Conheci a capital holandesa no ano de 1984 e fiquei, naquela altura, completamente rendido. Não sabia sequer da existência de uma cidade cheia de canais, como uma Veneza do Norte (a internet fazia-nos muita falta), e fiquei completamente maravilhado quando ali cheguei.
Para ajudar ainda mais ao meu fascínio, decorriam naquele fim de semana vários eventos que enchiam a cidade de palcos com espetáculos de tudo e mais alguma coisa, e decorria também, a pouco mais de 30 km da cidade, em Zandvoort, o Grande Prémio da Holanda de Fórmula Um… o que fazia com que Amesterdão estivesse apinhado de gente numa festa permanente, durante o dia e pela noite fora.
Foi por isso que estive por lá três dias praticamente sem dormir, e fiquei com uma sensação muito clara de que Amesterdão passava a ser a minha cidade favorita… estatuto que se manteve durante um ano, pois no ano seguinte regressei à cidade, mas já não era fim de semana de festejos nem de Fórmula 1, e estava tudo muito mais calmo, e desde então, esta cidade passou a ocupar um lugar um pouco mais abaixo na lista das minhas preferências.
Desde essa segunda visita ainda voltei a Amesterdão mais duas vezes, e conto voltar em abril de 2025, fazendo sempre os mesmos percursos que nos levam a apreciar as paisagens inspiradoras que a cidade oferece, com uma imagem muito singular, com as casas típicas do Norte da Europa e com os seus canais.
No mapa seguinte assinalo os locais mais comuns que fui visitando, e os trajetos efetuados, que nos levam quase sempre pelas margens dos canais:
Central Railway Station
Sempre que fui a Amesterdão entrei na cidade pela estação ferroviária, onde chegam os transferes do aeroporto, e lembro-me bem quando ali cheguei pela primeira vez, e constatei que estava num mundo fascinante, a tal terra cheia de canais que não esperava encontrar.
Agora o efeito e o fascínio já não são os mesmos, mas não deixa de ser uma entrada triunfal, quando saímos da estação e contemplamos a dinâmica desta cidade.
Praça Dam e Palácio Real
Ao sair da estação continuamos sempre pela mesma rua, a Damrak, uma rua animadíssima que nos vai levar até a Praça Dam, uma das mais importantes da cidade.
Pelo caminho passamos junto ao edifício da Bolsa de Valores de Berlage, que constitui um dos marcos arquitetónicos locais. Desde a sua construção em 1903, este edifício desempenhou um papel fundamental na história económica e cultural da cidade, na época em que Amesterdão era um importante centro financeiro europeu.
E na altura da sua construção, o seu design era considerado bastante inovador, marcando uma transição nas correntes de arquitetura, saindo do estilo neogótico e renascentista, mais habitual nos grandes palácios, para um estilo mais funcional e precursor do modernismo.
A estrutura foi usada como bolsa de valores apenas até 1912, quando as operações financeiras foram transferidas para outro local, e este edifício passou a ter outras funções. Viveu também as perturbações inerentes à presença nazi na cidade, e é hoje um centro cultural onde ocorrem diversos tipos de eventos, exposições, feiras e conferências, e também alguns concertos e espetáculos, que aproveitam a excelente acústica do grande salão.
Pouco depois entramos na Praça Dam, a maior e mais icónica praça de Amesterdão, localizada bem no coração da cidade, e que constitui um ponto central, tanto para os moradores como para os visitantes.
A Praça Dam foi construída no século XIII e recebeu esse nome porque se encontra no local onde existia uma represa ("dam" em holandês) no rio Amstel, que foi essencial para o desenvolvimento da cidade.
Ao longo dos séculos, a Dam nunca deixou de ser um importante centro comercial, político e social de Amesterdão, e é por ali que se juntam os muitos milhares de turistas que visitam a cidade, em torno do Monumento Nacional, um obelisco de 22 metros de altura, construído em 1956 em homenagem aos soldados holandeses que perderam a vida durante a Segunda Guerra Mundial. Este obelisco deveria constituir um local de memória e reflexão, mas o que encontramos é mais um espaço para a partilha de charros e de garrafas de cerveja… que aqui serão maioritariamente da Heineken, produzida na cidade.
