Estivemos por ali bastante tempo, os golfinhos não abandonavam os barcos e dava a ideia que poderíamos ter ficado ali pela tarde fora que eles não se iriam embora, mas era já perto do meio-dia, a hora em que deveríamos estar a chegar à Marina de Ponta Delgada e ainda nos esperava mais de meia-hora de viagem.
Neste trajeto final o barco transformou-se numa espécie de parque de diversões saltando a ondulação com grande velocidade, o que nos deixou divertidos, mas também encharcados. Fizemos ainda um pequeno desvio para seguir uma jamanta oceânica perto da superfície, acompanhada por um imenso cardume de peixes.
Chegados à marina com uma sensação de cansaço, mas, sobretudo, com uma tremenda satisfação por aquela aventura, num contacto direto com um ambiente genuinamente selvagem, algo que não encontramos com frequência.
Aproveitámos aquela hora de um dia tão bonito para nos sentarmos a almoçar numa das esplanadas daquela marginal junto à marina.
Tínhamos passado a manhã no mar e quisemos aproveitar o dia de sol para fazermos o final da tarde numa das praias locais, e escolhemos aquela que é, certamente, a mais bonita das praias da ilha, o Ilhéu de Vila Franca do Campo.
Mas, ao chegar a Vila Franca, fizemos ainda um pequeno desvio até à Ermida da Nossa Senhora da Paz, uma pequena igreja com uma escadaria decorada com painéis de azulejo mostrando imagens da representação da Via Sacra, que se localiza sobre a encosta atrás de Vila Franca e com uma vista magnífica sobre o ilhéu.
A igreja atual foi construída no século XVIII e foi erguida sobre o templo original, que remonta possivelmente ao século XVI, no mesmo local onde, segundo a tradição, um pastor terá encontrado uma imagem da Virgem numa gruta.
Descemos depois até ao porto e comprámos os bilhetes da travessia até ao ilhéu (5€ por pessoa, ida e volta... em 2017). O Ilhéu de Vila Franca do Campo tem uma lotação limitada de 400 pessoas, mas a meio da tarde é mais fácil conseguirmos lugar, quer no ilhéu quer no barco.
Os barcos saem à hora certa e regressam 10 min depois, e nós resolvemos sair no barco da 16h e regressar no último barco, às 18h10, ficando o tempo suficiente para um final de tarde numa praia que fica ainda mais bonita ao entardecer.
A praia é lindíssima, com uma beleza única e completamente natural, e a temperatura e transparência das águas, torna-a bastante agradável para uns mergulhos e umas boas braçadas.
Aproveitámos cada minuto no ilhéu até à hora da saída do último barco, quando os tons do fim da tarde tornavam o ilhéu ainda mais bonito e já quase sem banhistas.
Na última carreira do barco o comandante resolveu presentear-nos com uma volta completa ao ilhéu, em vez do habitual percurso, que vai direto para Vila Franca em menos de 10min. Desta vez pudemos observar todo o contorno da pequena ilha, passando pela zona que é atualmente o
ex-líbris deste local, e até da ilha São Miguel, a zona do grande penhasco que é adaptada para saltos integrados no circuito internacional
Red Bull Cliff Diving, onde os melhores mergulhadores do mundo saltam para a água de uma altura de 27m (21m para as senhoras). A última etapa deste circuito tinha passado pelo ilhéu há apenas três semanas e os relatos da tripulação do barco e de alguns residentes eram ainda entusiasmados.
Abandonámos o ilhéu deixando para trás uma silhueta deslumbrante que nos era revelada por aquele fim de tarde perfeitamente maravilhoso.
Chegados a Vila Franca quisemos ainda experimentar a iguaria gastronómica local, as queijadas, que se podem provar na Fábrica de Queijadas do Morgado, que oferece uma agradável esplanada perto do mar. As queijadas são uma delícia e ideais para acompanhar uma cerveja bem fresquinha, tornando aquele final de tarde ainda mais apetecível.
Seguimos depois pela costa até à zona da Caloura e fizemos ainda duas paragens. Primeiro numa das praias de areia escura que surgem nesta costa, a
Praia de Água d'Alto e, depois, no
Miradouro do Pisão, onde é visível a piscina localizada bem no centro da baía da Caloura, que é uma das atrações desse local.
