tornou-se a capital administrativa do recém-nascido Reino da Sardenha, um dos muitos reinos que formavam a Coroa de Aragão, que, mais tarde, com o casamento de Fernando de Aragão com Isabel de Castela, passou a estar sob o domínio espanhol.

No século XVIII, a dinastia de Saboia cruzada com os Habsburgos austríacos, que dominava a coroa espanhola, veio também a governar o Reino da Sardenha. Mas isso aconteceu apenas durante um período muito breve, pois a coisa não correu bem e os espanhóis foram destronados.

Nessa altura, foi instaurada uma mudança profunda, com o início de uma época de domínio de uma das regiões da futura Itália, o Piemonte, que vieram a dominar esta ilha durante vários anos.

Houve ainda uma nova tentativa de conquista da ilha, desta vez durante as invasões napoleónicas, quando a França tentou conquistar Cagliari devido ao seu papel estratégico no Mar Mediterrâneo. Um exército francês desembarcou na Praia de Poetto e avançou em direção a Cagliari, mas foi derrotado pelos sardos que se defenderam heroicamente.

A partir da década de 1870, com a unificação de Itália, a ilha foi integrada neste novo país, uma dependência que se mantém até aos dias de hoje. A meio do século XX, a cidade foi bombardeada pelas tropas aliadas, mas os edifícios destruídos foram depois prontamente recuperados.

Mas apenas um pouco desta longa história se torna percetível quando visitamos esta pequena cidade com as suas casas pitorescas encavalitadas sobre uma colina que nasce junto ao mar, e que refletem, sobretudo, a sua origem italiana mais recente.
Na nossa viagem fomos visitando a capital da Sardenha nos três dias em que lá dormimos, sempre ao fim da tarde e durante a noite. Mas usámos ainda a manhã do quarto dia, antes de partirmos para o Norte, para umas últimas visitas.

Como o nosso alojamento ficava a 800 m do centro histórico, fizemos os percursos de acesso à cidade sempre a pé, deixando o carro no estacionamento, o que simplificou bastante, bem mais fácil do que tentar estacionar perto do centro.

E foi assim, sempre andando a pé, que percorremos as ruas e praças do centro histórico, explorando os principais bairros da cidade, o bairro da Marina, o bairro do Castello e o bairro Stampace, tendo seguido mais ou menos os trilhos assinalados neste mapa:
 

Via Roma

Começámos pela Via Roma, uma alameda ampla com uma linha de edifícios monumentais bastante interessantes, que fica junto à marina da cidade. Trata-se de uma avenida charmosa, mas, infelizmente, estava ocupada parcialmente pelo estaleiro das obras de construção de uma nova linha de metro de superfície… isto é quase uma sina, com as obras a acompanharem-nos sempre.

O piso inferior de toda esta linha de edifícios clássicos, é formado por uma galeria bastante movimentada, onde se encontram várias lojas, cafés e restaurantes, e que é uma das referências desta avenida marginal.


No final desta avenida encontramos o Palazzo Civico di Cagliari, um prédio monumental que é a sede da câmara municipal da capital da Sardenha, e que se destaca pela envergadura do edifício e pelas suas fachadas revestidas em pedra branca.

Trata-se de um palácio bastante bonito e é uma das imagens mais marcantes desta cidade.

A vista do lado do mar

Se nos conseguirmos afastar um pouco para o lado do mar na zona da marina, vamos poder observar a silhueta da cidade, com os belos edifícios da Via Roma, cá em baixo, e com o casario pela encosta acima, onde pontificam alguns dos principais monumentos da cidade, como a Catedral ou a Torre do Elefante.

De qualquer forma, será difícil atingirmos um ângulo que nos permita ver toda a encosta onde se ergue a cidade, pois, para isso, teríamos de entrar na zona do porto de cruzeiros, e essa zona está vedada a passageiros e trabalhadores.

Por isso só conseguimos apreciar a envolvente da marina de recreio, com os seus veleiros na proximidade da cidade e, no ponto mais distante a que conseguimos chegar, só era possível ver por detrás dos prédios da Via Roma, uma parte da cidade velha que se encavalita sobre a colina que ali se forma... mas, ainda assim, vale a pena chegar a este ponto e contemplar a cidade sobre a montanha.