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Em torno da Praça Dam vamos encontrar diversas atrações, como o Museu Madame Tussauds, uma delegação do famoso museu de cera inglês que oferece uma experiência interativa com as figuras moldadas em cera de celebridades e personalidades históricas.
Há também, em torno desta praça, uma imensa quantidade de lojas, restaurantes e cafés, que se vão enchendo durante todo dia com os milhares de visitantes que passam pela praça.
Mas o destaque principal deste espaço está reservado para uma igreja e um palácio.
A Nieuwe Kerk, que significa Igreja Nova em neerlandês, foi construída no final do século XIV, ou seja, apesar do nome de "nova", a igreja já conta com mais de 600 anos.
Inicialmente era uma igreja católica, como todas as igrejas da época nos Países Baixos, mas no século XVI, com a Reforma Protestante liderada por figuras como Martinho Lutero e João Calvino ganhou força nos Países Baixos e esta igreja haveria de se tornar num templo Protestante.
Atualmente, este espaço já não é usado para cultos religiosos, mas sim para acolher exposições, eventos culturais e cerimónias importantes, como a coroação dos monarcas holandeses e casamentos reais.
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Ao lado desta igreja fica o Palácio Real de Amsterdão (Koninklijk Paleis), um edifício do século XVII, durante a idade de ouro holandesa, quando a cidade era uma das mais ricas do mundo, e que veio a ser convertido num dos palácios da família real.
Atualmente é um dos três palácios oficiais da Coroa dos Países Baixos que se encontra à disposição da família real holandesa.
O edifício foi projetado num estilo barroco holandês, inspirado na arquitetura romana e tem umas fachadas clássicas e pesadas, falta-lhe o requinte de outros edifícios, como os châteaux franceses.
Hoje em dia, este edifício é usado para receções oficiais, cerimónias de estado e eventos reais, e só se encontra aberto ao público durante algumas épocas do ano, quando os visitantes podem explorar as luxuosas salas e aprender um pouco mais sobre a sua rica história… como não sei quando é que se pode lá entrar, não vou conseguir dar grande ajuda, mas posso dizer que, através do site oficial do palácio, se pode fazer um tour virtual que nos leva a conhecer os grandes salões que se escondem por detrás das fachadas escuras e feias.
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Virando à direita a partir do Praça Dam seguimos pela rua Raadhuisstraat, uma das ruas mais largas desta zona da cidade, até chegarmos ao canal de Prinsengracht, onde começa o Bairro Jordan.
Igreja Protestante - Westerkerk
A primeira atração desta zona é a Westerkerk, uma famosa igreja protestante construída no início do século XVII, que constitui um exemplo notável do estilo renascentista holandês.
A torre desta igreja atinge os 85 metros de altura, sendo a mais alta torre da cidade e, no seu topo, está apoiada a coroa imperial de Maximiliano I da Áustria, símbolo de Amsterdão.
Esta igreja tem uma ligação ao famoso pintor Rembrandt, que se encontra enterrado na sua envolvente, embora não seja conhecida a localização exata.
A torre da Westerkerk é mencionada no Diário de Anne Frank, quando Anne dizia que ouvia os sinos da igreja enquanto estava escondida no anexo secreto, onde a sua família se refugiou durante a Segunda Guerra Mundial.
Casa de Anne Frank
A menos de 100 m vamos encontrar a Casa-Museu de Anne Frank, e é possível que esta distância possa estar ocupada por uma longa fila de pessoas, esperando a sua vez para entrar no museu, o que é sempre um processo demorado, mesmo para os visitantes que tenham adquirido o ingresso previamente pela internet… e foi por isso que nunca consegui visitar este espaço.
Este museu foi criado em memória a Anne Frank, uma das vítimas mais conhecidas do holocausto, devido ao seu diário, que foi publicado pela primeira vez em 1947, pelo seu pai, Otto Frank, o único sobrevivente da família, e é hoje um dos livros mais traduzidos e lidos em todo o mundo.