Descemos, entretanto, até à
Caloura, atualmente uma das zonas de referência de toda a ilha como local de veraneio, bastante frequentada, quer por turistas quer pelos habitantes locais.
Para além da piscina e dos banhos de mar, a maior atração desta zona é o Bar da Caloura, uma esplanada sobre a baía que parece ser bem agradável, mas que se encontrava completamente esgotada e com uma fila imensa de gente à espera de entrar. Parece-me claramente um daqueles locais sobrevalorizados por estar na moda, e porque se tomam uns gins e se comem uma lapas, mas nada que justificasse uma procura tão desenfreada... digo eu, mas não entrei lá, se calhar é mesmo um bar espetacular.
De qualquer forma tínhamos outros planos para jantar e não nos afetou o facto do Bar da Caloura estar a abarrotar e ficámo-nos apenas pelas bonitas paisagens que esta zona oferece.
Um novo dia em que o sol se tornava indispensável para que a beleza dos locais que íamos visitar fosse devidamente revelada.
Neste percurso fomos explorar a zona Oeste da ilha, onde se encontram alguns dos principais pontos de interesse, como é o caso da famosa Lagoa das Sete Cidades.
Começámos um pouco antes, mas logo com paisagens deslumbrantes que essa zona da ilha nos brinda.
As primeiras paragens foram no Miradouro do
Pico do Carvão e junto ao
Aqueduto do Carvão, apenas um aperitivo para o que o dia tinha para nos oferecer.
Subimos depois até à
Lagoa das Empadadas e à
Lagoa das Éguas. São lagoas lindíssimas e pouco frequentadas, porque não estão ainda muito divulgadas. Vale bem a pena fazer este pequeno desvio e ficar algum tempo, aproveitar para fazer uma caminhada fácil à volta das duas lagoas.
Na rampa de acesso a estas lagoas está um sinal que informa que o acesso só deve ser feito com viaturas 4x4. Na verdade, a menos que esteja a chover muito, mas, neste caso, as próprias lagoas perdem todo o interesse, qualquer viatura, mesmo de gama mais baixa, consegue lá chegar, o acesso é íngreme mas está pavimentado.
Alguns quilómetros depois chegámos à Lagoa do Canário e podemos entrar com o carro num caminho de terra batida que nos conduz ao trilho de acesso ao
Miradouro da Grota do Inferno.
Daí saímos a pé, um percurso fácil de menos de 1 km, e vamos encontrar uma das vistas mais fantásticas da ilha, tendo à nossa frente a imensa cratera da Lagoa das Sete Cidades onde se enquadram outras lagoas, como a Lagoa de Santiago, e ao fundo surge o mar contornando a ilha.
Este é daqueles lugares onde nos apetece ficar algum tempo, escolhermos um lugar para ficarmos sentados e permanecermos por ali, apenas a observar e a inspirar aquele ar puro. Felizmente este lugar ainda não atrai os autocarros de turistas como outras zonas da ilha e, por isso, podemos desfrutar a paz de um lugar tão inacreditável como este... não deixem de aproveitar esta sensação inesquecível.
Ao sairmos desta zona fizemos uma paragem na
Lagoa do Canário que, estranhamente, nos parece agora uma lagoa perfeitamente vulgar, face à exuberância dos lugares que visitámos nas últimas horas.
Já de novo na estrada nacional chegámos até ao
Miradouro da Vista do Rei, o melhor local para contemplarmos a
Lagoa das Sete Cidades.
Num dia bonito como este consegui, pela primeira vez em três visitas ao local, descortinar a diferença de cor das águas de cada uma das lagoas, a Lagoa Azul e a Lagoa Verde.
A caldeira das Sete Cidades tem um diâmetro de cerca de 5 km e a sua lagoa ocupa uma vasta área de mais de quatro quilómetros quadrados e chega a uma profundidade de 33 metros, o que faz desta lagoa a maior reserva de água dos Açores.
É uma área importante em termos de vegetação, mantendo ali muitas das espécies endémicas do arquipélago, como o cedro-do-mato, o azevinho local e muitas outras.