Bairro da Marina

Ao entrarmos de novo na cidade vamos subindo pelas ruas inclinadas do bairro da Marina, localizado entre o porto e a parte mais alta do centro histórico, e que era conhecido por ser ocupado principalmente por pescadores e todos aqueles que trabalhavam no porto. A partir do século XIV o bairro da Marina foi também povoada por comerciantes e outras pessoas vindas de fora, sobretudo das regiões da Ligúria ou da Sicília, e foi sob a influência dessa população que a cidade se foi formando.

E hoje em dia este bairro é um resultado de tudo isso, no aspeto das suas casas e ruas e nos hábitos adquiridos por uma população forasteira, que foram deixando as suas influências.

Ao entrarmos no bairro fomos passando por alguns dos locais mais notáveis desta zona, como a Piazza Santo Sepolcro, já nas ruas mais estreitas da cidade velha. É nesta praça que se encontram duas das igrejas da cidade, a igreja de Santo António Abade e a igreja do Santo Sepulcro.

A Chiesa di Sant'Antonio Abate fica um pouco mais elevada, e obriga a subir uma escadaria até à porta de entrada, que fica já na Via Giuseppe Manno. Apesar de passarmos por ali sempre ao final da tarde, as igrejas de Cagliari têm as portas abertas até tarde, e pudemos visitá-la, a esta e a todas as outras.

O seu interior é bastante sóbrio, com uma nave circular sobre a qual se eleva uma grande cúpula, que é a sua principal referência, tanto no interior como na sua silhueta exterior.

A Chiesa di Santo Sepolcro, que fica na praça com o mesmo nome e é conhecida sobretudo pela sua cripta, que é considerada pelos arqueólogos como o exemplo mais relevante da arquitetura funerária barroca de toda a ilha.

No conjunto desta igreja encontramos as salas abobadadas, com um sepulcro de alvenaria e alguns afrescos nas paredes de pedra.

Nas caves encontramos a cripta que ocupa duas salas distintas, ambas bafientas e até um pouco assustadoras.


Continuando pelo emaranhado de ruelas típicas no Bairro da Marina, que percorremos sem destino, apenas seguindo a torrente, vamos passando por alguns locais com edifícios mais típicos, que recriam um bairro italiano rústico, com algumas semelhanças com os bairros genoveses ou napolitanos.

    

Saímos do bairro da Marina subindo a sua rua principal, a Via Giuseppe Manno, uma rua íngreme que liga a Piazza Yenne à Piazza Costituzione, e onde se encontram as lojas mais importantes de Cagliari. É claramente o centro de comércio desta cidade e tem um ótimo ambiente envolvente, embora não seja aquele tipo de rua onde se costuma andar para trás e para a frente, pois é muito inclinada e parece que estamos a subir uma ladeira, o que se torna difícil, sobretudo com o calor húmido que se faz sentir na ilha.
Chegados à Piazza Costituzione, que é apenas uma rotunda onde termina a Via Giuseppe Manno, estamos perante um dos principais conjuntos monumentais da cidade, o Bastião de Saint Remy, a Terrazza Umberto I e a Galleria Dello Sperone.

O Bastião de Saint Remy é um edifício de estilo clássico, construído nos finais do século XIX, com duas grandes escadarias de pedra e um arco triunfal no topo.

A Galleria Dello Sperone é um site arqueológico que faz parte deste edifício, e representa uma antiga infraestrutura de defesa militar, usada para proteção de Cagliari das incursões muçulmanas do século XVI. Esta galeria tem acesso pago e nem estava aberta quando visitámos este monumento.
Quando se atinge o topo da imensa escadaria chegamos a um patamar superior e entramos num pátio enorme, revestido por mosaicos e adornado pelos seus típicos candeeiros, que é chamado de Terrazza Umberto I.
Este pátio está rodeado por uns edifícios bastante bonitos e permite desfrutar de umas belas vistas sobre a cidade, marcadas pela presença do mar ao fundo.


Bairro do Castello

Ao continuarmos a subir por detrás deste terraço, vamos entrar na parte mais antiga da cidade velha, o bairro do Castello, que está confinado ao interior do contorno das muralhas da cidade.

Este bairro é dominado pelo aspeto dos seus edifícios rústicos e tipicamente italianos, com fachadas em cores de terracota, e pela existência da catedral da cidade, cuja cúpula constitui uma marca da silhueta do bairro quando o observamos à distância.