O museu mostra a casa e o chamado “anexo secreto", onde Anne e a sua família se esconderam dos nazis por mais de dois anos durante a Segunda Guerra Mundial.
Além da família de Anne Frank, que eram judeus, estiveram ali escondidas mais quatro pessoas, também judeus, entre julho de 1942 e agosto de 1944, quando foram descobertos e deportados para campos de concentração.
Anne documentou todas as suas experiências no diário, descrevendo as suas emoções, medos e esperanças… e quem tiver ainda viva a memória do livro, vai achar este espaço bastante perturbador. Os visitantes podem ver o Anexo Secreto devidamente preservado, objetos pessoais e exposições sobre a vida de Anne, o holocausto e a perseguição aos judeus.
Bairro Jordan e Negen Straatjes
Nesta zona da Casa de Anne Frank estamos entre dois bairros muito charmosos, o Bairro Jordan e o Bairro das Nove Ruas (Negen Straatjes). Ambos concentram várias lojas de design e marcas locais, boutiques vintage, cafés, galerias de arte e restaurantes, e são constituídos pelos bonitos edifícios clássicos, com a arquitetura típica dos Países Baixos, formando um conjunto muito fotogénico, sobretudo quando se enquadram as fachadas dos edifícios com as imagens bucólicas dos canais.
O Negen Straatjesque é ainda mais bonito do que o Jordan, pois fica localizado entre quatro canais (Prinsengracht, Keizersgracht, Herengracht e Singel), e é constituído pelas pequenas ruas pitorescas que formam as margens desses canais, onde podemos apreciar algumas das mais bonitas vistas da cidade.
Ao percorrermos este bairro vamos desfrutando das bonitas paisagens dos canais e das casas estreitas do século XVII, que retratam a mais bela versão da cidade de Amesterdão.
De Krijtberg
Depois de atravessarmos todo o bairro das Nove Ruas chegamos a mais uma das igrejas da cidade, neste caso, uma igreja católica jesuíta, conhecida oficialmente como Igreja de São Francisco Xavier.
Foi construída no século XIX e é famosa pela sua arquitetura em estilo neogótico e pela sua presença marcante entre os edifícios históricos da cidade.
É ainda hoje uma importante igreja para a comunidade local católica, e é também muito visitada por turistas, que assistem às missas que são dadas em várias línguas, incluindo o inglês, sendo um ponto de encontro espiritual para os visitantes internacionais.
Internationaal Theater Amsterdam
Ao chegarmos à Leidseplein, uma das praças mais famosas da cidade, vamos encontrar o bonito edifício forrado a tijolo do Internationaal Theater Amsterdam (ITA).
O edifício original foi construído no século XVII, mas foi destruído por um incêndio em 1772, sendo o edifício atual o resultado da reconstrução em estilo neorrenascentista, feita entre 1892 e 1894.
Desde sua inauguração, tem sido utilizado como um dos mais importantes teatros da Holanda, servindo de casa à companhia Internationaal Theater Amsterdam, que apresenta permanentemente uma programação diversificada de teatro contemporâneo, peças clássicas e atuações de companhias internacionais.
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Museumplein
A caminho da Praça dos Museus seguimos pelas margens de um canal onde podemos apreciar a imagem do belíssimo edifício de escritórios chamado de Agusta Westland, numa zona em que a margem oposta é ocupada por extraordinárias mansões apalaçadas.
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De seguida, atravessamos sob os arcos que se formam no edifício do Rijksmuseum, e entramos no espaço amplo, com um lago, um jardim e um relvado imenso, que é chamado de Museumplein, ou Praça dos Museus.
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O nome desta praça resulta da existência de dois dos principais museus da cidade, o Museu Van Gogh e o Rijksmuseum.
Museu Van Gogh
Trata-se de um museu dedicado à obra e vida do renomado pintor holandês Vincent van Gogh e é um dos museus mais importantes do mundo dedicado a um único artista.
O museu permite que os visitantes acompanhem o desenvolvimento da carreira artística de Van Gogh, desde os seus primeiros anos até às suas obras mais famosas criadas já nos últimos anos de vida.