A lagoa é, na verdade, formada por duas lagoas separadas numa zona estreita onde existe a ponte que liga as duas margens, e têm a particularidade das suas águas apresentarem cores diferentes, de um lado um espelho de águas de tom esverdeado e, do outro lado, as águas com tom azulado. Apesar dessa coloração só ser percetível em dias de sol, não deixa de ser mais um elemento a contribuir para uma beleza admirável de toda a paisagem envolvente. Esta ocorrência inusitada deu mesmo lugar a que surgissem lendas sobre a sua origem e formação, mas a diferença de coloração resulta, na realidade, dos diferentes tipos de algas que ocupam os fundos das duas lagoas.
Conta, no entanto, a lenda que uma princesa se apaixonou por um pastor, um amor impossível que teria de acabar necessariamente com a separação forçada pela família real. No encontro de despedida, os dois apaixonados choraram tanto que junto aos seus pés, aos poucos, foram crescendo duas lagoas. Uma com águas de cor azul, das lágrimas derramadas pelos olhos azuis da princesa. A outra, de cor verde, nasceu das lágrimas derramadas dos olhos verdes do pastor. Reza a lenda que se os dois apaixonados não puderam viver juntos para sempre, pelo menos as lagoas nascidas das suas lágrimas ficaram juntas e jamais se separaram.
Voltando ao mundo real, no Miradouro da Vista do Rei a panorâmica sobre a lagoa encontra-se um pouco ofuscada por uma grande quantidade de plantações de hortenses, que cortam o angulo de observação, o que nos deixa um pouco frustrados. No entanto, temos a hipótese de subir ao interior do edifício do antigo hotel Monte Palace que ali continua abandonado há muitos anos.
Ainda antes de falar da paisagem não posso deixar de lamentar como é que se permite que um edifício se mantenha em ruínas desde 1991, numa das localizações mais nobres da ilha, dando uma imagem, não só dos Açores, mas mesmo do país, que nos envergonha a todos.
De qualquer forma, e enquanto o acesso àquele elefante branco estiver sem qualquer restrição, o que é perfeitamente inacreditável, nomeadamente, pela total ausência de condições de segurança, podemos sempre subir a um dos pisos mais elevados e contemplar, aí sim, a vista completa da extraordinária Lagoa das Sete Cidades... mas com cuidado, pela vossa saúde!
Contemplar uma paisagem é algo que, por vezes, deve ser feito de forma demorada. Deixar-nos ficar sem movimento e sem pressas, só pelo prazer que nos é dado pela observação de imagens tão grandiosas. Do alto daquela imensa cratera de um vulcão extinto há séculos é essa a sensação que se experimenta, uma beleza sublime que nos faz apetecer ficar a contemplar demoradamente.
Mas algum tempo depois acabámos por voltar ao carro e descemos a estrada que nos levou ao interior da cratera.
Já em plena descida encontramos à direita o Miradouro do Cerrado das Freiras, com vista sobre a lagoa das Sete Cidades e, um pouco mais a baixo, do lado esquerdo, um miradouro sobre a Lagoa de Santiago, uma lagoa rodeada por uma floresta cerrada, de um verde vivo, tal como o seu espelho de água.
Nesta descida ao longo da cratera do vulcão até às Sete Cidades atravessamos um vale que é um dos grandes prados de pastagem da ilha, com manadas de vacas leiteiras pastando e com o adorno das plantações de hortenses floridas, numa paisagem que é a típica imagem de marca desta ilha. Por todo o lado somos confrontados com estas imagens de prados verdejantes que são a principal referência de São Miguel, mas é nesta zona que os campos de pastagem mais abundam e é por isso que resolvi abrir aqui este parêntese para mencionar a paisagem rural da ilha... de hortenses, prados verdejantes e das chamadas “vacas felizes”.
Chegados à ponte das Sete Cidades a lagoa perde o impacto que nos emociona quando a contemplamos lá do alto. Agora parece-nos apenas um lago bonito e calmo. As duas lagoas são contornadas por uma estrada estreita que nos permite fazer todo o tipo de percursos... a pé, de bicicleta ou de carro, em algumas zonas. O espaço é tranquilo e melancólico e sugiro uma caminhada à descoberta ao longo das lagoas, pode não ser longa, podem levar o carro para trajetos maiores e complementando depois com uns passeios a pé. É um local que vos vai tranquilizar, um sítio apropriado para reflexão e meditação.