Pouco depois de entrarmos no bairro chegamos à Piazza Palazzo, onde se encontra uma das principais igrejas católicas da cidade, a Catedral de Cagliari.

A Catedral de Santa Maria de Cagliari é dedicada à Assunção da Virgem e a Santa Cecília, e a sua origem remonta ao século XIII, tendo sido depois reconstruída várias vezes ao longo dos tempos. O acesso ao interior mantém-se aberto até ao final da tarde, o que permitiu que conseguíssemos visitá-lo.

Trata-se de um espaço bastante interessante, sobretudo pela riqueza decorativa da nave principal, mas penso que também seria interessante visitarmos a sua cripta… mas essa já não estava acessível e não a pudemos ver.
O atual edifício da igreja resulta de várias sobreposições barrocas dos séculos XVII e XVIII, mas a sua fachada, bem mais recente e bastante bonita, e que se encontra em ótimo estado de conservação, só foi construída no início do século XX num estilo românico-pisano.

A imagem de marca desta catedral é a que enquadra a sua fachada principal e o edifício vizinho do Antico Palazzo di Città, que funciona atualmente com espaço de exposições temporárias.
À saída da catedral seguimos pela mesma praça, ao longo do imenso edifício do Palazzo Regio, e continuamos até à Torre di San Pancrazio. Trata-se de uma torre do século XIV que pertencia ao sistema de fortificação militar da cidade. Foi construída utilizando blocos de calcário e é formada por três fachadas maciças e uma outra completamente aberta, revelando os quatro pisos em mezaninos de madeira que ocupam o interior da torre e que serviam para acesso dos soldados durante as batalhas.

No próximo trajeto atravessámos as ruas mais apertadas e sinuosas do bairro do Castello, sempre com o mesmo tipo de traça medieval e com as cores de terracota como fundo, até atingirmos o lado oposto das muralhas.
    
Deste lado do bairro chegamos a um pequeno terraço que é chamado de Bastião de Santa Croce, de onde passamos a ter uma outra paisagem sobre a cidade, desta vez mostrando-nos o mar, que fica a Sul, e o bairro Stampace, do lado poente, sobre o qual iríamos assistir a um bonito pôr-do-sol.

Esta zona junto ao Bastião de Santa Croce fazia parte da antiga Giudaria, ou bairro judeu, que se desenvolveu dentro das muralhas a partir do século XIII, mas foi no século XV, sob o domínio espanhol (ou aragonês), que atingiu sua expansão máxima.

Porém, em 1492, os soberanos católicos de Castela e Aragão, os reis Fernando de Aragão e Isabel de Castela, ordenaram a expulsão de todo o reino dos judeus que recusassem converter-se ao cristianismo, o que aconteceu por toda a Espanha, incluindo todos os territórios dominados pelos Espanhóis, como era o caso da Sardenha.

Como resultado dessa lei, a sinagoga da Giudicaria de Cagliari foi transformada numa igreja católica, que foi dedicada a Santa Cruz, dando origem à atual Basílica Magistral Mauriciana da Santa Cruz, que fica ali bem perto.
Voltando ao terraço do Bastião de Santa Croce, que encontrámos cheio de plantas e flores a envolverem as esplanadas dos restaurantes que ali existem, e apreciámos, desta vez, a vista ampla sobre a cidade e também sobre a Torre dell'Elefante.
A Torre dell'Elefante, tal como a Torre de San Pancrazio, onde tínhamos estado há pouco tempo, tem três fachadas em blocos maciços de calcário, obtidos no monte Bonaria, e um quarto lado completamente aberto, mostrando os quatro andares construídos em mezaninos de madeira.

Estas duas torres, ambas de origem pisana, foram construídas no início do século XIV, e o Sacro Imperador Romano Carlos V, considerou-as como uma das melhores obras militares já construídas na Europa.

A Torre dell'Elefante tem este nome devido a uma pequena estátua de um elefante, na fachada Sul, que encontramos depois de passarmos sob o arco que se encontra no piso térreo da torre, e que é atravessado por uma rua.

Bairro Stampace

Este bairro, que podemos observar do Bastião de Santa Croce e da Torre do Elefante, é identificado pelas suas ruas típicas, com muitos restaurantes de rua, e pela presença de duas importantes igrejas, a igreja Colegiada de Santa Ana e a igreja de Sant'Efisio.