É uma das atrações mais visitadas da cidade, pelo que, quem quiser garantir o ingresso, deverá adquiri-lo previamente através do site.
O museu mostra a maior coleção de obras de Vincent van Gogh, com mais de 200 pinturas, 500 desenhos e cerca de 700 cartas… algumas dessas obras são bastante famosas, como estas que fui fotografando durantes as três visitas que fiz ao museu.
Rijksmuseum
Das várias vezes que fui a Amesterdão visitei apenas uma única vez o Museu Nacional da Holanda, ou Rijksmuseum. É o museu mais importantes do mundo, dedicado à arte, história e cultura dos Países Baixos, mas, talvez por isso mesmo, acaba por não ser assim tão interessante para os visitantes não holandeses.
O edifício, que foi inaugurado em 1885, é majestoso e bastante bonito, com os tons avermelhados do tijolo, típicos desta região, e resulta da combinação de elementos góticos e renascentistas.
O museu expõe uma vasta coleção de obras-primas da chamada Idade de Ouro Holandesa, onde se incluem, por exemplo, alguns Rembrandt’s, como a Ronda Noturna ou A Noiva Judia, mas também de muitos outros pintores holandeses, como Johannes Vermeer, com o seu quadro mais conhecido, A Leiteira, uma obra-prima famosa pela sua iluminação e realismo, que retrata uma jovem que enche uma tijela de leite.
Além disso, o Rijksmuseum possui uma rica coleção de móveis, armas, navios em miniatura, e objetos que retratam a história holandesa desde a Idade Média até os tempos modernos… tudo coisas que não me despertam particular interesse.
Mas quem quiser visitar este museu deverá comprar os ingressos online para evitar as filas, e reservar, pelo menos, duas a três horas, só para conseguir explorar as coleções principais… o que será uma grande seca, na minha opinião, claro!
Vondelpark
Para quem quiser fazer uma pausa para descansar um pouco, estamos na proximidade do maior parque da cidade, o Vondelpark, um belíssimo espaço arborizado e relvado, com vários lagos e uma série de atrações.
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E quem quiser depois beber uma das cervejas de fabrico local, ou entra num dos muitos bares que por ali se encontram, ou vai à origem do produto, a fábrica e museu da Heineken.
Heineken Experience
Trata-se de uma combinação de museu, parque temático e local de degustação, e será interessante para quem deseja conhecer mais sobre esta cerveja e se divertir ao mesmo tempo. É uma experiência leve, educativa e muito popular em Amesterdão
Este espaço funciona no edifício da primeira fábrica da cerveja Heineken, fundada em 1867, e a experiência começa por uma trajetória histórica sobre a origem desta marca até se tornar uma das cervejas mais famosas em todo o mundo.
Fala-se do processo de produção, mostra o fabrico da cerveja, desde os ingredientes, água, malte, lúpulo e levedura, até o produto final.
Oferece uma experiência interativa onde se simula que cada visitante é uma garrafa de cerveja ao longo de toda a linha de produção.
No final podemos tirar a nossa própria imperial, e terminamos com a degustação de algumas variantes, o ingresso geralmente inclui duas ou três bebidas.
O preço, em 2015, era de 18€, um pouco puxado para quem leve miúdos que não bebem, mas até aceitável, se compararmos com o custo de três cervejas em qualquer café.
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Outros canais e pontes de Amesterdão
No percurso seguinte voltamos a entrar nos bairros mais bonitos da cidade, que são atravessados pelos canais mais pequenos, que aliás são os mesmos que contornam todo o centro histórico (Prinsengracht, Keizersgracht, Herengracht e Singel) e que são sempre bastante fotogénicos, pelas belas imagens das suas casas construídas em tijolo e dos canais, com as margens cheias de árvores.
Neste bairro destacam-se algumas bonitas pontes que atravessam as encruzilhadas de dois ou mais canais, como as chamadas Sete Pontes, que ficam no ponto de convergência entre os canais Keizersgracht e Reguliersgracht.
Os canais mais pequenos comunicam com o canal principal, o Rio Amstel, onde encontramos algumas pontes diferentes, com um mecanismo para erguer o tabuleiro, de forma a permitir a passagem de barcos de maior porte.