Depois de relaxarem um pouco junto ao espelho de água da lagoa devem agora partir para junto do mar, que fica bem perto, a poucos quilómetros, e continuem o relaxamento observando aquele oceano azul forte e fixem lá bem ao fundo a linha do horizonte.
A paragem que fizemos foi próxima da Ponta da Ferraria, com vista para o Farol, a Sul, e para os rochedos da Ferraria, do lado Norte, junto ao edifício das termas e perto do Pico das Camarinhas, um pequeno pico constituído por um cone de escória, formando uma cratera minúscula.
O Pico das Camarinhas nasce sobre a fajã lávica na Ponta da Ferraria, na base de uma arriba fóssil, onde se encontra o SPA termal das Termas da Ferraria, que incluem uma piscina natural, onde a água do mar é aquecida por nascentes termais.
Continuando pela costa em direção ao Norte da ilha parámos no
Miradouro da Ponta do Escalvado, que nos mostra uma panorâmica lindíssima, revelando os
Ilhéus dos Mosteiros frente à praia de vila. Uma praia com areia de uma cor tão preta que até nos pareceu que teria sido obtida esmigalhando alguns milhares de bolachas Oreo.
Ainda na vila dos Mosteiros, mais à frente, passámos por outra atração de veraneio deste local, as
Piscinas Naturais dos Caneiros, que se formam nos rochedos de lava que vão definindo pequenas piscinas com água do mar, alimentados pelas ondas.
Depois dos Mosteiros entrámos na zona da
Bretanha, ao longo da costa Noroeste da ilha. Esta zona terá sido em tempos povoada por comunidades de origem francesa e é daí que lhe surge o nome da região francesa. Mas é também essa presença francesa que terá marcado o atual sotaque açoriano e, repare-se, que esse sotaque, que associamos ao arquipélago, na verdade, é apenas uma característica da ilha de São Miguel. Se pensarmos na sonoridade da língua portuguesa e lhe dermos o arrastado, meio cantado, do sotaque francês e ficamos com a pronúncia açoriana que conhecemos.
Nesta zona da costa Norte da ilha não se encontram grandes atrativos a menos de alguns miradouros e de algumas povoações.
Assim, parámos apenas no Miradouro da Covilhã, ainda na Bretanha e, depois, já na vila de Capelas, o Miradouro do Porto das Capelas, onde terminámos este percurso voltando diretamente para Ponta Delgada.
Tenho vindo a falar da necessidade de termos dias de sol para que as paisagens sejam valorizadas, mas, neste dia, embora o sol ajudasse, não será tão indispensável, e foi por isso que selecionámos este percurso quando o dia acordou enevoado e a chuviscar.
Começámos o dia bem cedo por Ponta Delgada. Não pela cidade, que visitámos sempre ao final do dia, como explico mais à frente, nem pelas pastelarias que a cidade tem, porque era aí que fazíamos os pequenos-almoços diariamente.
Começámos pelo Mercado, não chegámos a fazer compras, por opção, mas era ali que as poderíamos fazer, para comprar ananases e frutas dos açores ou para ir à loja do Rei dos Queijos.
Ainda dentro da cidade de Ponta Delgada fomos visitar as Estufas de Ananases Augusto Arruda. Com mais de 100 anos de história, a plantação Augusto Arruda é uma espécie de museu. As visitas, que são gratuitas, levam-nos a conhecer várias estufas com todas as fases do crescimento do ananás. Levam-nos também à Gift Shop para provar o Licor de Ananás, uma receita da família exclusiva da Plantação, bem como outros produtos transformados do ananás.
Saímos depois na direção das Furnas seguindo a estrada pela costa Norte e fazendo a primeira paragem vários quilómetros depois, já no Miradouro do Pico do Ferro, para contemplar a paisagem da Lagoa das Furnas.