Uma das mais bonitas igrejas de toda a cidade, é a Igreja Barroca Colegiada de Santa Ana, que se ergue no meio do bairro onde, originalmente, se localizava um pequeno templo do período pisano, que foi demolido para dar lugar à construção desta nova estrutura.

A igreja que nasce no topo de uma imensa escadaria e é formada por uma bonita fachada com duas altas torres sineiras, em estilo barroco piemontês, atrás da qual se erguem três cúpulas de diferentes tamanhos.

Nas traseiras desta igreja encontra-se uma outra, bem mais pequenina, mas não menos importante, a Igreja de Sant'Efisio.

Este é o local das principais comemorações da cidade, que duram uma parte do mês de maio, e atraem à cidade um grande número de visitantes. O Santo Efisio que, apesar de não ser o padroeiro de Cagliari (esse é o San Saturnino) é muito venerado na capital e em toda a ilha, pois, segundo a lenda, terá salvado a cidade da peste. Nestas comemorações as ossadas do Santo saem da cidade puxadas por bois e vão até à cidade Nora, que foi onde o santo morreu como mártir.
   
Mas além dos monumentos e locais históricos que ficam no Stampace, vale também a pena vaguear sem rumo pelas suas ruelas. O Bairro começa na Piazza Yenne, que fica na base das muralhas e mesmo abaixo da Torre do Elefante, e depois desenvolve-se por um emaranhado de ruas onde voltamos a encontrar alguns edifícios de origem medieval, com fachadas típicas, algumas delas com as cores alaranjadas, típicas das cidades italianas.

Uma outra forma de conhecer este bairro será durante o serão, pois é um dos melhores locais da cidade para ir jantar, sobretudo na Piazza Yenne e no Corso Vittorio Emanuele II, com uma quantidade imensa de restaurantes, cujas esplanadas ocupam grande parte da via pública.



Santuário e Basílica de Nossa Senhora de Bonaria

Um pouco desviado do centro histórico, a cerca de 1 km, mas coincidentemente nas proximidades do nosso alojamento, encontra-se um importante conjunto religioso desta cidade. Trata-se do Santuário de Nossa Senhora de Bonaria, que é um título mariano associado à Virgem Maria como Estrela do Mar e padroeira dos veleiros.

É um dos complexos católicos mais importantes da Sardenha, formado por um mosteiro, um museu, uma igreja e uma basílica, localizados no alto de uma colina que podemos subir através de uma imensa escadaria, que constitui a imagem de referência deste santuário.
No topo da escadaria chegamos ao edifício da basílica, com uma pequena igreja ao seu lado, que era a única que estava aberta, pois os grandes portões de acesso à basílica encontravam-se fechados.
Assim, foi por esta pequena igreja que entrámos, mas que pareceu ser a igreja original, pois foi ali, no seu altar, que encontrámos a principal referência histórica deste santuário, uma estátua da Nossa Senhora segurando o Menino Jesus num braço e uma vela na outra mão.
Segundo a lenda, no dia 25 de março de 1370, esta estátua da Virgem Maria com o menino ao colo estava a ser transportada num navio, dentro de uma caixa, quando sofreu uma violenta tempestade, que fez com que a caixa tivesse caído ao mar. Mas, no preciso momento em que a caixa caiu, a tempestade parou, e a estátua foi recuperada e levada para o porto de Cagliari. Quando abriram a caixa, já em terra, e verificaram a existência da estátua, resolveram levá-la para esta igreja e colocá-la no altar, onde se encontra ainda hoje… e queremos acreditar que a história é mesmo verdadeira, mas pode ser apenas uma lenda.
Voltando à lenda, depois da estátua ter sido ali instalada, a igreja passou a ser um santuário de referência para muitos peregrinos. Com o passar dos tempos esta igreja tornou-se pequena para acolher todos os peregrinos que a visitavam, pelo que, já em pleno século XX, foi decidido construir uma nova igreja, a atual basílica, que veio a ser consagrada no dia 22 de abril de 1926… que está mesmo ali ao lado, mas que não tínhamos conseguido visitar.