Uma dessas pontes levadiças sobre o Amstel é a Magere Brug, uma ponte icónica, que é famosa pela sua forma, mas também, pelo seu aspeto bucólico quando, à noite, fica iluminada por pequenas luzes.
De seguida atravessamos a praça Thorbeckeplein até entramos na Rembrandtplein.
Rembrandtplein
A Praça Rembrandt é uma homenagem ao pintor Rembrandt e é conhecida pela estátua do pintor ao centro, e por um conjunto de outras estátuas de bronze que representam vários soldados, da mesma época de Rembrandt.
A praça é um ponto obrigatório de paragem de todos os turistas, sobretudo à noite, devido à sua vida noturna, com bares e restaurantes.
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Munttoren
Seguimos depois até junto da Munttoren, que em português significa Torre da Moeda. Esta torre histórica recebeu este nome no século XVII, quando foi utilizada como local de cunhagem de moedas, após um incêndio que destruiu parte da cidade.
A sua localização central, e o aspeto da torre bastante bonita, faz deste local uma das atrações turísticas mais famosas da cidade.
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Bloemenmarkt
Muito próximo desta praça encontramos o Mercado das Flores, ou Bloemenmarkt, um imenso conjunto de bancas, algumas em plataformas flutuantes no canal, onde se vende uma infinidade de flores e plantas, e onde comprámos alguns bolbos de tulipas, que plantámos no nosso jardim, mas não pegou nada.
Este mercado ocupa grande parte da margem do canal Singel, onde se formam imagens bastante interessantes, enquadrando as bancas de flores flutuantes e as casas típicas por trás.
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Begijnhof
O Begijnhof de Amesterdão é um pátio fechado que remonta ao início do século XIV e está localizado perto da animada Kalverstraat, no centro da cidade.
Ao atravessarmos uma porta um tanto anónima na Spuistraat entramos num pátio interno encantador, com várias casas pitorescas, jardins bem cuidados e uma igreja central, a Igreja Reformada Inglesa.
Begijnhof é um termo de origem neerlandesa, utilizado para descrever um tipo de comunidade religiosa que existia na Europa medieval.
Os membros desta comunidade eram mulheres que viviam num grupo religioso e se dedicavam a uma vida de oração, mas sem necessariamente fazerem votos permanentes de celibato.
Em pleno relvado deste pátio encontramos o Heilig Hartbeeld, uma Estátua do Sagrado Coração, que é um monumento religioso comum em certas regiões católicas, que representa a imagem de Jesus Cristo com o coração visível, simbolizando o amor divino pela humanidade.
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Canal e Rua Rodin
Neste local estamos próximo de mais um dos canais principais da cidade, o Canal Rodin, que termina neste local e transforma-se numa das maiores avenidas, que nos vai conduzir até à Praça Dam.
Red Light District
Estamos agora no Bairro da Luz Vermelha, um dos principais ícones da cidade de Amesterdão, conhecido pelos bordéis, clubes de striptease e prostituição legalizada ou tolerada, com a particularidade de encontrarmos montras onde as prostitutas se expõem… bastante chocante, ainda hoje, mas principalmente nos anos 80, quando por lá passei pela primeira vez.
Mas este bairro vibra sobretudo durante a noite, com as luzes vermelhas refletidas nos canais, e com os néons em torno das vitrines onde as profissionais do sexo se exibem, à espera de captar clientes, muitas vezes adornadas com cortinas e decorações quase sempre em tons vermelhos.
Mas as placas de néon não estão só nas montras, encontram-se por todo o bairro, nos bares, nos clubes e nos típicos coffee shops locais, formando uma atmosfera colorida e inebriante.
Encontramos milhares de turistas de todas as partes do mundo, que vão percorrendo as ruas estreitas, alguns interessados num conhecimento mais intrusivo nesta zona, outros apenas para apreciar o ambiente, e eventualmente ir tirando algumas fotos (o que nem sempre é permitido).