Em baixo, entre encosta da cratera do vulcão das furnas e a beira da lagoa, são visíveis as chamadas fumarolas, uma zona de terras fumegantes e com cheiro a enxofre, local onde há já várias horas cozinhava o panelão do cozido que iríamos almoçar mais tarde.
A vista do Miradouro do Pico do Ferro é das mais bonitas da ilha. O vale das Furnas, em tons de um verde vivo, não é bem um vale, mas uma cratera com 7 km de diâmetro, última memória de um vulcão há muito inativo, onde descansa o imenso espelho de água da Lagoa das Furnas.
Descemos depois até à povoação das
Furnas, estacionámos o carro e fizemos a pé os restantes trajetos dentro da vila.
Começámos por entrar no
Parque Terra Nostra, um jardim com mais de duzentos anos e com uma quantidade incrível de plantas endémicas e outro tipo de árvores, flores e plantas, incluindo, por exemplo, uma das mais notáveis coleções do mundo de camélias de diferentes espécies, ou a maior coleção da Europa de Cycadales. É um parque grandioso e de beleza ímpar, uma referência paisagística e ponto obrigatório no roteiro turístico da ilha de São Miguel.
A entrada custa 8€ por pessoa e permite entrar, sair e voltar a entrar, se isso nos der jeito. Permite também o acesso à piscina do parque, ou tanque de água termal, cuja construção remonta ao ano de 1780, que é alimentado por águas ferrosas quentes, que brotam diretamente da terra a cerca de 38ºC.
O mergulho nesta piscina é bastante curioso, porque as águas naturais são opacas, de um castanho-alaranjado de tanto ferro, e bem quentes, tal como saem da terra. Faz-nos muita impressão entrar naquela água, mas depois sentimo-nos bem. No final parece que fizemos um tratamento de pele, que fica macia e aveludada. Atenção com o fato de banho a utilizar, que deve ser velho ou muito escuro. O parque tem uns balneários para troca de roupa e um chuveiro na rua, mas que permite tirar a água castanha do corpo e só depois é que nos podemos limpar, se não queremos estragar também a toalha.
Uma das atrações turísticas das Furnas é o cozido feito nas fumarolas de vapor que brotam da terra. As panelas são fechadas e colocadas nuns poços existente nas terras fumegantes, e tapados com terra, ficando a cozinhar cerca de seis horas até apurar o paladar de um cozido que é muito semelhante ao cozido à portuguesa, embora mais pobre de enchidos. Os vários restaurantes da vila deixam as suas panelas devidamente assinaladas às 6h da manhã, e recolhem-nas ao meio-dia para as levar para preparação e serviço dos almoços. Já conheci outros restaurantes, mas sugiro aquele de eu mais gostei, o Miroma, onde o cozido se aproxima mais do nosso cozido à portuguesa.
Miroma - Rua Dr. Frederico Moniz Pereira 15, Furnas (Cozido das Furnas) - 296 584 422
O cozido é muito bom, embora, como já referi, não atinge o nível dos melhores cozidos à portuguesa, que são sempre mais ricos. É bem servido o que permite que se dividam as doses, caso contrário vão apanhar uma enorme barrigada que vai ser difícil digerir, sobretudo porque a vila tem uma série de sítios a cheirar a enxofre que vos pode indispor se estiverem com o estômago assim tão cheio. Ao almoço não deixem de acompanhar com o pão local, ou pão de lêvedo, com um paladar ligeiramente adocicado, mas que vai bem com o cozido.
Um outro ponto a visitar nesta vila é a zona das
Caldeiras das Furnas, onde várias bolsas de água fervente vão borbulhando, são pequenas caldeiras em ebulição de onde vai saindo um fumo intenso e mal-cheiroso. Estamos ali numa proximidade desconfortável do poder de um vulcão, inativo, mas, pelos vistos, não definitivamente extinto.
Ainda na vila das furnas, cruzamo-nos com as restantes atrações, a igreja e o ribeiro que atravessa a vila.
As
Fumarolas das Furnas estão situadas junto à lagoa e têm um acesso pedonal através de passadiços de madeira que nos permitem chegar perto das terras fumegantes e caldeiras de águas ferventes, sinais de uma terra vulcânica ainda ativa. Debaixo destas terras foram criados buracos para se fazerem os tais cozidos das furnas, sendo visíveis as placas de cada um dos restaurantes da vila.