Enquanto saíamos, com uma certa frustração por não conseguirmos visitar a basílica, estava a chegar uma excursão acompanhada por uma guia e, imediatamente, voltámos a entrar e começámos a rondar o grupo de turistas, não só para ouvir as descrições que a guia ia fazendo, mas na esperança de que ela conduzisse o grupo para o interior da basílica. E assim aconteceu (mérito da Ana, que teve a ideia), começaram todos a entrar por uma porta e nós fomos seguindo atrás, e em menos de nada estávamos a atravessar o altar mesmo encostados à estátua (e foi assim que tirei a fotografia tão próxima) e depois descemos do altar e entrámos na imensa nave da basílica.
Não sei se aquilo que fizemos foi “golpe” ou se qualquer pessoa o pode fazer, mas fica a dica.

O interior da basílica é imponente e bastante bonito, sobretudo o altar, com um afresco que reproduz o episódio da lenda, representando a chegada ao porto de Cagliari da caixa que guardava a estátua da Nossa Senhora… e, para nossa surpresa, existia ali uma outra estátua, também ela com a Nossa Senhora com o Menino Jesus num dos braços e uma vela na outra mão. E agora, qual delas é que será a estátua original?… provavelmente nenhuma das duas.
     

Spiaggia di Poetto

Longe de ser uma das melhores praias da Sardenha, a praia do Poetto é a praia urbana da cidade de Cagliari, bastante frequentada, tanto por turistas como pelos próprios habitantes da cidade. Fica a cerca de 6 km de quem vem do centro e estende-se por um areal imenso, com quase 8 km de comprimento, que é sempre acompanhado por uma estrada marginal.

Não deixa de ter a mesma areia branca e as águas azuis-turquesa, como todas as praias da ilha, mas deve ser mais poluída e é claramente menos interessante do que a maioria das outras praias que vamos encontrar ao longo da nossa viagem.

Assim, fizemos apenas uma breve paragem, já ao final da tarde, e estava um bocado de vento, que é mais comum numa baía tão extensa e totalmente exposta como esta. E só o vento é que impedia que os tons de azul-turquesa se mostrassem, mas quem não puder alugar um carro para ir até às melhores praias do Sul da ilha, que ficam a cerca de uma hora, pode muito bem tentar aproveitar esta praia do Poetto, que pelo menos irá deliciar-se com a temperatura da água.


Castelo de San Michele

À saída de Cagliari para Norte passámos ainda pela colina de San Michele, onde se ergue o castelo da cidade, o chamado Castelo de San Michele. Algumas escavações recentes encontraram ali vestígios de uma igreja do início da Idade Média, sobre a qual foi construído o castelo. Após a conquista aragonesa, a partir do início do século XIV, o complexo fortificado sofreu alterações significativas, para fins defensivos e para adaptar as suas muralhas às necessidades ao longo das guerras que tiveram lugar em Cagliari.

O Castelo de San Michele está agora transformado num “centro de arte multifuncional”, facto que poderia ser algo positivo, se tivesse algumas exposições de arte contemporânea no ambiente de um castelo, mas, segundo o que li, o interior do castelo estará muito longe de corresponder ao que se imagina.

Assim, achei que não valeria a pena visitar o seu interior, ficando-nos apenas por uma breve paragem no local para apreciar a imagem das fachadas do castelo no alto da colina.

Existem ainda mais alguns polos de interesse na envolvente da cidade, mas que não visitámos por falta de tempo. Um deles é um mercado da cidade, o Mercado Cívico de San Benedetto, que fica numa zona mais confusa da cidade, que é pouco procurada por turistas. O mercado foi construído no final da década de 1950 e é muito popular entre os habitantes de Cagliari, não tendo sido transformado para se tornar um polo turístico, como acontece com outros mercados, noutras cidades, inclusive em Lisboa.

Uma outra atração da cidade é o imenso complexo de sepulturas neolíticas, chamado de Tuvixeddu Necropolis, mas que precisaria de algumas horas para ser visitado convenientemente e conseguirmos fazer um tour completo.


Este é o resumo daquilo que podemos encontrar na cidade de Cagliari, que embora seja a capital da Sardenha, é muitas vezes ignorada por quem visita a ilha apenas à procura das praias do Norte, sobretudo da Costa Esmeralda. Mas é um erro imenso, pois nesta zona Sul as praias não são nada inferiores às do Norte e temos ainda o bónus de podermos visitar Cagliari, talvez a cidade mais italiana da ilha... e de que muito gostámos. 


Agosto de 2024