Oude Kerk
Continuando ainda no mesmo canal do bairro da luz vermelha, aproximamo-nos de uma das maiores igrejas da cidade, a Oude Kerk, ou Igreja Velha, que é um dos edifícios mais antigos de Amesterdão.
Construída no início do século XIV, a igreja serviu como ponto central da vida religiosa e social da cidade. Foi construída em estilo gótico e possui janelas com belos vitrais, tetos de madeira e várias capelas menores ao redor do edifício principal.
Foi originalmente uma igreja católica, dedicada a São Nicolau, o santo padroeiro dos marinheiros, mas durante a Reforma Protestante no final do século XVI, a igreja passou para as mãos dos protestantes calvinistas.
Atualmente, esta igreja funciona principalmente como um espaço cultural e um marco histórico.
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Nieuwmarkt
O Nieuwmarkt é uma praça localizada no centro, onde se destaca a Waag, um edifício histórico do século XV, uma espécie de um palacete que é um dos edifícios mais antigos de Amesterdão, que serviu originalmente como um dos portões da cidade e, posteriormente, como casa de pesagem para mercadorias.
A área ao redor do Nieuwmarkt é movimentada, com muitos cafés, restaurantes e bares, tornando-se um ótimo ponto de encontro tanto para locais quanto para turistas, e o próprio Waag, funciona também como restaurante.
O Nieuwmarkt mantém ainda uma tradição de mercado de rua, onde se comercializam produtos frescos, livros, antiguidades e artesanato. No verão, é comum haver por ali alguns festivais de música e outros eventos ao ar livre.
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Basilica de Saint Nicholas
Ao nos aproximarmos da zona da estação ferroviária, vamos encontrar mais uma das grandes igrejas locais, a Basílica de Saint Nicholas, a principal igreja católica da cidade.
Foi construída no final do século XIX, combinando elementos de neorrenascimento e neobarroco, o que a torna uma obra impressionante e muito distinta.
É dedicada a São Nicolau, o padroeiro dos marinheiros e da cidade de Amesterdão, o que faz sentido, considerando a forte conexão marítima desta cidade.
O interior da basílica conta com uma decoração rica, incluindo vitrais coloridos, esculturas e afrescos, com destaque para o altar principal e para a cúpula.
Atualmente, além de serviços religiosos, esta igreja serve também para a realização de concertos de música clássica, tirando partido da sua excelente acústica.
Cruzeiros pelos canais de Amesterdão
Os cruzeiros pelos canais de Amesterdão são uma das atrações mais icónicas da cidade e uma excelente maneira de podermos explorar o seu centro histórico e, para isso, encontramos vários locais onde se promove este tipo de oferta, embora a maior concentração de cruzeiros aconteça no canal que fica junto à Central Railway Station.
Existem várias alternativas, quer de durações, geralmente entre 1 hora a 1 hora e meia, e também de preços, que variam em função da oferta, que pode incluir uma experiência gastronómica com snacks, degustação de queijos holandeses e vinhos, ou mesmo um jantar completo.
Em qualquer dos casos, e seja de dia ou de noite, este tipo de passeio é algo que devemos fazer pelo menos uma vez na vida.
O barco leva-nos por um conjunto de canais no centro, onde podemos apreciar a arquitetura típica local, e também toda a mise-en-scène que se forma ao longo dos canais.
Todos os cruzeiros incluem audioguias com explicações sobre a história e arquitetura dos canais, e levam-nos também pelos canais mais largos, onde nos são desvendadas algumas das construções mais modernas, como o Museu Nemo, um popular museu interativo de ciências, o Passenger Terminal Amsterdam, o terminal de navios de cruzeiro, ou ainda o edifício do Eye Filmmuseum, um importante centro cultural dedicado ao cinema e às artes audiovisuais.
OBA Oosterdok - Public Library
Ao chegarmos de novo junto à estação ferroviária podemos agora aproveitar uma dica que aqui vou deixar. A ideia é visitarmos a biblioteca pública local, o que nos permitirá fazer uma pausa para ir à casa de banho e aproveitar uma belíssima vista sobre a cidade… e de forma gratuita.