O acesso é condicionado e paga-se a entrada e o estacionamento, 50 cent. por pessoa e 80 cent. pelo carro.
A
Lagoa das Furnas está localizada no fundo da imensa cratera deste vulcão, já inativo há séculos. A lagoa, tal como a vegetação que cobre as encostas da cratera, pode ser percorrida parcialmente de carro, mas, sobretudo, através dos trilhos pedonais que permitem explorar toda a área envolvente da lagoa, permitindo desvendar alguns dos mistérios que aquela zona parece esconder.
Na margem desta lagoa encontra-se uma das mais curiosas igrejas da ilha, a Capela de Nossa Senhora das Vitórias, cuja origem remonta ao ano de 1886.
Terminada a visita à zona das Furnas continuámos para Ponta Delgada, escolhendo desta vez a estrada pela costa Sul, passando por Vila Franca do Campo e por Lagoa.
No entanto, logo à saída das Furnas fizemos um novo desvio para mais uma Lagoa, a última desta viagem, a Lagoa do Congro.
Esta lagoa encontra-se totalmente rodeada por vegetação densa, de tal forma que só nos apercebemos da sua presença porque existe uma placa que assinala o local, e porque este vem referido no GPS. Deixámos o carro e começámos a descer ao longo da encosta interna da cratera, seguindo um trilho íngreme e estreito e ainda sem vislumbrar a existência da lagoa. Só mesmo ao chegarmos ao nível do espelho de água é que conseguimos perceber a existência da lagoa. Muito fechada por uma floresta cerrada, muito verde, com águas límpidas e muito tranquilas.
Neste texto junto as cidades aos restaurantes porque decidimos conhecer as cidades principais da ilha já nos finais de tarde, a caminho dos restaurantes onde jantámos. Basta marcar o jantar às 21h e chegar à cidade uma hora antes, e será suficiente para conhecer as ruas e praças mais interessantes que as cidades de São Miguel nos têm para oferecer.
Talvez esteja a ser demasiado redutor, mas, nesta ilha, o prato forte é a paisagem natural e não as suas cidades, que apresentam a arquitetura típica do arquipélago, com edifícios predominantemente em branco, adornados a preto, do basalto, a rocha vulcânica mais comum na ilha.
É assim em Ponta Delgada, na Ribeira Grande e em Rabo de Peixe, as três cidades que visitámos enquanto esperávamos a hora de jantar.
A escolha dos restaurantes, e a respetiva reserva, é algo que deve ser feito com alguma antecedência, não deve ser deixado em cima da hora, porque os poucos restaurantes recomendáveis esgotam com facilidade.
Para um programa de referência de quatro noites vou deixar aqui a recomendação de qutro restaurantes (mas experimentámos mais alguns que não vou mencionar por não termos achado uma escolha perfeita).
Ponta Delgada:
A capital da região apresenta uma marginal recentemente remodelada, com as chamadas Portas do Mar, na envolvente da marina de recreio, atualmente cheia de esplanadas ao ar livre, com bares e restaurantes.
A zona da baixa mais tradicional desenvolve-se por detrás da avenida marginal, em torno da Portas da Cidade e da Igreja Matriz, numa envolvente com uma série praças e ruas sem trânsito bastante movimentadas, com bares e restaurantes.
Mencionamos aqui os dois restaurantes de que mais gostámos na cidade, o Alcides e A Tasca.
A Tasca - Rua do Aljube 20 (Tapas, petiscos regionais e bife de atum) - 296 288 880
Há vários petiscos que podemos saborear na Tasca, um restaurante muito agradável, com ambiente informal e boa comida, como o recomendado bife de atum, as lapas ou os pratos de polvo. Mas vou escolher duas entradas que também se encontram noutros restaurantes, nomeadamente no Alcides. O Queijo Fresco, que numa ilha com tantas vacas leiteiras tinha que ser soberbo, e é mesmo. E a Morcela com Ananás, que combina o paladar apurado da morcela regional frita ao ananás local, que aqui é bem docinho, ao contrário do que acontece aos ananases dos Açores quando são trazidos para o continente, que são sempre muito ácidos. A combinação é perfeita, não deixem de experimentar, neste ou noutro restaurante.