A OBA Oosterdok foi Inaugurada em 2007 e é uma das maiores bibliotecas da Europa. Esta biblioteca pública está localizada nas docas orientais, a uma curta distância da Estação Central, e possui vários andares com milhões de livros, mais de mil assentos e um teatro para 300 pessoas, e funciona 90 horas por semana (o que é o dobro do horário médio de funcionamento das bibliotecas convencionais na Europa).
O edifício da OBA é impressionante, um prédio espaçoso e moderno, com grandes janelas que proporcionam luz natural e vistas panorâmicas da cidade.
O acesso é livre e será sempre um privilégio podermos visitar este mundo imenso dos livros, que atrai leitores e turistas… mas o melhor de tudo é quando chegarmos ao sétimo andar, onde há um café-restaurante com um terraço, de onde podemos apreciar uma vista panorâmica espetacular sobre a cidade.
Os coffee shops
Os coffee shops de Amsterdão são estabelecimentos legais onde é permitido o consumo de canábis, conforme as leis da cidade e dos Países Baixos. Esses locais oferecem uma experiência única, combinando a cultura do café com o consumo responsável de erva.
Quando das minhas primeiras visitas à cidade, esta liberalização não tinha ainda sido consagrada na lei, mas não era por isso que a canábis não passava de mão em mão, constituindo, já na altura, um atrativo para um certo tipo de turismo. Os charros eram comercializados e consumidos em todo o lado, sem qualquer secretismo.
Nunca tive interesse nenhum em experimentar estes cigarros que fazem rir, até porque nunca fumei cigarros convencionais e, mesmo que quisesse, não saberia como fumar uma coisa destas, e ficaria numa tosse pegada.
Com estas lojas, onde é permitido vender até cinco gramas de canábis por pessoa, por cada dia, o movimento de compra e venda na rua, deixou de ser tão visível... mas o consumo continua por toda a parte, deixando a atmosfera da cidade impregnada pelo cheiro dos charros, o que, para as minhas filhas, que estavam connosco na visita de 2015, é ainda hoje identificado imediatamente como "cheiro a Amesterdão".
E nós, turistas não consumidores, podemos e devemos entrar num destes coffee shops, onde se pode tomar apenas um café (mas não qualquer tipo de álcool, que não é vendido nestes estabelecimentos), e podemos também experimentar algumas alternativas de artigos recreativos feitos com canábis, não só os cigarros, mas rebuçados, diversos tipos de cookies e até umas fatias de bolo de chocolate… essas talvez bem mais tentadoras.
Para entrar nestes cafés é necessário ter mais de 18 anos e, em muitos lugares, é mesmo exigido um documento de identificação para verificar a idade. Além disso, o consumo de canábis é restrito ao interior dos estabelecimentos ou em áreas designadas.
Assinalei no mapa a localização de alguns coffee shops que se encontram por toda a cidade e variam bastante no seu estilo, desde os espaços modernos e descontraídos até aos locais mais tradicionais, sendo que alguns deles têm uma fachada bastante discreta e quase não se dá por eles, enquanto outros estão bem evidentes, com os seus letreiros de néon.
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Um dos estabelecimentos de referência, localizado no coração do Red Light District, é o The Bulldog The First, fundado em 1974, quando a canábis ainda era ilegal, sendo o coffee shop mais antigo da cidade e mundialmente famoso, pelo que será certamente um dos mais movimentados, especialmente ao fim de semana.
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Termino assim esta visita à cidade de Amesterdão, que já fiz algumas vezes, normalmente durante dois dias, mas que pode ser feita de forma mais demorada, se tivermos tempo e quisermos explorar detalhadamente os recantos desta cidade.
Amesterdão começou por ser o meu local favorito em toda a Europa, numa primeira visita em que a cidade mais parecia um parque de diversões, e que me deixou completamente fascinado. Mais tarde, a cidade desceu à terra, mas nunca deixou de ser um local extraordinário, onde regresso sempre que posso, nem que seja só aproveitando uma escala mais demorada no aeroporto… vale sempre a pena regressar a este sítio, meio frenético, meio encantado, nem que seja apenas para reavivar as memórias de toda uma vida.
Abril de 2015
Carlos Prestes