Alcides - Rua Hintze Ribeiro 67 (Bife Regional) - 296 629 884
No Alcides não deixem de experimentar a melhor carne que se pode comer em todo o nosso país. Não conheço nada melhor (a menos da Associação Agrícola de São Miguel, que tem um bife muito semelhante). Um bife do lombo (uma dose de 19€ tem mais de 300 g de carne suculenta), que dará para dividir por dois, embora seja uma tentação comer sozinho um bife inteiro daqueles, porque é algo que não se esquecerá....sobretudo se for pedido mal-passado, não inventem com o médio e, por favor, não o estraguem pedindo bem-passado....se for assim, mais vale pedir outra coisa ou ir o McDonalds (percebe-se que estou com água na boca só de escrever este texto?).
Atenção que já fiz em casa e ficou muito bom, não igual, mas muito bom. A receita é simples, um bom naco de lombo só com sal grosso... não vale a pena experimentar com vazia ou outra coisa qualquer... fazer um molho de azeite e manteiga em lume brando a fritar dentes de alho inteiros, levemente esmagados e ainda com pele, uma folha de louro e pimento vermelho já assado... quando o molho está apurado aumenta-se a chama e frita-se o bife, só um bocadinho de cada lado para deixar o interior quase cru, mantendo os sucos da carne. Acompanha com batata frita ou batata assada, e vai otimamente com um tinto....mas, que me perdoem os produtores de vinho açoriano, acho que irá melhor com um bom Douro.
Ribeira Grande:
É uma das cidades principais cidades da ilha, talvez a segunda. A zona mais interessante da cidade concentra os seus principais monumentos, o edifício da Câmara Municipal, a praça e a Igreja da Nossa Senhora da Estrela, e o Jardim Municipal que acompanha a descida da Ribeira, atravessada pela Ponte dos Arcos.
Alabote - Largo East Providence, 68 (Cataplana de Peixe) - 296 473 516
Descendo ao longo da Ribeira até ao mar chegamos ao Largo East Providence onde fica o melhor restaurante da cidade e um dos melhores da ilha, o Alabote. Numa ilha é natural que os pratos de peixe sejam uma referência gastronómica. Nesta ilha em particular a carne de vaca acaba por ter o principal protagonismo, mas há também excelentes pratos de peixe. De todos os restaurantes de peixe e marisco que conhecemos em São Miguel, o Alabote é talvez o melhor e mais requintado... embora não o mais barato. Uma das melhores formas de comer peixe, que aqui servem com grande qualidade, é numa cataplana de peixe e marisco, que recomendo.
Rabo de Peixe:
A vila piscatória de Rabo de Peixe é uma das referências da ilha por ser um dos portos de pesca mais importantes. A população é bem característica da comunidade de pescadores, que trazem o rosto bem marcado pelos traços da pobreza e da dureza de uma vida no mar. A vila é formada por bairros de pescadores e, nas ruas principais, junto à Igreja do Bom Jesus, está preenchida por tascas e tabernas cheias de pescadores, que vão matando o tempo até que uma nova saída para o mar lhes possa garantir o sustento das famílias.
No Campo do Santana, no Recinto da Feira de Rabo de Peixe, a 2 km da vila, fica o restaurante da Associação Agrícola de São Miguel. Tem um ótimo aspeto e um bife igual ao do Alcides, ou seja, partilha o primeiro lugar no concurso para a melhor carne portuguesa. A mesma receita, o mesmo paladar... só que aqui o bife vem ainda maior, com 400 g, e por um preço de 22€ o prato. Este não há dúvida que é mesmo para partilhar... mas vi várias pessoas a comer um bife inteiro... gordos!
Terminámos assim uma viagem extraordinária, uma aventura e também uma emoção. Explorámos uma ilha lindíssima com alguns dos lugares mais fantásticos que podemos encontrar no nosso país. Quem não conhece não pode deixar de visitar esta ilha maravilhosa.
Carlos Prestes